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Capítulo II – Intencionalidade Pedagógica em contexto prático

2.1. Estratégias que suportam a Prática Pedagógica

2.1.6. Diferenciação Pedagógica

Sabe-se que a escola foi alvo de constantes mudanças no decorrer do tempo, passando da época industrializadora onde os alunos eram formatados para o mundo do mercado, a uma época pós-modernista não muito díspar do passado, mas com algumas alterações relativamente ao papel do docente e da criança na Educação. A criança deixa de ser comparada ao adulto e vista como resultado de produção em série para ser considerada como única e diferente de todos. A escola torna-se assim “(…) consciente da nova realidade, da diferença como norma, e da necessidade de reaprender a diferenciação e individualização das aprendizagens, a avaliação dinâmica e interativa, a flexibilidade curricular, como cultura e prática de todos e de cada um.” (Baptista, 1999, p.128).

Depreende-se assim a capacidade, por parte do docente, de diferenciar os seus processos de operacionalização numa educação inclusiva, a fim de alcançar o desenvolvimento de processos educativos de qualidade.

Esta diferenciação procura avaliar e promover a evolução dos alunos face ao processo de ensino-aprendizagem num ambiente heterogéneo. Obstante a este processo, existem condições que vão impor limites na sua aplicação como o número de alunos por cada turma, a exigência de horários uniformes, o confinamento a um único local (sala de aula), o programa a seguir e as regras de avaliação a respeitar (Perrenoud, 1978). Caberá ao docente a tentativa de quebrar algumas destas barreiras e procurar responder às individualidades de cada criança.

Este tipo de abordagem proactiva de trabalho diferenciado vem aumentar o nível de aprendizagem de todos, estabelecendo-se pontes estáveis entre o currículo e as necessidades/caraterísticas individuais de cada criança (Morgado, 2003).

Como afirma Niza (2000), a pedagogia diferenciada

exige a utilização conjunta de várias estratégias que se ajustem à diversidade dos alunos (…), que vê as diferenças individuais como um ato conatural à educação escolar, ajustando o modo de ensinar às maneiras de aprender dos alunos, tornando compatível o objetivo da qualidade do ensino com os da igualdade de oportunidades dos alunos. (p.42)

Cria-se assim uma formação base para todos, explicitada por Morgado (2003) em seis processos de funcionamento diferenciado: planeamento (gestão curricular); organização do trabalho dos alunos (forma como os alunos organizam-se e envolvem-se nas suas aprendizagens); clima social (interação e relacionamento social entre alunos e

39 professor/alunos); avaliação (regulação e avaliação do ensino-aprendizagem, seus procedimentos e dispositivos); atividades/tarefas de aprendizagem (escolha e contextualização de tarefas/situações); e materiais e recursos (gestão e utilização de materiais/recursos como suporte das aprendizagens).

Compreende-se assim que o aluno deverá ser sujeito ativo em todo o seu processo de desenvolvimento e formação tendo em conta que “(…) as atividades ou tarefas de aprendizagem a desenvolver com, e pelos alunos, deverão ser organizadas num pressuposto de diversidade para que possam acolher positivamente as [suas] diferenças.” (Morgado, 2003, p.107).

2.1.6.1. A Inclusão: um direito

Objetivando uma Educação para todos, a escola sujeita-se a alterações propondo que a criança é livre e igual em direitos e dignidade. Apesar das dificuldades de implementação, pretende-se o afastamento da Escola Tradicional para uma Escola Inclusiva, onde, independentemente dos seus problemas ou deficiências, todos têm direito à escolaridade.

Unificam-se assim as crianças do ensino regular e as ditas com Necessidades Educativas Especiais (NEE), numa afirmação de que a Educação é para todos e que esta junção beneficia ambos numa aprendizagem ativa. Estas crianças, “(…) cujas caraterísticas, capacidades e necessidades, obrigam muitas vezes a que a escola se organize no sentido de melhor poder elaborar respostas educativas eficazes que façam com que elas venham a experimentar sucesso.” (Correia, 2013, p.43) são comummente relatadas como crianças com NEE.

Estas necessidades podem partir de fatores intelectuais, sensoriais, emocionais, físicos ou de dificuldades de aprendizagem específicos, fazendo com que estas crianças possam necessitar de serviços de Educação Especial durante parte ou totalidade do seu percurso escolar. Compreende-se assim a importância desta abordagem por parte das escolas que, como referido na Declaração de Salamanca e Enquadramento da Ação na Área das Necessidades Educativas Especiais (1994),

constituem os meios mais capazes para combater as atitudes discriminatórias, criando comunidades abertas e solidárias, construindo uma sociedade inclusiva e atingindo a educação para todos; além disso, proporcionam uma educação adequada à maioria das crianças e promovem a eficiência, numa ótima relação custo-qualidade, de todo o sistema educativo. (p.IX)

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Trata-se de um processo com muitos percursos e ritmos distintos, que dá ênfase à ação educativa do docente como forma de resposta ao problema ou deficiência da criança, e não tanta atenção à sua categorização (Costa, 1999). A escola inclusiva vai combater quaisquer mecanismos de discriminação e exclusão social, promovendo o sucesso escolar de todas as crianças pois nela existe a oportunidade de se envolverem e desenvolverem funcional e significativamente em quaisquer contextos de aprendizagem.

Morgado (2003) afirma que compete assim ao docente regular o desenvolvimento de estratégias de adaptação por forma a abrigar todas as distintas necessidades educativas das crianças, num único modelo organizacional educativo constituído pela família, escola, estado e comunidade, para o seu desenvolvimento académico, socio emocional e pessoal. Para enfatizar a emergência da sua aplicação, o autor supracitado destaca as diferenças entre a Escola Tradicional com a Escola Inclusiva no seguinte esquema:

Figura 7.

Escola Tradicional versus Escola Inclusiva

Fonte: Adaptado de Morgado (2003) Escola Tradicional O professor é o único responsável

pelo processo de ensino- aprendizagem

Os alunos aprendem com o professor e o professor resolve os problemas

O processo de ensino dirige-se ao aluno médio

O ensino é passivo, competitivo e formal

Os alunos com NEE são frequentemente excluídos das

atividades

A equipa de apoio educativo é responsável pelos alunos com NEE

Os alunos são avaliados usando dispositivos normalizados O sucesso dos alunos é avaliado

considerando os objetivos curriculares normalizados

Escola Inclusiva

Equipas de profissionais partilham responsabilidades

Os alunos e professor desenvolvem o seu trabalho cooperativamente

O processo de ensino considera os diferentes tipos de competências,

capacidades e ritmos O ensino é ativo, criativo e

cooperativo

As atividades planeadas permitem a participação de todos os alunos

O professor titular, de apoio e outros técnicos partilham a responsabilidade

da educação de todos os alunos Os alunos são avaliados usando

dispositivos distintos O sucesso é atingido quando se

atingem objetivos do grupo e individuais

41 Estas mudanças em contexto de sala de aula compreendem também que, integrada nas aprendizagens das crianças, sejam tidas em conta as suas motivações e experiências considerando-as protagonistas de todo o processo ensino-aprendizagem.

A intervenção necessária à mudança

Constate-se que, para que haja mudança, é necessária força de vontade e o sentimento de querer sempre o melhor para o seu grupo de crianças. Abarcando assim uma prática inclusiva, a diferenciação pedagógica e as crianças com NEE, compreende- se a necessidade de se criarem estratégias específicas para que estas recebam a melhor das aprendizagens possíveis, numa perspetiva igualitária de oportunidades para todas.

Sabe-se porém que, por vezes, estas estratégias generalistas não encaixam nos perfis específicos de cada criança podendo não ser frutífera a sua implementação sem antes serem refletidos e tidas em conta as especificidades de cada indivíduo, como afirma Correia (2013):

(…) tendo por base as capacidades e necessidades de cada aluno, ou seja, o professor, depois de analisar a informação que tem as seu alcance, deve partir para o estudo do currículo, para a diferenciação pedagógica, onde os seus objetivos de ensino se entrecruzam com os objetivos de aprendizagem desse mesmo aluno. (p.95)

Parte-se assim para uma adequação curricular através do ajustamento e adaptação do currículo, apoiado pela restante equipa pedagógica de forma a conceber respostas educativas eficientes determinadas pelo interesse, competências e especificidades de cada criança.

Lopes e Silva (2010) sumarizam, em nove estratégias, suas possíveis aplicações em contexto sala de aula através de:

 Sequências didáticas (segmentando uma tarefa global em pequenas partes/subunidades, adaptando-a às dificuldades da criança e acompanhando-a na sua execução);

 Exercícios e Revisão (proporcionando práticas repetidas e revisão das mesmas, procurando crescer o grau de dificuldade da tarefa conforme o feedback apresentado);

 Segmentação (decomposição das competências envolvidas no processo de resolução da tarefa);

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 Questionamento (incentivar uma aprendizagem ativa, envolvendo ambos as partes em diálogos);

 Scaffolding/ Ajuda à aprendizagem (dar pistas, questionar, apresentar tarefas curtas, conceder todo o apoio necessário e apresentar tarefas de nível fácil para um mais difícil);

 Tecnologia (facilitar representações visuais e mentias de conceitos ou esquemas complexos como forma de tornar mais concreto a abstração dos mesmos);

 Ensino-aprendizagem em pequenos grupos (de forma a estimular discussão e diálogo entre os membros);

 Apoio dos pais (envolver os pais/encarregados de educação na vida escolar das crianças);

 Ensinamento de estratégias (como técnicas de memorização, localização de erros e sua análise e identificação de informação essencial).

Em suma, depreende-se que toda a criança é única e diferente, pelo que há necessidade ter em conta processos de diferenciação pedagógica para atender a essa diversidade. É através de uma Escola inclusiva que se vão criar oportunidades de uma Educação para todos, num sentido de igualdade para todas as crianças, incluindo as crianças com NEE que necessitam de uma maior adequação de todo o processo educativo.