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4. PERSPECTIVAS PARA DEMOCRATIZAÇÃO DA RADIODIFUSÃO

4.3 DIREITO DE ANTENA

Presente em ordenamentos jurídicos estrangeiros, como em Portugal175 e

Espanha, o direito de antena tem o intuito de promover a veiculação de conteúdo produzido por organizações relevantes da sociedade, como partidos políticos, sindicatos, movimentos populares, organizações de defesa de direitos e de promoção de interesses públicos no sistema de radiodifusão.

Pela legislação portuguesa, o chamado “tempo de antena”, isto é o “espaço de programação própria da responsabilidade do titular do direito”, é transmitido no canal de cobertura nacional de maior audiência do sistema público de televisão. 176

175 O artigo 40º da Constituição da República Portuguesa dispõe: 1. Os partidos políticos e as organizações sindicais, profissionais e representativas das actividades económicas, bem como outras organizações sociais de âmbito nacional, têm direito, de acordo com a sua relevância e representatividade e segundo critérios objectivos a definir por lei, a tempos de antena no serviço público de rádio e de televisão.

176 Conforme disciplinado na Lei nº 31-A/98: Artigo 49. 1 - Aos partidos políticos, ao Governo, às organizações sindicais, às organizações profissionais e representativas das actividades económicas e às associações de defesa do ambiente e do consumidor é garantido o direito a tempo de antena no serviço público de televisão. 2 - As entidades referidas no número anterior têm direito, gratuita e anualmente, aos seguintes tempos de antena: a) Dez minutos por partido representado na Assembleia da República, acrescidos de trinta segundos por cada deputado eleito; b) Cinco minutos por partido não representado na Assembleia da República com participação nas mais recentes eleições legislativas, acrescidos de trinta segundos por cada 15 000 votos nelas obtidos; c) Sessenta minutos para o Governo e sessenta minutos para os partidos representados na Assembleia da República que não façam parte do Governo, a ratear segundo a sua representatividade; d) Noventa minutos para as organizações sindicais, noventa minutos para as organizações profissionais e representativas das actividades económicas e trinta minutos para as associações de defesa do ambiente e do consumidor, a ratear de acordo com a sua representatividade; e) Quinze minutos para outras entidades que tenham direito de antena atribuído por lei. 3 - Por tempo de antena entende-se o espaço de programação própria da responsabilidade do titular do direito, facto que deve ser expressamente mencionado no início e no termo de cada programa. 4 - Cada titular não pode utilizar o direito de antena mais de uma vez em cada 15 dias nem em emissões com duração superior a dez ou inferior a três minutos, salvo se o seu tempo de antena for globalmente inferior. Artigo 51. 1 - Os tempos de antena são emitidos no canal de cobertura nacional de maior audiência entre as 19 e as 22 horas.

A regulamentação do direito de antena deve ser compatibilizada com cada ordenamento jurídico e com o contexto de cada país, dada a estrutura da radiodifusão no Brasil, o seu exercício envolve o sistema privado.

O instituto tem previsão limitada em nosso ordenamento, trata-se da previsão constitucional que garante aos partidos políticos acesso gratuito ao rádio e à televisão, conforme disposto no § 3º do artigo 17 que ainda confere à legislação infraconstitucional competência para sua regulamentação; atualmente a Lei 4.117/ 62, em seus artigos 39 e 40, bem como o Código Eleitoral (Lei nº4.737/65), notadamente entre os artigos 241 e 250, que dispõem acerca das hipóteses em que as emissoras são obrigadas a exibir conteúdo produzido por partidos políticos, além dos horários eleitorais gratuitos veiculados em períodos eleitorais. Também poderia ser apontado como exercício do direito de antena as transmissões, em cadeia nacional, de comunicados da Presidência da República e Ministros do Estado à população.

Na democracia contemporânea, por excelência representativa, a aglutinação de interesses e o acesso à decisão política estão associados à existência de órgãos intermediários. Além dos partidos políticos, que representam institutos orgânicos do mecanismo político democrático, há outros órgãos intermediários de extrema importância nas sociedades pós-industriais (marcadas pela grande concentração humana em centros urbanos), são os sindicatos, os movimentos sociais, organizações da sociedade civil que geralmente se formam com foco em algum tema específico, como meio ambiente, direitos do consumidor, educação, defesa dos direitos das crianças em situação de risco, etc. Esta característica, inerente à prática democrática contemporânea, não merece ser desprezada quando se discutem políticas para democratização da radiodifusão.

A ampliação do direito de antena poderia constituir um mecanismo jurídico importante para a promoção da participação de entidades comprometidas com interesses populares nos meios de comunicação dentro da estrutura hoje existente, pois necessita apenas de previsão normativa para sua implementação. Não demanda uma profunda mudança no sistema atual, porque não exige a alteração do

sistema proprietário, tampouco a criação de uma estrutura complexa para sua efetivação

Consideradas as limitações referentes à utilização do espectro eletromagnético, o direito de antena pode ser interessante como recurso para atenuar dificuldade de participação de diferentes atores, de grupos que representam interesses de parcelas da população que geralmente não têm suas reivindicações ou opiniões veiculadas nos grandes meios de comunicação social.

A institucionalização do direito de antena representaria o reconhecimento de que a sociedade é uma realidade multifacetada e pluralista, não existe justificativa para que ele se restrinja aos partidos políticos, existem diversas entidades aglutinadoras de interesses e representantes de setores expressivos da sociedade.