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2 ACESSO A TERRA, PERSPECTIVAS DO SANEAMENTO,

2.4 Saneamento: água, esgoto, descarte de resíduos sólidos e

Sen (2010) afirma que os avanços tecnológicos registrados pelo planeta são grandiosos e frenéticos, em contrapartida os dados referentes às condições de vida das pessoas, são alarmantes. O autor faz uma reflexão sobre o fornecimento de água potável para a população, que apesar das reservas de água existentes, 1,2 bilhão de pessoas não tem acesso água própria para consumo humano. Como afirma, acertadamente: “a partir da água, outorgamos vida a todas as coisas”.

Porto-Gonçalves (2004, p. 54) chama a atenção, para a desordem ecológica, que acontece com o elemento água. O autor afirma que, a água é um tema complexo, principalmente para as comunidades mais pobres. Completando que “antes, essa era manejada pelas oligarquias latifundiárias, pelo poder regional e políticas populistas”. Hoje, “o “ciclo hidrológico” foi alterado pela forma de uso que a sociedade confere a água, não considerando muitas vezes o significado e importância dessa matéria”.

Segundo a OCDE (2015) é legítimo salientar que o Brasil é um país em que ocorrem grandes empasses em relação à prática na gestão e governança da água, com a presença de vários problemas a respeito dos usos sustentáveis em suas diversas regiões geográficas, apesar das leis e políticas públicas consideradas relevantes no plano internacional.

Mesmo sendo um dos quatro países com as maiores concentrações de água doce no mundo, o país sofre com desiquilíbrios regionais em disponibilidade e consumo da água. Na maioria das vezes o não cumprimento da lei acarreta no agravamento da situação (IPEA, 2019).

Para a Funasa (2017) água potável é um alimento seguro de acesso a sociedade; o esgotamento sanitário auxilia na interrupção de contaminação humana e a gestão dos resíduos sólidos diminui os danos causados ao meio ambiente, eliminando ou dificultando a proliferação de vetores. Elencando a alguns dos benefícios do saneamento para a saúde da população (quadro 2).

Quadro 2 - Benefícios do saneamento para a saúde da população Ações de saneamento Doenças controladas/evitadas Água de boa qualidade para o

consumo humano e seu fornecimento contínuo.

Diarreias, cólera, dengue, febre amarela, tracoma, hepatites, conjuntivites, poliomielite, escabioses, leptospirose, febre tifoide, esquistossomose e malária. Coleta regular, acondicionamento e

destino final adequado dos resíduos sólidos.

Peste, febre amarela, dengue, toxoplasmose, leishmaniose, cisticercose, salmonelas, teníase, leptospirose, cólera e febre tifoide. Esgotamento sanitário adequado. Malária, diarreias, verminoses,

esquistossomose, cisticercose e teníase. Melhorias sanitárias domiciliares. Doença de Chagas, esquistossomose,

diarreias, verminoses, escabioses, tracoma e conjuntivites.

Fonte: “Adaptado de” Manual de Saúde. Disponível em: http://www.funasa.gov.br/saneamento-para-promocao-da-saude.

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) (2018) alerta sobre o fato de as doenças diarreicas estarem entre as 10 principais causas de morte no mundo. Apesar da diminuição entre os anos de 2000 e 2016 da taxa de mortalidade por esta enfermidade.

Desta forma, a cobertura da rede de coleta de esgoto, a possível contaminação da água na rede de abastecimento e de mananciais, o tratamento inadequado ou insuficiente da água, e a interação entre a água e esgoto no solo,

proporcionam uma discussão sobre saneamento bem mais contextualizada no Brasil (BARCELLOS et al., 2005).

Os corriqueiros males causados em áreas rurais no Brasil proporcionam grandes prejuízos às pessoas que residem nesses locais, principalmente pela contaminação por vetores biológicos. A falta de sistemas de coleta, tratamento e destinação final dos esgotos sanitários tem como consequência a disposição de forma inapropriada dos dejetos no meio ambiente, acarretando na maioria das vezes em infiltração no solo, poluição da água, tendo como consequência o aumento e a proliferação de doenças (SECRETARIA NACIONAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL, 2008).

Segundo a Funasa (2004) os impedimentos de ordem gerenciais e políticos tecnológicos tem dificultado o crescimento dos benefícios do saneamento e a promoção da saúde aos moradores do campo, municípios e localidades pequenas, sendo necessário o planejamento de ações que vislumbre a superação destes entraves. A mesma instituição assegura que, a maioria dos problemas sanitários acometidos as pessoas estão ligados ao meio ambiente, a exemplo, a diarreia, que é responsável por mais de 4 bilhões de casos por ano, e outras doenças como a cólera, a dengue, esquistossomose, leptospirose, onde as suas principais causas as condições inadequadas de saneamento e em comunidades mais pobres.

Para Czeresnia e Freitas (2003), a definição de promoção da saúde está correlacionada a conceituações bem recorrentes nos dias atuais como: a de desenvolvimento sustentável, vulnerabilidade, marginalização, risco, desigualdades, entre outros.

A ausência de saneamento básico tem impacto direto na saúde das pessoas. Segundo o Sistema de Informações Hospitalares do SUS, do Ministério da Saúde, “houve três milhões de internações por conta de doenças relacionadas à insuficiência de saneamento básico em dez anos, entre 2009 e 2018”. Apesar da diminuição das internações na última década, no Brasil, “o número de internações por 100 mil habitantes passou de 184,7, em 2009, para 65,6 em 2018” (PORTAL SANEAMENTO BÁSICO, 2018, s/p).

A diretora do Departamento de Saúde Pública, Determinantes Ambientais e Sociais da Saúde da OMS, Maria Neira, afirma que "Os países devem dobrar seus esforços em saneamento básico ou não alcançaremos o acesso universal até 2030". (UNICEF, 2019). Corroborando que:

Se os países não conseguirem intensificar os esforços de saneamento, água potável e higiene, continuaremos a viver com doenças que deveriam ter ficado há muito tempo nos livros de história: doenças como diarreia, cólera, febre tifoide, hepatite A e doenças tropicais negligenciadas, incluindo tracoma, vermes intestinais e esquistossomose. Investir em água, saneamento e higiene é economicamente viável e bom para a sociedade de muitas maneiras. É uma base essencial para a boa saúde. (UNICEF, 2019, s/p).

Em se tratando de saúde e resíduos sólidos, Najm (s/d.) apud Heller (1998) propõe um esquema das vias de contato lixo-homem (figura 1) que, procura explicitar o caminho que a disposição inadequada dos resíduos pode causar em relação à transmissão de doenças ao ser humano. O mesmo autor afirma “que dada à diversidade de vias e, especialmente, a ação dos vetores – biológicos e mecânicos – o raio de influência e os agravos sobre a saúde mostram-se de difícil identificação”.

Figura 1 - Esquema das vias de contato homem-lixo.

Fonte: Najm (s.d.) apud HELLER, LEO (1998).

Partindo do exposto é possível inferir que a ausência de saneamento básico é condicionante e determinante no processo de retrocesso de uma sociedade. Os grandes centros e os países desenvolvidos que possuem divisas e que buscam o

bem-estar de seus cidadãos fazem uso de pelo menos um programa bastante consistente de salubridade ambiental (TRATA BRASIL, 2019).

Outra informação pertinente, conforme o Trata Brasil (2019), é que apesar de dispor de minérios e recursos naturais, os países com pouca ou sem cobertura de saneamento básico encontram-se no terceiro, quarto ou quinto mundo, a exemplo a África, Ásia e até América Latina. Seguindo a mesma linha de raciocínio, a deficiência dos serviços prestados de saneamento aos brasileiros está entre os maiores males que dificultam a melhora de suas condições de vida.

Bosch et al. (2001) detalha a relação entre água e os efeitos da privação (determinadas por Sen (2000)) nas dimensões socioeconômicas (quadro 3). Para os autores, a falta de água e saneamento está intimamente relacionada a ocorrência de doenças relacionadas à higiene; do acesso a água potável, da assistência educacional adequada.

Quadro 3 - Relação entre a água e os efeitos da sua privação

Ausência da água/saneamento

Saúde Efeitos

Doenças relacionadas com água e saneamento.

Menor expectativa de vida. Desnutrição causadas pela diarreia

(principal doença acometida pela água não tratada).

Educação Impacto sobre a assistência escolar: doença, evasão.

Renda Menor potencial de geração de rendimentos por problemas de saúde,

tempo dedicado. - Faltas no trabalho.

Fonte: “Adaptado de” Bosch et al. (2001).

A Funasa (2004) discorre sobre a preocupação com o alto índice de pessoas na Terra que não possuem acesso a habitação e serviços de saneamento básico (água potável, rede de esgotamento sanitário, coleta de lixo), pois a ausência desses serviços causa males a saúde e ao meio ambiente.