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Dificuldades enfrentadas na gestão de políticas públicas

GENERO E GESTÃO SOCIAL ARTIGOS

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Trajetória Pessoal e Profissional

4.1.3 Dificuldades enfrentadas na gestão de políticas públicas

A entrevista com as gestoras públicas buscou ainda compreender as dificuldades enfrentadas na gestão de políticas sociais públicas, considerando que estas políticas são

atravessadas por contradições, sobretudo no contexto contemporâneo de crise do capital. Ao perguntarmos às gestoras acerca das dificuldades encontradas na gestão das políticas de Educação e Assistência Social, é consenso entre elas que tais políticas são extremamente burocráticas, porque inseridas no âmbito do Estado

[...]é tudo muito moroso, é tudo muito lento, é tudo muito, tem que tomar cuidado com o ministério público com isso e com aquilo, então você fica muito amarrada, tem algumas legislações que te amarram demais, claro que elas te amarram demais para que as coisas sejam, não incorram em nada fraudulento, porém isso, acaba muitas vezes não te permitindo fazer uma série de coisas, porque é tudo muito demorado (SME2)

[...]A maior dificuldade na gestão de políticas públicas é a burocracia da máquina estatal, a máquina estatal é muito burocrática. e então, ela não é ágil, a gente não consegue fazer um trabalho com muita agilidade, tudo tem que ser muito planejado, muito desenvolvido e aí entra numa série de requisitos necessários de cumprimento é de... de cumprimento de legislação mesmo e isso faz com que agente fique trabalhando mais lentamente, então eu acho que a maior dificuldade é a falta de agilidade.(SMAS1)

[...]a máquina pública mesmo que é complicada de gerir... É complicada porque você tem uma série de entraves hoje legais, você tem é, se por um lado é muito bom, que a sociedade participe tal, você tem o ministério público o tempo todo que olha o que você faz, que te autua e que você tem que responder a isso, então quer dizer, você passa muito tempo na verdade nas atividades meio, e se você não tomar muito cuidado, você perde de vista a atividade fim e isso me preocupa enquanto gestora(SME1)

[...]as contradições que temos são as seguintes, primeiro: a primorosa politica nacional de assistência social não se enquadra com os parcos recursos dos municípios; segundo: as secretarias não tem autonomia, não tem autonomia orçamentária, não tem autonomia política e não tem autonomia administrativa (SMAS3)

[...] é o trabalho intersetorial, eu acho que é um desafio que está posto há muitos anos, o grande desafio hoje das politicas publicas é trabalhar intersetorialmente (SMAS2)

O trabalho desenvolvido na gestão das políticas públicas deve levar em consideração, em primeiro lugar, que o Estado brasileiro historicamente foi burocrático dado à herança portuguesa, conforme análise de Prado Jr. (2000). Evidentemente, compreender a burocracia existente no âmbito das políticas públicas remete-nos a entender o significado dessas para, em seguida, pensarmos a sua relação com a burocracia.

Para as entrevistadas, o trabalho burocrático não pode deixar de ser feito, é através destes procedimentos burocráticos que se dá a transparência da gestão, porém isso acaba

sendo muito demorado, não há agilidade, enfraquece a autonomia, de acordo com a fala das entrevistadas.

Conforme Brandão (2011, p. 139), “a política pública é uma ação pública em resposta

a um assunto do interesse do cidadão, que se configura de acordo com uma construção social de atores distintos que interagem na arena decisória, na elaboração, implementação e

avaliação das políticas”; já a política social “constitui-se em ação destinada ao atendimento

das necessidades sociais de toda a população, mas que é também resultado das tensões e interesses manifestos na construção da agenda pública”. .

Olhar para a política pública como uma forma de garantir a resposta a necessidade do cidadão, torna necessário que as gestoras mantenham ao clareza de seus objetivos o tempo todo para que não sejam consumidas pela máquina burocrática. È necessário que o objetivo maior seja revisitado como forma de garantir que a gestão pública seja bem sucedida, ainda que se reconheça que a gestão pública é atravessada por inúmeras contradições, como por exemplo, os interesses políticos partidários.

A burocracia, por seu turno, explicita “uma forma de administração das relações de

poderes, no qual a especialização de papéis e tarefas, as normas, o saber técnico, a hierarquia e a orientação para a realização racional e eficiente de objetivos específicos determinam a direção das atividades executadas” (MOTA; PEREIRA, 2004, apud, BRANDÃO, 2011, p. 139-140).

Nessa perspectiva, as políticas sociais são atravessadas por relações de poder, e a burocracia, nesse sentido, muitas vezes, serve para expressar esse poder.

Por outro lado, as normativas e legislações vigentes, tanto na área da Educação com da Assistência Social, são conquistas de profissionais e usuários das políticas para as terem garantidas. Assim, se, de um lado, a burocracia serve para expressar um determinado poder institucional; por outro, forçam o cumprimento da lei e a transparência das ações. Para as gestoras, sujeitas dessa pesquisa, a burocracia impede o avanço de suas propostas.

No Brasil contemporâneo, a Constituição Federal adota um modelo de gestão racional-burocrático, democrático e participativo, pautado nos princípios da legalidade, impessoalidade, eficiência, moralidade e publicidade Tais regras, segundo Brandão (2011, p. 144) garantem os modus operandi do Estado. Contudo, esse conjunto de regras é também permeado por contradições de diferentes ordens as quais podem alterar a correlação de forças que perpassa o Estado.

Na contemporaneidade, as políticas sociais públicas se inscrevem no escopo das contrarreformas do Estado. (Berhing, 2003), às quais consistem na desregulamentação de direitos historicamente conquistados pelos trabalhadores, como na implementação da lógica gerencial no âmbito estatal.

Nesse sentido, a burocracia adotada nas políticas sociais públicas são funcionais à nova lógica capitalista.

Nessa direção, pode-se dizer que determinações, como o gênero, afetam, de alguma maneira, os rumos das políticas sociais.