• Nenhum resultado encontrado

4.2 CATEGORIA ANALÍTICA: INSTITUCIONALIZAÇÃO

4.2.1 Estágio I Evento Precipitante

Segundo o processo institucional dos autores Greenwood, Suddaby e Hinings (2002), no estágio I, evento precipitante, ocorre a desestabilização das práticas vigentes ocasionadas por rupturas, mudanças e descontinuidade da competitividade, pode ter motivação tecnológica, social e regulatória (Figura 26).

Figura 26 – Estágio I - Evento Precipitante/Habitualização

Sobre o surgimento do AVA dentro da UFPR, apenas dois sujeitos (GI-3, EaD- 2) contaram a história do início do AVA, um sujeito (GI-1) informou que surgiu a partir da adoção do Moodle e os demais não souberam responder. Ocorreram dois marcos importantes desse Ambiente Virtual de Aprendizagem na UFPR, conforme relatos do sujeito GI-3 que se refere ao surgimento do AVA Moodle no curso de GI e do sujeito EaD-2 sobre o surgimento no âmbito da universidade (Figura 27).

Em ambos os relatos é possível perceber que a adoção do AVA Moodle teve o objetivo de substituir uma tecnologia usada anteriormente. As tecnologias substituídas pelo Moodle foram: e-Proinfo na UFPR, utilizado para oferta dos primeiros cursos por EaD, em 2000 e Civics no curso de GI, adotado em 2004 para disponibilização de material.

O e-Proinfo é um AVA criado pela Secretaria de Governo para qualificar os professores da educação básica e por meio desse AVA eram ofertados os cursos EaD na UFPR. Além dessa dificuldade, o sujeito EaD-2 relata que para resolver problemas no e-Proinfo era preciso abrir chamado no MEC por meio de ligação telefônica.

Portanto, a UFPR adotou o AVA Moodle por motivação tecnológica, na busca de melhores recursos para a EaD. De acordo com a fundamentação teórica, o lançamento do Moodle foi em 2002; e segundo o sujeito EaD-2 a adoção pela UFPR ocorreu em 2006 e em 2008 no curso de GI (GI-3).

Como este estudo envolve o período de 2010 a 2018, os sujeitos foram questionados sobre a utilização do AVA. Identifica-se que, apesar de aparecer na Figura 28 que o curso de Gestão da Informação tinha o Moodle do DECIGI, atualmente se utiliza o Moodle da UFPR. A Cipead utiliza somente o Moodle da UFPR e na contramão desse processo de institucionalização do AVA Moodle, no curso de Administração, apesar de ter professores que utilizam o Moodle não oficial (ADM-2), a orientação é para que se utilize o EdModo (ADM-1, ADM-2).

Os sujeitos do grupo ADM explicam que essa orientação se iniciou em janeiro de 2018 e a escolha do EdModo partiu dos alunos junto ao colegiado (ADM-1, ADM- 2 e ADM-3) devido à insatisfação na utilização de múltiplos logins (ADM-1, ADM-2).

Figura 27 – AVA - Seu início como recurso de ensino e aprendizagem

Fonte: a autora (2019).

Esse questionamento foi importante porque demonstra o desconhecimento dos docentes do curso de Administração sobre a diferença entre um AVA e outras tecnologias educacionais. O EdModo não é um AVA, assim como também não são considerados AVA’s as tecnologias citadas pelos sujeitos ADM-1, Dropbox e ADM-2, Campus Base.

Apesar de possuir múltiplas funcionalidades e, segundo o sujeito ADM-3, ser “bastante interativo, muito parecido com o Facebook”, o EdModo é um microblog, é uma rede social educacional do Linkedin. O EdModo não é um software livre como o Moodle, portanto não permite ser adaptado de acordo com as necessidades da

instituição de ensino e não possui metodologia de aprendizagem por meio de ferramentas colaborativas como Wikis2.

Figura 28 – AVA - Moodle e outras plataformas

Fonte: a autora (2019).

Sobre as mudanças que as tecnologias podem gerar no ensino presencial (Figura 29), os sujeitos do grupo GI defendem que as tecnologias afetam muito a educação presencial, citam a tendência da educação a distância (GI-1), a tendência mundial da educação aberta (GI-3) por meio do AVA e a necessidade de repensar a metodologia de ensino para utilizar as possibilidades que o AVA oferece e que vão além de um repositório (GI-2).

2 Uma wiki é uma coleção de páginas editáveis sobre um assunto específico e é usada por uma

Figura 29 – AVA - Mudanças no ensino e aprendizagem

Fonte: a autora (2019).

O sujeito EaD-5, defende que o conceito da educação presencial é diferente para aqueles que crescem utilizando redes sociais e os todos os sujeitos do grupo ADM acreditam que o ensino presencial é afetado pelas tecnologias. Os sujeitos ADM- 1 e ADM-2 demonstram que suas práticas de ensino foram aperfeiçoadas ao relatarem suas experiências com a utilização de recursos tecnológicos na educação.

Para os sujeitos ADM-2 e GI-2, a adoção do AVA Moodle foi influenciada por força de legislação, o sujeito EaD-6 apresentou dúvida sobre essa motivação e citou o Decreto nº 5.622/2005-MEC e os referenciais de qualidade da EaD, os demais

sujeitos não souberam responder ou afirmaram que não houve essa motivação (Figura 30).

A Resolução CNE/CES nº 1/2016 estabelece como dever da IES na modalidade a distância a disponibilização e o uso de “ambientes virtuais multimídia interativos” de “licença livre”.

Figura 30 – AVA - Pressão por meio de legislação

Fonte: a autora (2019).

Ao serem questionados se existe pressão da comunidade interna da UFPR para a adoção do AVA Moodle no ensino presencial, o sujeito EaD-1 afirma que não sente essa pressão e “(...) a maioria das instituições tem o seu e é obrigatório”. Para os sujeitos GI-1 e GI-2 existe essa pressão para que seja utilizado o Moodle institucional e por esse motivo as disciplinas, com oferta de carga horária a distância,

estão sendo migradas para o Moodle da UFPR. Segundo estes relatos do grupo GI, a pressão vem do próprio colegiado do curso de orientado pela Cipead (Figura 31).

Figura 31 – AVA - pressão da comunidade interna

Fonte: a autora (2019).

O sujeito GI-3 afirma que faz 10 anos que o AVA foi institucionalizado dentro do curso de GI. Ao associar o relato GI-3 aos relatos GI-1 e GI-2, nota-se que a pressão para institucionalizar o AVA, no curso de GI, ocorreu por iniciativa do próprio curso. Para o sujeito GI-3, por não haver essa pressão de utilização por parte da universidade, acredita-se que futuramente a universidade seja pressionada pelo Governo por meio de lei.

Embora conste no relato do sujeito EaD-1 que o suporte tecnológico é oferecido somente para o AVA institucional e que, segundo os sujeitos EaD-2 e EaD-6, a pressão é pela segurança e não pelo uso do AVA Moodle, estes afirmam não haver pressão para uso do AVA institucional. Os demais sujeitos também acreditam que não há pressão e pode-se concluir que de fato não existe, quando são comparados os

relatos do sujeito ADM-2 “(...) não vejo nem serviço, quanto mais pressão” com o relato do sujeito EaD-6 “o professor fica muito à vontade. Não há esquema de divulgação (...)”.

Diante do exposto, identifica-se o estágio I como evento tecnológico e regulatório no processo de institucionalização do AVA Moodle, de modo que o tecnológico consiste em força superior ao regulatório, validando o contexto institucional de referência da educação presencial frente à oferta de carga horária a distância.

Para Greenwood, Suddaby e Hinings (2002), o evento deste estágio precipita o estágio II – Desinstitucionalização, com a ascensão de atores existentes, o surgimento de novos jogadores ou empreendedores institucionais que provocam mudança num campo socialmente construído.