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EXECUÇÃO INDIRETA DO SERVIÇO DE RADIODIFUSÃO: CONCESSÃO, PERMISSÃO

3. ASPECTOS CONSTITUCIONAIS E LEGAIS DA RADIODIFUSÃO

3.2. EXECUÇÃO INDIRETA DO SERVIÇO DE RADIODIFUSÃO: CONCESSÃO, PERMISSÃO

O texto constitucional, repetindo o que dispõe o Código Brasileiro de Telecomunicações (Lei 4.117/62), afirma que os serviços de radiodifusão serão executados diretamente pela União ou indiretamente, através de concessão, autorização ou permissão.97

Os serviços de radiodifusão sonora (rádio) local são objeto de permissão, os serviços de radiodifusão sonora nacionais, regionais e os serviços de radiodifusão de sons e imagens (televisão) são objeto de concessão, enquanto os serviços de televisão educativa e de retransmissão e repetição de televisão são objeto de autorização.

Pela regra prevista no Código Brasileiro de telecomunicações, Lei nº 4.117/62, a prerrogativa para outorga é atribuída ao Presidente da República, ressalvados os serviços de radiodifusão sonora (rádio) locais cuja autorização é imputada ao extinto Conselho Nacional de Telecomunicações (nas demais esferas o Conselho tem caráter consultivo), competência atualmente conferida ao Ministério das Comunicações.98

Com o advento da Constituição Federal de 1988, a competência em outorgar e renovar concessões e permissões continua atribuída ao Poder Executivo, no entanto, criou-se a obrigatoriedade da decisão ser apreciada pelo Congresso Nacional, podendo o Presidente solicitar urgência para a apreciação (art. 223).

97 Artigos 21, XII, a) da Constituição Federal e 32 da Lei 4.117/62.

98 Artigos 34, parágrafo primeiro; 29, X; e 33, § 5º do Código Brasileiro de Telecomunicações, Lei 4.117/62.

A regra introduzida pela Constituição tenta conferir caráter mais democrático ao processo de outorgas, todavia, esse caráter permanece restrito, tanto pela falta de efetivo controle sócio-político acerca das concessões, como pela regra de aprovação de renovações.

O parágrafo 2º do mesmo artigo determina que a não-renovação da concessão dependerá de aprovação de, no mínimo, dois quintos do Congresso em votação nominal. Essa regra representa, de fato, a continuidade de uma lógica de preponderância dos interesses dos empresários de radiodifusão em detrimento do interesse público, dos princípios constitucionais e das regras de direito administrativo referentes às concessões e permissões de serviços públicos.

O prazo das concessões e permissões é de 15 anos para o serviço de televisão e de 10 anos para o serviço de rádio, conforme disposto no artigo 33, parágrafo terceiro do Código de Telecomunicações e no artigo 223, parágrafo quinto, da Constituição.

Não existe período máximo para a exploração do serviço, as renovações são deferidas por períodos sucessivos e iguais. Pelo disposto no Código de Telecomunicações, a prorrogação era considerada deferida automaticamente caso o órgão responsável não decidisse dentro do prazo de 120 dias; apesar de atualmente essa regra não mais subsistir, caso a outorga vença sem o pedido de renovação ter sido apreciado pelo poder público, é concedida licença provisória de prazo indeterminado, que pode se estender por vários anos, até que o pedido seja avaliado.

Além disso, a regra constitucional apontada torna irrelevante a análise criteriosa sobre o cumprimento das exigências legais e constitucionais para a renovação da outorga, pois mesmo que a concessionária ou permissionária tenha desrespeitado as regras relativas à programação, e às obrigações trabalhistas, previdenciárias e fiscais, somente não terá direito à renovação, se o Presidente assim decidir e se dois quintos dos votos do Congresso confirmarem.

O artigo 34, da Lei 4.117/63, enumera algumas regras para procedimento de outorga de novas concessões, permissões ou autorizações, dentre elas a publicação de edital com 60 dias de antecedência, convidando os interessados a apresentar suas propostas em prazo determinado e acompanhadas de requisitos como prova de idoneidade, demonstração de recursos técnicos e financeiros para o empreendimento e ainda a indicação dos responsáveis pela orientação intelectual e administrativa da entidade.

Dispõe, no parágrafo segundo, que pessoas jurídicas de direito público interno, inclusive universidades, têm preferência para a concessão.

No ano seguinte à publicação do Código, é aprovado o regulamento dos serviços de radiodifusão, pelo Decreto 52.795/63, que contempla o procedimento com maiores detalhes. O diploma sofreu diversas alterações, principalmente pela edição do Decreto 2.108/96.

Pela redação vigente, o procedimento inicia-se pela publicação do edital, que é de competência exclusiva do Ministério das Comunicações (art. 10, §2º); todavia, pode o interessado, demonstrar a viabilidade econômica do empreendimento e, caso não exista canal disponível no plano de distribuição de canais, estudo de viabilidade técnica, o que, se confirmado pelo Ministério e se este julgar conveniente, pode dar início ao procedimento de outorga.

O edital deverá prever os elementos e requisitos necessários à formulação das propostas; dentre os obrigatórios, são apontados, nos incisos do artigo 13, o objeto da licitação, o valor mínimo da outorga e as condições de pagamento, o local de execução do serviço, os prazos para o recebimento das propostas, quesitos e critérios para julgamento das propostas, minuta do contrato de concessão.

A publicação do edital deve ser feita 60 dias antes do prazo para entrega das propostas; dentre os requisitos para habilitação, previstos no artigo 15, podemos indicar a declaração de que a entidade não possui outorga de outro serviço idêntico na mesma localidade e que não desrespeitará, uma vez concedida a outorga, os limites estabelecidos no artigo 12 do Decreto 236/67; a qualificação econômico-

financeira, que inclui balanço patrimonial e demonstrações contábeis do último exercício; a documentação relativa aos dirigentes, que inclui a declaração de que não estão no exercício de cargo letivo que lhes confira imunidade parlamentar nem de cargo ou função da qual decorra foro privilegiado.

O artigo seguinte prevê quesitos e critérios para a avaliação das propostas, dentre os quais, o tempo destinado a programas jornalísticos, educativos ou informativos; tempo destinado a programas culturais, artísticos e jornalísticos produzidos localmente; prazo para início da execução da outorga.

A partir de 1996, a outorga dos serviços de radiodifusão passou a se sujeitar ao procedimento licitatório previsto na Lei 8.666/93 (lei de licitações, que regulamenta o art. 37, XXI da CF e dá outras providências).

Apesar da submissão à licitação ser uma conquista democrática, não existe de fato, transparência, tampouco órgão independente e plural para a apreciação das outorgas e renovações.99

Outras discrepâncias continuam presentes na nossa legislação, como a não submissão da outorga de canais para a televisão educativa à licitação, conforme o parágrafo primeiro, do artigo 13, do Decreto 52.795.

Além disso, ao contrário da regra geral sobre as concessões e permissões de serviços públicos, as de radiodifusão não podem ser extintas pelo poder concedente; o cancelamento da permissão ou concessão antes de vencido o prazo depende de decisão judicial, conforme disposto no parágrafo quarto, do artigo 224, da Constituição Federal.

99 Por ocasião da Constituinte, discutiu-se a criação de um órgão autônomo, o Conselho Nacional de Comunicação, de composição pluralista e que teria função regulatória da radiodifusão além do poder de participar na decisão acerca das outorgas e renovações, prevaleceu, todavia a previsão do Conselho de Comunicação Social. Previsto no artigo 224, sua regulamentação (e instituição) foi concretizada somente em 30 de dezembro de 1991, pela Lei nº 8.389, que atribui ao mesmo caráter de órgão consultivo do Congresso Nacional, retirando, assim, a sua potencialidade de órgão de controle democrático da comunicação social, de instrumento de fiscalização, regulamentação do setor. A implantação do Conselho, entretanto, só foi efetivada onze anos após sua regulamentação e quinze após sua previsão constitucional.

Cabe ainda ressaltar que a radiodifusão é o único serviço público excluído expressamente, pelo artigo 41 da Lei 8.987/95, do regime geral de concessão e permissão de serviços públicos, disciplinado no referido diploma.