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O Direito natural à sobrevivência e o valor radical dos seres: sobreviver

Se sobreviver é (como parece ser) uma tendência dos seres vivos em geral, mesmo no caso dos unicelulares anucleados. Então, talvez, o direito de sobrevivência devesse coincidir com a realidade fática, até que uma melhor resposta possa ser dada.

Entretanto, nessa quadra da História, poderia isso seria extremamente problemático, gerando desdobramentos em questões bem pontuais, tais como aborto.

Mas, o que parece impossível não se perceber é que ainda que se tenha alguma dúvida, no limite, há uma faixa a partir da qual se tem uma certeza inexorável e que essa faixa em relação ao homem é inconteste quando este respira.

Assim, não há qualquer justificativa para não se respeitar o direito à sobrevivência. De tal modo que não parece ser razoável discutir os limites do Direito, quando o ser humano precisa ser protegido.

A sobrevivência do indivíduo deve ser protegida, e não o direito ou mesmo o Estado. Depois que o indivíduo está a salvo, depois que o Estado é contido em sua sana destruidora, que se analise o direito. Não é essa afinal a proposta paralizadora dos direitos humanos, em qualquer das perspectivas [natural, positiva ou história] de seus estudos?

Assim, tanto a sobrevivência é valor superior à paz, quanto direito de sobreviver deve ser assegurado antes do direito à paz. Uma inversão torna tanto a paz, quanto o direito a paz, sem sentido.

Direitos Humanos, como já se asseverou, são valores sistêmicos e temporais, bem por isso não são universais e nem absolutos189 ainda que um dia possam – talvez por meio de uma uniformização radical da humanidade e em escala global – se tornar tal.

Esse direito natural é inconteste e reconhecido em todas as sociedades, no mínimo, como uma atenuante ao exercício de determinadas ações que se mostrem reconhecidamente deletérias a um determinado corpo social. A legítima defesa, o estado de necessidade, a defesa armada são apenas alguns exemplos bem triviais da ideia que se pretende veicular.

A razão subjacente a esta é aquela que está radicada no fato de que intrinsicamente e no limite é do ser humano que emanam todos os valores, mesmo os socialmente referendados ou objetivados. Ou seja: a existência e sobrevivência do ser humano é condição necessária e precede em termos cronológicos a qualquer criação, exercício ou garantia determinada pelos protocolos ditados por um dado direito, e também no limite, da própria fórmula Estado de Direito.

Logo, ser humano é valor. Sua sobreviver é o valor radical. Direito Humano, é criação humana, tanto quanto o Direito. E se há um direito humano radical, esse direito humano deve ser a sobrevivência, e não a vida, que é um pressuposto fático do exercício de qualquer direito e por isso deve ser resguardada e protegida. E sendo o direito uma criação cultural se justifica por sua finalidade. Se os direitos humanos garantem a sobrevivência se justificam. Isso porque como objeto cultural, na exata medida em que não atende à finalidade proposta, se desnatura.

Assim, parece equivocado colocar os Direitos humanos como sinônimo de um valor em si, a não ser, como já apontado, que se trate de um valor sistêmico e isso considerado dentro de um dado sistema jurídico.

Dentro de um sistema jurídico é possível considerar direitos humanos como

valores e, ainda, explicar a natureza axiológica destes até em termos lógicos, inclusive

qualificando-a como valores mais radicais. Porque no limite, todos os valores seriam referentes ao ser humano. Sendo possível considerá-los, por arrasto, como a raiz de qualquer sistema politico normativo exatamente porque, também no limite, a existência de qualquer sistema político está visceralmente ligada dos seres humanos, que supostamente seriam preservados uma vez que direitos humanos sejam respeitados.

189 Cf. ADDO, M. K. Practice of United Nations Human Rights Treaty Bodies in Reconciliation of Cultural Diversity with Universal Respect for Human Rights. Project Muse, v. 32, n. 3, p. 63, August 2010 2010.

Mas, a rigor e em um sentido mais estrito, mesmo nesses casos, em um conflito axiológico entre o ser humano e um direito humano como valor sistêmico, é o ser humano e não o valor sistêmico que demanda preservação. É o ser humano, e não os direitos humanos que devem orientar o sistema. Podendo de certa maneira e específica maneira se falar em valor mediato e imediato.

Logo, o que parece se sustentar é que diante de qualquer manifestação de vida há um valor supremo: sobreviver. E se os Direitos Humanos podem ser fundamentados sob uma perspectiva jusnaturalista, o único direito que poderia ser reconhecido de forma universal e aceito seria o direito à sobrevivência.

Assim, o fundamento último do direito humano à paz, assim como o fundamento último de qualquer direito, seria o direito natural à sobrevivência.

Os outros direitos humanos, ou melhor, as outras construções históricas que informaram as dimensões dos direitos humanos, podem ser reduzidas às tentativas de se proteger nestes as origens do poder, a saber: a personalidade, a propriedade e a organização.

7 NOTAS SOBRE O RULE OF LAW, CAPITALISMO E GLOBALIZAÇÃO. POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DA FÓRMULA POLÍTICA.

A fórmula Rule of Law (Estado de direito) e o capitalismo demonstraram ao longo de três séculos uma enorme capacidade de variação e adaptabilidade por resistir como sistemas político e econômico, respectivamente.

Internacionalmente, as primeiras décadas do século XXI, não conheceram qualquer sistema político ou econômico que tenha rivalizado com o Rule of Law e o Capitalismo. Sem embargo, existiu uma rivalidade entre ambos (ou, no mínimo certa interferência), porque cada um acessa, por definição e por excelência, pelo menos uma origem do poder: o capitalismo a propriedade e o Rule of Law acessa a organização. Isso não quer dizer que a personalidade – outra origem do poder – no cenário internacional não exerça influência. Os Estados Nacionais – que a exercem – continuam sendo os principais atores internacionais e, por tanto, julgam um papel relevante ainda que tenham perdido muito da sua anterior importância.

No final do século XX, o cenário mundial foi marcado pelo que se convencionou chamar de globalização. Este fenômeno pode ser visto desde diversos aspectos, mas em qualquer um desses aspectos a globalização sempre estará sempre ligada (mesmo que de forma mediata) ao tema da regulação jurídica (nacional e internacional) e dos aspectos econômicos do mercado internacional. De tal modo que a natureza da relação – se é uma relação predominantemente de interferência, de inter-referência, ou de causa-efeito – entre o

Rule of Law (regulação) e o Capitalismo (sistema econômico a ser regrado) ainda permanece

em discussão, principalmente, porque obriga a repensar uma série de questões relativas ao funcionamento das instâncias de decisão dos Estados Nacionais.

Apesar de provocar efeitos importantes, o fenômeno da globalização – com características contemporâneas190 – é extremamente recente, e ainda está se desenvolvendo. Por isso, ainda não há como estabelecer qualquer vaticínio a respeito do que ela ainda provocará. Não obstante, há como elencar os principais desafios oriundos da globalização e inferir algumas proposições quanto às alternativas relacionadas com a fórmula Rule of Law para os desafios que ela impõe aos Estados Nacionais.

190 Ainda que se diga que ocorreram globalizações em outras épocas como a promovida no período das grandes navegações, as semelhanças que possam ser concebidas parecem ser bem pontuais e, por isso, incapazes de gerar dados que possam ser usados em qualquer previsão; e, ainda que se tenha por conta da evolução da informação uma gama inimaginável de dados não se sabe bem com quais se devem trabalhar e, muito menos, as externalidades que podem ser geradas ou esperadas.