• Nenhum resultado encontrado

3 DESENVOLVIMENTO ABORDAGEM CONCEITUAL

3.3 Dimensões do desenvolvimento sustentável

necessárias para melhorar a vida das pessoas, agora e no futuro. Fonte: http://www.agenda2030.org.br/sobre/.

Um dilema revelador nos é apresentado com a crise ambiental mundial vivenciada no século XXI, que nos desperta para uma grande contradição no modelo de desenvolvimento baseado no crescimento econômico: “sua necessidade de produção em escala crescente - para sustentar a acumulação de riquezas dos grupos econômicos hegemônicos - e a finitude dos recursos naturais, necessários à sustentação deste modelo” (MIRANDA et al., 2009, p. 13). Este pode ser considerado um acontecimento sem antecedentes na história da humanidade no que diz respeito ao “consumo de energia, descarte de lixo, contaminação do solo, poluição do ar e da água, queimadas, desmatamento, mudanças climáticas e suas consequências sobre a carga de doenças” (MIRANDA et al., 2009, p. 13).

Entretanto, a relação de desenvolvimento ligada exclusivamente ao crescimento econômico perde o contexto, quando se fala de desenvolvimento sustentável. O que nos remete a colocar em pauta outras questões além da acumulação de riquezas. Neste cenário entram diversas áreas, como: a social, a cultural e a política (SOUZA; BERGAMASCO, 2005).

Sanches (2008) enfatiza as divergências entre autores sobre a conceituação de desenvolvimento, sendo relacionado principalmente a progresso e crescimento. Na mesma lógica, a referência desenvolvimento sustentável perfaz várias contradições, pois a sociedade na maioria das vezes a relaciona apenas ao cuidado com o meio ambiente. O mesmo autor, assegura que a crescente modernização contribuiu para a degradação ambiental e social.

Zamban (2009, p. 54) comentando o pensamento de Sen (2000), argumenta que “a possibilidade de escolher integra a condição de existência livre do homem; sem essa característica ocorre a redução da pessoa à condição de objeto, isto é, a limitação da sua humanidade”. Enfatizando ainda que, a garantia e o exercício de liberdades se estabelecem a partir das relações com o valor moral da liberdade, que são utilizadas como modo principal para a mensuração da realização individual, das condições de vida, social e desenvolvimento sustentável.

Petitinga (2006, p. 24) comenta que:

Para entender um desenvolvimento como sustentável, é necessário considerar a longevidade dos recursos e de que forma a sociedade civil pode agir para que estes sejam sempre recolocados no ambiente em questão, visto que, tanto a natureza como tudo a ela relacionado oferece subsídios à vida humana, seus recursos precisam ser utilizados obedecendo a certos cuidados em termos de respeito às suas

características e às influências das ações e formas de convivência do homem com ela (PETITINGA, 2006, p. 24).

Levando em consideração a observação da realidade em torno do bem-estar e as condições de vida dos indivíduos sem comprometer o futuro, para se atingir o desenvolvimento é necessário a união de todos. “Observa-se a relevância desse conceito no que concerne aos poderes tanto públicos como privados, às instituições em geral e à sociedade como um todo para que os processos e ações de sustentabilidade do desenvolvimento sejam efetivos e apropriados” (PETITINGA, 2006, p.24). A coletividade neste caso, é fundamental para que haja a adoção de novos princípios que “leve a um consequente aperfeiçoamento da gestão dos recursos naturais e das relações locais voltadas à sustentabilidade” (PETITINGA, 2006, p.24).

Para a Comissão de políticas de Desenvolvimento sustentável e da Agenda 21 nacional:

Não só é só papel do poder público assegurar serviços ambientalmente sustentáveis e repassados de maneira igual para as gerações atuais e futuras, a iniciativa privada também precisar repensar nas suas formas de produção e gestão. No caso específico do saneamento, o setor está em crise, já que ainda não conseguiu atingir a meta de universalização dos serviços, demonstrando assim a ineficácia social e ambiental do modelo até agora adotado. Já nos termos da privatização dos serviços há uma contraditória entre: aumento da rentabilidade e os investimentos em locais de baixa renda (MMA, 2019, s/p).

Sachs (2008) admite que a preocupação com a futura escassez de recursos naturais diante dos hábitos em favor do desenvolvimento econômico a qualquer custo, é tema relevante e que precisa de uma maior abordagem. O mesmo autor reitera sobre a necessidade da população de rever as suas ações, e os seus efeitos negativos ao universo, argumentando sobre a importância de se pensar em um crescimento econômico que pretenda proteger a biodiversidade. Na visão do autor esta última está intimamente ligada ao desenvolvimento, não sendo a proteção ao meio ambiente um ato contrário ao avanço.

Para Sachs (2008, p.15) são cinco os pilares do desenvolvimento sustentável:

1) Social, fundamental por motivos tanto intrínsecos quanto instrumentais por causa a perspectiva de disrupção social que paira de forma ameaçadora sobre muitos lugares problemáticos do planeta. 2) Ambiental, com as suas duas dimensões (os sistemas de sustentação da vida como provedores de recursos e como “recipientes” para disposição de resíduos); 3) Territorial, relacionado à distribuição espacial dos recursos, das populações e das atividades; 4) Econômico, sendo a viabilidade econômica a conditio sine

Político, a governança democrática é um valor fundador e um instrumento necessário para fazer as coisas acontecerem; a liberdade faz toda a diferença (SACHS, 2008, p. 15).

Ao conceituar desenvolvimento sustentável é importante ressaltar que essa definição foge da concepção dos modelos de desenvolvimento econômico (já citados anteriormente), que buscam o ganho de capital a todo custo, e que na maioria das vezes causam impactos negativos no meio ambiente e na população (ALENCAR; FILHO, 2011).

Ao afirmar que “vivemos em um mundo de opulência sem precedentes” Amartya Sen (2010, p. 09), aponta as grandes mudanças ocorridas no século XX, que vão desde as descobertas científicas, até a aproximação das diversas regiões da Terra, mostrando assim que as transformações estão muito além da esfera econômica. Ressalta, ainda, os preceitos de direitos humanos e de liberdade política como argumentação da contemporaneidade. O autor declara que (SEN, 2010, p. 09):

Entretanto, vivemos igualmente em um mundo de privação, destituição e opressão extraordinárias. Existem problemas novos convivendo com os antigos – a persistência da pobreza e de necessidades essenciais não satisfeitas, fomes coletivas e fome crônica muito disseminadas, violação de liberdades políticas elementares e de liberdades formais básicas, ampla negligência diante dos interesses e da condição de agente das mulheres e ameaças cada vez mais graves ao nosso meio ambiente e à sustentabilidade de nossa vida econômica e social (SEN, 2010, p. 09).

Várias formas de privação das liberdades reais das pessoas estão relacionadas com a pobreza, com a austeridade, com a negligência ou falta dos serviços públicos, com a dominação, com a intervenção arbitrária de alguns Estados e com a escassez de oportunidades educacionais, sociais e econômicas. Quando essas liberdades individuais substantivas estão distantes em função da pobreza econômica, isso acaba por surrupiar “das pessoas a liberdade de saciar a fome, de obter uma nutrição satisfatória ou remédios para doenças tratáveis, a oportunidade de vestir-se ou morar de modo apropriado, de ter acesso à água tratada ou saneamento básico” (SEN, 2010, p. 17).