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A Constituição Federal, sem dúvidas, trouxe em seu texto uma ênfase ao meio ambiente que os dispositivos legais anteriores não haviam apresentado. Para o legislador, mais do que citar que o meio ambiente depende da proteção dos homens, deve-se compreender que o equilíbrio dos recursos ambientais não se trata

de uma opção, mas de um direito que deve ser assegurado a todos os cidadãos (ANTUNES, 2017, p. 62).

Neste tópico passaremos a abordar o direito ao meio ambiente, e os seus pormenores que justificam o seu tratamento como direito fundamental, e bem assim que tal direito é plataforma de tutela de outros direitos também de igual natureza fundamental.

Tamanha é a relevância desse direito, que o homem não poderá abrir mão dele. Trata-se de um direito indisponível, inegociável. Não cabe aos indivíduos decidirem se desejam ou não viver em um espaço no qual o meio ambiente é equilibrado e saudável: tais características deverão existir sem que a vontade seja expressa, como uma medida indispensável para a manutenção da vida e, assim, Carvalho (2008, p. 10-11) enfatiza que:

O ambiente saudável é um dos direitos inalienáveis do Homem, e o empenho em proporcionar um ambiente sadio e de penalizar os responsáveis pela violação desse direito do cidadão, colocar-se de forma inderrogável no campo da decisão política. Como o direito é resultante de fatores econômicos, político-institucionais e culturais e reflexo de uma relação de tensão existente entre as diferentes classes sociais, a decisão de corrigir e impedir as distorções ambientais pela via dos instrumentos jurídicos representa, em essência, uma decisão fundamentalmente política. Isto porque, conforme a bela e feliz assertiva de um jurista norte americano, os advogados são os ‘arquitetos das relações na sociedade humana’. O direito ao meio ambiente equilibrado não se trata apenas de uma noção programática, mas encontra-se claramente destacado no texto constitucional impositiva, e, assim, qualquer outra lei desenvolvida deve tomar como base essa posição constitucional. Não poderá a preocupação econômica, a necessidade de produção de bens diversos ou as demandas do mercado serem adotadas como uma justificativa para a degradação das características ambientais (FIORILLO, 2009, p. 44).

Quando se afirma que ‘todos têm direito’ ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, depreende-se daí que a utilização do pronome indefinido ‘todos’ teve por objetivo alargar a abrangência da norma, pois não particularizando quem tem o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, evita-se que se excluam quem quer que seja. Vê-se que o meio ambiente é um bem coletivo, cujo uso pode se dar individualmente ou coletivamente, pertencendo, assim, à categoria dos direitos difusos (MOURA, 2012, p. 1). Knox e Pejan (2018, p. 1) ressaltam que os direitos humanos internacionalmente reconhecidos e inseridos nas leis dos países signatários definem a ambiente equilibrado como direito dos cidadãos em todo o mundo. O homem

precisa do meio ambiente equilibrado para viver com saúde e, assim, deverá o Estado investir em políticas públicas e ações de controle, fiscalização, proteção e recuperação ambiental, sempre primando pela manutenção das características ambientais o mais próximas possíveis de sua originalidade.

Como os direitos humanos e o direito ambiental são dois ramos diferentes do direito, com históricos particulares e desenvolvimento em períodos e velocidades diferentes, por muito tempo houve a dúvida sobre a possibilidade de citar a questão do equilíbrio ambiental como um dos direitos humanos. Atualmente, porém, boa parte das nações reconhecem que se trata de um direito humano e, como tal, deve também integrar seus direitos fundamentais, aqueles considerados minimamente necessários para a manutenção da vida, em bases dignas e justas para todos os cidadãos (KNOX; PEJAN, 2018, p. 1-2).

A falta de um direito indistintamente reconhecido de todos os cidadãos à um ambiente equilibrado não impediu o desenvolvimento de normas de direitos humanos relacionadas ao meio ambiente nos países do mundo, cada um de acordo com as especificidades de suas próprias normas jurídicas. Um esforço que vem se ampliando é no sentido de fazer com que haja a compreensão de que sem o meio ambiente, outros direitos não podem ser alcançados, como justiça social, dignidade, entre outros (KNOX; PEJAN, 2018, p. 1-2).

Com isso, alteram-se as concepções a respeito do valor do meio ambiente para a formação de uma sociedade na qual o homem e sua vida estão acima de interesses econômicos e financeiros, visando ultrapassar a visão antiga de uma parcela da população, os mais pobres, como sendo subordinada a outra parcela, muito menor (os mais ricos) (KNOX; PEJAN, 2018, p. 1-2).

A qualidade do meio ambiente se transformara num bem, num patrimônio, num valor mesmo, cuja preservação, recuperação e revitalização se tornaram num imperativo do Poder Público, para assegurar a saúde, o bem- estar do homem e as condições de seu desenvolvimento. Em verdade, para assegurar o direito fundamental à vida. [...] Compreendeu que ele é um valor preponderante, que há de estar acima de quaisquer considerações, como as da iniciativa privada. Também estes são garantidos no texto constitucional, mas, a toda evidência, não podem primar sobre o direito fundamental à vida, que está em jogo quando se discute a tutela da qualidade do meio ambiente, que é instrumento no sentido de que, através dessa tutela, o que se protege é um valor maior: a qualidade da vida humana (SILVA, 2017, p. 847-848).

Varvastian (2019, p. 7-8) enfatiza que as alterações climáticas ocorridas ao longo dos anos apresentam uma dicotomia que não pode ser ignorada. Por um

lado, essas alterações são reflexos da ação do homem sobre o ambiente, em decorrência de suas atividades e os resultados que estas causam de forma global. Por outro lado, essas mesmas alterações tornam a exercer influência sobre a vida, a saúde e a segurança do homem e, assim, deve-se considerar a questão como um ciclo infindável.

Silva (2017, p. 14), quando se fala em meio ambiente equilibrado, deve-se recordar que se trata de um conjunto de condições essenciais para a vida, não apenas do homem, mas de todas as espécies. Equilibrado é o ambiente quando este consegue impactar positivamente na vida dos homens, não de forma inadequada para suas necessidades.

Nesse sentido, quando o meio ambiente torna-se negativo, como ocorre quando alterações climáticas se acentuam, há um sofrimento para os homens, animais e plantas. O desequilíbrio do maio ambiente é uma questão muito mais ampla e que em muitas nações ainda não é vista da forma como deveria ocorrer (VARVASTIAN, 2019, p. 9-10).

Se o direito fundamental a um meio ambiente equilibrado é desrespeitado, toda a vida sofre desrespeito, tanto homens quanto demais espécies e, assim, inicia- se um caminho difícil de ser corrigido posteriormente, no qual a vida não é protegida como seria o papel dos Governos e da sociedade (KNOX; PEJAN, 2018, p. 3-4).

Machado (2009, p. 127) aduz que cada pessoa tem direito ao meio ambiente equilibrado, um direito que não se diferencia entre uma pessoa e outra, ou entre um país e outro. Nesse sentido, as políticas públicas, as leis e os esforços do Estado devem ser focados nisso, em um direito que é de todos e, assim, não pode ser limitado, ofertado apenas parcialmente.

Na sequência adentra-se ao estudo das áreas de preservação permanente.

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