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Diferentes abordagens sobre empreendedorismo social

Austin et al. (2006) oferecem uma explanação baseando-se, para tanto, em uma proposição teórica, em que faz uma análise comparativa que tem como foco quatro variáveis diferentes:

- Falha de mercado: a existência de empreendedorismo social emerge quando há falhas de mercado que não atendem necessidades sociais. Nesse sentido, os autores propõem que a falha de mercado cria diferentes oportunidades empreendedoras para o empreendedorismo social e comercial.

- Missão: O propósito principal do empreendedorismo social é a criação de valor para o bem público. No entanto, considerando que o empreendedorismo tradicional busca a criação de operações lucrativas que resultem em ganho privado, para os autores, significa um exagero, pois eles acreditam que o empreendedorismo tradicional traz benefícios para a sociedade na forma de produtos novos e valiosos, serviços e empregos, fato que também pode

gerar impactos sociais transformativos. Assim, os autores propõem que diferenças na missão são um recurso distinto fundamental entre empreendedorismo tradicional e social que se manifesta em múltiplas áreas da gestão da empresa e da motivação pessoal. Os autores enfatizam que as dimensões comerciais e sociais dentro da empresa podem se tornar uma fonte de tensão.

- Mobilização de Recursos: A restrição de excedentes não distributivos gerados por organizações sem fins lucrativos e o objetivo social incorporado com fins lucrativos ou formas híbridas de empreendimento social limita empreendedores sociais de tirar proveito do mercado de capitais mesmo como empresários comerciais. Os autores propõem, portanto, que a mobilização dos recursos humanos e financeiros é uma diferença prevalecente e leva para abordagens fundamentalmente diferentes na gestão dos recursos humanos e financeiros.

- Mensuração de Desempenho: O propósito social dos empreendedores sociais cria maiores desafios para a mensuração do desempenho quando comparados com os empreendedores comerciais que podem confiar em mensurações quantificáveis e tangíveis, tais como indicadores financeiros, satisfação do cliente, e qualidade. Os autores propõem, a partir dessa afirmação, que a mensuração do desempenho do impacto social continuará a ser um diferencial fundamental, complicando a responsabilidade e as relações dos stakeholders.

Economias modernas incluem diferentes tipos de organizações comerciais com diferentes modelos de governança. Entretanto, apesar das diferenças, todas compartilham de uma característica – elas existem para defender os interesses da coalizão organizacional dominante, sejam seus acionistas, proprietários, parceiros ou membros. Em contraste, as iniciativas de empreendedorismo social parecem não seguir a mesma lógica, mas sim parecem operarem para o benefício de usuários específicos ou para a sociedade como um todo. Adicionalmente, os empreendedores sociais interagem no mercado para recursos e serviços com outros tipos de atores econômicos (Santos, 2009). O autor destaca que o empreendedorismo social, na sua essência, não trata da defesa de valores particulares, mas sim da criação de valor. Nesse sentido, ele exerce um papel econômico e social que é distinto de outros tipos de organizações do setor social.

Assim como o empreendedorismo social, também o termo Negócios Sociais tem sido abordado na literatura juntamente com outros, como por exemplo, Negócios Inclusivos, Empreendedorismo Social, Negócios com Impacto Social, entre outros. Essa diferença de

nomenclatura pode ser observada, principalmente, em literaturas que se diferenciam pela sua origem: Estados Unidos, Europa, Ásia, etc.

Fischer (2014), ao conceituar Negócios Sociais, aponta que essa tendência de não haver uma nomenclatura única para esse tipo de negócio, por um lado dificulta a construção de construtos científicos e teorias explicativas, mas por outro, indica uma possibilidade de influenciar mudanças sociais em um espectro mais ampliado.

No entanto, o uso de um termo ou o outro, geralmente está ligado a um foco diferente e/ou compreensão do fenômeno dependendo do contexto e perspectiva. Neste capítulo, o termo "negócio social" também será usado como um tipo de empreendedorismo social para designar uma gama mais ampla de iniciativas socialmente inovadoras em um espectro de organizações com fins lucrativos.

Comini, Barki e Aguiar (2012) ressaltam que os negócios sociais podem ser entendidos por três perspectivas diferentes constantes na literatura: A perspectiva Europeia, a perspectiva Norte Americana, e a perspectiva dos países emergentes.

Na perspectiva Europeia, utiliza-se o termo empresa social como uma forma legal de organização na maioria dos países daquele continente. Esse tipo de empresa é utilizado para oferecer produtos e serviços que deveriam ser oferecidos pelo setor público, e também para gerar empregos para pessoas desempregadas e marginalizadas (Borzaga & Defourny, 2001). Essas empresas são entendidas pela EMES (Emergence of Social Enterprise in Europe) como organizações orientadas por lógicas de mercado com propósitos sociais em seus objetivos, e são baseadas em valores comuns e compartilhados.

A abordagem que prevalece na Europa é aquela que ressalta a importância da participação dos beneficiários nas tomadas de decisões, assim como o reinvestimento do lucro dentro da própria organização para fortalecer o crescimento e o impacto social. Esta perspectiva está baseada na premissa de que existe uma tensão entre a obtenção de resultados financeiros e sociais. Assim, a distribuição de lucros tem o objetivo de maximizar os retornos financeiros para os acionistas e investidores que entram em conflito com a busca da maximização do impacto social (Comini, Barki & Aguiar, 2012).

Embora o termo "negócio social" tenha sido usado anteriormente ao de empreendedorismo social, sua difusão é mais recente e é principalmente devido ao vencedor do prémio Nobel da paz Muhammad Yunus, fundador do Banco Grameen. No entanto, ele ainda não recebeu muita atenção na literatura acadêmica (Yunus, Moigeon & Lehmann- Ortega, 2010).

Barki, Comini e Cunliffe. (2015) destacam que o propósito principal dos Negócios Sociais é diminuir as vulnerabilidades e as desigualdades sociais do mundo. Para os autores, essas atividades estão fazendo emergir empreendedores das forças de mercado e eles estão desempenhando um papel integrativo entre os modelos de negócios sustentáveis com as necessidades da sociedade que ainda perduram por força de oportunidades que decorrem de falhas de governo.

Embora os indicadores tradicionais da pobreza apontem para uma diminuição de número de pessoas que vivem naquela situação, a exclusão social ainda é um problema relevante. Isso ocorre pelo fato das desigualdades na distribuição de renda e outros fatores condicionantes continuarem a desempenhar um papel determinante no acesso de muitas pessoas aos direitos da cidadania. É necessário assegurar meios que permitam que essas pessoas adquiram um nível de liberdade pessoal que permitirá sua participação na vida social e política (Fischer & Comini, 2012).

Independentemente do tipo de debate, a maioria dos autores estudados concorda que a inovação é uma peça fundamental na busca da solução de problemas, tanto para o empreendedorismo tradicional, quanto para o social.

Para um melhor entendimento sobre os empreendimentos sociais, alguns exemplos que foram selecionados do Projeto Brasil27 estão apresentados nos Apêndices A, B e C. Esse projeto teve como objetivo entender como os negócios sociais estão ajudando a transformar o Brasil. Para tanto, dois pesquisadores, Fabio Serconek e Pedro Henrique Vitoriano, juntamente com duas professoras do CEATS (Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor - que se trata de um Núcleo de Cultura e Extensão da USP), Graziella Maria Comini e Rosa Maria Fischer, mapearam empreendimentos sociais nos 27 Estados brasileiros.

Para que um empreendimento fosse entendido como social e pudesse fazer parte do projeto, os pesquisadores adotaram seis critérios:

1- Não ser iniciativa de Responsabilidade Social Corporativa; 2- Ter missão socioambiental;

3- Causar impacto social;

4- O impacto social causado na cadeia de valor que sustente o negócio financeiramente;

5- Ter, ao menos, 50% da receita advinda da comercialização de produtos/serviços, ou a empresa deveria ter a perspectiva de se tornar financeiramente sustentável (operar indeterminadamente sem a necessidade de doações);

6- Ter pelo menos um ano de formalização.

Conforme já mencionado, o Projeto Brasil27 (2016) oferece um mapeamento de negócios sociais em todas as regiões do Brasil. Para exemplificar, escolheram-se os casos mapeados na região sudeste por ser a região onde esta tese foi desenvolvida e estão apresentados nos Apêndices A, B e C.

Como se pode observar com os exemplos relatados de empreendimentos sociais apresentados nos Apêndices A, B e C, a inovação se faz presente nesses casos. E como este estudo tem como foco entender a inovação social nos empreendimentos sociais, o próximo tópico busca o entendimento deste construto desde a sua origem nos estudos organizacionais.

Conforme apontado por alguns autores, a criação de valor social é determinante no propósito das inovações sociais. Por essa razão, o próximo item apresenta o entendimento de alguns autores sobre esse assunto.