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2 CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

2.1 Origem do pensamento cooperativo

Nilson (apud Feltrow e Elsworth, 1994, p. 260) afirma que:

Cooperação é a organização de trabalho conjunto para obter benefícios mútuos. A cooperação econômica é uma forma de negócio de propriedade democrática e controle por parte dos membros que têm necessidades comuns, e que, por sua vez, trabalham para o negócio sem fim lucrativo e recebem benefícios proporcionais a sua participação.

Mesmo em sociedades competitivas, existe um mínimo de cooperação entre indivíduos e organizações, caso contrário seria impossível a convivência entre as pessoas. Essa cooperação mínima não significa sempre uma prática intencional que pode surgir de simples atitudes de acomodação à convivência e pode mudar conforme as circunstâncias ou interesses do momento, tanto de indivíduos, como de grupos. Tal cooperação pode acontecer de maneira informal e esporádica ou formal,

quando um grupo de indivíduos resolve organizar uma sociedade cooperativa para satisfazer suas necessidades (Ricciardi, 1996).

O cooperativismo da forma como se conhece hoje teve seu início no século XIX. As transformações que marcaram o século passado, o surgimento de novas idéias e filosofias, principalmente a Revolução Industrial, foram o terreno fértil para o aparecimento do cooperativismo que está diretamente associado às iniciativas dos trabalhadores contra a opressão estatal e empresarial a partir do início do século passado, ao buscar soluções para seus problemas sócio-econômicos por associações que tinham por objetivo o auxílio mútuo (Pinho, 1982).

Bastiani (1991, p. 2, apud Pinho, 1982), afirma que:

O surgimento do pensamento cooperativo teve sua origem no liberalismo econômico ocorrido na Europa no final do século XVIII e no início do século XIX. Este proclamava a harmonia entre o interesse do indivíduo e o interesse da sociedade, sendo defendido pelos economistas fisiocratas e clássicos. Entretanto, a realidade social da época era bem diversa. Para os estudiosos do assunto, esta fase da história econômica da humanidade era caracterizada de um lado pelo enriquecimento de uma minoria de empreendedores graças à alta produtividade das máquinas e aos baixos salários e, de outro lado, pela miséria da classe operária traduzida pelo aumento da mortalidade infantil, da criminalidade e da diminuição da natalidade. Em resposta a este quadro, surgiram inúmeras reações por parte da intelectualidade e da própria classe operária no sentido de melhoria das precárias condições de vida que esta última usufruía.

Na Inglaterra, surgiram dois dos maiores idealizadores do cooperativismo, William King (1786 -1865) e Robert Owens (1772 -1858), que disseminaram no meio operário um movimento incentivando a organização de cooperativas.

Nascia, desta forma, em 1820, a Liga para a Propaganda da Cooperação. Alguns anos depois, William King, em 1827, organiza em Brighton, Inglaterra, a primeira pré-cooperativa de consumo. Em 1835, surgia na cidade de Lyon, França, uma sociedade semelhante àquelas encontradas na Inglaterra: a Associação

Lionesa de nome Au Commerce Véridique (Menegário, 2000).

Contudo, apenas em novembro de 1843, em Rochdale, distrito de Lancashire, próximo a Manchester, na Inglaterra, um grupo de 28 tecelões fundaram uma cooperativa de consumo denominada Rochadale Society of Equitable Pionners, cujo objetivo era encontrar formas para melhorar sua precária situação econômica pelo auxílio mútuo. Este ato simbolizou o início do movimento cooperativista que se alastrou por todo o mundo e se caracteriza pela predominância do enfoque doutrinário, uma vez que os fundamentos da doutrina cooperativista se basearam nos princípios declarados nos estatutos desta sociedade.

Com relação a estes "princípios", Pinho (1966, p. 32) adverte que não deveriam ser assim denominados, uma vez que não representam postulados morais de que derivam as regras fixadas pelo costume cooperativo, mas as próprias regras ou normas de funcionamento da cooperativa. Sua primeira redação (1844) foi um pouco modificada em 1845 pelos próprios Pioneiros e, mais tarde, pelos cooperados presentes aos Cong ressos da ACI (Aliança Cooperativa Internacional) em 1937 (Paris) e em 1966 (Viena). Sua redação atual é assim entendida:

1. Adesão livre – possibilita o ingresso ou a retirada do cooperado, voluntariamente, sem coerção ou discriminação por motivos políticos, religiosos, étnicos ou sociais;

2. Gestão democrática – administração dos próprios cooperados, sendo que cada um tem direito a um voto apenas, sem nenhuma relação com sua participação no capital social;

3. Distribuição das sobras líquidas – aos associados "pro rata" das operações conforme o que cada um realizou com a cooperativa;

4. Taxa limitada de juros ao capital social – o capital é considerado apenas um fator de produção;

5. Constituição de um fundo de assistência técnica, social e de educação para os cooperados e o público em geral;

6. Cooperação intercooperativas, em plano local, nacional e internacional.

Nesta fase, segundo Bastiani (1991), surge a conhecida Escola de Nimes (1886) sob a liderança de Charles Gide (1847-1932). Gide foi o principal sistematizador do pensamento cooperativo rochdaleano. “Muitas de suas frases são célebres até hoje, como, por exemplo, aquelas ligadas ao cooperativismo como escola de liberdade além das muito conhecidas doze virtudes do cooperativismo”.

A Charles Gide (1847-1932) cabe a frase: “as sociedades cooperativas servem para conferir à classe operária conhecimentos e virtudes sem os quais não conseguiria ela ocupar o lugar a que aspira e ao qual tem direito” (Pinho, 1982, p. 35).

Ao longo de 100 anos, o cooperativismo resistiu ao tempo sem alterações significativas em sua doutrina. O crescimento vigoroso do número de cooperativas e cooperados acabou fomentando a criação de uma entidade internacional que representasse o movimento cooperativista.

A origem desta entidade se deve a um projeto de Robert Owen (1835), denominado Associação de Todas as Classes de Todas as Nações, cujo objetivo era a constituição de uma cooperativa central com sucursais em todo mundo. A idéia não se concretizou, mas resultou na fundação, em Londres (1895), da Aliança Cooperativa Internacional (ACI) (Menegário, 2000).

A Aliança Cooperativa Internacional é uma organização não-governamental independente que representa as organizações cooperativas do mundo todo. Ela possui mais de 230 organizações filiadas em mais de 100 países, representando mais de 730 milhões de pessoas no mundo. Foi a primeira organização não- governamental a receber das Nações Unidas o status de órgão consultivo. O cooperativismo mundial conta com mais de 740 mil empresas, reunindo cerca de 355 milhões de associados e atuando em diversos setores da economia (OCB, 1998).