• Nenhum resultado encontrado

2.1 TEORIA INSTITUCIONAL

2.1.2 Dinâmica Institucional

A dinâmica institucional tem seu início marcado pelo processo de isomorfismo nas organizações, decorrente dos mecanismos isomórficos de mudança institucional definidos por DiMaggio e Powell (2005). Após ser submetida ao processo institucional primário pelos mecanismos isomórficos, as organizações enfrentam o processo institucional secundário, que consiste nas fases ou estágios de institucionalização que as organizações atravessam. As fases são apresentadas em seis estágios de mudança institucional por Greenwood, Suddaby e Hinings (2002) e três estágios da institucionalização pelas autoras Tolbert e Zucker (2014).

O processo primário da institucionalização foi apresentado, em 1983, pelos autores DiMaggio e Powell (2005), com o objetivo de explicar o motivo que leva as organizações a se tornarem homogêneas, embora estejam cada vez menos integradas no controle de resultados. Para se referir à homogeneidade como isomorfismo, os autores utilizam o conceito de que o isomorfismo é um processo de restrição, no qual as unidades em uma população são forçadas a se assemelharem às outras unidades que enfrentam o mesmo conjunto de restrição (DIMAGGIO; POWELL, 2005).

Para os autores Haveman e David (2008, p. 583)

A ecologia organizacional e o institucionalismo romperam com a suposição de que as organizações poderiam se adaptar às condições externas de maneira tecnicamente racional. No caso da ecologia, as forças inerciais impedem uma adaptação oportuna; na perspectiva institucional, a conformidade com as regras institucionais pode impedir uma operação eficiente.

Hawley (1968), associou o ecossistema da ecologia à ecologia humana que trata das relações humanas com o ambiente, mais especificamente ao que se refere às suas adaptações e supõe que todos os ecossistemas estão sujeitos aos mesmos princípios de mudança (ZIMER, 1988). O autor se baseia nos princípios do desenvolvimento do ecossistema e redes de sistemas em sua teoria da convergência, bem como na noção de isomorfismo que sustenta que as estruturas do sistema convergem na medida em que as suas interações são frequentes (ZIMER, 1988).

Para compreender o isomorfismo institucional que envolve a política e o cerimonial nas organizações, foram identificados por DiMaggio e Powell (2005) três mecanismos de mudança institucional: coercitivo, normativo e mimético.

O isomorfismo coercitivo é resultado das pressões formais sobre organizações das quais estas são dependentes e também é resultado de expectativas culturais na sociedade (DIMAGGIO; POWELL, 2005). O desenvolvimento de regulamentos pelo Estado é um exemplo de configuração coercitiva (GREENWOOD; SUDDABY; HININGS, 2002).

O isomorfismo mimético é resultado da imitação e ocorre quando organizações imitam outras por perceberem que estas são mais legítimas ou bem-sucedidas

(DIMAGGIO; POWELL, 2005). É por meio da legitimidade pragmática e também pelo pensamento voltado para aspectos econômicos que novas ideias são adotadas em ambientes competitivos, prevalecendo o mimetismo (GREENWOOD; SUDDABY; HININGS, 2002).

O isomorfismo normativo é resultado da normatização em busca de legitimidade, ocorre principalmente na profissionalização e tem como consequência a formação de redes de profissionais que atuam como força isomórfica no campo organizacional (DIMAGGIO; POWELL, 2005). Em ambientes com alto grau de profissionalização, as novas ideias podem levar ao empreendedorismo, no entanto, nesses ambientes a difusão precisa de justificação normativa, pois é somente quando as ideias são consistentes e com valores predominantes que se tornam convincentes e legítimas (GREENWOOD; SUDDABY; HININGS, 2002).

Os mecanismos isomórficos de mudança institucional não são sinônimos de eficiência e controle de resultados, sobretudo porque eles ocorrem num contexto onde há ausência de evidências de aumento da eficiência organizacional interna e apesar de os mecanismos se misturarem num contexto empírico os resultados podem ser distintos (DIMAGGIO; POWELL, 2005). Estes autores ressaltam que organizações isomórficas coercitivas por imposições governamentais estão cada vez menos integradas por controles de resultados e que em muitas organizações isomórficas normativas não há pressão por eficiência devido às fortes barreiras fiscais e legais e do quantitativo limitado de organizações. A dinâmica dos mecanismos isomórficos de mudança institucional está retratada na Figura 1.

Nos processos institucionais secundários são abordados os estágios de mudança que as organizações atravessam ao sofrerem as pressões do ambiente e se tornarem isomórficas. A mudança, na teoria institucional, é ocasionada pelo isomorfismo convergente - movimento de uma posição para a outra (GREENWOOD; SUDDABY; HININGS, 2002). A abordagem das três formas primárias de legitimidade organizacional de Suchman (1995) está presente nos estágios definidos por estes autores e apresentam as seguintes bases: legitimidade pragmática, baseada na avaliação instrumental, em benefícios e interesses próprios; legitimidade moral: baseada na avaliação normativa, no julgamento da finalidade da ação sem levar em

conta benefícios próprios a quem julga ou avalia; legitimidade cognitiva, baseada na cognição, na internalização de um sistema de crenças (normas e valores) (BARAKAT

et al., 2016).

Figura 1 – Mecanismos isomórficos de mudança institucional

Fonte: elaborado a partir de DiMaggio e Powell (2005).

Para os autores Greenwood, Suddaby e Hininggs (2002), esse processo envolve seis estágios de mudança. No estágio I, evento precipitante, ocorre a desestabilização das práticas vigentes ocasionadas por rupturas, mudanças e descontinuidade da competitividade, pode ter motivação social, tecnológica e regulatória.

O estágio II, desinstitucionalização, tem o efeito de perturbar o campo socialmente construído por meio do ingresso de novos atores ou do empreendedorismo dando sequência ao estágio III, pré-institucionalização, no qual as organizações inovam e buscam soluções técnicas viáveis para a solução do problema local (GREENWOOD; SUDDABY; HININGS, 2002).

O estágio IV, teorização, envolve a especificação de um fracasso organizacional geral e justificação de uma possibilidade abstrata de solução, pode

haver legitimidade pragmática (baseada em interesses) ou moral (baseada em julgamento/avaliação). No estágio V, difusão, há o aumento da objetivação e a obtenção do consenso social por meio da legitimidade pragmática, que segue para o estágio VI, reinstitucionalização, de ampla adoção das novas ideias tomadas como garantidas pela legitimidade cognitiva baseada na cognição. O esquema dos estágios de mudança é retratado na Figura 2.

Figura 2 – Estágios de mudança institucional

Fonte: adaptado de Greenwood, Suddaby e Hinings, 2002.

Os autores Greenwood, Suddaby e Hinigns (2002) realizaram sua pesquisa com foco no discurso que ocorre dentro de uma profissão e afirmaram que, devido à carência de pesquisas empíricas e a negligência do estágio de teorização, estudos com foco na linguagem e em diferentes contextos ajudarão na especificação e na generalização de suas observações da teorização. Para os autores, em ambientes coercitivos, espera-se diligência em princípios da razoabilidade; em miméticos, solidez de idéias; e em normativos, apelos pelo alinhamento normativo.

No estágio III, pré-institucionalização, é onde ocorre a teorização, destacado pelos autores como essencial ao processo de mudança e definida como a transcrição de ideias de justificação da mudança, ou da resistência à mudança, para formatos

simplificados de fácil compreensão, pois é somente quando as ideias são consistentes com os valores predominantes que se tornam convincentes e legítimas. O termo pré- institucionalização é utilizado pelas autoras Tolbert e Zucker como o primeiro processo da dinâmica institucional.

O processo de institucionalização de Tolbert e Zucker (2014) foi desenvolvido a partir de uma análise quantitativa da revisão de literatura motivada pelos poucos estudos dedicados a conceitualização e a especificação dos processos de institucionalização, com o objetivo de classificar as contribuições teóricas da teoria institucional para análise organizacional e avançar nesta perspectiva para melhorar sua utilização em estudos empíricos.

As autoras destacam que, nas abordagens organizacionais anteriores, as estruturas estavam institucionalizadas ou não estavam, pois a institucionalização não era baseada em processo. Com a revisão da literatura feita pelas autoras Tolbert e Zucker (2014), a dinâmica institucional foi composta por três estágios de institucionalização, a saber: habitualização, objetificação e sedimentação, retratado na Figura 3.

Figura 3 – Processos inerentes à institucionalização

Fonte: Tolbert e Zucker (2014).

Como pode se observar, as autoras retratam o processo de habitualização que dentro de um contexto organizacional e em resposta às forças ambientais envolve a inovação de novos arranjos estruturais e a formalização desses arranjos em políticas e procedimentos, que resultam no estágio de pré-institucionalização. O processo de habitualização “é o desenvolvimento de comportamentos padronizados para a solução

de problemas e a associação de tais comportamentos a estímulos particulares” (TOLBERT; ZUCKER, 2014, p. 203).

O processo de objetificação “envolve o desenvolvimento de certo grau de consenso social entre os decisores da organização a respeito do valor da estrutura e a crescente adoção pelas organizações com base nesse consenso” (TOLBERT; ZUCKER, 2014, p. 205). Para as autoras a disseminação, por meio da teorização, e a objetificação da estrutura se relacionam com o estágio de semi-institucionalização.

O processo de sedimentação é “a continuidade histórica da estrutura e, especialmente, em sua sobrevivência pelas várias gerações de membros da organização” (TOLBERT; ZUCKER, 2014, p. 207). Para alcançar a sedimentação, a objetificação, mesmo com impactos positivos, atravessa resistência de grupo e defesas de grupos de interesses. As autoras identificam esse processo como o estágio da institucionalização total.

Para considerar a estrutura no estágio de institucionalização total, as autoras Tolbert e Zucker (2014, p. 208) fazem a ligação deste estágio aos seguintes efeitos conjuntos: relativa baixa resistência de oposição; promoção e apoio cultural continuado por grupos de defensores; correlação positiva com resultados desejados, conforme Quadro 6.

Quadro 6. Estágios de institucionalização e dimensões comparativas

Dimensão Estágio de pré- institucionalizaçao Estágio semi- institucional Estágio de total institucionalização

Processos Habitualização Objetificação Sedimentação Características dos adotantes Homogêneos Heterogêneos Heterogêneos Ímpeto para difusão Imitação Imitação/normativo Normativa

Atividade de teorização Nenhuma Alta Baixa

Variância na implementação Alta Moderada Baixa

Taxa de fracasso estrutural Alta Moderada Baixa

Fonte: elaborado a partir de Tolbert, Zucker (2014, p. 209).

Mais estudos sobre processos institucionais são indicados por estas autoras para desenvolver medidas e documentação sobre a institucionalização das estruturas que possivelmente está relacionada ao estágio de institucionalização. Tolbert e Zucker (2014) sugerem, dentre outras técnicas de coleta de dados, o questionário sobre atributos relacionados ao grau de institucionalização.

Na visão de Machado-da-Silva e Gonçaves (2014), a dinâmica institucional está diretamente vinculada aos mecanismos de pressão e a articulação entre esses mecanismos depende do contexto para a análise do processo, bem como da análise conjunta da ação e da estrutura.