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2 DISCUSSÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO

2.1 TERMO DESENVOLVIMENTO E A ANÁLISE DOS DEPENDENTISTAS

2.1.2 Uma explicação sistémica para o subdesenvolvimento

Os teóricos dependentistas não se mostravam satisfeitos com aqueles que atribuíam o fracasso do desenvolvimento e à modernização das sociedades do Terceiro Mundo às tradições religiosas e culturais (DOUGHERTY; PFALTZGRAFF JR., 2003),

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A CEPAL nasce num momento histórico muito importante da organização da economia mundial. Terminava a Segunda Grande Guerra (1939-1945), a Europa estava num processo de reconstrução depois da guerra. E como uma das consequências da guerra, vários países africanos ascendiam à independência e se tornavam novos actores no sistema internacional ao lado da América Latina. E, para garantir que esses países fossem inseridos no sistema de relações internacionais, a Organização das Nações Unidas (ONU) instalou comissões temporárias para avaliar a situação económica e social das novas nações. A CEPAL criticou a lei das vantagens comparativas.

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ISEB concentrou sua atenção na coalizão de classes burguesa e burocrática por trás da estratégia nacional de desenvolvimento proposta.

Estes autores olham a dependência como uma teoria que analisa as relações entre o Norte e o Sul Global ou, entre os países centrais, desenvolvidos e os periféricos, subdesenvolvidos ou em vias de desenvolvimento. Também pode ser vista, de acordo com Ferraro (1996), como uma explicação do desenvolvimento económico de um Estado em termos das influências externas nas políticas nacionais de desenvolvimento.

A premissa dos dependentistas à volta da teoria de desenvolvimento assenta no facto de os países periféricos estarem dependentes dos países centrais e que o desenvolvimento dos periféricos passa, necessariamente, pela ruptura com a dependência em relação aos países centrais e não pela via de modernização e industrialização da economia, o que implicaria ruptura com o capitalismo. Joseph e Romaniuk (2017), sem contrariarem as premissas avançadas por Ferraro (1996), que aponta outras três que sustentam a teoria de dependência. Primeira: vê o Sistema Internacional (SI) como somatório de dois conjuntos de estados - dominante e dependente. Segunda: sustenta que as forças externas são críticas em termos de actividade económica de estados dependentes. E terceira: compreende que os relacionamentos, com base em padrões e dinâmicas, fortemente, históricas (internacionalização do capitalismo), entre estados dominantes e dependentes, são um processo vibrante, com trocas ocorrendo entre os estados que desempenham um papel considerável no reforço dos padrões de desigualdade.

No debate teórico, os dependentistas distinguem duas correntes principais: marxista e weberiana, mas todas comungam da razão da existência de um mundo dividido em dois pólos desiguais, em que uns (dominantes) exercem um poder hegemónico sobre os dominados.

O objecto de estudo da corrente Marxista da Dependência é a compreensão do processo de formação socioeconómico na América Latina a partir de sua integração subordinada à economia capitalista mundial (DUARTE; GRACIOLLE, [2019]). Esta corrente entende a dependência como uma relação de subordinação entre nações, formalmente, independentes, na qual a economia de certos países está condicionada ao desenvolvimento e expansão de outras economias, de forma que os países centrais poder-se-iam se auto-sustentar, enquanto os países periféricos só poderiam expandir suas economias como um reflexo da expansão dos primeiros.

Nesses termos, a relação que se assiste entre os países centrais e os periféricos é de desigualdade e de controlo hegemónico dos mercados por parte dos países dominantes e uma perda de controlo dos dependentes sobre seus recursos, o que leva à

transferência de renda – tanto na forma de lucros como na forma de juros e dividendos – dos segundos para os primeiros (DUARTE; GRACIOLLE, [2019]). É uma corrente que segundo Martins e Valência (2001), está ciente de que é a afirmação do socialismo na periferia de um sistema mundial capitalista, contudo, entende ser possível o estabelecimento de um padrão de desenvolvimento alternativo à dependência, com maior ou menor horizonte, quanto maior seja o seu impacto sobre a configuração da economia mundial.

Ademais, Martins (2004) afirma que a corrente marxista lança uma forte crítica ao marxismo dos partidos comunistas e ao pensamento desenvolvimentista. Ao buscar a identidade do capitalismo dependente na sua articulação específica à economia mundial, propõe-se a reinterpretar o próprio desenvolvimento capitalista, gerando novos conceitos e aportes para a teoria do valor. Esse desenvolvimento não deveria ser compreendido a partir da trajectória de expansão dos países centrais, mas sim a partir do desenvolvimento da economia mundial, na qual estes países se inserem como parte dela. Relativamente à corrente weberiana da dependência, também conhecida por versão da interdependência, de nacionalistas de esquerda, preocupa-se, fundamentalmente, com o desenvolvimento económico e com certas tintas de ecletismo, ao assimilar, parcialmente, e de maneira subordinada o marxismo e, de acordo com Martins (2004), esta corrente analisa a política como uma variável fraca frente a economia.

O autor em referência explica ainda que a face económica da dependência para os weberianos, expressa-se na conformação de uma estrutura produtiva nacional em função do mercado externo, que mantém os vínculos comerciais, produtivos e financeiros com a expansão internacional do capitalismo. Entretanto, a instância política tem as suas possibilidades de actuação concentradas no aparato jurídico-político nacional, o que limita grande parte da sua capacidade de decisão e acção.

O ponto de partida desta corrente é o fracasso do processo de substituição de importações e do projecto nacional - desenvolvimentista, que pretendia criar bases de um capitalismo autónomo, ideia defendida pela CEPAL, nas décadas de 1940 e 1950. O principal argumento da corrente é que o desenvolvimento económico nos países periféricos dependia de uma estratégia, diversa do desenvolvimento para dentro, uma vez que as modificações no sistema produtivo, ocasionadas por este, eram incapazes de resolver os problemas sociais, e consequentemente, de se criar uma sociedade dotada de

autonomia política e económica, com distintas condições de ordenar uma proposta de desenvolvimento (DUARTE; GRACIOLLE, [2019]).

Neste sentido, a dependência é vista e analisada a partir das estruturas de dominação, sendo que apenas por seu intermédio se compreende a luta de classes. Os padrões de desenvolvimento são articulados à dependência, que constitui o paradigma de desenvolvimento para as sociedades do Sul, cabendo à instância política nacional instituir padrões de dominação que oscilam entre os pares desenvolvimento/dependência e estancamento/autonomia (MARTINS; VALÊNCA, 2001). Independentemente de várias acepções da teoria de dependência,

A tese fundamental parte do princípio de que a dependência enquanto estrutura mundial é distinta do estado de dependência que liga os países uns aos outros e que a maior parte dos estudiosos contemporâneos associa a um mundo interdependente, mesmo quando reconhecem a desigualdade das relações interdependentes (DOUGHERTY; PFALTZGRAFF JR. 2003, p.578).

Os autores avançam ainda que é um paradigma estruturalista assente na estrutura de classes, no capital internacional e no papel do estado na planificação e organização das forças nacionais, estrangeiras e de classe que impulsionam o desenvolvimento dentro dos países.

Para o debate teórico, a tese vai-se centrar no conceptual teórico de dependência sem ter muito em conta a divisão de perspectivas dentro da teoria, por achar que é no seu conceito e premissas que se encontra a explicação sobre os limites de desenvolvimento de Moçambique.

2.1.3 Divisão Internacional do Trabalho como promotora do Subdesenvolvimento