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3.1 Tipos de Inovação

3.1.1 Diferenciação entre MC e Inovação

De acordo com Imai (1992) uma das principais diferenças entre a Inovação e a MC consiste na constância das mudanças, a Melhoria Contínua tem o objetivo de ser gradual, sistemática, incremental e constante, com foco nas pessoas. Difere da Inovação por esta ser repentina, com um processo de gestão complexo, não incremental e intermitente, com foco no uso de novas tecnologias. Um breve resumo das principais diferenças entre MC e Inovação pode ser visto no Quadro 7.

A Inovação tecnológica, que engloba produtos e processos, pode ser compreendida como produtos ou métodos produtivos novos ou melhorados, que adicionam valor econômico à empresa, mesmo que seja por meio da diminuição de custo (SCHUMPETER, 1985; DAMANPOUR, 1987; GARCIA; CALANTONE, 2002).

Quadro 7- Características da Melhoria Contínua e da Inovação

Características Melhoria Contínua Inovação

Efeito A longo prazo e duradouro, seguindo sempre os mesmos passos

A curto prazo, implantando novas soluções

Ritmo Pequenos progressos Grandes progressos

Estrutura de tempo Contínua e incremental Intermitente e não incremental

Mudança Gradual e constante Repentina e não contínua

Envolvimento Todos Poucos “defensores” selecionados

Enfoque Coletivismo, esforços em grupo, enfoque sistêmico

Idéias e esforços individuais ou de um pequeno grupo de especialistas Estímulo Aumento de conhecimento e

atualizações convencionais

Avanços tecnológicos, novas invenções, novas teorias Exigências práticas Exige pouco investimento

financeiro, porém grande esforço de tempo e estímulo de grupos de

melhoria para mantê-lo

Exige grande investimento, porém pouco esforço de melhoria para

mantê-la

Orientação do esforço Pessoas Tecnologia

Critérios de avaliação Melhoria do índice de desempenho do processo e esforços por melhores

resultados

Avaliação pela melhoria nos lucros e na eficiência

Fonte: Adaptado de Imai (1992)

Do ponto de vista da adição de valor, as atividades e projetos englobados pela MC podem ser considerados como Inovação incremental (CAFFYN; BESSANT, 1996), pois, a MC visa a melhoria de índices e melhora de resultados (IMAI, 1992).

Para Caffyn e Bessant (1996) e Caffyn (1999), a MC envolve atividades de Inovação incremental, como resposta às necessidades de clientes e às mudanças do mercado, abrangendo toda a empresa, no sentido de aproveitar e estimular as ideias de todos. Barbieri, Álvares, Cajazeira (2009) afirmam que os sistemas de sugestões de ideias dos programas de MC e suas respectivas ações devem ser considerados dentro do sistema de gestão de Inovação tecnológica.

Bessant, Caffyn e Gilbert (1996) e Tidd, Bessant e Pavitt (2008) classificam os projetos e atividades de MC como Inovação de alto envolvimento, pois estimulam as pessoas a encontrarem novas soluções com o objetivo de melhoria de desempenho, característicos da Inovação incremental. A MC possibilita que grande parte da organização torne-se envolvida no processo de Inovação e aprendizado (BESSANT; FRANCIS, 1999). Todos esses fatores possibilitam a visualização de que a MC está, em grande parte, englobada pelo conceito de Inovação.

Por outro lado, os teóricos relacionados à Inovação preferem limitar a Inovação em termos de mudança radical e a distinguem da mudança incremental, que preferem chamar de

melhoria (ABERNATHY; UTTERBACK, 1978). Geralmente argumenta-se que a melhoria é, simplesmente, "fazer algo de uma maneira melhor", enquanto a inovação é "fazer algo diferente" (MCADAM; ARMSTRONG; KELLY, 1998; PRAJOGO; SOHAL, 2001).

De acordo com Bhuiyan e Baghel (2005) e Andersson, Eriksson e Torstensson (2006), a MC é disseminada pela organização por meio de programas, filosofias ou metodologias. Os mais utilizados pelas organizações são: a Gestão da Qualidade Total, em que a MC é a forma de obtenção de melhores níveis de desempenho de produtos e processos em relação à qualidade com foco no cliente; o programa Seis Sigma visa à diminuição de variabilidade e erro por meio da MC; o Kaizen, relacionado com a Produção Enxuta e visa à participação das pessoas com foco na diminuição de desperdícios e o Lean-Sigma, que trabalha conjuntamente as técnicas, ferramentas e objetivos da filosofia da Produção Enxuta e do Seis Sigma em relação à melhoria de produtos e processos (ANDERSSON; ERIKSSON; TORSTENSSON, 2006; BHUIYAN; BAGHEL; WILSON, 2006).

Os projetos de MC, seus objetivos e impactos variam de acordo com as filosofias ou programas. De acordo com Andersson, Eriksson e Torstensson (2006), os projetos Seis Sigma são conduzidos em diversas áreas e com diferentes níveis de complexidade e de mudanças relacionados à estratégia da empresa. Para os mesmos autores, os projetos de MC pautados pela filosofia Lean focam em melhorias principalmente de velocidade, eficiência e fluxo de processos, já no TQM (Total Quality Management) é enfatizado o envolvimento de todos os colaboradores, não necessariamente por meio de projetos como nos anteriores, com o objetivo de melhorar e padronizar processos.

Como pode ser identificado, o nível de complexidade e de mudança gerado por ações ou projetos de MC variam de acordo com a metodologia em que estão embasados. Portanto, o nível das mudanças pode variar desde padronização até Inovações incrementais. As características padrões que diferem a MC da Inovação propriamente dita, são: o envolvimento de todas as pessoas da organização, em maior ou menor grau; o trabalho em equipe; a busca contínua por aperfeiçoamento; os projetos e ações estarem distribuídos por diversas áreas da organização; os esforços e projetos de melhoria não estarem centrados em uma única área, como P&D, mas ocorrerem de maneira distribuída dependendo das necessidades e objetivos da organização (IMAI, 1992; ANDERSSON; ERIKSSON; TORSTENSSON, 2006; BHUIYAN; BAGHEL; WILSON, 2006).

Quando observada pela ótica do continuum da Inovação (Figura 4), desde incremental até mais radical, pode-se afirmar que a MC compreende desde ações de padronização, anteriores à Inovação, até as Inovações incrementais. Como afirmam Bessant et al. (1994) e

Bhuiyan, Baghel e Wilson (2006), a MC gera Inovação incremental em pequenos passos, com alta frequência e pequenos ciclos de mudança. Porém, o nível de mudança das ações de MC pode variar de empresa para empresa e devido aos programas e filosofias que dão respaldo à MC, não sendo possível delimitar com exatidão até onde os projetos e ações de MC podem alcançar no continuum da Inovação.

O continuum englobando as atividades e projetos de MC pode ser observado na Figura 7, salientando-se que este é uma proposta de continuum baseada na literatura consultada. Como padronização estão englobadas as ações de Melhoria que envolvem sistematização, padronização, controle e que não geram novas soluções para produtos e processos. Alguns autores consideram que existe uma região de difícil caracterização entre a Inovação incremental e a radical, sendo que estas ainda podem ser subdivididas, como por exemplo, a região radical em descontínua (DEWAR; DUTTON, 1986; (DAMANPOUR; GOPALAKRISHNAN, 1998; GARCIA; CALANTONE, 2002; TIDD; BESSANT; PAVITT, 2008).

Figura 7 - Continuum englobando atividades de MC e Inovação Fonte: Próprio autor