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2. Dimensões conceptuais/categorização dos dados em níveis de progressão Como já referido, para a análise das respostas dos alunos definiram-se quatro dimensões

2.1. Dimensão 1 Função do museu

Dado que, entre os artefactos seleccionados, de apoio às tarefas escritas, existem várias réplicas, pretendeu-se nesta primeira tarefa fazer um levantamento das explicações dos alunos sobre a não utilização, por parte do Museu, da pedra na construção das réplicas expostas.

Carmen Fernandes 69 Tarefa 1 – Como observaram, muitos dos instrumentos são réplicas feitas no Museu, mas são feitos de materiais mais frágeis do que o material original utilizado na sua construção - a pedra.

a) Porque será que no Museu não utilizaram a pedra na construção das réplicas?

Nesta dimensão - “Função do Museu” – e no sentido de obter respostas à primeira questão de investigação “Que ideias tácitas manifestam os alunos em relação à função do Museu?”, analisaram-se os níveis de progressão definidos para as respostas à tarefa 1, conforme apresentados no quadro 3.

Quadro 3 - Níveis de progressão sobre a Função do Museu

Níveis de Progressão Descrição

1.Tarefa explicativa não alcançada Os alunos não apresentam qualquer explicação plausível e consistente para a questão colocada.

2.Explicação patrimonial à luz do presente

Os alunos apresentam uma explicação alternativa, demonstrando as suas respostas uma certa preocupação com os artefactos enquanto património, isto é, os alunos consideram que se forem construídos no material original podem correr certos riscos como serem roubados ou danificados.

3.Explicação histórica restrita Os alunos apresentam uma explicação histórica adequada ainda que simplificada, fazendo a distinção entre a ideia de objectos do passado (originais), em contexto, e a sua réplica aproximada (objectos museológicos do presente). As respostas centram-se na dificuldade de reprodução no material original (pedra).

Apresentamos, de seguida, alguns exemplos de respostas dos grupos para cada um dos níveis formulados.

Tarefa explicativa não alcançada: exemplos de respostas. Nesta categoria, os alunos não apresentam qualquer explicação plausível à questão colocada, constatando-se uma certa confusão e ambiguidade nas suas respostas, nomeadamente a dificuldade em perceber o significado da distinção entre fonte primária (original) e a sua réplica:

Carmen Fernandes 70 Resp: “Para não serem iguais às originais” (G8)

Resp: “Para não ficar pesado” (G7)

Explicação patrimonial à luz do presente: exemplos de respostas. Nesta categoria, os alunos dão explicações alternativas à luz do presente, isto é, revelam uma preocupação com os objectos enquanto património, dado que consideram que, se o museu os construísse de pedra, passariam a ser tão valiosos como os originais, correndo o risco de roubo ou destruição:

Resp: “ Para que as pessoas não as roubem e para que todos que o visitem (Museu) verem a pedra original” (G5)

Para reforçar a existência desta categoria de ideias, apresentamos dois exemplos de respostas dadas no estudo piloto:

Resp: “Se caíssem podiam danificar-se” (G10) – estudo piloto

Resp: “Se fossem feitas de pedra podiam estragar-se ao mexer nelas” (G9) – estudo piloto

Explicação histórica restrita: exemplos de respostas. Os alunos apresentam explicações adequadas ainda que simples, indiciando uma distinção entre o passado e o presente, centrando-se na dificuldade de reprodução no material original (a pedra):

Resp: “Porque era muito difícil fazer igual aos originais (se) utilizassem um material como a pedra, por isso usaram um material mais fácil de trabalhar”. (G9)

Resp: “Ao utilizar um material mais frágil seria mais fácil fazer a construção das réplicas.” (G1)

Resp: “ Porque a pedra é um material mais difícil de trabalhar.” (G2, G3, G4)

O gráfico 3, que apresentamos de seguida, mostra a distribuição de frequência dos níveis de respostas dos alunos nesta dimensão conceptual “Função do museu”, em relação à questão

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Gráfico 3 - Categorização das ideias dos alunos na tarefa 1

Ao observar o gráfico 3, constatamos que as ideias dos alunos dividem-se, então, em três níveis conceptuais, com predominância no nível mais sofisticado encontrado nas respostas dos alunos, a explicação histórica restrita. Assim, registamos três respostas que consideramos como explicações não alcançadas, uma resposta que revela uma certa consciência patrimonial à luz do presente e seis respostas que já nos dão uma explicação histórica ainda que restrita.

Deste modo, sete grupos de alunos apresentaram uma explicação sobre a construção de réplicas no museu:

• um grupo de alunos apresenta um tipo de explicação alternativa (nível 2 - explicação patrimonial à luz do presente), considerando que o museu não construiu as réplicas de pedra porque, se o fizesse, estas passavam a ser valiosas e correriam riscos de roubo ( ou destruição, no caso dos dois grupos de alunos do estudo piloto). Apesar de demonstrarem uma certa preocupação patrimonial, estes alunos revelam não entender que mesmo de pedra esses objectos nunca seriam artefactos originais, portanto, não entendendo bem a diferença entre um objecto original (passado) e uma réplica (presente). Numa das respostas consideradas como tarefa explicativa não alcançada (Grupo 8) nota-se também a dificuldade do significado histórico desta distinção, quando

0 2 4 6

Tarefa explicativa não alcançada Explicação patrimonial à luz do presente Explicação história restrita 3 1 6

Explicações sobre a não utilização da pedra, pelo museu, na construção das réplicas

Frequência de respostas

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os alunos consideram que o museu não constrói os instrumentos de pedra porque senão seriam iguais aos originais;

• seis grupos de alunos produzem explicações históricas simples mas adequadas (nível 3 – explicação histórica restrita), e muito semelhantes, centradas na dificuldade que o museu teria em construir os instrumentos de pedra, devido a este material ser difícil de trabalhar. Estes alunos parecem relacionar passado/ presente, distinguindo entre uma fonte material original (objectos do passado) e a sua réplica aproximada (objectos museológicos do presente). Ainda que indirectamente, as suas respostas parecem induzir uma valorização dos homens do passado que conseguiram produzir estes instrumentos num material tão difícil de trabalhar.

Os alunos apresentam, portanto, como ideias tácitas acerca da função do museu, a percepção de que os museus possuem objectos valiosos do passado que podem ser destruídos ou roubados; que construir objectos de pedra semelhantes aos originais é muito difícil, e daí os museus optarem por materiais mais frágeis para a construção das réplicas; alguma confusão quanto ao significado histórico da distinção entre uma fonte primária original e a sua réplica aproximada, o que terá contribuído para que algumas respostas a questões que se seguiram revelassem, por parte de alguns alunos, dificuldades na interpretação histórica com réplicas aproximadas das originais. Estas ideias tácitas parecem ter sido apreendidas em meio escolar, nas aulas de História, e talvez revelem uma falta de problematização da evidência histórica, a que não será alheio o tipo de formação que os professores de História têm em epistemologia da História.