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2.2 Práticas e aplicações da teoria feminista no Brasil

2.2.5 Direitos trabalhistas

Há alguns anos atrás as mulheres eram consideradas um perigo para a sociedade, como é o caso do pensamento de Hegel (1958), “Se as mulheres estão no ápice do governo, o estado corre perigo. A formação das mulheres se faz não sabemos como, mais pelas circunstâncias da vida do que pela aquisição de conhecimento”.

Em uma sociedade patriarcal, Hegel (1958) materializa este texto em seu clássico Filosofia do Direito, trazendo à tona a discriminação que as mulheres sofriam, principalmente no que dizia respeito à política.

Para Del Priori (2001), o mercado de trabalho foi outro meio social no qual a mulher foi vítima de preconceitos e humilhações, principalmente no que dizia respeito ao desempenho profissional, sendo desde a Revolução Industrial submetida a serviços pesados sem que houvesse qualquer tipo de respeito à dignidade da pessoa.

Com o surgimento de legislações de caráter protecionistas em favor da mulher a mesma gradativamente foi tomando conta do mercado de trabalho, notando-se uma mudança no comportamento social (DEL PRIORI, 2001).

Destaca-se a Constituição Federal de 1988 e a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), as quais garantem a dignidade e proteção ao trabalho da mulher, embora em sua redação observa-se um tom discriminatório ao salientar a necessidade de passar a imagem da mulher como um ser frágil, que necessita de maiores regalias, levando muitas vezes o empregador a não admiti-las (DEL PRIORI, 2001).

A Constituição Federal estabelece no seu art. 5º, inciso I que homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações. No art. 7°, inciso XX prevê incentivos específicos, visando à proteção do mercado de trabalho da mulher, no XXX existe a proibição da diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil (BRASIL, 1988).

A Consolidação das Leis do Trabalho, em seu capítulo III, estabelece normas especiais de proteção ao trabalho da Mulher, do art. 372 ao art. 400, com as penalidades pela inobservância contidas no art. 401 (BRASIL, 1943).

Por se tratar as medidas de proteção ao trabalho da mulher de ordem pública, não há que se falar em redução salarial, bem como não pode haver anúncio de emprego referência a sexo, idade, cor ou situação familiar, exceto quando a natureza da atividade exigir. Os mesmos critérios não podem ser considerados para fins de remuneração, formação profissional e possibilidades de ascensão profissional, nem para recusa de emprego ou dispensa. Também não constitui motivo de dispensa, o estado de gravidez.

Segundo Pachá (2008, p. 102):

O trabalho noturno (aquele compreendido entre as 22 horas de um dia até as 05 horas do dia seguinte) terá um acréscimo de 20% sobre o trabalho diurno, sendo a hora noturna de 52 minutos e 30 segundos, desta forma computando- se neste período de tempo, 8 horas. Estes preceitos, na verdade, valem para os trabalhadores em geral, assim como os períodos de descanso (11 horas consecutivas, no mínimo, entre duas jornadas, e 01 hora, no mínimo, no máximo 02, para refeição e repouso, salvo redução autorizada por ato do Ministério do Trabalho). Também no descanso semanal remunerado de 24 horas, que deve coincidir no todo ou em parte com o domingo, bem como nos trabalhos em feriados, observa-se os preceitos referentes aos trabalhadores em geral.

Os locais de trabalho devem ser confortáveis, havendo vestiários privativos das mulheres, bem como as mesmas devem receber gratuitamente o equipamento de proteção individual. Em locais que trabalham ao menos trinta mulheres acima de dezesseis anos de idade, é indispensável um local onde seja possível a guarda sob vigilância das crianças no período de amamentação. Os convênios com creches são admitidos como forma de suprir esta exigência (PACHÁ, 2008).

A licença maternidade hoje é de seis meses (Lei 11.770/2008), com garantia de salário, mesmo em caso de parto antecipado, podendo durante o período da gravidez, se necessário for, por motivo de saúde, a gestante ser transferida de função, e após a licença retornar à sua função original (PACHÁ, 2008).

Em caso de adoção ou guarda, a mulher terá uma licença maternidade de 120 dias para crianças com até um ano de idade, 60 dias para crianças de 01 a 04 anos de idade e de 30 dias para crianças de 04 a 08 anos de idade (PACHÁ, 2008).

Caso o médico julgue o trabalho prejudicial à gestação, é facultado à gestante o rompimento do contrato de trabalho. Em caso de aborto não criminoso a mulher terá duas semanas de descanso remunerado, devendo o mesmo ser comprovado através de atestado médico, retornando à sua função original após o afastamento (PACHÁ, 2008).

No caso de amamentar filho até seis meses, a mulher tem direito a dois descansos de meia hora cada um durante a jornada de trabalho. Os locais destinados à guarda e amamentação deverão possuir, no mínimo, um berçário, uma saleta para amamentação, uma cozinha dietética e uma instalação sanitária. Vale salientar ainda que a estabilidade da gestante estende-se até o quinto mês após o parto.

Pereira (2005) atenta para o fato de que dia após dia a mulher tem conquistado seu lugar na sociedade, onde as mudanças de caráter ideológico, político, social e jurídico tem sido observadas. Igualmente importante a observação do autor aos vários movimentos de caráter social e moralista que são desenvolvidos em prol de se valorizar e proteger o trabalho da mulher.

Em seu início a proteção ao trabalho feminino foi visto com um ar de ameaça, sendo apontada a legislação trabalhista como justificativa para que a mulher tivesse regalias no ambiente de trabalho. Com isso houve grande impacto no mercado de trabalho, dificultando o acesso das mulheres, as quais muitas vezes concordava com os baixos salários e jornadas de trabalho excessivas para garantir o emprego (PEREIRA, 2005).

No entanto, com o passar do tempo novas posturas foram adotadas, tendo-se a mulher como um indivíduo que apresenta momentos de fragilidade, a despeito da gravidez, amamentação, sendo a mesma resguardada em seus direitos pela legislação vigente (PEREIRA, 2005).

Pereira (2005) observa que a legislação está se adequando a cada dia que passa à realidade social e fazendo de tudo para reconhecer a igualdade entre o homem e a mulher em todas as esferas sociais, propiciando à mulher maior identidade, dando-lhe a oportunidade de ter acesso ao mercado de trabalho, onde pode contribuir para o desenvolvimento do país e sentir-se cidadã participativa.

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