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Actualmente, o dinheiro electrónico não é um fenómeno muito difundido. Porém, não se deverá excluir a possibilidade do seu maior desenvolvimento a longo prazo. Desde a publicação do “Report to the Council of the EMI on Prepaid Cards” (“Relatório ao Conselho do IME sobre Cartões Pré-Pagos”), em Maio de 1994, não só aumentou significativamente o número de projectos relativos a cartões pré- -pagos multi-usos, como teve início o desenvolvimento da utilização de dinheiro electrónico em pagamentos através de redes de computadores (o chamado ”dinheiro em rede”).

Em 1997, o IME desenvolveu estudos mais aprofundados sobre o impacto do aparecimento do dinheiro electrónico sobre as economias da UE. Tomou particularmente em conta os novos desenvolvimentos de mercado, conduzindo uma análise aprofundada das suas implicações para a política monetária. Os resultados do estudo forneceram a base para a “Opinion of the EMI Council on the issuance of electronic money” (“Parecer do Conselho do IME sobre a emissão de dinheiro electrónico”) de 2 de Março de 1998, transmitido à Comissão, e cujo texto é reproduzido na Caixa 3 que se segue.

Caixa 3

Parecer do Conselho do IME sobre a emissão de dinheiro electrónico1

1. Na conjuntura actual, o dinheiro electrónico não é ainda um fenómeno generalizado. Porém, a longo prazo, não é de excluir um maior desenvolvimento deste tipo de dinheiro.

2. A emissão de dinheiro electrónico terá provavelmente implicações signif icativas para a política monetária no futuro. Assim, os bancos centrais da UE consideram importante estabelecer regras claras sobre as condições de emissão de dinheiro electrónico.

3. Em 1994, o Conselho do IME recomendou que apenas as instituições de crédito (de acordo com as legislações nacionais) deveriam ser autorizadas a emitir cartões pré-pagos multi-usos.2 No entanto,

esta recomendação não foi adoptada em todos os Estados-membros. Neste contexto, em 1997, a Comissão Europeia iniciou trabalhos sobre uma proposta de Directiva do Parlamento Europeu e do Conselho sobre a emissão de dinheiro electrónico por entidades que não sejam instituições de crédito, em especial com o objectivo de assegurar um passaporte europeu para essas instituições. 4. À luz dos desenvolvimentos verif icados ao longo dos últimos anos e de novas reflexões sobre a

matéria, levando em linha de conta a eficácia da política monetária e considerações sobre a igualdade nas condições de concorrência, e considerando que os fundos obtidos para a emissão de dinheiro electrónico são de natureza reembolsável, o Conselho do IME considera essencial o cumprimento dos seguintes requisitos mínimos, independentemente da natureza do emitente do dinheiro electrónico: - o significado de “dinheiro electrónico” deverá ser claramente definido e marcada a sua distinção

relativamente a cartões pré-pagos com um “único uso” ou com “usos limitados”; - os emitentes de dinheiro electrónico f icarão sujeitos a supervisão prudencial;

- a emissão deverá f icar sujeita a acordos legais sólidos e transparentes, segurança técnica, protecção contra abuso criminal e reporte estatístico;

- deverá ser imposto um requisito legal estabelecendo que o dinheiro electrónico é reembolsável ao par, o que implicará que os emitentes se deverão encontrar em posição de converter dinheiro electrónico em dinheiro do banco central, a pedido do detentor do dinheiro electrónico;3

- deverá existir a possibilidade dos bancos centrais poderem impor reservas mínimas de caixa a todos os emitentes de dinheiro electrónico, em particular para estarem preparados para um desenvolvimento substancial do dinheiro electrónico com um impacto material sobre a política monetária;

- além disso, poderá prever-se um esquema de segurança para os sistemas de dinheiro electrónico destinado à protecção do público.

5. Neste contexto, e de acordo com a recomendação do IME de 1994, a solução mais fácil seria limitar a emissão de dinheiro electrónico às instituições de crédito, uma vez que isso evitaria a introdução de alterações no actual enquadramento institucional da política monetária e da actividade bancária. Mais especif icamente, com vista à transição para a União Monetária, a emissão de dinheiro electrónico deveria ser apenas autorizada a “instituições de crédito, tal como se encontram def inidas no Artigo 1º da Primeira Directiva de Coordenação Bancária”, uma vez que o Artigo 19º.1 dos Estatutos do SEBC, na sua redacção actual, autoriza o BCE a impor reservas mínimas na Terceira Fase da UEM apenas a estas instituições.

6. Simultaneamente, o Conselho do IME reconhece que a definição de “instituição de crédito” constante da Primeira Directiva de Coordenação Bancária prevê que uma instituição deve “receber do público depósitos ou outros fundos reembolsáveis, a f im de os aplicarem por conta própria mediante a concessão de crédito”.4 O IME considera vantajoso introduzir uma alteração da def inição de

“instituição de crédito” constante na Primeira Directiva de Coordenação Bancária, por forma a permitir que as instituições que não pretendem realizar operações de crédito possam emitir dinheiro electrónico. Seria assim proporcionada igualdade nas condições de concorrência, em particular porque seria assegurado que todas as entidades emitentes de dinheiro electrónico ficariam sujeitas a uma forma adequada de supervisão prudencial, sendo incluídas no leque de instituições potencialmente sujeitas à constituição de reservas mínimas junto do BCE.

7. No entanto, como disposição transitória até que seja introduzida a alteração na Primeira Directiva de Coordenação Bancária, o Conselho do IME aceitaria que as instituições que já emitem dinheiro electrónico, mas que não se incluem no âmbito da definição de instituição de crédito constante na Primeira Directiva de Coordenação Bancária, poderiam continuar a fornecer serviços de pagamentos nacionais, desde que sujeitos às normas definidas no ponto 4 acima, embora excluindo as reservas mínimas de caixa.5

8. Em virtude do carácter universal da emissão de dinheiro electrónico, em particular “dinheiro em rede”, que incorre no risco de deslocalização, o IME salienta a necessidade de cooperação internacional nesta área.

Notas:

1 Este parecer foi adoptado por uma larga maioria de membros do Conselho do IME, à excepção da Dinamarca, Suécia,

Reino Unido e Luxemburgo.

2 O IME, em 1994, no “Report to the Council of the EMI on Prepaid Cards” (p.8) previa a possibilidade de autorizar

algumas entidades emitentes, não necessariamente instituições de crédito na verdadeira acepção do termo, a emitir cartões pré-pagos multi-usos sob condições específicas em circunstâncias excepcionais (por exemplo, no caso de esquemas já em funcionamento antes de retiradas as conclusões de política do Relatório).

3 Os pormenores deste requisito de reembolso terão de ser ainda especificados (por forma a evitar procedimentos

onerosos, será possível, por exemplo, considerar a imposição de uma taxa ou de um limite sobre as importâncias mínimas antes do pedido de reembolso pelo detentor do dinheiro electrónico. Além disso, as dificuldades logísticas poderão ser ultrapassadas permitindo o reembolso através de depósitos bancários).

4 O Conselho do IME reconhece igualmente que as definições nacionais de “instituição de crédito” variam entre os

diferentes Estados-membros e que existem em alguns países entidades emitentes de dinheiro electrónico que não preenchem os requisitos das respectivas definições nacionais de instituição de crédito.

5 Como se mencionou acima, já o Relatório do IME de 1994 sobre “cartões pré-pagos” previa uma excepção, que consistia

numa cláusula permanente de manutenção de direitos adquiridos, aplicável a esquemas já estabelecidos nessa data. Seria necessário avaliar se uma cláusula permanente de manutenção de direitos adquiridos poderia ser mantida numa versão revista da Primeira Directiva de Coordenação Bancária relativa a estes esquemas, por exemplo, se a sua natureza os tornasse menos sensível a posterior aplicação da legislação bancária.

3

Cooperação na área da supervisão bancária e