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2 INTERVENÇÃO DE TERCEIROS NO CPC/73 VERSUS INTERVENÇÃO DE

2.1 Sobre o Novo Código de Processo Civil

2.1.2 Diretrizes

Para se obter um bom resultado na proposição da Lei, se faz necessária a observância cautelosa de algumas diretrizes metodológicas e principiológicas durante a sua projeção. Para Gregório Assagra de Almeida e Luiz Manoel Gomes Junior (2010, p. 127) “a criação de um Novo Código de Processo Civil para o Brasil é um desafio enorme. [...] Portanto, os cuidados são e devem ser redobrados.” A observância fiel de algumas diretrizes metodológicas pode proporcionar ao novo Código uma funcionalidade mais eficaz. A aplicação da teoria dos direitos e das garantias constitucionais fundamentais à pessoa humana como guia de condução para a textualização é uma das diretrizes essenciais, seria, basicamente, o que se pretende conquistar com a nova codificação. Por exemplo:

a) a interpretação aberta e flexível; b) a aplicabilidade imediata; c) a flexibilização da técnica processual para atender as necessidades do direito material; d) a possibilidade do acesso à prova, tendo em vista o direito constitucional a um resultado adequado da prestação jurisdicional. (ALMEIDA; GOMES JR., 2010, p. 128).

Outra diretriz metodológica importantíssima, que vem sendo devidamente manejada pela equipe de juristas responsável pela análise do projeto na câmara, está na intensidade do planejamento de cada passo a ser dado durante a projeção da lei até a sua aprovação.

Este planejamento exige pesquisas estatísticas amplas e exatas para que se examine o que está e o que não está funcionando positivamente no atual CPC. Assim, é imprescindível que se saiba quais são as reais causas da morosidade da justiça, por exemplo, e, partir daí, procurar manter o que está funcionando bem e aperfeiçoar o que não está também é fundamental. (ALMEIDA; GOMES JR., 2010, p. 128).

Além de pesquisas estatísticas,

torna-se imprescindível a realização de estudos de fatos e prognoses para se aferir os possíveis impactos da reforma para a sociedade e para o jurisdicionado. A mais ampla participação popular também é necessária, com a realização de audiências públicas para ouvir a sociedade e discutir com os especialistas e operadores do Direito a proposta. (ALMEIDA; GOMES JR., 2010, p. 128).

No tocante às diretrizes principiológicas, deve-se levar em conta a esfera do Direito atual, uma época vivenciada pelo pós-positivismo jurídico e pelo neoconstitucionalismo, em que os princípios ganham força normativa, até mesmo sobre algumas (e antigas) regras legais. Não é porque existem argumentos de que os princípios são mais importantes que as regras (porque não são) que o legislador deve dá-los especial atenção, mas a atuação dos princípios, especialmente os constitucionais, faz com que o texto do novo Código de Processo Civil se adapte, também, à Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, já que o Código Buzaid é do ano de 1973. Princípios são importantes e devem ser usados nessa codificação. Dentre os mais importantes, Gregório Assagra de Almeida e Luiz Manoel Gomes Junior (2010, p. 129) destacam três:

O primeiro deles é o da proibição do retrocesso, que é decorrência do princípio democrático, consagrado no art. 1º da CF/1988. Portanto, a nova proposta não poderá trazer, para a sociedade, retrocessos, com dificuldades de acesso à justiça. Outro princípio importante é o acesso à justiça, que deverá ser facilitado e não dificultado. [...] No caso, o princípio do acesso à justiça garante, por um lado, o próprio acesso à justiça e, por outro, gera situação de submissão do administrador, do legislador, do particular e do próprio juiz, os quais não podem dificultar ou proibir o acesso à justiça para as hipóteses de lesão ou ameaça a direito. O princípio da priorização da tutela preventiva deve ser observado [...] uma proposta de um novo Código de Processo Civil tem esse desafio de procurar disciplinar de modo adequado a tutela preventiva, de forma a fomentar o seu estudo e sua compreensão, assim como a sua instrumentalização. (ALMEIDA; GOMES JR., 2010, p. 129, grifo do autor).

Da mesma forma, os princípios do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa, da publicidade, do juiz natural, da duração razoável do processo, dentre outros, conhecidos pelo profissional do Direito, por óbvio, devem fazer parte da composição do novo CPC.

Em uma breve análise ao projeto, logo de cara essa aplicação principiológica é percebida, tanto que, dos dez primeiros artigos, oito são escritos com base em princípios e, mais que isso, os artigos 5º e 8º sofrem a aplicação do mesmo princípio (Princípio da Cooperação). Para Fredie Didier Jr. (2011), a aplicação de princípios no novo Código de Processo Civil é importante, porém, preocupante. Os operadores do Direito da atualidade não foram ou não estão preparados para pedir ou, até mesmo, decidir com base em princípios, ou seja, todos tem uma formação mais voltada nos pedidos e julgamentos baseados em regras legais. A argumentação com base em princípios sempre será extremamente complexa e, para isso, é preciso a preparação necessária, e a existência dessa preparação é o que se questiona. Contudo, apesar desta preocupação, o processualista elogia a atuação dos legisladores no tocante à aplicação dos princípios legais, especialmente os constitucionais.

Entre polêmicas e anseios, o projeto do Novo Código de Processo Civil, cuja ideia nasceu em outubro de 2009, está se desenvolvendo de forma surpreendentemente positiva. Já não há mais motivos que possam impedir o seu andamento e, o que se espera agora é uma lei processual que, embora possa não ser perfeita, se aproxime disso.

A partir da lógica do velho ditado, “a pressa é inimiga da perfeição”, pressupõe-se necessários, ainda, muitos debates, reuniões, palestras, contribuições tanto dos operadores do direito como da sociedade em geral, audiências públicas, estudos e, obviamente, paciência para se alcançar uma lei satisfatória. Só o tempo (necessário) permitirá que o projeto do Novo Código de Processo Civil seja aperfeiçoado como realmente se espera. “Não adianta pressa. É necessário o devido cuidado. Que demore anos e anos, mas que se crie um sistema que acompanhe as mudanças sociais e possa ter vigência por décadas e décadas e até séculos.” (ALMEIDA; GOMES JR., 2010, p. 128).

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