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CAPÍTULO IV AS CONQUISTAS LEGAIS DA EDUCAÇÃO INTEGRAL:

4.2 Direitos Humanos a partir da 2ª Guerra Mundial

Toda barbárie provocada pela Segunda Grande Guerra causou perplexidade em toda a humanidade. A ideologia nazifascista já nasceu de forma a ferir direitos humanos consagrados e assentados durante o curso da história. A igualdade e a dignidade da pessoa humana já assumidas como direitos inatos a qualquer um foram feridos de forma tão grave durante o decurso da guerra que jamais cicatrizarão, e figurarão como motivo de vergonha por toda a história (LAFER, 1997).

Os números finais da guerra apontam para mais de sessenta milhões de mortos, e cerca de quarenta milhões de pessoas deslocadas. Foi uma catástrofe realizada por homens contra os próprios homens. Nesse momento, o mundo acorda para a necessidade de união a fim de manter uma convivência pacífica e a continuação da espécie. Comparato (2008, p. 225) afirma que: “As consciências se abriram, enfim, para o fato de que a sobrevivência da humanidade exigia a colaboração de todos os povos, na reorganização das relações internacionais com base no respeito incondicional à dignidade humana”.

Com o fim da pior guerra já vista, em 1945 se cria a Organização das Nações Unidas, através da Carta das Nações Unidas ou Carta de São Francisco. Há nessa carta, a intenção de se formar uma organização política mundial e para isso era preciso que todas as nações do mundo a ratificassem. É um instrumento de direito internacional em que não há previsão de denúncia, ou seja, uma vez filiado a ONU o Estado não pode mais sair dela, e desobrigar-se de suas disposições (COMPARATO, 2008).

Ainda Comparato afirma que houve na Carta uma tendência a privilegiar os direitos individuais. Não obstante, criou-se um órgão chamado Conselho Econômico e Social que ficou incumbido de favorecer entre as nações os níveis mais altos de vida, trabalho efetivo e condições de progresso e desenvolvimento econômico e social. Este Conselho aprovou o Estatuto da Comissão de Direitos Humanos, vindo a tornar-se, em 2006, um Conselho de

Direitos Humanos. Por fim, a ONU tem como objetivos a serem alcançados como a manutenção da paz e a segurança mundial.

A Comissão de Direitos Humanos criada pela Carta de São Francisco tinha, como uma de suas obrigações, a criação de uma declaração de direitos humanos, a qual foi instituída em 1948, conhecida como: Declaração Universal dos Direitos Humanos. Esta declaração representa o resultado de um processo ético que culminou no reconhecimento da igualdade dos seres humanos, os quais são todos dotados de uma dignidade característica, que independe de cor, raça, sexo ou qualquer tipo de diferenças. Inovação trazida foi a concepção contemporânea dos direitos humanos, marcados pela indivisibilidade e universalidade. Esta declaração é o ponto demarcatório para o início do desenvolvimento do Direito Internacional dos Direitos Humanos (COMPARATO, 2008).

Nesse contexto, a democracia é tida como o único regime político compatível com a consagração dos direitos humanos. Nas palavras de Comparato (2008, p.226): “O regime democrático já não é, pois, uma opção política entre muitas outras, mas a única solução legítima para a organização do Estado”. Ainda o autor deixa evidente que não há direitos humanos sem democracia, nem democracia sem direitos humanos.

Todos os Pactos Internacionais de Direitos Humanos citados vieram integrar a Declaração Universal de Direitos Humanos. Foram aprovados em 1966 o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos e Sociais. Com esses instrumentos uniram-se os direitos individuais aos sociais dando-lhes importância equânime, em oposição à tendência capitalista que privilegiava os direitos individuais em detrimento dos sociais. Pacto similar a esse é referenda nas Américas atrás do Pacto de São José da Costa Rica (COMPARATO, 2008).

Por fim, o último instrumento que merece destaque no processo de afirmação dos direitos da pessoa humana até os dias de hoje é a Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Direitos dos Povos de 1981. Já no preâmbulo pode-se verificar as novidades trazidas pela Carta, que é a atenção conferida às tradições históricas e aos valores da civilização africana, relacionado a isso, surge o direito dos povos, ou seja, o direito humano de ser reconhecido como povo em suas particularidades. Há, diferentemente dos outros instrumentos anteriores, uma visão coletivista dos direitos humanos.

Outro aspecto importante foi o reconhecimento ao direito do desenvolvimento a partir de uma concepção unificadora dos direitos individuais e dos direitos sociais. Ainda no preâmbulo, vê-se tal pensamento, conforme citado por Comparato, 2008, p. 412: “os direitos

civis e políticos são indissociáveis dos direitos econômicos, sociais e culturais, tanto na sua concepção como na sua universalidade, e que a satisfação dos direitos econômicos, sociais e culturais garante o gozo dos direitos civis e políticos”.

A partir do exposto fica claro que é no século XX que a noção de direitos humanos se tornou a principal referência a nortear a vida em sociedade e, mais do que isso, tornou-se a principal inspiração para a ação dos Estados definidos como democráticos, no sentido de garantir a igualdade de oportunidades a todos os cidadãos e cidadãs, nos domínios da esfera pública estatal e não-estatal. Longe do êxito obtido pelos países europeus no que tange à materialidade das ações implementadas no campo dos direitos humanos – por meio da constituição de um Estado de Bem-Estar39 – no Brasil, os direitos sociais situam-se no bojo de lutas e enfrentamentos constantes. Tomam feições de leis afirmativas materializadas por seus programas/projetos de inclusão social que são oferecidas pelas esferas do poder estatal e, também, pela sociedade civil organizada. Estão voltadas para os segmentos sociais mais afetados em uma sociedade vulnerabilizadora e, em geral, manifestam-se enquanto medidas de proteção (social) no amparo às necessidades básicas (ZUCCHETTI e MOURA, 2017).