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Dimensão Epistemológica e Natureza da Pesquisa A dimensão epistemológica de uma pesquisa se relaciona ao conhecimento e como ele

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 Dimensão Epistemológica e Natureza da Pesquisa A dimensão epistemológica de uma pesquisa se relaciona ao conhecimento e como ele

pode ser obtido. Nesta tese, adotamos uma abordagem interpretativista, a qual considera que o conhecimento, por ser relativo, só pode ser entendido do ponto de vista dos indivíduos que estão diretamente envolvidos (BAUER; GASKELL, 2008). Esta abordagem está associada à escola interacionista simbólica de Chicago na sociologia das décadas de 1920 a 1930, e é, segundo Neuman (2014, p. 109), “...o alicerce das técnicas de pesquisa social que são sensíveis ao contexto, que acessam o modo como os outros veem o mundo e que se preocupam mais em conseguir uma compreensão empática do que em testar leis como teorias do comportamento humano”.

Outros pesquisadores da abordagem interpretativista analisam transcrições de conversas ou estudam vídeos de comportamento em detalhes extraordinários, procurando uma comunicação verbal e/ou não-verbal sutil para entender os detalhes das interações em seu contexto (NEUMAN, 2014) buscando, assim, compreender o mundo do ponto de vista daqueles que o vivenciam, descrevendo como os diferentes significados, elaborados por pessoas ou grupos distintos, produzem e sustentam um senso de verdade (GEPHART, 2004).

Os significados são socialmente construídos pelos indivíduos por meio de suas interações com os seus mundos, ou realidades, que são interpretadas de maneiras múltiplas e podem variar com o tempo. A pesquisa qualitativa busca compreender quais são essas interpretações em determinados intervalos temporais e contextos específico, apresentando uma abordagem interpretativista da realidade, e buscando analisar e interpretar aspectos profundos do comportamento humano no intento de compreender os fenômenos no ambiente natural onde eles ocorrem, tentando interpretá-los em termos de significados que lhes são dados por indivíduos ou grupos (MERRIAN, 2002; DENZIN; LINCOLN, 2005).

Adotar a pesquisa qualitativa é preservar ao máximo o estado natural do fenômeno estudado, seja ele “um grupo, evento, programa, comunidade, relacionamento, ou interação”, entendendo que ele não pode ser controlado pelo pesquisador (PATTON, 2002, p. 39). O pesquisador se aproxima das pessoas e das situações estudadas para entender as minúcias da vida institucional, tanto pela proximidade física por um período de tempo como pelo desenvolvimento de aproximação no sentido social de intimidade e confidencialidade, o que possibilita a descrição e compreensão de comportamentos externamente observáveis e estados internos como visão de mundo, opiniões, valores, atitudes e construções simbólicas (PATTON, 1982).

A pesquisa qualitativa apresenta as seguintes características: o ambiente natural como sua fonte direta de dados, ou seja, os dados tendem a ser coletados no campo e, em muitos casos, no local em que os participantes vivenciam o fenômeno; a exigência de múltiplas fontes de dados; o pesquisador é um instrumento fundamental para a coleta e análise de dados; é primordial a compreensão do fenômeno a partir da perspectiva dos participantes; implica o contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo investigada; focaliza-se sobre processos, significados e compreensões; o produto do estudo qualitativo é ricamente descritivo (MERRIAM, 2002; CRESWELL, 2007).

Na pesquisa qualitativa básica “o pesquisador está interessado em compreender como o participante significa uma determinada situação ou fenômeno, esse significado é mediado pelo pesquisador como instrumento, a estratégia é indutiva e os resultados são descritivos.” (MERRIAN, 2002, p. 6). O pesquisador procura capturar o que as pessoas têm a dizer em suas próprias palavras, descrevendo as experiências das pessoas em profundidade. Os dados qualitativos são abertos, a fim de descobrir o que a vida, experiências e interações das pessoas significam para elas em seus próprios termos e em seus ambientes naturais (PATTON, 1982). Assim, partindo de diversas formas de representação ─ entrevistas, material audiovisual, notas de campo ─ o pesquisador apresenta a voz dos participantes de um determinado contexto ou problema, sendo sensível às interações que ocorrem durante a realização do estudo (MERRIAM, 2002; DENZIN; LINCOLN, 2005).

A experiência, na pesquisa interpretativa básica, é entendida como o contexto no qual os significados são construídos, considerando que essa estratégia de pesquisa foca em entender como os participantes dão significado a uma situação ou fenômeno. Esta abordagem parece adequada para o presente estudo, pois permite ao pesquisador discutir e ampliar a

compreensão acerca das vivências e estratégias desenvolvidas pelos consumidores com deficiência, bem como são significados aspectos da sua participação no servicescape e as possível situações de vulnerabilidade que podem ser vivenciadas neste contexto. Dessa forma, este estudo se caracteriza como uma pesquisa qualitativa interpretativa básica, que visa compreender como o gerenciamento de impressão é utilizado diante de situações de vulnerabilidade do consumidor decorrentes da interação entre a PcD e o ambiente de varejo.

Considerando que a deficiência é complexa, multifacetada e historicamente sujeita a transformações, é natural que existam divergências entre as questões relacionadas à deficiência e aspectos ligados aos paradigmas, bem como às escolhas epistemológicas e aos métodos de investigação. Independentemente da postura epistemológica que orienta a pesquisa, Faria, Vergara e Carvalho (2011, p. 33) recomendam que pelo menos três aspectos “... deveriam ser observados pelos pesquisadores em administração interessados em estudos com foco em PcD: a perspectiva da deficiência como uma construção social; a suspensão dos preconceitos; e alguma forma de colaboração entre pesquisadores e sujeitos de pesquisa”.

Nesta tese assumimos que a deficiência é socialmente construída a partir das interações estabelecidas com ambientes e atitudes que podem não ser eficientes para a pessoa com deficiência (STONE; PRIESTLEY, 1996; MEYERS et al., 2002; COX-WHITE; BOXALL, 2010; ANASTASIOU; KAUFFMAN, 2013; PAVIA; MASON, 2014; BRASIL, 2015; OMS, 2015), e que a situação de vulnerabilidade também o é, uma vez que ela surge de um desequilíbrio nas interações de consumo, que ocorre em um contexto específico (BAKER; GENTRY; RITTENBURG, 2005; COMMURI; EKICI, 2008 KAUFMAN- SCARBOROUGH; CHILDERS, 2009; PAVIA; MASON, 2011).

Buscamos também suspender preconceitos acerca dos consumidores com deficiência, acompanhando conteúdos produzidos por e para este público em blogs, vlogs e podcasts. A terceira recomendação ─ ou seja, buscar alguma forma de colaboração entre pesquisadores e sujeitos de pesquisa ─ foi observada durante a composição do grupo participante da pesquisa, bem como ao longo de toda a coleta de dados. Pretende-se também obter a colaboração dos participantes no que tange às implicações práticas e gerenciais da pesquisa de modo a sugerir ações transformativas mais apropriadas para o varejo.