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Direito de resolução do contrato de seguro

CAPÍTULO IV- CESSAÇÃO DO CONTRATO

1. Direito de resolução do contrato de seguro

O direito de resolução, apesar denominado de “direito de retratação” encontra-se

prescrito no art.º 8 n.º 4 da LDC.104 Esta denominação tende a variar, sendo anteriormente

designada por “direito de renúncia” no art.º 22.º do DL n.º 176/95, de 26 de Junho e no art.º

182.º do RGAS.105

Atualmente, o direito de resolução encontra-se disposto na LCS, no art.º 116.º (direito de resolução com justa causa), resolução após sinistro (art.º 117.º). Não obstante, existir um regime comum da cessação do contrato de seguro, encontra-se disperso na LCS outras causas de extinção, por exemplo o direito de resolução patente no art.º 23.º n.º 2 e n.º 3 por incumprimento das informações na fase pré-contratual, e o art.º 34.º n.º 6 por não entrega da apólice.

Por outro lado, encontra-se previsto no art.º 118.º, o direito de livre resolução. Este direito encontra-se igualmente disposto no art.º 19.º e seguintes do DL n.º 95/2006, de 29 de Maio, sobre contratação à distância de serviços financeiros, sendo igualmente denominado de direito de livre resolução, pois não exige a indicação do motivo, nem dá lugar a qualquer pedido de indemnização ou penalização.

Deste modo, deve-se atender consoante o caso em concreto, o prazo e o momento a partir do qual o direito de resolução deva ser exercido.

104 “Quando se verifique falta de informação, informação insuficiente, ilegível ou ambígua que comprometa a utilização adequada do bem ou do serviço, o consumidor goza do direito de retratação do contrato relativo à sua aquisição ou prestação, no prazo de sete dias úteis a contar da data de receção do bem ou da data de celebração do contrato de prestação de serviços.”

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1.1. Resolução por justa causa e após sinistro

O contrato de seguro pode ser resolvido com justa causa pelo segurador ou pelo tomador, nos termos gerais (art.º 116.º do RJCS). É um preceito que não tem correspondência com a legislação anterior. Segundo ROMANO MARTINEZ, “desta remissão para a justa causa resulta que se tem de atender aos parâmetros comuns em que a resolução pode ser invocada em contratos de execução duradoura, como é o caso do seguro, designadamente associada à

fundada perda de confiança.”106

Ainda é conferido às partes, o direito de resolução após uma sucessão de sinistros (art.º 117.º n.º 1). Este preceito como acontece com o anterior, não tem correspondência com a legislação anterior. A intenção do legislador foi evitar a produção de atos dolosos (art.º 46.º RJCS) do tomador do seguro, na verificação do sinistro. As partes ficam impedidas de acordar a resolução após uma sucessão de sinistro, no caso de seguros de vida, de saúde, de crédito e caução, nem nos seguros obrigatórios de responsabilidade civil (n.º 3), sendo esta norma de imperatividade absoluta (12.º n.º 1 RJCS).

1.2. Resolução por não entrega da apólice

Por fim, mas não de menos importância, o direito de resolução com fundamento na não

entrega da apólice, tem como disposição legal o art.º 34.º RJCS.107

O incumprimento do prazo para a entrega da apólice,108 atribui ao tomador do seguro o

direito de resolver o contrato de seguro, tendo a cessação efeito retroativo e igualmente direito à devolução da totalidade do prémio pago (34.º n.º 6). Após, a cessão do contrato de seguro, o tomador dispõe a faculdade de exigir a entrega da apólice de seguros (n.º 5).

O art.º 37. n.º 4 do RJCS, dispõe que a não observância dos deveres mencionados, no n.º 1 a n.º 3 desse preceito, atribui ao tomador de seguro o direito de resolver o contrato nos termos n.º 2 e 3 do art.º 23.º e, a qualquer momento, de exigir a correção da apólice. A disposição legal do art.º 37.º n.º 4 é bastante clara, ao remeter para o regime do direito de resolução prescrito no art.º 23.º n.º 2 e n.º 3, em caso da violação dos mencionados deveres

106 Pedro Romano MARTINEZ, ”Anotação ao 116.º”, in Pedro Romano MARTINEZ, et al, Lei do Contrato de Seguro Anotada, cit., p. 406. 107 Direito que já foi brevemente mencionado: Parte I; Capítulo II.

108“ (...) aquando da celebração do contrato ou ser-lhe enviada no prazo de 14 dias nos seguros de risco de massa, salvo se houver motivo justificado, ou no prazo que seja acordado nos seguros de grandes riscos, art.º 34.º n.º 1 do RJCS.

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relativos ao conteúdo da apólice. Assim, o direito de resolução deve ser exercido no prazo de 30

dias após a receção da apólice, tendo a cessação efeito retroativo e o tomador direito à devolução da totalidade do prémio pago.

Importa mencionar, que o tomador do seguro ao exigir a correção da apólice, estará a afastar a possibilidade do não exercício do direito de resolução.

1.3. Resolução por incumprimento dos deveres de informação

O direito de resolução, previsto no art.º 23.º n.º 2, do RJCS tem como fundamento o

incumprimento dos deveres de informação na fase pré-contratual por parte do segurador.109 Os

deveres de informações pré-contratuais, a que o preceito refere-se, são nomeadamente os

figurados nos art.ºs 19.º a 22.º do RJCS. Deste modo, o direito de resolução deve ser exercido

no prazo de 30 dias após a receção da apólice, tendo a cessação efeito retroativo e o tomador do seguro direito à devolução da totalidade do prémio pago. No entanto, este direito de resolução do contrato fica excluído, no caso da falta do segurador não tenha razoalmente afetado a decisão de contratar da contraparte ou haja sido acionada a cobertura por terceiro, n.º 2 última parte.

Podemos concluir, que o direito de resolução previsto no art.º 23.º difere do regime jurídico aplicável ao direito de livre resolução. Ora, vejamos: o direito de resolução com fundamento no incumprimento dos deveres de informação, tem um âmbito de aplicação a todos os tomadores, enquanto o direito de livre resolução, como poderemos observar, só pode ser exercido por tomador do seguro, enquanto pessoa singular (118.º n.º 1). O prazo igualmente difere, e como tal, este é mais alargado no regime do art.º 23.º n.º 3, pois o tomador do seguro dispõe de 30 dias a contar da entrega da apólice para resolver o contrato de seguro, por outro lado o regime do art.º 118.º, dispõe um prazo de 30 ou 14 dias, sendo este último aplicável aos contratos de seguro celebrados à distância. O direito de resolução, disposto no art.º 23.º tem efeito retroativo, e o tomador tem direito à devolução da totalidade do prémio, enquanto no regime do direito de livre resolução pode não implicar a devolução da totalidade do prémio. Entendemos, que o direito de resolução por incumprimento das informações pré-contratuais é mais abrangente e protetor em relação ao tomador de seguro, face ao direito de livre resolução.

109 O direito de resolução por incumprimento de deveres de informação do segurador na fase pré-contratual foi anteriormente mencionado na presente dissertação: Parte I; Capítulo II.

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Por último, quando as condições da apólice não coincidem com as informações prestadas antes da celebração do contrato, aplica-se o direito de resolução fundado no incumprimento dos deveres e informação (art.º 23.º n.º 4).