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Dificuldades específicas que tiveram impacto importante no desenvolvimento da atividade do ergónomo.

Projeto MEN Melhorar a Exploração Nuclear

III.2.5.1. A utilização do Projetográfico

3. Dificuldades específicas que tiveram impacto importante no desenvolvimento da atividade do ergónomo.

Este segundo nível de codificação permitiu explorar, para cada Tarefa prevista, o modo como Simon a vivenciou, dando relevância a estratégias e dificuldades que determinadas atividades elicitaram.

Ressalvamos que, do mesmo modo que o conteúdo do Projetográfico-V1 continha dados que não poderiam ser aqui apresentados (e por isso a sua descrição teve de ser revista), é evidente que também o conteúdo das entrevistas tinha pontos de teor reservado. Na escolha de excertos para apresentação, foi dada particular atenção à seleção de excertos relevantes, mas sem a divulgação de conteúdos restritos.

A correspondência entre os dados assim organizados e o Projetográfico (numa V2 já “limpa” de dados confidenciais) ficou, por conseguinte, facilitada; sempre segundo o mesmo racional, elaborámos um Projetográfico-V2 para cada Tarefa, identificando na parte superior (dados hetero-projetográfico), a informação fatual recolhida que permitia identificar quais as atividades desenvolvidas no âmbito dessa Tarefa; e na parte inferior (dados auto-

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projetográfico), excertos das entrevistas de Simon, que permitiam ilustrar o modo como experienciou as suas atividades nessa Tarefa.

No entanto, houve duas Tarefas que, dada a complexidade e extensão das atividades aí desenvolvidas, mereceram um desdobramento. A necessidade desta separação surgiu da própria análise de conteúdo; o discurso de Simon sobre estas Tarefas era significativamente maior quando comparado com outras Tarefas e a própria referência de Simon às atividades acabava por separá-las, embora concorressem para uma Tarefa única. Evidentemente, em harmonia com a nossa opção por respeitar o que emerge naturalmente dos dados recolhidos, optámos por também isolar e refletir separadamente sobre atividades que, embora globalmente inseridas na mesma Tarefa, mereciam uma análise distinta. Referimo-nos à Tarefa A e à Tarefa D – cada uma destas Tarefas foi desdobrada em duas análises, originando um total de sete Projetográficos.

A tabela que se segue pretende apresentar os sete Projetográficos (em versão V2 no que diz respeito aos dados hetero-projetográfico) construídos e as suas correspondências com as tarefas previstas para o Grupo Fatores Humanos (recuperando e enriquecendo a tabela 3):

Tarefa Descrição Projetográfico

Tarefa A Análise no terreno das situações de trabalho durante uma Fase crítica de Transição P2 – APPAC P1 – IMER Tarefa B Análise Fatores Humanos de situações e de eventos significativos durante uma Fase crítica de Transição P3 - FEX Tarefa C Caderno de Encargos funcional de um co-piloto de uma Fase crítica de Transição P4 - CDE

Tarefa D Complementos de análise do terreno de situações de trabalho durante uma Fase crítica de Transição P5 - QUEST

P6 - FORM

Tarefa E Maquetagem das funções da ferramenta de apoio à condução da Fase crítica de Transição tendo em conta dos fatores humanos P7 - MAQ Tabela 6 – Correspondências entre as Tarefas acompanhadas e os Projetográficos construídos.

Nas páginas que se seguem serão, então, apresentados os vários Projetográficos, assim como algumas descrições de maior detalhe sobre em que consistiu a Tarefa em apreço. Estas descrições ajudarão a contextualizar o verbatim retirado das entrevistas.

Relativamente aos dados, é importante salientar que a transcrição das entrevistas foi realizada por um transcritor nativo da língua na qual as entrevistas foram realizadas. A

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análise de conteúdo foi também realizada com este material na sua língua original. A tradução para o português (para efeitos de apresentação nesta tese) do conjunto dos verbatins que apresentamos em seguida, foi realizada por nós. Nesta tradução, teve-se o cuidado de manter a integridade do material recolhido e a riqueza de uma língua viva. Como já referimos, a atividade de trabalho expressa-se também através da linguagem e reduziu-se ao mínimo qualquer adulteração que pudesse vir de uma tradução menos atenta.

Outra das alterações que fizemos para apresentar este trabalho foi diminuir o nível de definição e descrição que continham os dados hetero-projetográfico, o que implicou não apresentar algumas informações mais sensíveis em termos de confidencialidade. Mantivemos apenas aquelas que são essenciais para a compreensão da reflexão e suficientemente genéricas para não interferir com o necessário sigilo. Não obstante, os dados mantidos asseguram uma boa visão global do desenvolvimento progressivo do projeto.

Assim, apresentamos de seguida os dados hetero-projetográfico (parte superior da linha central temporal) relativos ao projeto ENUCLEAR. Optámos por colocar estes dados com várias cores, de modo a ser mais claro o modo como diferentes Tarefas se distribuem pelo tempo, ao longo do eixo central temporal. A chave colorida está na legenda no Projetográfico.

Projetográfico Global – Projetográfico com os dados hetero-projetográfico (parte superior do eixo central temporal) relativos ao projeto ENUCLEAR .

Salientamos que no Projetográfico acima apresentado não há lugar a nenhum dado auto-projetográfico, porque o que se pretende é dar uma visão global do projeto e do seu desenvolvimento, alicerçado apenas nos eventos ocorridos e em dados factuais. A chave colorida apresenta-se abaixo:

Tarefa Descrição Projetográfico e Cor

Tarefa A Análise no terreno das situações de trabalho durante uma FCT P1 – IMER

P2 – APPAC Tarefa B Análise Fatores Humanos de situações e de eventos significativos durante uma Fase Crítica de Transição P3 - FEX

Tarefa C Caderno de Encargos funcional de um co-piloto de uma Fase Crítica de Transição P4 - CDE

Tarefa D Complementos de análise do terreno de situações de trabalho durante uma Fase Crítica de Transição P5 - QUEST P6 - FORM Tarefa E Maquetagem das funções da ferramenta de apoio à condução da Fase Crítica de Transição tendo em conta dos fatores humanos P7 - MAQ

10 - Reunião

Conceção 15 - Escolha da FCT APPAC 02, 03 - Reuniões Conceção 1 - Reunião Conceção

Decisão de aplicar a técnica desenvolvida em Central 4 a todo o parque nuclear 16 - Reunião Conceção 29 – Reunião Conceção 7 – Reunião Trabalhadores (partilha de experiência sobre a APPAC e difusão do questionário) 24 - Reunião Conceção (1ª versão da maquete) REUNIÕES 27 – Reunião Trabalhadores (apresentação do projeto, análise FEX e questionário) Relatório sobre visitas a Central 1 e Central 2 Relatório sobre as visitas a Central 3 Síntese das observações de APPAC Caderno de encargos da ferramenta de apoio à condução da FCT APPAC Relatório sobre análise FEX Questionário para os operadores APPAC – Análise exploratória da atividade de conduta Interfaces (Maquete) Versão 01 Especificações funcionais DELIVERABLES RELATÓRIOS 7-14 Imersão Central 1 21-27 Imersão Central 2 APPAC em Central 3

Simon + Darryl + Ben APPAC em Central 1

Simon + Darryl APPAC em Central 4 Simon + Darryl APPAC em Central 5 Simon 22, 25 Formação em Central 4 (simulador à escala real) 2, 3, 16, 17, 23, 29, 30 Formação em Central 4 (simulador à escala real) IDAS AO TERRENO - Observações livres - Observar as atividades dos operadores, todas as FCT - Identificar dificuldades - Análise FEX - Compreender o sistema técnico e os fenómenos

físicos - Análise FEX - Compreender as

dificuldades identificadas

- Análise FEX - Análise FEX - Análise FEX

- Análise FEX - Observações livres exploratórias - Questionamento para validação direta - Análise FEX - Análise FEX - Verificar as dificuldades identificadas nos FEX - Análise da atividade (anotações sistemáticas) - Validação e feedback

- Registo de sessões de formação (imagens e som), para a análise da

atividade ATIVIDADES OBJETIVOS - Compreender como os operadores agem e porque as APPAC são tão

longas

- Compreender o Caderno de

Encargos - Análise dos questionários

março

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Este Projetográfico Global, constituído apenas com dados hetero-projetográfico, está orientado sob uma linha central temporal, que começa em março de 2008 e termina em junho de 2009. Do lado direito, é possível encontrar as quatro categorias em que se distribuem todos os dados hetero-projetográfico encontrados: reuniões, deliverables/relatórios, idas ao terreno e atividades/objetivos. No cruzamento entre cada mês e cada uma destas categorias foi inserida, quando existente, informação fatual do projeto; as células foram também preenchidas com a cor correspondente à Tarefa no âmbito da qual a atividade foi desenvolvida.

A título de exemplo, podemos encontrar que no mês de abril de 2008, houve uma reunião de conceção no dia 10; houve duas idas ao terreno (uma de 7 a 14, na Central 1 e outro de 21 a 27, na Central 2); e em termos de atividades e objetivos, estava previsto realizar observações livres, observar as atividades dos operadores em todas as Fases Críticas de Transição possíveis (relembramos que nesta fase ainda não estava escolhida a APPAC) e identificar dificuldades. Destas quatro anotações, três delas relacionam-se diretamente com a Tarefa A (Projetográfico 1 – IMER, coloridas a verde claro).

Tomemos agora como exemplo o mês de junho de 2009. Verificamos que houve uma reunião no dia 24; foi entregue a primeira versão da maquete; foram acompanhados sete dias de formação na central 4 (dias 2, 3, 16, 17, 23, 29, 30); quanto às atividades e objetivos, nesse mês houve dedicação ao registo das sessões de formação (imagens e som), para a análise da atividade e ainda à análise dos questionários. Cada uma das células assume uma cor diferente em função da Tarefa a que se relaciona; as primeiras duas células, a bordeaux, com a Tarefa E; as seguintes duas células, a rosa claro, com a parte b) da Tarefa D; e finalmente a última célula, a cinzento, com a parte a) da Tarefa D.

A maioria das reuniões assinaladas na primeira linha do Projetográfico (Reunião, dados hetero-projetográfico) não está sombreada a nenhuma cor; isto acontece porque estas reuniões não se relacionavam unicamente ou diretamente com uma única Tarefa. Geralmente tratava-se de reuniões de balanço e gestão, onde todos os pontos eram tocados. Por terem esta dimensão mais global, não foram alocadas a nenhuma Tarefa em particular – exceto no que diz respeito às reuniões dos meses janeiro, abril e junho de 2009. Estas células estão sombreadas porque foram especialmente dedicadas a uma Tarefa e, por serem referidas por Simon, tornaram-se particularmente relevantes para a compreensão global da Tarefa em causa.

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Este cruzamento entre tipos de dados, o mês em que ocorreram e as Tarefas com que se relacionam permite ter uma visão global do projeto ENUCLEAR e de toda a atividade desenvolvida por Simon enquanto ergónomo.

É importante salientar que este Projetográfico Global (apenas com dados hetero- projetográfico) só pôde ser construído no final da nossa recolha de dados. A sua elaboração foi sendo realizada ao longo do tempo e a identificação das Tarefas que originaram certos eventos ou informações, foi também sendo gradualmente realizada (p.e. as imersões foram atividades originadas pela necessidade de responder à Tarefa A).

Esta imagem permite colocar em evidência que, como acontece frequentemente em projetos deste tipo, a sucessão das diferentes Tarefas (e consequentemente, de diferentes fases do projeto), não se faz sempre de modo linear. Assim, apesar de as Tarefas previstas para o Grupo Fatores Humanos terem uma lógica sequencial, nem sempre foi possível cumprir esta ordenação – numa grande parte das vezes, há Tarefas que se estendem muito para além do que era previsto, são intercaladas (e dependentes) de outras, etc.

Por exemplo, as atividades realizadas no âmbito da Tarefa B (Análise no terreno das situações de trabalho durante uma Fase Crítica de Transição, especificamente no que diz respeito à análise da Fase Crítica de Transição APPAC e representada a verde escuro no Projetográfico Global) estenderam-se muito para além do esperado, começando em agosto de 2008 e tendo o seu relatório final sido apresentado apenas em maio de 2009. Ora, se uma fase posterior do projeto depende das opções tomadas numa fase anterior, e esta primeira prolonga-se e demora a estar concluída, é comum que o desenvolvimento do projeto acabe por se caraterizar por um vai-e-vem de opções, de análises, que se influenciam – quer exponenciando-se, quer constrangendo-se - mutuamente. O impacto resultante de uma tal dinâmica tem custos, como será analisado em maior detalhe no Estudo de Caso II.

Tal como salientado no Capítulo II – Metodologia, o Projetográfico completo carateriza-se pela existência de dois tipos de dados (hetero-projetográfico e auto- projetográfico, situados acima e abaixo do eixo central temporal, respetivamente). E se anteriormente apresentamos apenas os dados hetero-projetográfico para dar uma visão global do ENUCLEAR, importa agora analisar com detalhe cada uma das Tarefas elencadas e entrar na riqueza a que o conjunto dos verbatins permitiu aceder.

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Neste sentido, as páginas seguintes estão organizadas em função das cinco Tarefas (A, B, C, D e E). Para cada Tarefa, apresentamos a descrição das atividades que o Grupo Fatores Humanos desenvolveu no seu âmbito e apresentamos um (ou dois) Projetográfico(s), que contém: na parte superior, coloridas, as atividades correspondentes àquela Tarefa; na parte inferior, organizados pelas categorias de análise de conteúdo já apresentadas (Atividades, Estratégias, Dificuldades), excertos dos verbatins das transcrições das entrevistas realizadas com Simon Bailey, que permitem refletir sobre a sua vivência neste projeto. Em termos gráficos, os excertos ocupam as células abaixo da linha temporal (dados auto- projetográfico) apenas nos meses em que a Tarefa decorreu, para melhor situar o leitor; exceção feita aos Projetográficos nos quais, por questões de legibilidade, foi impossível compactar toda a informação dos verbatins em algumas colunas. No entanto, estes casos excecionais estão identificados nos Projetográficos em que ocorrem.

A tabela abaixo permite relembrar a organização final (e chave colorida) dos sete Projetográficos.

Tarefa Descrição Projetográfico

e Cor

Tarefa A Análise no terreno das situações de trabalho durante uma FCT P1 – IMER

P2 – APPAC Tarefa B Análise Fatores Humanos de situações e de eventos significativos durante uma Fase Crítica de Transição P3 - FEX

Tarefa C Caderno de Encargos funcional de um co-piloto de uma Fase Crítica de Transição P4 - CDE

Tarefa D Complementos de análise do terreno de situações de trabalho durante uma Fase Crítica de Transição P5 - QUEST P6 - FORM Tarefa E Maquetagem das funções da ferramenta de apoio à condução da Fase Crítica de Transição tendo em conta dos fatores humanos P7 - MAQ

Tabela 7 – Correspondências entre as Tarefas realizadas e os Projetográficos construídos, com indicação das cores correspondentes.

Os pontos que se seguem exploram em maior detalhe os sete Projetográficos assim construídos.

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III.2.5.2. Tarefa A - Análise no terreno das situações de trabalho durante uma Fase