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GERAÇÃO PRÉ-COLETA

2.2 Coleta seletiva

2.2.4 Dificuldades encontradas para implantação da coleta seletiva

Segundo Gallardo (2000), a implantação de um sistema de coleta seletiva deve considerar algumas dificuldades que podem inviabilizar o processo, são elas:

A inexistência de mercado para materiais de segunda, ou subprodutos, e variabilidade de preços, não proporcionando grandes benefícios na venda destes subprodutos. As barreiras técnicas de reciclagem que inviabilizam a reciclagem de alguns produtos

devido as suas propriedades físicas e químicas.

A falta de normas técnicas para a indústria de embalagens para unificar o “design”. O custo de novos sistemas de coleta e de instalações de separação em relação ao baixo

custo dos lixões.

Restrições dos orçamentos municipais.

A falta de informações válidas, pois muitas empresas têm interesse em não divulgar corretamente sobre qual tipo e quantidade de resíduos elas geram.

Boicote por parte das empresas que terceirizam os serviços de tratamento e/ou disposição final para não perder mercado.

Desenvolvimento de sistemas de coleta ineficientes, com porcentagens baixas de recuperação e de qualidade dos subprodutos.

Falta de interesse político.

2.2.5 – O estado da arte com relação à pré-coleta

Nos últimos anos, o gerenciamento dos resíduos sólidos domiciliares tem sofrido mudanças significativas tanto a nível nacional quanto internacional, visto que nos países mais desenvolvidos as quantidades de resíduos geradas são maiores que nos países em desenvolvimento, onde as preocupações com minimização e redução na geração de resíduos parecem estar mais presentes e a coleta seletiva faz parte do cotidiano da população.

De acordo com Ribeiro e Lima (2000), os países que assumiram a vanguarda nas iniciativas no campo da reciclagem, considerada como fator importante para redução dos resíduos sólidos urbanos, foram alguns países da Europa, os Estados Unidos e, sobretudo o Japão, numa ação direta dos governos, atuação freqüente das empresas, das instituições da sociedade civil e da população como um todo.

Ao longo da década de 1990, os governos de países europeus incrementaram várias normas para reduzir o impacto ambiental causado pelas embalagens, através da legislação, que enfocam principalmente três áreas (EIGENHEER apud RIBEIRO; LIMA, 2000):

Regras para depósito em vários tipos de “containers”, principalmente fábricas de bebidas;

Proibição de embalagens com materiais que causem danos ao meio ambiente, principalmente o PVC;

Impressão de selos na embalagem indicando que o material é reciclável.

Nestes países, devido ao custo da mão de obra, investe-se cada vez mais em tecnologia, buscando-se soluções econômicas e eficientes, que garantam a qualidade dos serviços de coleta, transporte, tratamento e destino final de resíduos sólidos, deste modo a solução tecnológica mais

adequada passa pela colaboração efetiva da população atendida pelo sistema. Além disso, nos países desenvolvidos não se utiliza mais o sistema de coleta seletiva porta-a-porta, a não ser em condições muito especiais. A população deposita voluntariamente seus resíduos, segregada nas próprias residências, em containers basculáveis por tipo de material em pontos estratégicos nos logradouros públicos, permitindo a economia e rapidez do serviço de coleta, que é feita através de veículos que trabalham apenas com o motorista (RIBEIRO; LIMA, 2000).

Na Alemanha, a criação de uma Lei, conhecida como “Decreto Topfer”, que em termos legislativos é a que mais se aproxima do principio do poluidor-pagador, diz que, os fabricantes são responsáveis pela coleta e reciclagem das embalagens descartáveis utilizadas, inclusive as embalagens secundárias e o seu transporte.

Esta lei levou um grupo de empresas a montar um sistema dual de coleta de embalagens e reciclagem, o Duales System Deutschland (DSD). Para integrarem-se a DSD, os fabricantes e comerciantes pagam uma taxa de filiação e são identificados pelo “Ponto verde” que é impresso nas embalagens dos produtos dos fabricantes associados e que indica, que o fabricante já pagou pela coleta e destinação da embalagem utilizada. A coleta é executada pela DSD através de formas operacionais adaptadas a cada localidade. Esta iniciativa teve como resultado, a redução da geração de resíduos de embalagens, já que as empresas passaram a buscar a redução nos custos de destinação (COOPER apud AGUIAR, 1999).

Além da separação das embalagens, a população também separa de acordo com os dias marcados, outros tipos de materiais, tais como: pilhas, móveis, etc.

A Grã-Bretanha implementou em 1997 o seu regulamento, que inclui todos os tipos de embalagens. Sendo assim foram implantados sistemas privados de coleta de embalagens, entre os quais o VALPAK que é o sistema dominante, com 2.500 membros do total de 3.880 empresas

registradas. Há uma competição com os outros sistemas menores, de modo que é previsível a diminuição dos custos no futuro (COOPER apud AGUIAR, 1999).

A organização dos serviços de coleta já vem sendo privatizada há anos, no entanto, no âmbito legal, tem sido feitos ajustes para admissão de investimentos privados em outras operações do sistema de resíduos sólidos, de forma a eliminar barreiras legais ao compartilhamento dos riscos dos negócios envolvidos, e à autonomia das autoridades locais para consolidação das parcerias necessárias (O’KEEFE; RICE apud AGUIAR, 1999).

O sistema de financiamento pela iniciativa privada, regulamentado recentemente, caracteriza-se pelo fornecimento de serviços por um parceiro da iniciativa privada, direcionado por princípios bem definidos, como especificação baseada em resultados, transferência de risco e pagamento baseado em desempenho (PORTNELL apud AGUIAR, 1999).

Nos Estados Unidos, o grande volume de resíduos gerado pela sociedade está fundamentado no famoso “american way life” que associa a qualidade de vida ao consumo de bens materiais (LERÍPIO apud DONHA, 2002). Este padrão de vida alimenta o consumismo, incentiva a produção de bens descartáveis e difunde a utilização de materiais artificiais. No país são produzidos por ano 327,5 milhões de toneladas de resíduos sólidos domiciliares e a taxa de reciclagem situa-se entre 27% e 28%, incluindo-se a compostagem e parte dos resíduos sólidos industriais de alguns estados (GOLDSTEIN apud AGUIAR, 1999).

De acordo com Monteiro apud Nóbrega (2003), o índice de material reciclado em algumas cidades americanas chega a 40% e a maior parte do material reciclado é o papel. Um pouco mais da metade da população é atendida pela coleta seletiva porta-a-porta e o número de programas deste tipo de coleta e de entrega voluntária tem aumentado, apesar da taxa de reciclagem permanecer estabilizada. A incineração se situa em torno de 10% e o restante dos resíduos é aterrado. Alguns estados estabeleceram metas de reciclagem, embora não haja a responsabilidade

do produtor, e repassaram aos municípios mais de US$ 180 milhões para serem aplicados em programas de reciclagem (GOLDSTEIN; GLENN apud AGUIAR, 1999).

Nos Estados Unidos a Environmental Protection Agency - EPA – tem atuado na produção de material educativo para redução na geração de resíduos e tem também incentivado as formas participativas de solução do problema dos resíduos sólidos na comunidade. Além disso, em muitas comunidades se pratica a coleta seletiva e em vários Estados americanos já se estabelecem cotas mínimas de reciclagem (GOLDSTEIN; GLENN apud AGUIAR, 1999).

No Japão, a reciclagem é incentivada e já faz parte de sua cultura há séculos. Isto se deve principalmente à pequena extensão territorial, elevada densidade demográfica, escassez e dependência, praticamente total, de matérias primas e energia. Os índices de reciclagem do Japão chegam a 50% e nenhum outro país utiliza a incineração de forma tão intensa para reduzir o volume de resíduos, no entanto há uma grande preocupação com a escassez de áreas para implantação de aterros sanitários para confinamento destes rejeitos (EIGENHEER apud RIBEIRO; LIMA, 2000).

Os planos de gerenciamento de resíduos no Japão têm estimulado as seguintes ações: Estímulo à coleta seletiva – visando o aumento da reciclagem e da reutilização de

resíduos;

Restrição ao descarte de resíduos – pela diminuição do volume de resíduos descartados através do estímulo ao uso das sacolas de compras e de embalagens retornáveis pela população e às empresas coube a padronização das embalagens para aumentar a sua eficiência, de modo a minimizar o volume a ser aterrado e minimizar o custo com o gerenciamento dos resíduos;

Difusão das informações – os governos nacional e municipal deverão realizar campanhas de esclarecimento para difusão do conceito de que a reciclagem é uma forma de preservação ambiental.

Ainda no Japão, a simples displicência na segregação correta dos resíduos leva à sanção, por parte do Poder Público, de toda a coletividade usuária do container comunitário (RIBEIRO; LIMA, 2000).

De acordo com Nóbrega (2003), as primeiras experiências de coleta seletiva organizada e integrada ao gerenciamento de resíduos sólidos no Brasil datam do final da década de 80 e início da década de 90 do século XX e foram de um modo geral inspirada em modelos já implantados em países desenvolvidos. A maioria teve um enfoque ambiental e socioeconômico, demonstrando uma visão imediatista e romântica de que a coleta seletiva resolveria o problema dos resíduos sólidos. A primeira experiência brasileira com resultados aconteceu no bairro São Francisco em Niterói –RJ, na década de 1980.

De acordo com o Centro Empresarial para a reciclagem – CEMPRE (2004), o Brasil apresenta indicadores bastante positivos no desempenho da reciclagem, pois dos 5.507 municípios existentes, há 237 municípios operando programas de coleta seletiva, com maior concentração no sul e sudeste do país.

A Figura 2.4 apresenta a porcentagem atendida pela coleta seletiva em vários municípios brasileiros CEMPRE (2004).

Figura 2.4 – População atendida pela coleta seletiva (%) em diversas cidades brasileiras. Fonte: CEMPRE (2004)

A Coleta Seletiva de Materiais Recicláveis em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, foi implantada em 1993, sendo coordenada pela Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) têm como principais características (ABREU et al., 2002):

Coleta ponto a ponto, através da instalação de Locais de Entrega Voluntária com contentores para metal, plástico, vidro e papel para recebimento dos recicláveis; Incorporação dos catadores de papel como atores prioritários do sistema, fornecendo

apoios logístico, operacional e sócio-educativo a Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Materiais Reaproveitáveis - ASMARE;

Envolvimento da sociedade, com estratégias de educação ambiental e mobilização social, colocando a população como agente propulsor da coleta seletiva, buscando adesões voluntárias, ações integradas e constituindo parcerias.

A escolha pela coleta ponto-a-ponto, segundo Abreu et al., 2002, levou em consideração as seguintes vantagens:

Os LEV’s ficam disponíveis 24 horas para a entrega de recicláveis;

Os materiais devem ser separados e levados pela população até os LEV’s, promovendo maior conscientização da comunidade;

O sistema proporciona uma melhor qualidade dos materiais recicláveis.

O recolhimento de recicláveis é de responsabilidade tanto da prefeitura, como da ASMARE, nos 159 LEV’s situados em vários pontos da cidade de Belo Horizonte. São coletadas seletivamente (só recicláveis) 425 toneladas/mês (GONÇALVES apud CEBALLOS, 2003). Em 2004, 80% da população foi atendida pela coleta seletiva (CEMPRE, 2004).

O programa de coleta seletiva porta a porta em Florianópolis (SC), existe desde 1994, e que, por ser uma cidade turística, tem sua produção de resíduos aumentada em 30% no verão, agravando a sua disposição final.

De acordo com Grimberg e Blauth (1998) o total de resíduos sólidos produzidos por dia é de 300 t/dia (400 t/dia no verão), onde 200 t/dia são coletados seletivamente. A cidade conta com um trabalho desenvolvido por 110 papeleiros, cada um dos 50 adultos coletam, em média, 7 toneladas de pápeis por semana. Os materiais recicláveis são encaminhados a uma estação de triagem, onde trabalham 22 triadores e 3 coordenadores. Destes materiais apenas 50% é efetivamente triado, em esteira de catação, antes de serem comercializados e o restante é vendido como “mistão”, a sucateiros, para agilizar a fluidez de escoamento.

As atividades de mobilização das comunidades de Florianópolis tiveram grande apoio da mídia, além do trabalho educativo, no entanto, a Companhia Melhoramentos da Capital (COMCAP) não desenvolve atualmente um programa pró-ativo de educação ambiental, mas atende pedidos para palestras e organizar eventos no município e possui um telefone exclusivo para informações sobre o programa de coleta seletiva, o Tele-reciclagem. No ano de 2004, 90% da população foi atendida pela coleta seletiva (CEMPRE, 2004).

A coleta seletiva em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, está prevista na Lei Complementar 274/90, do Código Municipal de Limpeza Urbana, fazendo parte do Programa de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos Urbanos (PEREIRA, 2000).

O sistema adotado em Porto Alegre é a coleta seletiva porta a porta que é feita uma vez por semana em todos os bairros, em dia e turno determinados, onde a comunidade separa o “lixo seco” do “lixo orgânico”, e é operacionalizada pelo Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) que utiliza 21 caminhões. A população dispõe de 28 containers para o acondicionamento de recicláveis, instalados em parques e locais de movimento comercial. Todo o lixo seco é encaminhado a uma das oito unidades recicladoras que são associações de catadores formalmente constituídas e autônomas, onde trabalham cerca de 300 recicladores que são responsáveis pela triagem, enfardamento, armazenamento e comercialização dos recicláveis.

Em 2000, a média diária de resíduos coletados em Porto Alegre foi de 60 toneladas, correspondendo a 7% em peso do total de resíduos domiciliares produzidos no município. Esses resíduos são destinados a 8 Unidades de triagem, onde trabalham 380 pessoas que são responsáveis pela recepção, triagem, enfardamento, pré-beneficiamento e comercialização (REICHERT;CAMPANI 2000). O Programa de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos ainda processa parte dos resíduos orgânicos, através da suinocultura (produção de ração animal tratada feita com resíduos coletados seletivamente em restaurantes) e compostagem, e resíduos inertes, nas centrais de entulhos.

De acordo com Pereira (2000), a cidade de Porto Alegre apresenta um dos maiores índices de rendimento da coleta seletiva, em termos de quantidade de resíduos coletados proporcional a população representando uma adesão em torno de 62%. Em 2004, houve um decréscimo de 100% (2002) para 70% no atendimento da população pela coleta seletiva (CEMPRE, 2004).

O programa de coleta seletiva implantada na cidade de São Paulo teve inicio em 04 de julho de 1989, na gestão da prefeita Luiza Erundina, no bairro de Vila Madalena, através de uma experiência piloto que previa a distribuição de sacos de papel para serem utilizados pelos moradores do bairro e de folhetos explicativos, realizando-se ao mesmo tempo uma pesquisa junto à população residente. Além de receberem os sacos de papel, os moradores recebiam visitas de técnicos da prefeitura para orientação e acompanhamento do processo. Terminado o período de três meses de duração do projeto piloto, houve um pequeno declínio do volume coletado (CALDERONI, 2003).

De acordo com o autor supracitado o programa evoluiu rapidamente como é descrito a seguir:

Até maio de 1991 já eram dez os circuitos contemplados, abrangendo 24 mil residências e cerca de 117 mil pessoas;

Até o final de junho foram inaugurados mais nove circuitos, atingindo então 34 mil domicílios e mais 170 mil pessoas;

Em maio de 1991 foram instalados os primeiros PEV’s, conjunto de quatro coletores com cores indicativas para quatro tipos de materiais: vidro, pápeis, metais e plásticos; Até dezembro de 1992 haviam sido instalados 37 conjuntos de PEV’s, com 1500 litros

cada, coletados por cinco caminhões equipados com o dispositivo Munck;

No final de 1992 a coleta seletiva atingiu 33 circuitos, envolvendo uma população de 510 mil pessoas.

O volume total arrecadado na fase final do programa era de aproximadamente 230 toneladas mensais, cerca de 10 toneladas por dia útil. Deste total, 75% originava-se da coleta seletiva porta a porta (recolhida uma vez por semana), 15% dos PEV’s e 10% de doações (CALDERONI, 2003).

O mesmo autor informa que a receita gerada pela venda dos materiais era destinada ao próprio bairro e que após 6 meses de fase experimental do projeto, cerca de 70% da população já havia aderido ao programa. A partir deste resultado, a coleta seletiva foi expandida nos meses de junho e julho de 1990 para os bairros paulistanos: Lapa, Butantã e Pinheiros, abrangendo 12.500 domicílios.

A coleta seletiva também apoiou iniciativas como as que envolviam conjuntos habitacionais especiais e condomínios, oferecendo orientação técnica e uma lista de sucateiros com atuação nos arredores, de sorte a viabilizar a comercialização dos materiais por parte dos próprios moradores.

A gestão da prefeita Luiza Erundina terminou em 1992, quando o prefeito Paulo Maluf assumiu. A coleta seletiva passou a ser, somente, através de PEV’s, sendo desativada a coleta porta a porta (maio de 1992), por serem seus custos extremamente elevados, tornando o programa mais restrito se comparado ao anterior que abrangia os dois tipos (CALDERONI, 2003).

Segundo Lage (2003), foi implantado a partir de junho de 2003, um projeto piloto de coleta seletiva porta-a-porta, abrangendo três roteiros nas zonas central e leste da cidade de São Paulo no total de 300 ruas e 12 mil moradias. A coleta era feita às quintas-feiras em trechos das subprefeituras da Sé e da Mooca, que foram escolhidas por já disporem de central de triagem, beneficiamento e venda de material reciclável. Outra forma de adesão à coleta seletiva foi através dos postos de entrega voluntária.

Em 2004 a coleta seletiva em São Paulo já abrange 56 bairros, com 15 centrais de triagem, com 35 coletores e 80 caminhões do tipo gaiola, 1.200 contêineres, com volume coletado de 80 t. /dia e um grupo de 700 cooperados, tendo sido atendida 30% da população da cidade de São Paulo pela coleta seletiva (CEMPRE, 2004).