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Capítulo II – Intencionalidade Pedagógica em contexto prático

2.1. Estratégias que suportam a Prática Pedagógica

2.1.5. Aprendizagem Ativa

2.1.5.1. O Movimento da Escola Moderna

O Movimento da Escola Moderna (MEM) firma-se “(…) num Projeto Democrático de autoformação cooperada de docentes, que transfere, por analogia, essa estrutura de procedimentos para um modelo de cooperação educativa nas escolas.” (Niza, 1998, p. 139). Trata-se de uma pedagogia que privilegia abordagens globais e competências específicas à criança através de estratégias que impliquem criatividade e descoberta, num modelo centrado nas pessoas nele envolvidas. Desta forma, desenvolvem-se competências morais e sociais nas crianças com base numa ação democrática ao longo da sua Educação.

Relativamente aos conteúdos programáticos, o MEM aposta numa pedagogia de cooperação educativa onde cada conteúdo é negociado cooperativamente entre criança e docente, valorizando aprendizagens mútuas e cooperativas como modo de organização das mesmas, reforçando o sentido de cooperação e seu desenvolvimento educativo e social (González, 2002).

Historicamente, o MEM teve como um dos seus principais fundadores Sérgio Niza e nasceu a partir de propostas pedagógicas de Freinet, assentes num abordagem empírica das aprendizagens baseadas no ensaio e erro, evoluindo posteriormente para uma abordagem mais sociocultural seguindo as linhas de pensamento de Vygotsky e Bruner. Compreende-se portanto que o seu eixo principal parta de uma construção democrática de aprendizagens através do quotidiano das crianças. Desta forma, todo o trabalho escolar realizado entre docente e criança é feito por diálogo negociado numa participação ativa entre todo o grupo.

Segundo González (2002), este modelo pedagógico permite atingir qualidade pedagógica se construídos modos de organização no trabalho realizado na sala, auxiliando as crianças a progredirem no seu percurso de aprendizagens significativas, construindo o seu próprio saber. Para tal, são utilizadas estratégias de diferenciação no trabalho

35 realizado variando-se entre o trabalho coletivo (de grupo ou turma) e o trabalho autónomo, individual ou em pequeno grupo. Desta forma, o autor afirma que, com este modelo pedagógico, a escola repudia “(…) exclusões, [e torna-se] integradora de todos, independentemente das suas diferenças.” (pg.43).

Em suma, o MEM apoia a criança, direta e indiretamente, na promoção de interações sociais e entreajuda de docentes e crianças num trabalho democrático que tem por base uma prática integradora educativa.

Como está organizado?

Como já referido, para que haja uma materialização das propostas pedagógicas do MEM, existem um conjunto de estratégias, técnicas e instrumentos que, aliadas à organização do tempo e espaço, obterão coerência entre os meios e fins a atingir neste movimento.

González (2002) explica que, algumas das técnicas utilizadas passam por atividades organizacionais como o Conselho de Cooperação Educativa, Trabalho de Projeto ou ainda a Iniciação à Leitura e Escrita. Relativamente aos instrumentos, o autor refere que estes devem denominar-se instrumentos de pilotagem uma vez que vão permitir ao docente acompanhar, avaliar, orientar e reajustar todo o processo ensino-aprendizagem das crianças. Entre eles, Niza (1998) enumera cinco instrumentos fundamentais para que exista essa monitorização da ação educativa: o Plano Atividades (mapa com duas entradas: nome da criança e atividades a realizar), o Diário de turma/ grupo (folha individual com quatro colunas: “não gostei”, “gostei”, “fizemos” e “queremos” para que as crianças preencham livremente), a Lista Semanal dos Projetos (onde fica registado o assunto do projeto e a criança ou grupo a desenvolvê-lo, juntamente com a sua data de apresentação), o Mapa de Presenças Mensal (onde a criança autonomamente preenche com um símbolo convencional a quadrícula que cruza o seu nome com o dia da semana), e por fim o Quadro Semanal de Distribuição das Tarefas (preenchido com tarefas de manutenção da sala e apoio às rotinas onde é possível colocar à frente, na horizontal, uma cartolina com o nome da criança que será responsável por essa tarefa).

Faça-se notar que o MEM, apesar de muitas vezes fazer-se associar à valência de EPE, é também aplicado ao 1.º CEB adaptando algumas técnicas e estratégias ao grau de escolaridade das crianças. Porém, aqui explanarei apenas a sua vertente em EPE de forma a interligar com a prática pedagógica efetuada nessa mesma valência.

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Como tal, e integrando uma visão geral de toda a organização do MEM, Niza (1998) apresenta o seguinte esquema como forma de clarificar toda esta estrutura:

Figura 6.

Organização Geral do MEM

Fonte: Adaptado de Niza (1998)

Como fator crucial para o desenvolvimento do MEM nas salas de educação de infância, prevê-se a criação de um ambiente agradável e altamente estimulante para as crianças. Parte integrante desse ambiente a proporcionar, refere-se à organização espacial da sala que é constituída por seis áreas básicas de atividades (oficinas/ateliers) e uma área central polivalente para trabalhos coletivos:

 Biblioteca (centro de documentação para consultar documentos ou trabalhos produzidos pelas crianças);

 Oficina de Escrita e Reprodução (equipada de dispositivos de reprodução de texto como por exemplo o computador);

 Laboratório de Ciências e Experiências (provido de ferramentas para medir ou pesar, criar ou observar, e ainda registar experiências. É aqui que também é feito o registo das alterações climatéricas diárias – mapa do tempo);

Esquema de Organização Geral

Organização da Classe Planeamento - Planos Semanais; - Planos Diários; - Atividades e Projetos. Avaliação - Diária; - Semanal; - Periódica. Mapas de Registo - Inventários; - Presenças; - Tarefas; - Atividades; - Diário do Grupo; - Regras de vida. Organização Espacial Áreas de trabalho - Biblioteca; - Atividades Plásticas; - Movimento e Drama; - Cultura e Educação Alimentar; - Construções e Carpintaria; - Experiências e Ciências; - Reprodução da Escrita. Organização Diária do Tempo - Acolhimento; - Planificação em Conselho; - Atividades e Projetos; - Refeição da manhã; - Comunicações; - Almoço; - Atividades no Recreio; - Tempo de atividade coletiva; - Avaliação.

37  Espaço de Carpintaria e Construções (local de construção improvisada ou

concebida);

 Atividades Plásticas/Expressões Artísticas (inclui dispositivos para pintar, desenhar e modelar);

 Espaço de Brinquedos/Jogos/”Faz de conta” (apetrechada com uma casa de bonecas e ainda uma arca com adereços para o “faz de conta” ou projetos de representação dramática);

 Área polivalente (contém mesas e cadeiras para qualquer reunião coletiva mas também como suporte às outras áreas em trabalhos de pequeno grupo ou individual).

Em paralelo surge a organização temporal diária prescrita pelo MEM, baseada em nove momentos já supracitados. Resumidamente, num primeiro momento, as crianças concentram-se para conversar em grande grupo (Acolhimento) passando-se ao preenchimento do Mapa de Presenças Mensal, planificação autónoma de atividades e projetos que pretendam realizar e, por fim, dirigem-se às respetivas áreas para que façam o que se propuseram realizar. Depois da pausa da manhã para lanchar, voltam à área polivalente para ouvirem e relatarem as comunicações de coisas descobertas e aprendidas durante o momento anterior, dirigindo-se depois para o Almoço. O tempo da tarde é orientado para a realização de atividades culturais que vão diferir consoante o dia da semana, podendo assim ser: a hora do conto; relato e balanço de visitas de estudo realizadas durante a manhã; fazer uma conferência, representar uma história ou exprimir ideias; ou ainda realizar a reunião de conselho para ler o diário do grupo (aqui são avaliadas as responsabilidades assumidas pelas crianças durante toda a semana, planeadas as tarefas para a semana seguinte e uma reflexão conjunta sobre o que foi escrito no diário).

Efetivamente, a existência de uma rotina diária prevê uma estabilização de toda esta estrutura organizativa e promove “(…) a segurança indispensável para o investimento cognitivo das crianças.” (Niza, 1998, p.154). Todos estes elementos organizacionais vão definir esta pedagogia e facilitar a sua implementação por parte dos educadores de infância, servindo-se de bases como estas para criar um ambiente apoiante à criança, onde esta é o principal interveniente das aprendizagens que realiza.

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