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ELEMENTOS DO CONTRATO E SINISTRO

Do contrato de seguro retira-se três elementos essencias: risco, interesse e o prémio.

1. Risco

O Risco como objeto do contrato de seguro, corresponde a um evento futuro e incerto

na produção de perdas no património próprio ou alheio.

Na celebração do contrato de seguro, como já anteriormente mencionamos, a obrigação de assumir determinado risco, cabe ao segurador. No entanto, é importante referir, o que materializa a obrigação do segurador, é a assunção do risco e não o pagamento da indemnização, dado que, durante a vigência do contrato pode não ocorrer nenhum sinistro, pese embora que o segurador tenha assumido determinado risco. Desta forma, a indemnização é

apenas uma consequência da assunção do risco.94

Nos termos do art. 44.º n.º 1 do RJCS, “Salvo, nos casos legalmente previstos, o

contrato de seguro é nulo se, aquando da celebração, o segurador, o tomador do seguro ou o segurado, tiver conhecimento de que o risco cessou”. Daqui resulta, que se o risco não existir ou tiver cessado à data da celebração do contrato de seguro, este será nulo. O contrato de seguro caducará na eventualidade de superveniente perda do interesse ou de extinção do risco, art.º

110.º RJCS. Assim, sendo o risco a base do seguro95, o contrato de seguro é caraterizado como

um contrato aleatório.96

Além da limitação legal, prevista no preceito 44.º n.º 1 do RJCS, existem outras limitações, ou seja, riscos legalmente inasseguráveis. De acordo, como o art. 125.º do RGAS, os riscos compreendidos em cada um dos ramos previstos nos arts. 123.º e 124.º do RGAS, não podem ser classificados num outro ramo, nem cobertos através de apólices destinadas a outro

94 João Valente MARTINS, Notas Práticas sobre o Contrato de Seguro, cit., p. 33.

95 Segundo Yvonne Lambert-Fraive, “Dans le champ circonscrit du droit des assurances, le mot RISQUE est un mot clé: des trios éléments de l´assuarance-risque, prime, sinistre-le risque est le plus fondamental el détermine les deux austre car le calcul de la prime comme la réalisation du sinistre sont fonction du risque assuré.- Yvonne Lambert-Fraive, Droit des Assurances, 241, 9éme édition, Dalloz, Paris, 1995.

96 GALVÃO TELES refere que, o contrato de seguro inclui-se nos chamados contratos aleatórios do segundo tipo, aqueles em “que um dos contraentes suporta o sacrificío patrimonial certo, em vista da atribuição incerta, que todavia, a verificar-se, será ou poderá ser de valor superior; ou, então, há reciprocidade de atribuições, mas o valor de ambas, ou de uma delas, não é conhecido antecipadamente, e pode variar em função de determinado factor”.- Inocêncio Galvão TELLES, Manual dos Contratos em Geral, 3.ª edição (reimp.), Lisboa, Lex, 1995, p. 405.

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ramo. De igual modo, são inasseguráveis, os contratos de seguros, que tem por objecto o risco de responsabilidade criminal, rapto, sequestro, posse ou transporte de estupefacientes ou drogas cujo consumo seja interdito, morte de crianças com idade inferiora 14 anos, art.º 14.º do RJCS.

2. Interesse

O interesse como elemento essencial do contrato do contrato de seguro, este será nulo se o segurado não for titular de um interesse digno de proteção legal relativamente ao risco coberto, art.º 43.º n.º 1 do RJCS, e caducará na eventualidade de superveniente perda do interesse ou de extinção do risco, art.º 110.º RJCS.

O conceito de interesse, é um conceito jurídico complexo, no entanto, pode ser definido

como “a relação de conteúdo económico entre um sujeito e um bem de que este necessita”.97

3. Prémio

O regime jurídico do prémio foi alvo de várias intervenções legislativas, a última alteração antes de ser revogado pela LCS, foi o Decreto-Lei n.º 142/2000 de 15 de Julho, que veio introduzir importantes alterações no regime jurídico do pagamento dos prémios de seguro do ramo não vida. Esse diploma previa que a cobertura de riscos ficava dependente do pagamento do prémio por parte do tomador do seguro e enquanto não fosse paga, o contrato não produzia efeitos.98

Com entrada em vigor da LCS, “Em matéria de prémio com algumas particularidades, mantém-se o príncipio de no premium, no risk, no cover, nos termos do qual não há cobertura do seguro enquanto o prémio não for pago. O regime do prémio, com vários esclarecimentos, aditamentos e algumas alterações, permanece no essencial, tal, como resulta do Decreto-lei n.º

97 José Engrácia ANTUNES, Direito dos Contratos Comerciais, cit.,p.708. Quanto ao conceito de intesse no direito civil, o art.º 398.º n.º 2 co C.C dispõe que “(...) deve corresponder a um interessse do credor, digno de protecção legal.”

98 “À semelhança da generalidade dos países da Comunidade Europeia, passa a dispor-se, como regra, que os contratos de seguro só produzem o efeito de cobertura do risco a partir do pagamento do prémio ou fracção iniciais (...)”. – Cfr. Preâmbulo do DL n.º 142/2000 de 15 de Julho. E ainda art.º 4.º do mesmo diploma.

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142/2000, com as alterações de 2005”.99 O contrato de seguro é um contrato sinalagmático e

oneroso.100

Com o diploma da LCS, foi estabelecido cinco regimes específicos de pagamentos de prémio de seguro, nomedamente: regime geral que se aplica a todos os contratos de seguro na generalidade; um regime específico dos seguros de grupo e um regime particular para os seguros de vida; o regime decorrente dos seguros de grandes riscos e regime do seguro obrigatório de responsabilidade civil.

O art.º 53.º n.º 1 RJCS dispõe que salvo acordo das partes, o prémio inicial ou a primeira fracção deste é devido na data da celebração do contrato. Assim, constata-se que o legislador manteve o príncípio da suspensão dos efeitos do contrato, enquanto que o pagamento do prémio não fosse efetuado na data da celebração do contrato, tal como já sucedia com o DL

n.º 142/2000, de 15 de Julho. Ainda nesse sentido o art.º 59.º prevê que “a cobertura dos

riscos depende do prévio pagamento do prémio.” Por último o art.º 58.º estabelece uma

restrição quanto aplicação dos art.ºs 59.º a 61.º “(...) aos seguros e operações regulados no

Capítulo respeitante ao seguro de vida, aos seguros de colheitas e pecuário, aos seguros maritímos em que o prémio seja pago com o produto de receitas e aos seguros de cobertura de grandes riscos, salvo na medida em que essa apliacação decorra de estipulação das partes e não se oponha à natureza do vínculo.” Deste modo, este regime aplica-se à generalidade dos seguros de riscos de massa.

4. Sinistro

O Conceito legal de sinistro está previsto no art.º 99 do RJCS “O sinistro corresponde à verificação, total ou parcial, do evento que desencadeia o accionamento da cobertura do risco prevista no contrato.”

O tomador do seguro, o segurado ou o beneficiário, deve comunicar ao segurador a verificação do sinistro, no prazo de oito dias, ou no prazo fixado no contrato, imediatos àquele em que tenha conhecimento, art.º 100.º n.º 1. Esta norma é de natureza imperativa relativa,

99 Cfr. Preâmbulo do DL N.º 72/2008, DE 16 De Abril.

100 Do contrato de seguro, nascem obrigações para ambas as parte e resultando sacrifício patrimonial, “(...) o pagamento de um prémio: retribuição pelo tomador do seguro, e a suportação do risco, que, em caso de sinistro, se materializará no pagamento da seguradora, da prestação convencionada ou da prestação indemnizatória: indemnização de prejuízos resultantes, ou ao pagamento de valor pré-definido.” - José VASQUES, Contrato de Seguro, Notas para uma teoria geral, cit., p.241.

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art.º 13.º RJCS. Após, a participação do sinistro ao segurador, e apurada a sua obrigação, há lugar a liquidação de sinistro, nos termos do art.º 102.º RJCS.

Atento à modalidade de seguros de danos e de vida, a realização da prestação pode variar. No seguro de dano, a prestação é indemnizatória, correspondente aos danos sofridos pelo segurado, por outro lado, o seguro de vida corresponde a uma prestação convencionada,

pagamento esse que já está pré-determinado na apólice.101