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GERAÇÃO PRÉ-COLETA

2.3 Taxa de coleta de resíduos

A Constituição Federal Brasileira de 1988, em seu artigo 23, incisos VI e IX, confere a União, Estados, Distrito Federal e municípios a competência de:

VI – proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; IX – promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições

Compete aos municípios organizar e prestar os serviços públicos de interesse local, incluindo-se as tarefas de limpeza pública: coleta, transporte, tratamento e disposição dos resíduos municipais, o que expressa sua autonomia administrativa (D’ALMEIDA et. al., 2000).

De acordo com Lima (2000), a implantação de um sistema de gestão integrada de resíduos sólidos que possa equacionar o problema da gestão de resíduos esbarra na falta de uma legislação adequada que a regulamente, bem como a ausência de uma política tributária que permita a cobrança de taxa e/ou tarifas dos serviços prestados pela limpeza pública.

A sustentabilidade econômica dos serviços de limpeza urbana é o grande desafio dos gestores municipais e é um importante fator para garantia de sua qualidade.

Na maioria dos municípios brasileiros, os serviços de limpeza urbana são remunerados através de uma taxa cobrada junto à mesma guia do Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU), e por ter a mesma base de cálculo deste imposto (área construída ou área do terreno), ocorre a bi- tributação, o que é considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal. Dessa forma a cobrança dessa taxa vem sendo contestada em muitos municípios, que passam a não ter recursos para cobrir as despesas com os serviços de limpeza urbana, que podem chegar a 15% do orçamento do município (RESOL, 2005).

Segundo a Constituição Federal de 1988, no seu art. 145, inciso II, a taxa é o tributo exigido em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição.

Atualmente existem três modelos básicos de cobrança de tributos em relação aos Serviços de Limpeza Urbana prestados à população (LIMA, 2000).

O primeiro deles é o Lançamento e a Cobrança através da Taxa de Limpeza Urbana (TLP) que tem como base de cálculo um percentual do valor lançado no IPTU e que normalmente é de 30% deste valor para habitações domiciliares e de 50% para os vazios urbanos e que é cobrado na

maioria das cidades brasileiras. A base de cálculo da taxa é basicamente o custo dos serviços e seu fato gerador é a prestação dos serviços efetivo ou potencial colocado à disposição do contribuinte. No entanto por ter a TLP a mesma base de cálculo do IPTU, é considerada inconstitucional (LIMA, 2000).

O segundo modelo é o lançamento deste tributo sobre forma de tarifa cobrada juntamente com a conta de água do município. Este modelo partiu de um estudo desenvolvido inicialmente por Mario Slomp, que relaciona a produção dos resíduos sólidos com a produção de água x esgoto por habitante, e depois pela Companhia de Saneamento do Paraná - SANEPAR, que propõe um modelo tarifário, onde a cobrança pelo Gerenciamento dos Resíduos Sólidos Urbanos diferencia as categorias de clientes pela quantidade e tipos de resíduos produzidos (LIMA, 2000). O custo total é rateado, resultando em um valor compatível com cada cliente, que cobra da concessionária, no caso a SANEPAR, a qualidade e eficiência dos serviços. Este valor tarifário, entretanto é cobrado na conta de água do munícipe. Este modelo não apresenta em sua metodologia o critério da divisibilidade, o que o torna inconstitucional (LIMA, 2000).

Um terceiro modelo é o lançamento e cobrança através de Taxa de Coleta de Resíduos (TCR) onde foi desenvolvida toda uma metodologia de cálculo de forma a se cobrir os custos dos serviços com a limpeza urbana municipal, através de fórmula específica para tal fim. Esta taxa leva em consideração parâmetros (fatores) que buscam apontar os custos destes serviços e deve ser aprovada em forma de Lei Municipal, desvinculando este tributo do IPTU, onde seu lançamento e arrecadação podem e devem ser separados. Este estudo também não consegue identificar a divisibilidade dos serviços. Este modelo é utilizado no município de João Pessoa (LIMA, 2000).

De acordo com Lima (2000), foi desenvolvida, a partir de estudos elaborados em 1997, a fórmula da T.C.R. do município de João Pessoa, que tomou como base os custos dos serviços de

limpeza urbana, de modo a se conseguir a sustentabilidade desses serviços, mensurada de acordo com a fórmula descrita abaixo, cuja resultante multiplicada pelo número de meses do exercício totalizará o valor efetivamente devido:

T.C.R.= { [ (Fp+Fl) x Ui ] x Fe } x (UFIR/JP) x 12; onde:

Fp = Fator de periodicidade, que determina o número de vezes em que o contribuinte tem os serviços prestados, ou seja, quantas vezes os seus resíduos são coletados (freqüência de coleta – diária ou alternada).

Fl = Fator de localização do imóvel, definidos em tabela, cujos índices se dão em função do custo dos serviços, em toneladas.

Ui = Fator de utilização, que determina qual o tipo de utilização de coleta de resíduos sólidos que o contribuinte é enquadrado, ou seja: produção de resíduos sólidos para cada utilização – residencial, comercial sem produção de lixo orgânico, comercial com produção de lixo orgânico, industrial, vazio urbano murado e vazio urbano não murado.

Fe = Fator de enquadramento, que determina em função da produção de resíduos gerada e da área do referido imóvel, os índices atribuídos.

UFIR/JP = Unidade Fiscal de Referência do Município.

12 = Número de meses por ano, em que os serviços são prestados.

Esta fórmula foi intensamente testada e foi aprovada no Poder Legislativo Municipal, através da Lei Complementar nº 016/98 de 16 de dezembro de 1998.

Segundo José Dantas de Lima, ex-diretor operacional da EMLUR, a T.C.R. teve como fundamentos jurídicos, a Constituição Federal, a Constituição Estadual e o Código Tributário do Município, sendo dessa forma amparada pelas Leis que regem o assunto.

Todas as atividades operacionais que não forem auto-sustentadas por tarifas adequadas e por um sistema eficiente de arrecadação serão por recursos do Tesouro Municipal e, portanto, devem ser previstas no orçamento do Município, especificamente na rubrica de despesas com limpeza urbana, sob pena de obrigar a prefeitura a remanejar recursos preciosos de outras áreas.

A aplicação de uma taxa realista e socialmente justa que cubra efetivamente os custos dos serviços, dentro do princípio de "quem pode mais paga mais", sempre implica ônus político que nem sempre os prefeitos estão dispostos a assumir. O resultado dessa política é desanimador: ou os serviços de limpeza urbana recebem menos recursos que os necessários ou o Tesouro Municipal tem que desviar verbas orçamentárias de outros setores essenciais, como saúde e educação, para a execução dos serviços de coleta, limpeza de logradouros e destinação final do lixo. Em qualquer das hipóteses, fica prejudicada a qualidade dos serviços prestados e o círculo vicioso não se rompe: a limpeza urbana é mal realizada, pois não dispõe dos recursos necessários, e a população não aceita um aumento das taxas por não ser brindada com serviços de qualidade (DONHA, 2002).

2.4 Reciclagem

A reciclagem é tida como a recuperação dos materiais descartados, modificando-se suas características físicas (diferenciando-a de reutilização, em que os descartados mantém suas feições). A reciclagem pode ser direta, ou pré-consumo, quando são reprocessados materiais descartados na própria linha de produção, como aparas de papel, rebarbas metálicas, etc., ou indireta, pós-consumo, quando são reprocessados materiais que foram descartados como lixo por seus usuários. Em ambos os casos materiais retornam a seu estado quase original como matéria- prima para mais um ciclo produtivo (GRIMBERG; BLAUTH, 1998).

A reciclagem, segundo Calderoni (2003), aplicada aos resíduos sólidos, designa o reprocessamento de materiais de sorte a permitir novamente sua utilização. Trata-se de dar aos descartes uma nova vida. Nesse sentido, reciclar é “ressuscitar” materiais, permitir que outra vez sejam aproveitados.

A reciclagem pode trazer vários benefícios, como:

• Diminuição da carga de lixo a ser aterrada; • Preservação dos recursos naturais;

• Economia de energia;

• Diminuição dos impactos ambientais; • Novos negócios;

• Geração de empregos diretos e indiretos.

Em todo o mundo o setor da reciclagem alcança forte solidez, sinalizando inúmeras oportunidades de novos negócios que conciliam viabilidade técnica e econômica a ganhos sociais.

Diante do exposto vale salientar que a pré-coleta de materiais recicláveis em mais frações pode ser considerada como um aspecto facilitador da reciclagem, já que a coleta desses materiais previamente separados por tipo, produzem resíduos mais limpos e de melhor qualidade, diminui o tempo de separação na central de triagem, agrega um maior valor para revenda e conseqüentemente um maior lucro para os agentes sociais envolvidos na coleta seletiva.