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Processo de escolha para atuar como gestoras de políticas públicas

GENERO E GESTÃO SOCIAL ARTIGOS

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Trajetória Pessoal e Profissional

4.1.2 Processo de escolha para atuar como gestoras de políticas públicas

Uma das leis que regem a organização municipal é a Lei Orgânica do Município. A escolha de gestores para as secretarias municipais de cada município se dá por meio de regras gerais dispostas nessa Lei Orgânica.

No entanto, para ilustrar essa regra, foi retirado do site oficial da Câmara Municipal de São José dos Campos, o arquivo com a Lei Orgânica para exemplo, na qual foram destacados os artigos 102 a 105. Esses dispõem sobre a nomeação dos secretários municipais, atribuindo suas competências, obrigações e punições:

Art. 102. A lei disporá sobre a criação, fusão, extinção, estruturação e atribuições das Secretarias.

Art. 103. Além das atribuições fixadas em lei ordinária, compete ao Secretário Municipal:

I - orientar, coordenar e superintender as atividades dos órgãos e entidades da Administração Pública, na área de sua competência;

II - subscrever os atos e decretos assinados pelo Prefeito, pertinentes à sua área de competência;

III - apresentar anualmente ao Prefeito relatório dos serviços realizados na sua Secretaria;

IV - praticar os atos pertinentes às atribuições que forem outorgadas ou delegadas pelo Prefeito;

V - expedir instruções para a execução das leis, regulamentos e decretos relativos aos assuntos de sua Secretaria.

Art. 104. Os Secretários serão sempre nomeados em comissão, farão declaração pública de bens no ato da posse, anualmente e no término do exercício do cargo, e terão os mesmos impedimentos dos Vereadores e do Prefeito, enquanto permanecerem em seus cargos.

§1º. A obrigação e os impedimentos previstos neste artigo são extensivos a todos os demais ocupantes de cargos de provimento em comissão.

legislação em vigor, são os Secretários Municipais, os presidentes e servidores em comissão, a nível de Secretários Municipais, os presidentes e servidores em comissão, a nível de Secretário, das Fundações Municipais e demais órgãos da administração pública direta e indireta obrigados a apresentar no ato da posse termo de renúncia ao direito do sigilo bancário para fins judiciais. (Inserido o §2º. do artigo 104 pela ELOM 56/2000, de 03/08/2000, Proc. 7345//2000)

Art. 105. Ficam sujeitos à punição os Secretários que violarem os direitos constitucionais ou cometerem crimes administrativos como corrupção, tráfico de influência ou omissão.

FONTE: http://camarasjc2.hospedagemdesites.ws/clicknow/arquivo/lei- organica-do-municipio /3f6c067e4cc5320b2745.pdf

Dessa forma, pode-se entender como se dá a nomeação de um gestor de políticas públicas. No relato das entrevistadas, ficou claro que a decisão do prefeito e da comissão que as nomeou se deu pelo fato de essas terem destaque na sociedade e comunidade em que atuam, o que pode ser comprovado em duas falas:

[...]eu era vice diretora da escola pública e passei num processo seletivo de uma empresa particular fui para lá. Trabalhei lá por quinze anos, graças a Deus tive uma trajetória profissional muito boa, mas ao longo desses quinze anos... quando o atual prefeito ganhou a eleição, eu estava muitíssimo bem empregada nesse trabalho, tinha o cargo máximo na minha área, cargo de diretora acadêmica e ele me convidou para trabalhar com ele (SME2).

[...] e uma escolha praticamente técnica, porque a minha escolha foi mais técnica mesmo, saber que eu tinha uma passagem, que eu tinha uma experiência, que eu tinha uma convivência com o setor, foi que eu fui escolhida (SMAS1).

[...]eu não fui para um cargo político, eu fui convidada para este cargo por ser técnica, por ter um percurso já na educação, no meu currículo já mostra isso (SME1).

[...] Na realidade eu não escolhi ser gestora de política pública eu fui escolhida. Eu nem esperava isso, eu tive uma atuação numa instituição filantrópica, trabalhei quarenta anos numa instituição filantrópica e coordenava as entidades filantrópicas do litoral norte do Vale do Paraíba, então eu já exercia uma gestão ...cinco décadas de trabalho, que levaram o prefeito a me convidar para essa cargo de gestora de política pública... meu nome foi um nome consensual, não houve resistência ao meu nome, a imprensa aprovou, a família que me escolheu aprovou, as entidades (SMAS3).

[...] Porque eu tive uma carreira profissional... fui ser de novo diretora de um departamento que só tinha um projeto da criança e adolescente.eu escolhi serviço social e gostei da profissão e a partir daí eu comecei a

trabalhar nessa área, onde estou até hoje, faz 36 anos já que eu trabalho nessa área (SMAS2).

Ao serem questionadas sobre qual a motivação que as levou a aceitarem um cargo de gestão em políticas públicas, a primeira resposta dada pelas entrevistadas é que suas experiências profissionais bem sucedidas foram o elo condutor para que fossem convidadas pelos prefeitos de suas cidades e aceitas pelas comissões que nomeiam os representantes.

Mas, ao continuarem seus relatos, mostram que não foi somente o fato de serem bem sucedidas profissionalmente que fizeram com que aceitassem esses cargos:

[...]mais ou menos por aí, eu tenho uma coisa a meu favor, por exemplo, a câmara me respeita pela vereadora que eu fui, na Universidade eu chego lá eu tenho as portas abertas, na iniciativa privada eu consigo as coisas na iniciativa privada porque eu consegui um nome na comunidade... quando eu percebi, sabe, quando eu percebi mesmo que eu era alguém nessa comunidade, quando eu vim para esse cargo aqui... eu me orgulho da minha história de vida... vou deixar um nome bom para a posteridade e uma responsabilidade imensa (SMAS3)

[...] Então, cada vez mais eu fui me apaixonando assim, me apaixonando pela área de trabalhar no poder público, tive oportunidade de ir pra empresa, mas nunca me vi dentro de uma empresa..., mas, mesmo assim, eu aposentei, aí eu estava em casa e, a minha proposta era de fazer trabalho voluntário, criar uma entidade para trabalhar com os direitos humanos na área da criança e adolescente.(SMAS2)

[...]eu não quero nem saber quem é que vai estar na trincheira entendeu, eu vou estar nessa guerra, então, isso é uma característica minha, que é lógico que em função talvez da educação... o trabalho que isso dá e conciliar isso com a minha vida acadêmica que me é cara e preciosa, não eu não abriria da minha vida enquanto pesquisadora, enquanto acadêmica, enquanto professora pra ser uma pessoa política. (SME1)

[...]o motivo principal deu ter aceito é acreditar no trabalho político, acreditar que pode haver mudança no trabalho político... se a gente pode fazer um trabalho efetivo para o município é um trabalho político também, é de gestor, mais é político, então se a gente pode fazer alguma transformação, a gente pode, tem que ajudar, então aminha, o que mais me fez decidir foi isso, foi a oportunidade de poder fazer alguma coisa.(SMAS1)

[...], por outro lado eu tinha uma vontade muito grande de fazer alguma coisa pela minha cidade... como que agora que eu poderia, tinha oportunidade, eu ia desistir, eu escolhi a atuar como gestora de política pública muito pela minha posição pessoal de achar que eu posso contribuir de alguma maneira com a minha cidade. (SME2)

Nas narrativas acima apresentadas, podem-se inferir as motivações que as levaram a assumir um cargo público, seja por considerarem essa uma tarefa vinculada à ajuda- “ajudar a

minha cidade”, seja por entendê-la como uma guerra, seja ainda por entender que tinha espaço

e respeitabilidade suficientes para assumir tal tarefa. Contudo, se se articular a trajetória de vida dessas mulheres com as motivações que tiveram para adentrar na política, percebe-se que as raízes dessas se encontram na questão de gênero ou, melhor dizendo, nas formas pelas quais as gestoras foram educadas e incorporaram as desigualdades de gênero. Pode-se afirmar que as desigualdades de gênero as impulsionaram tanto para a questão da ajuda/cuidado, como reprodução do papel atribuído à mulher tradicionalmente, como também a encarar essa questão como uma guerra, na qual se precisa lutar para conquistar o “território inimigo”, nesse caso, o espaço público.

Evidentemente, esse processo não se dá sem contradições e conflitos, visto que essas mulheres são colocadas em cheque o tempo todo acerca de sua competência para gerir a coisa pública.

Mulheres que protagonizam causas femininas e que comparecem na cena pública para reivindicar sobre questões que lhes dizem respeito e para colocar em pauta a necessária discussão de gênero, possibilitaram muitos avanços nesse sentido. Um grande avanço é, sem dúvida, a construção e afirmação do próprio conceito de gênero (PEDRO; GUEDES, 2010, p. 4).

Em um segundo momento, as entrevistadas demonstram certa paixão pela profissão que escolheram, seja ela educação ou serviço social. Há um o ponto crucial que é o engajamento profissional e que varia de pessoa para pessoa. Elas demonstram energia, compromisso com o trabalho e trazem resultados diferentes tanto para as secretarias quanto para si próprias.

[...]e que você tem que fazer isso com seu aluno já, ensinando a ler, a escrever, a

contar de fato, né, esse aluno tem que sair alfabetizado, tem que sair leitor, tem que sair com habilidade sim, objetivas em Matemática ele tem que conhecer, porque a partir da Matemática você vai conhecer todas as outras ciências exatas. Mas se você não tiver isso como base, você não avança, então se você não tomar cuidado, é, com o gestor de educação, não se atentar a isso, você faz

muita coisa mais, você continua formando alunos que tem as notas que a gente vê aí no Pisa, nos Idebs das escolas que, você não pode perder de vista as coisas que são objetivas mesmo. (SME1)

[...]eu escolhi a atuar como gestora de política pública muito pela minha posição

pessoal de achar que eu posso contribuir de alguma maneira com a minha cidade. (SME2)

[...]o motivo principal deu ter aceito é acreditar no trabalho político, acreditar que

pode haver mudança no trabalho político, e uma escolha praticamente técnica,

porque a minha escolha foi mais técnica mesmo, saber que eu tinha uma passagem, que eu tinha uma experiência, que eu tinha uma convivência com o setor, foi que eu fui escolhida e não tinha no momento deste da minha vida como negar, se a gente pode fazer um trabalho efetivo pro município é um trabalho político também, é de

gestor, mais é político, então se a gente pode fazer alguma transformação, a gente pode, tem que ajudar, então a minha, o que mais me fez decidir foi isso, foi a oportunidade de poder fazer alguma coisa. (SMAS1)

[...] Na realidade eu não escolhi ser gestora de política pública eu fui escolhida.

Eu nem esperava isso, eu tive uma atuação numa instituição filantrópica, trabalhei quarenta anos numa instituição filantrópica e coordenava as entidades filantrópicas do litoral norte do Vale do Paraíba, então eu já exercia uma gestão em cima

dessas, eu brigava com... pelos direitos dessas instituições junto ao governo de Estado, junto as conferencias municipais, estaduais e federais de saúde e sempre com aquele espírito inquieto e ansioso e questionador. (SMAS2)

[...]a minha proposta era de fazer trabalho voluntário, criar uma entidade aí

pra trabalhar com os direitos humanos na área da criança e adolescente e o

prefeito foi me convidar pra eu ser secretaria da assistência social e daí foi mais, foi um desafio grande, que eu pensava, nossa, acho que eu tenho que ter um desafio muito grande pra mim, (SMAS3)

Para as entrevistadas parece ser consenso de que o desafio de assumir um cargo de gestão em políticas públicas era algo a ser vencido, assim como foi construída sua trajetória pessoal e profissional e citada por uma delas como chão duro e árido.