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A intervenção de terceiros e o projeto do novo código de processo civil

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ROBSON KASCTIN BATISTA

A INTERVENÇÃO DE TERCEIROS E O PROJETO DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

IJUÍ (RS) 2012

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ROBSON KASCTIN BATISTA

A INTERVENÇÃO DE TERCEIROS E O PROJETO DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: MSc. Joaquim Henrique Gatto

IJUÍ (RS) 2012

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DEDICO este trabalho àqueles que não só me fizeram acreditar nos meus sonhos, mas que jamais mediram esforços para me ajudar a fazê-los acontecer: meus queridos pais, pessoas que têm minha eterna consideração e meu inestimável respeito.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, em primeiro lugar, por me permitir chegar até aqui, com vida, saúde e inteligência suficientes para que eu pudesse discernir o melhor caminho a seguir.

Aos meus amadíssimos pais, Reginaldo e Lilim, que, com uma força inabalável, me surpreenderam por jamais questionarem os meus pedidos de refúgio, proteção e carinho, até mesmo nos momentos em que eu menos merecia. Pelas lições de vida e pelo aprendizado que jamais esquecerei. E, mais que isso, pelo orgulho que me fazem sentir deles, meus eternos exemplos de amor e vida!

Aos meus irmãos, Renan e Rogério, “amigos de sangue”, pela importância das suas vidas como fonte de energia para eu prosseguir com a minha.

À minha namorada, Camila, pela paciência e compreensão diante das inúmeras vezes que tive de abdicar da sua companhia para me dedicar à conclusão deste trabalho.

Ao professor Joaquim Gatto, meu orientador que, com paciência e dedicação, me auxiliou na compreensão, não só do tema do trabalho realizado, mas da importância de uma verdadeira amizade, que vi nascer e se fortalecer, de forma espontânea, durante a minha inesquecível caminhada acadêmica.

Enfim, a todos aqueles que cooperaram, de uma forma ou de outra, para a construção deste trabalho, o meu muito obrigado, de coração!

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“O jogo da ciência não tem fim; quem não se predispõe a rever suas ideias deve sair da brincadeira.”

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RESUMO

Com a apresentação do projeto de um Novo Código de Processo Civil, têm-se, consequentemente, novas propostas, dentre elas a de um novo panorama no instituto da intervenção de terceiros, o qual sugere algumas mudanças, não só para o melhoramento redacional do texto vigente, mas, também, para que seja alterado o conteúdo do tema, sendo que, ao mesmo tempo em que se extinguem algumas modalidades, recomendam-se outras novas, objetivando diversos benefícios processuais. Detalhadamente, será abordado o atual panorama da intervenção de terceiros e apresentadas, por conseguinte, todas as alterações que o projeto do Novo CPC pretende operar na sua redação. A partir destas considerações, o presente trabalho pretende fazer um paralelo entre a atual e a (futura) nova intervenção de terceiros, com base no que propõe o projeto do Novo Código de Processo Civil, apontando, destarte, quais mudanças acontecerão e qual será a repercussão dessas alterações. Após a exploração e análise das propostas apresentadas pelo projeto, os apontamentos conclusivos irão obter os prós e os contras da nova codificação, estritamente no que concerne ao instituto da intervenção de terceiros na processualística civil brasileira.

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RESUMÉ

La présentation du projet d’un Nouveau Code du Procès Civil nous permet, par conséquent, des nouvelles propositions. Celle d’un nouveau panorama dans l’institut de l’intervention des tiers est une parmi d´autres. Ce panorama suggère quelques changements, pas seulement pour l’amélioration de la rédaction du texte en question mais, aussi, pour que soient alterés le contenu du thème, une fois que, au même temps qui disparaissent quelques modalités, on recomende d’autres nouvelles, ayant pour objectif des diverses benéfices processuels. En détail, il sera abordé le panorama actuel de l’intervention de tiers et presentés, pour cela, toutes les altérations que le projet du Nouveau CPC pretend opérer dans sa redaction. A partir de ces considerations, le present travail pretend réaliser un parallèle entre l’actuelle et la (future) nouvelle intervention de tiers, ayant pour base ce qui propose le projet du Noveau Code du Procès Civil. Tout en signalant quels changements arriveront et quel sera la répercution de ces alterations. Après l’exploration et l’analyse des propositions presentées par le projet, les notes conclusives iront signaler les avantages et les inconvénients de la nouvelle codification, strictement en ce qui concerne l’institut de l’intervention des tiers dans la processualística civil brésilienne.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... ..9

1 A INTERVENÇÃO DE TERCEIROS ... 11

1.1 Conceituação de intervenção de terceiro ... 11

1.2 Definição de partes e terceiros ... 13

1.3 Interesse jurídico ... 15

1.4 Modalidades de intervenção de terceiros ... 16

1.4.1 Da assistência ... 18 1.4.1.1 Assistência simples ... 19 1.4.1.2 Assistência litisconsorcial ... 20 1.4.2 Da oposição ... 22 1.4.3 Da nomeação à autoria ... 23 1.4.4 Da denunciação da lide ... 25 1.4.5 Do chamamento ao processo ... 27

2 INTERVENÇÃO DE TERCEIROS NO CPC/73 VERSUS INTERVENÇÃO DE TERCEIROS NO PROJETO DO NOVO CPC ... 30

2.1 Sobre o Novo Código de Processo Civil ... 30

2.1.1 Linhas de pensamento ... 31

2.1.2 Diretrizes ... 34

2.2 Justificativas/razões para reforma no instituto da intervenção de terceiros ... 36

2.3 O novo panorama da intervenção de terceiros ... 38

2.3.1 Da assistência ... 39

2.3.2 Da denunciação em garantia ... 40

2.3.3 Do chamamento ao processo ... 42

2.3.4 O Amicus curiae como nova modalidade de intervenção de terceiros ... 43

2.4 Quadro comparativo ... 52

2.5 Críticas ao atual e ao novo sistema ... 57

2.5.1 Desvantagens (contras) ... 58

2.5.2 Vantagens (prós) ... 60

CONCLUSÃO ... 62

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INTRODUÇÃO

O atual Código de Processo Civil é do ano de 1973, sendo, por isso, criticado por muitos juristas e operadores do direito por ter um texto obsoleto, tanto que, as críticas e os problemas enfrentados pelo judiciário motivaram a criação do extenso Anteprojeto do Novo Código de Processo Civil, o projeto Lei do Senado n°. 166, de 2010 que, por sua vez, provocou a criação do Projeto de Lei nº. 8.046/2010, referente ao Novo Código de Processo Civil.

Não restam dúvidas de que, não só os operadores do direito, mas a sociedade em geral aguardam ansiosamente os últimos passos a serem dados no projeto do Novo CPC pela comissão especial da Câmara dos Deputados, que é a responsável pela votação das emendas apresentadas ao projeto que, por sua vez, já foi aprovado pelo Senado em 2010. Aprovado e sancionado, o Novo Código de Processo Civil passará e reger diversas modificações na processualística civil brasileira, algumas com mais contundência, outras nem tanto. Dentro dessas modificações, o instituto da intervenção de terceiros será atingido de forma bastante sensível e é, a partir deste ponto, da identificação dessas mudanças e da apresentação das razões para as suas aplicações que vai se alçar o seguinte questionamento: quais serão as consequências jurídicas dessa reforma dentro do âmbito do instituto da intervenção de terceiros?

A iminência de o Novo Código de Processo Civil deixar de ser um projeto já é evidente e as mudanças precisarão ser estudadas e esclarecidas, ocasião em que se destacam, no presente trabalho, as alterações previstas no instituto da intervenção de terceiros, desde a extinção das modalidades da Oposição e da Nomeação à autoria até a criação do amicus curiae, bem como outras peculiaridades que, cuja informação, é de extrema importância tanto para o operador do direito, que convive com as constantes mudanças do sistema jurisdicional,

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quanto para a sociedade, que espera bons resultados a partir da vigência do Novo Código de Processo Civil.

O Código de Processo Civil de 1973 apresenta a possibilidade de intervenção de um terceiro interessado no processo em cinco modalidades distintas, cada qual com a sua peculiaridade, a saber: da Assistência, da Oposição, da Nomeação a autoria, da Denunciação da lide e do Chamamento ao processo. Porém, dentre as propostas apresentadas pelo projeto do Novo Código de Processo Civil, de extrema importância é a que apresenta um novo panorama da intervenção de terceiros, com a seguinte formação: da Assistência, da Denunciação em Garantia, do Chamamento ao Processo e do Amicus Curiae. No presente trabalho, a observação e a avaliação das alterações propostas vão esclarecer quais são os prós e os contras desta inovação.

Portanto, advirão mudanças significativas no âmbito da intervenção de terceiros a partir do momento em que o projeto, já aprovado pela Câmara, entrar em vigor, mudanças essas que provocarão sensíveis alterações redacionais, inclusive para se obter uma estrutura mais simplificada, objetivando, destarte, favorecer os estudos e a compreensão dos institutos, visando facilitar o trabalho do operador do direito.

Além de meras mudanças redacionais, o projeto do Novo CPC promete uma inovação bastante sensível na intervenção de terceiros: a criação da modalidade do amicus curiae, com sua participação garantida logo em primeira instância. No atual CPC, em casos excepcionais e somente em fase de recurso, esta modalidade já se encontra expressa, mais precisamente no Capítulo da Declaração de Inconstitucionalidade, porém, sem esta denominação.

Por tanto, com apenas o projeto em mãos, ou seja, com apenas a expectativa, deve-se entender que, enquanto a prática da aplicação do novo panorama da intervenção de terceiros não responder por si própria, o que será ou não vantajoso, é o estudo que vai aclarar os dois lados dessa iminente alteração. E, é este estudo que pretende o presente trabalho, buscando avaliar o que pretendem os legisladores com as modificações e quais os prós e os contras elas podem trazer à sociedade brasileira. São inovações que não foram testadas na prática, mas podem ser estudadas, a fim de permitirem as conclusões necessárias para as dúvidas dos operadores do direito e da própria sociedade no que concerne a real eficácia das suas aplicações.

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1 A INTERVENÇÃO DE TERCEIROS

O Código de Processo Civil de 1973 apresenta a possibilidade de intervenção de um terceiro interessado no processo em cinco modalidades distintas, cada qual com a sua peculiaridade, a saber: a assistência, a oposição, a nomeação a autoria, a denunciação da lide e o chamamento ao processo. Embora a assistência não esteja agrupada ao Capítulo VI do Código de Processo Civil, que elenca a intervenção de terceiros, essa modalidade, além de ter amplamente reconhecida a sua natureza interventiva por doutrinas e jurisprudências, se apresenta como uma das mais importantes dentre elas.

1.1 Conceituação de intervenção de terceiro

Com palavras sucintas e esclarecedoras, Fredie Didier Jr. (2010, p. 345) define a intervenção de terceiros como o “ato jurídico processual pelo qual um terceiro, autorizado por lei, ingressa em processo pendente, transformando-se em parte.”

A intervenção de terceiros pode acontecer através da provocação de uma das partes do litígio, ou seja, pela determinação/solicitação da parte, um terceiro, estranho ao processo, é chamado para intervir. É a chamada intervenção provocada. Dentre as modalidades supracitadas, essa intervenção se dá por meio de três figuras que, por seus próprios nomes, justificam o chamamento provocado ao processo: a nomeação à autoria, a denunciação da lide e o chamamento ao processo. Porém, quando houver, do terceiro, algum interesse jurídico, este vai intervir por determinação espontânea, configurando a forma de intervenção voluntária, que é classificada pelas modalidades da assistência e da oposição. Ou seja, além da ação do terceiro por interesse próprio ou, ainda, por qualquer direito a ser defendido, a intervenção de terceiros vai admitir situações em que o interveniente poderá atuar em conjunto com uma das partes.

Além das duas hipóteses de ocorrência da intervenção de um estranho ao processo acima referidas (provocada e voluntária), pode haver a possibilidade de o terceiro vir a colaborar com uma das partes originárias do processo, ou seja, em havendo o interesse jurídico na demanda, o terceiro poderá contribuir para que o processo seja favorável à uma das partes litigantes, configurando a hipótese do ad coadjuvando. Outra hipótese que caracteriza a intervenção do terceiro é a de exclusão, quando se pretende excluir, total ou

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parcialmente, as pretensões das partes litigantes do processo, bem como a própria parte, como acontece na oposição e na nomeação à autoria, por exemplo. Fala-se da hipótese ad excludendum.

Nesse sentido, ao elencar os tipos de hipóteses de intervenção de terceiros, Humberto Theodoro Junior (2006), citado por Gustavo Rodrigo Picolin (2009, p. 1, grifo do autor), as classifica da seguinte maneira:

a) ad coadjuvando: quando o terceiro procura prestar cooperação a uma das partes primitivas, como na assistência;

b) ad excludendum: quando o terceiro procura excluir uma ou ambas as partes primitivas, como na oposição e na nomeação à autoria;

c) espontânea: quando a iniciativa é do terceiro, como geralmente ocorre na

oposição e na assistência;

d) provocada: quando, embora voluntária a medida adotada pelo terceiro, foi ela precedida por citação promovida pela parte primitiva (nomeação à

autoria, denunciação da lide, chamamento ao processo).

A partir dessa classificação, para melhor compreender, vale lembrar, em itens, quais são as modalidades de intervenção de terceiros elencadas no Código de Processo Civil de 1973: a) assistência (arts. 50 a 55); b) oposição (arts. 56 a 61); c) nomeação à autoria (arts. 62 a 69); d) denunciação da lide (arts. 70 a 76); e e) chamamento ao processo (arts. 77 a 80).

A intervenção de terceiros trata, na verdade, da participação de um estranho à demanda que se manifesta, ou é chamado a se manifestar, de forma a ingressar na relação processual, baseado na existência do seu interesse jurídico no objeto litigado ou, ainda, no resultado da sentença que venha sofrer a sua interferência, vindo a auxiliar ou excluir uma ou as próprias partes originárias do processo (autor e réu).

Seguindo o raciocínio, Fábio Milman (2007, p. 66, grifo do autor) refere que

ocorre a Intervenção de Terceiros sempre que alguém, que não figure como

parte litigante, passe a atuar no processo com a finalidade de auxiliar ou

excluir os litigantes da coisa sob disputa, ou para defender algum interesse seu que venha a ser atingido (de forma reflexa) pela sentença; com sua

intervenção, o terceiro torna-se parte, ou coadjuvante da parte, no processo

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Ainda, no mesmo entendimento, segue a conceituação de intervenção de terceiros por Moacyr Amaral Santos (2009, p. 18, grifo do autor):

Terceiras pessoas podem, pois, em razão do interesse que tenham na causa entre duas outras, nela intervir. Não são essas terceiras pessoas sujeitos da

relação jurídica deduzida em juízo pelas partes, mas de relação jurídica outra que àquela se prende, de modo que a decisão de uma influirá sobre outra. Também não são essas terceiras pessoas partes na relação processual originária, na qual intervêm por provocação de uma delas, em certos casos, e, noutros, voluntariamente. Terceiros, pois, são pessoas estranhas à relação de direito material deduzida em juízo e estranhas à relação processual já constituída, mas que, sujeitos de uma relação de direito material que àquela se liga intimamente, intervêm no processo sobre a mesma relação, a fim de defender interesse próprio.

Nesse sentido, as hipóteses de intervenção de terceiros elencadas no Código de Processo Civil serão alvos de estudos nos próximos itens deste capítulo. Porém, antes disso, deve-se compreender o conceito de partes e terceiros bem como avaliar qual o interesse jurídico do terceiro interessado que, por sua vez, pode assumir a condição jurídica de parte, secundária ou até mesmo principal, dependendo da demanda em que vier a intervir.

1.2 Definição de partes e terceiros

Como visto, é imprescindível a conceituação de partes, para que se possa estudar, com mais presteza, o instituto da intervenção de terceiros. De acordo com Marcos Destefenni (2006, p. 154):

O conceito atual de parte é bastante simples e independente de relação jurídica material. Por isso, parte é quem solicita a prestação jurisdicional (sujeito ativo), bem como aquele em face de quem a prestação é solicitada (sujeito passivo). Trata-se, pois, de conceito eminentemente processual. Em outras palavras, é o ato de identificar quem é o autor e quem é o réu a partir da iniciativa de interposição da ação. Identifica-se, até então, o conceito de “partes da demanda”, o que é diferente de “partes do processo”, ou melhor dizendo, as partes de uma demanda se restringem ao sujeito ativo e ao sujeito passivo do processo, ponderando, contudo, o que diz Alexandre Freitas Câmara (2007, p. 159) “que devem ser consideradas ‘partes do processo’ todas aquelas pessoas que participam do contraditório”, o que, em tese, significa que um

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terceiro personagem pode ingressar no processo em que lhe houver algum interesse jurídico, o terceiro interveniente, e possa ser reconhecido como parte do processo.

Para Fredie Didier Jr. (2010, p. 344-345), “parte é quem postula ou contra quem se postula ao longo do processo, e que age, assim, passionalmente.” E conclui que “de três maneiras distintas pode alguém assumir a posição de parte num processo: a) tomando a iniciativa de instaurá-lo; b) sendo chamado a juízo para ver-se processar; c) intervindo em processo já existente entre outras pessoas.”

Visando não comprometer o real conceito de partes, deve-se ter claro que são elas todas aquelas pessoas que, de algum modo, participam do contraditório, vindo a influenciar na decisão judicial. Refere-se aqui sobre uma conceituação mais ampla de parte no processo civil, que abrange tanto o demandante quanto o demandado no processo, bem como os terceiros intervenientes. O Ministério Público pode qualificar-se, no caso, como órgão interveniente. Excluem-se os Juízes e seus auxiliares, que são sujeitos no processo, e não parte.

Definidas as partes, passa-se à conceituação de terceiro, que será através do critério de exclusão, ou seja, serão terceiros todos aqueles que não são partes no processo, conforme bem assevera Barbosa Moreira, citado por Fredie Didier Jr. (2010, p. 345): “é terceiro quem não seja parte, quer nunca o tenha sido, quer haja deixado de sê-lo em momento anterior àquele que se profira a decisão”.

Para Fabio Milman (2007, p. 66):

Ocorre a Intervenção de terceiros sempre que alguém, que não figure como parte litigante, passe a atuar no processo com a finalidade de auxiliar ou excluir os litigantes da coisa sob disputa, ou para defender algum interesse seu que venha a ser atingido (de forma reflexa) pela sentença.

A partir deste conceito, tem-se que, se há o interesse legítimo, isso automaticamente permite o terceiro a intervir no processo, participando do contraditório. Mas, pode ocorrer que alguém não faça parte da relação jurídica material, e mesmo assim tenha interesse legítimo na demanda, embora a sentença final não venha atingir juridicamente o mesmo de forma direta ou indireta.

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A partir da existência de interesse legítimo, jurídico ou não, que o terceiro possa apresentar diante de cada situação processual, Luiz Edson Fachin (1989), citado por Fabio Milman (2007, p. 68, grifo do autor), classifica três espécies diferentes de terceiros, como segue:

Terceiros desinteressados: não são parte da lide, tampouco possuem

qualquer relação jurídica vinculada àquela que é objeto do processo; não possuem, por conseguinte, qualquer interesse na resolução do mérito;

Terceiros interessados de fato: esses, por sua vez, possuem um interesse no

deslinde da causa que não pode ser qualificado como jurídico; trata-se de mero interesse fático, que pode advir das mais variadas circunstâncias,

como, por exemplo, de amizade ou inimizade com as partes;

Terceiros juridicamente interessados: são parte no plano material – no

sentido de que co-titulares da relação jurídica de direito material objeto do

processo – sem o ser no plano processual, ou então parte de outra relação jurídica, conexa – interdependente – com a principal, que é objeto do litígio.

Com, base nesse entendimento, o estudo do presente trabalho vai centralizar basicamente nas cinco principais intervenções de terceiro, rezadas pelo Código de Processo Civil, classificando-as conforme a sua efetiva intervenção do terceiro interveniente numa relação processual. Havendo o interesse jurídico o terceiro que, até então, não era parte no processo, em casos específicos passará a ser.

1.3 Interesse jurídico

Conforme o artigo 50 do Código de Processo Civil, em havendo uma causa entre duas pessoas ou mais, o terceiro, apresentando interesse jurídico e/ou objetivando que a sentença seja favorável a uma das partes, poderá intervir no processo para assisti-la.

É fundamental que haja o interesse jurídico para que se legitime o terceiro a intervir em causa pendente. Em outras palavras, é imprescindível que haja algum vínculo entre os sujeitos da demanda e a relação jurídica de direito material.

Para explicar o interesse jurídico, Sérgio Veríssimo de Oliveira Filho (2003, p. 1) defende que

haverá interesse jurídico sempre que a decisão sobre a lide puder influir na relação ou situação jurídica do assistente. No caso da assistência simples, essa influência existe, pelo menos potencialmente. Pode até não vir a

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ocorrer. Já para a assistência litisconsorcial, a influência da sentença atingirá, indubitavelmente, a relação jurídica do terceiro. Portanto, o interesse em intervir resulta da dependência que existe entre a relação jurídica de que seja titular o terceiro candidato a assistente e a relação jurídica deduzida no processo, por força da qual, precisamente, a decisão se torna capaz de causar prejuízo àquele.

Buscando clarear este conceito, Nelson Nery e Rosa Maria Nery, citado por Sérgio Veríssimo de Oliveira Filho (2003, p. 1) qualificam de jurídicos os interesses:

a) do sublocatário, em ação de despejo; b) do sublocatário, em ação renovatória de locação comercial; c) de funcionário público, em ação de indenização proposta contra a administração pública, por dano causado por ele; d) da seguradora, em ação de indenização promovida contra segurado; e) do adquirente de imóvel, em ação de interdição ajuizada contra o vendedor, na qual se alega que a incapacidade já existia à época da alienação; f) do garante, a quem a lide poderia ter sido denunciada, mas não o foi, em ação movida contra o garantido, a fim de que não se implemente o condição a que se encontra subordinado o direito de garantia.

No caso da assistência, embora não seja parte no processo, o assistente, em defesa do interesse alheio, também defende interesse próprio, tendo em vista que a sua situação jurídica pode ser influenciada, seja para melhor ou para pior, pela decisão judicial. O interesse aqui referido não pode ser meramente econômico ou moral, deve ser jurídico. De acordo com André Capelazo Fernandes e Tassus Dinamarco (2007, p. 1, grifo dos autores):

Cumpre ressaltar, desde logo, que somente o interesse jurídico possibilita o ingresso de alguém em processo alheio, não bastando, portanto, o interesse econômico ou moral; a lei disciplina o ingresso de terceiro a fim de que este tenha a oportunidade de afastar eventual situação desfavorável oriunda de decisão entre duas partes, que reflexamente lhe atingiria. Outro aspecto que merece ser mencionado é o fato de que o ingresso do terceiro pressupõe sua relação jurídica com apenas umas das partes, como é o caso, por exemplo, do sublocatário que ingressa em ação de despejo para auxiliar o locatário.

Havendo sido reconhecido o interesse jurídico, o terceiro, estranho ao processo, pode intervir tanto em benefício alheio como em seu próprio, passando, portanto, a participar do processo como parte.

1.4 Modalidades de intervenção de terceiros

Sabe-se que a intervenção de terceiros pode ocorrer tanto de forma espontânea – quando o terceiro intervém por iniciativa própria – como de forma provocada – é o caso de ter

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sido o terceiro citado para fazer parte do litígio. As modalidades de intervenção de terceiros elencadas no texto do Código de Processo Civil seguem esta classificação, em que a assistência e a oposição vão qualificar a intervenção voluntária, ou espontânea; e a nomeação à autoria, a denunciação da lide e o chamamento ao processo serão concretizadas pelos intervenientes por provocação.

Com a intenção de organizar as modalidades de intervenção de terceiros, o legislador prevê, na Lei Nº 5.869 de 11 de janeiro de 1973 (CPC), a seguinte classificação, necessariamente na ordem abaixo, segundo a conceituação de Marcos Destefenni (2006, p. 173):

a) assistência (artigos 50 a 55): modalidade que, apesar de não estar disposta no Capítulo VI do Código de Processo Civil, parece ser o tipo de intervenção mais adequado ao seu objetivo, é a verdadeira intervenção de terceiros em um processo alheio. É quando o assistente (interveniente) ingressa na ação para assistir ou auxiliar uma das partes;

b) oposição (artigos 56 a 61): acontece no momento em que um terceiro, denominado opoente, ajuíza uma ação nova contra o autor e o réu da ação já existente, visando excluir as pretensões dos mesmos;

c) nomeação à autoria (artigos 62 a 69): quando a parte ré da ação pretende retirar-se da relação processual, objetivando corrigir o polo passivo da demanda, nomeia o terceiro interveniente para que ele ingresse na ação. O autor, então, proporá a demanda contra quem realmente é o verdadeiro detentor da coisa demandada;

d) denunciação da lide (artigos 70 a 76): se dá quando o denunciante propõe uma ação regressiva contra o terceiro denunciado (na mesma relação processual), visando evitar futuras ações de regresso, onde o terceiro viria a ser o réu;

e) chamamento ao processo (artigos 77 a 80): é quando o réu pretende chamar ao processo um terceiro, para que ele ingresse como litisconsorte na ação; por entender que o terceiro tem na ação tanta responsabilidade quanto o réu originário, o terceiro, chamado, responderá a demanda na condição de réu.

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Nos itens seguintes, basicamente nesta ordem, serão analisadas cada uma das modalidades de intervenção de terceiro.

1.4.1 Da assistência

O Código de Processo Civil conceitua a assistência como uma forma voluntária de intervenção de terceiros, visto que é o terceiro, estranho ao processo, que solicita a sua intervenção, objetivando litigar ao lado de uma das partes. Essa intervenção pode ser em favor de qualquer das partes do processo. Sempre que houver o interesse jurídico em que a sentença seja favorável a uma das partes, o terceiro pode intervir para assisti-la. É o que reza o artigo 50 do Código de Processo Civil (BRASIL, 2011): “Pendendo uma causa entre duas ou mais pessoas, o terceiro, que tiver interesse jurídico em que a sentença seja favorável a uma delas, poderá intervir no processo para assisti-la.”

Cumpre lembrar que, como já dito, o interesse aqui referido não pode ser meramente econômico ou moral, deve ser jurídico. Objetivando identificar a existência ou não de interesse jurídico Theotonio Negrão, citado por Marcos Destefenni (2006, p. 174), certifica que “para verificar a existência de interesse jurídico de terceiro, para intervir no processo como assistente de uma das partes, há de partir-se da hipótese de vitória da parte contrária para indagar se dela lhe adviria prejuízo juridicamente relevante.”

Assim, tem-se clareza do dever que o terceiro tem em demonstrar o seu interesse jurídico na demanda, ou seja, se a sentença vai ou não afetar a sua esfera jurídica. Para Eduardo Arruda Alvim, citado por Marcos Destefenni (2006, p. 174),

a caracterização do interesse jurídico está ligada à possibilidade de a sentença afetar (poder afetar) a esfera jurídica daquele que pretende intervir como assistente. Todavia, cumpre salientar que essa sentença, na exata medida em que a lide não é dele, atingirá, na sua eficácia natural, esse terceiro, quer ele entre no processo, quer não.

A assistência é cabível em qualquer grau de jurisdição, podendo o terceiro interessado intervir na demanda a qualquer momento, até mesmo em fase de recurso, quando o pedido será apreciado pelo próprio Tribunal, no entanto, o assistente recebe o processo no estado em que se encontra, conforme menciona o parágrafo único do artigo 50 do Código de Processo

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Civil: “A assistência tem lugar em qualquer dos tipos de procedimento e em todos os graus da jurisdição; mas o assistente recebe o processo no estado em que se encontra.”

A doutrina divide a assistência em duas espécies: a) simples (ou adesiva); e b) litisconsorcial (ou qualificada). A diferença entre ambas se dá pelo tipo de interesse jurídico revelado pelo terceiro a intervir. Na assistência simples, disciplinada a partir do artigo 50 do Código de Processo Civil (arts. 50 e parágrafo único, 51, 52, 53 e 55), o interveniente vai ter relação jurídica com qualquer uma das partes, diversa daquela discutida no processo, mas cuja decisão pode trazer-lhes prejuízo. Já, na assistência litisconsorcial, regulamentada pelos artigos 54 e 55 (pois este abrange as duas espécies), o terceiro é o próprio titular da relação jurídica debatida, ou seja, ele já poderia ter sido litisconsorte do assistido contra o adversário comum desde o início da ação, e, como não foi, passa a assistir a parte contrária àquela que teria sido seu adversário.

Em suma, tendo o assistente interesse indireto no resultado jurídico da demanda, fala-se de assistente simples; ao contrário, aprefala-sentando interesfala-se direto (em defesa de direito próprio), configura-se o assistente como litisconsorcial.

1.4.1.1 Assistência simples

A assistência simples (ou adesiva) é a espécie pela qual o terceiro, interessado em que a sua situação jurídica não seja prejudicada pela sentença a ser proferida e, para resolver o conflito existente entre autor e réu, intervém no processo para auxiliar uma das partes, podendo praticar atos processuais com o escopo de ajudar a parte conseguir uma sentença favorável, que vai beneficiar o próprio interveniente (mesmo que indiretamente), já que ele apresentou interesse jurídico na demanda.

O assistente simples “intervém fundado no interesse jurídico, que tem, de que a sentença não seja proferida contra o assistido, porque proferida contra este poderia influir desfavoravelmente na sua situação jurídica.” (SANTOS, 2009, p. 18, grifo do autor).

É claro o dever que o assistente simples tem de indicar o seu interesse jurídico para intervir. Para identificar esse interesse, Márcio Rodrigo Delfim (2008, p. 1) ensina uma regra simples, mas convincente:

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Para se saber se existe ou não o interesse jurídico que autoriza a assistência simples basta que sejam formuladas três perguntas. Se a resposta for positiva às três indagações é porque existe o interesse jurídico. As perguntas são as seguintes: 1ª) O terceiro tem relação jurídica com alguma das partes? 2ª) Esta relação é diferente da que está sendo discutida no processo? 3ª) O resultado do processo repercutirá sobre a relação com o terceiro?

Para exemplificar (e melhor entender) a intervenção do assistente simples numa demanda, vale trazer o clássico exemplo do sublocatário, que será interveniente numa determinada ação de despejo. “A”, como locador, tem um contrato de locação com o “B” (locatário) que, por sua vez, celebra um contrato de sublocação com “C”. Está estampada a relação jurídica tanto entre “A” e “B”, bem como entre “B” e “C”. Insatisfeito com o inadimplemento do locatário, “A” ajuíza uma ação de despejo contra “B” que, indiretamente, vai prejudicar “C”, se for a ação julgada procedente. É o momento em que o sublocatário, com evidenciado interesse jurídico, vai assistir o réu da ação, torcendo para que a ação seja improcedente já que, se for desfeita a locação, automaticamente o sublocatário será prejudicado.

Diante dessa exemplificação, “pode-se conceituar o assistente simples como aquele que tem relação jurídica com uma das partes, diferente daquela discutida no processo, mas que pode ser afetada pela decisão.” (DELFIM, 2008, p. 1).

O papel do assistente simples, dentro do processo, não vai além do de auxiliar a parte assistida, embora possa requerer provas, apresentar razões de mérito, entre outras atribuições legais, o assistente vai utilizar-se apenas dos meios processuais postos à disposição da parte principal. Independente de qual for a sentença proferida no processo, o assistente não tem poderes para reclamar a sua justiça, a não ser que prove a falta de oportunidade de influenciar na sentença a partir das atribuições legais a ele atribuídas, ou até mesmo, se provar o dolo ou culpa do assistido, no caso de não apresentar as provas necessárias durante o trâmite do processo (DIDIER JR., 2010).

1.4.1.2 Assistência litisconsorcial

A espécie de assistência litisconsorcial (ou qualificada) está regulada no artigo 54 do Código de Processo Civil (BRASIL, 2011): “considera-se litisconsorte da parte principal o

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assistente, toda vez que a sentença houver de influir na relação jurídica entre ele e o adversário do assistido.”

O assistente litisconsorcial (terceiro interveniente) é tão interessado quanto a parte assistida em face de seu adversário, ou seja, ele poderia seguramente ter sido litisconsorte da mesma. Característica essa que contribui para a diferenciação entre o assistente simples e o litisconsorcial.

Ao conceituar esta espécie, Fredie Didier Jr. (2010, p. 355) é categórico em dizer que:

A assistência litisconsorcial cabe quando o terceiro alegar a existência de um interesse jurídico imediato na causa. Diz-se que há esse tipo de interesse jurídico quando a decisão puder afetar relação jurídica de que seja o terceiro, também ou só ele, titular. Mantém, o terceiro, relação jurídica com a parte adversária daquela a quem pretende ajudar.

Diferente da assistência simples, o assistente litisconsorcial deverá apresentar uma relação jurídica entre ele e o adversário do assistido, ou seja, este terceiro interveniente também vem a ser titular na relação jurídica, mesmo que não seja ele parte no processo. Nesse entendimento, Lopes Costa, citado por Moacyr Amaral Santos (2009, p. 52, grifo do autor), diz que são dois os requisitos exigidos para que se configure a assistência litisconsorcial: “a) há de haver uma relação jurídica entre o interveniente e o adversário do assistido; b) essa relação há de ser normada pela sentença.”

Ainda que o assistente litisconsorcial venha a ser titular na relação jurídica, ele nunca vai adquirir a posição de autor ou de réu, o que não o permite que faça pedidos em seu favor e muito menos que seja condenado em favor do autor. Em outras palavras, o assistente não é litisconsorte no processo, mas mero assistente, embora seja tratado “como se fosse”, obtendo os mesmos tratamentos formais que um litisconsorte. É a conclusão que chega Alexandre Freitas Câmara (2007, p. 193) quando define que “o assistente qualificado não é litisconsorte, mas é tratado ‘como se fosse’. Garante-se a este interveniente o mesmo tratamento formal dispensado ao litisconsorte, embora não assuma ele esta posição.”

A assistência litisconsorcial pode ocorrer, por exemplo, quando um bem tem mais de um proprietário. No entanto, por alguma razão, a lei só autoriza que um deles ajuíze ação

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reivindicatória ou possessória do bem comum. É o momento que todos os titulares podem entrar no processo no momento em que entenderem oportuno.

Importante lembrar que o assistente litisconsorcial só existirá nos casos em que for admissível o litisconsórcio facultativo, ou seja, quando o terceiro que, inicialmente poderia ter figurado no polo ativo do processo preferiu não fazê-lo, ou quando um dos réus vier a ser excluído da relação jurídica processual pelo autor, vindo intervir no feito como assistentes.

1.4.2 Da oposição

A oposição, modalidade apregoada na Seção I do capítulo da Intervenção de Terceiros, tem seu conceito definido no artigo 56 do Código de Processo Civil (BRASIL, 2011), a saber:

Art. 56. Quem pretender, no todo ou em parte, a coisa ou o direito sobre que controvertem autor e réu, poderá, até ser proferida a sentença, oferecer oposição contra ambos.

Em outras palavras, poderá um terceiro interessado no objeto litigado entre autor e réu se manifestar através da oposição para requerê-lo, visando excluir, total ou parcialmente, as pretensões das partes do processo, obedecendo, contudo, o prazo estipulado no artigo: até a sentença ser proferida. Ao conceituar a modalidade da oposição, Moacyr Amaral Santos (2009, p. 43) refere que é “a ação intentada por terceiro que se julgar, total ou parcialmente, senhor do direito ou da coisa disputada entre as partes numa demanda pendente, formulando pretensão excludente, total ou parcialmente, das de ambas.” Note-se que o conceito fala em ação intentada, o que pode não definir este instituto com uma real intervenção de terceiros num processo. Na inteligência de Alexandre Freitas Câmara (2007, p. 197):

Não se trata, como pode ser facilmente verificado, de verdadeira intervenção de terceiro, mas de demanda autônoma, em que o opoente é o autor, e serão réus, em litisconsórcio necessário, as partes da demanda original. Na oposição, o terceiro (em relação à demanda original) vem a juízo manifestar pretensão própria em face dos sujeitos do processo em curso. Ora, toda vez que alguém vai a juízo manifestar pretensão em face de outrem estará propondo uma ação.

Nesse sentido, fala-se aqui da “ação de oposição”, tendo em vista que o opoente deverá apresentar a sua petição em juízo, formalmente, através de uma petição inicial, que, por sua vez, será distribuída por dependência ao processo em curso. Para ciência dessa

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intervenção, serão os opostos (partes originárias) citados para que, em quinze dias, se necessário julgar, contestem a petição oferecida pelo opoente. Tão quanto contestar, podem, os opostos apresentar exceções e reconvenção, porém, nada impede de reconhecerem o pedido do opoente, dando prosseguimento ao feito dentro das normas reguladoras desta modalidade de intervenção de terceiros (CÂMARA, 2007).

O artigo 59 do Código de Processo Civil descreve que, se for a oposição oferecida antes da audiência de instrução de julgamento, os autos da “ação de oposição” deverão ser apensados aos autos da demanda original, obtendo-se, a partir desse apensamento, o dever de a sentença ser proferida numa única decisão. Para Alexandre Freitas Câmara (2007, p. 199) há, sem sombra de dúvida, “uma relação de prejudicialidade, o que significa dizer que ao juiz caberá julgar, primeiro, a oposição e, somente após, a demanda original.”

Como já dito, a oposição pode ser oferecida a qualquer tempo, desde que antes da prolação da sentença, não podendo ser feita em sede de recurso, visto que se trata de uma demanda de vontade própria. Para Fredie Didier Jr. (2010, p. 359), “como o opoente demanda pretensão própria, incompatível com a dos litigantes, não pode formulá-la em sede de recurso, pois suprimiria uma instância, a primeira, competente originária e funcionalmente para conhecer a julgar a causa.” Mas, após proferida a sentença, nada impede que o terceiro demande o reconhecimento do direito que se diz detentor na causa, mas deverá fazê-la através de uma nova demanda, que não será uma oposição.

1.4.3 Da nomeação à autoria

Regulada pelos artigos 62 a 69 do Código de Processo Civil, a modalidade de intervenção de terceiros denominada nomeação à autoria conceitua-se logo no caput do seu artigo 62: “Aquele que detiver a coisa em nome alheio, sendo-lhe demandada em nome próprio, deverá nomear à autoria o proprietário ou o possuidor.” (BRASIL, 2011)

Diferente das duas modalidades de intervenção de terceiros supracitadas, quando o terceiro manifesta interesse na participação do processo, a nomeação à autoria trata, basicamente, da convocação de um terceiro, ou seja, quando se observa um vício de legitimidade passiva, espera-se que a nomeação do verdadeiro legitimado, indicado pelo próprio réu (ilegítimo), possa corrigir o vício. Este é, na verdade, um mecanismo criado pelo

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Código de Processo Civil para evitar que muitos processos sejam extintos sob a alegação de carência de ação, já que não se pode exigir do autor que saiba que aquele que pretende indicar como réu não tem legitimidade para figurar no polo passivo (demanda ajuizada contra réu ilegítimo para a causa). “Trata-se de modalidade de intervenção forçada, sendo o terceiro convocado a ingressar na relação processual.” (Câmara, 2007, p. 199, grifo nosso).

Doutrinariamente, a nomeação à autoria tem o escopo de corrigir um vício de legitimidade passiva, ou seja, sempre que um processo é demandado em face de réu ilegítimo, tem-se a carência de ação, que vai determinar a extinção do processo sem a resolução do mérito. Em muitos casos, esta extinção traria grandes prejuízos ao demandante. Para Fredie Didier Jr. (2010, p. 362), a nomeação à autoria tem dois objetivos:

a) indicar ao autor o real titular da situação legitimamente passiva; b) retirar do sujeito dependente o ônus de conduzir um processo que não lhe diz respeito. Normalmente o caso seria de extinção do processo por carência de ação, mas, por questões de economia, aproveita-se o processo pendente e corrige-se o equívoco.

O prazo para o réu requerer a nomeação será o assinalado para a defesa, que deverá variar de acordo com a natureza da ação. Sendo deferido o pedido, o juiz deverá suspender o curso do processo e determinar que o autor, no prazo de cinco dias, manifeste na demanda.

Não se fala aqui de uma mera faculdade do réu nomeante, já que é ele o sabedor do real detentor do direito litigado, a ele cabe explorar essa norma legal, a fim de propiciar um bom andamento ao processo, podendo, inclusive, ser responsabilizado se não o fizer. Assim pensa Fredie Didier Jr. (2010, p. 362): “Trata-se, ainda, de um dever processual do réu, que, se deixar de fazer a nomeação ou fizer nomeação de pessoa diversa, quando for o caso, estará propiciando o prosseguimento de um processo inútil ao fim visado, respondendo por perdas e danos (art. 69, I e II, CPC).”

Embora possa ser considerada a nomeação à autoria um dever processual do réu, podendo, inclusive, responder por perdas e danos, por outro lado existe o papel do autor, que poderá tanto aceitar a nomeação quanto recusar. Se aceitar, deverá ele mesmo promover a citação do nomeado. Entretanto, se o autor da demanda recusar o nomeado, a nomeação ficará sem efeito e, consequentemente, vai assumir os riscos da improcedência do pedido postulado.

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Já, no artigo 66 do Código de Processo Civil, há a postura do nomeado. Se, nomeado for e reconhecer a qualidade que lhe foi adjudicada, discorre a lei que o processo correrá contra ele; contudo, se vier a negar, o processo naturalmente continuará correndo contra o nomeante, porém, não vai livrar o nomeado de conhecer os efeitos produzidos pela sentença contra ele. Ao aceitar a nomeação, o nomeado passará a ser réu, tornando-se não só parte do processo, mas também parte da demanda, e, consequentemente, terá o devido prazo para resposta. O nomeante, por sua vez, será excluído da demanda.

1.4.4 Da denunciação da lide

Regulada nos artigos 70 a 76 do Código de Processo Civil, onde estão elencadas as hipóteses de cabimento e as suas formas de processamento, a legislação relaxa ao deixar de conceituar a modalidade da denunciação da lide, cabendo, deste modo, à doutrina a tarefa de fazê-lo.

Para Ovídio Araújo Baptista da Silva (2002), citado por Fabio Milman (2007, p. 131-132, grifo do autor) a denunciação da lide

é o ato pelo qual o autor ou o réu chama a juízo um terceiro a que se liguem por alguma relação jurídica de que decorra, para este, a obrigação de ressarcir os prejuízos porventura ocasionados ao denunciante, em virtude de sentença que reconheça a algum terceiro direito sobre a coisa por aquele adquirida, ou para que este o reembolse dos prejuízos decorrentes da demanda. Sempre que uma das partes possa agir, em demanda regressiva, contra seu garante, para reaver os prejuízos decorrentes da eventual sucumbência na causa, estará autorizada a chamar para a ação esse terceiro a que a mesma se liga.

Com a finalidade de denunciar (comunicar) a existência de um processo, essa modalidade de intervenção de terceiro vai exercer, basicamente, o direito de regresso no processo em que será julgada a demanda original. Tem-se uma demanda nova, e não um novo processo. Esse exercício vai evitar que haja a origem de um novo processo e permitir que se alcance uma espécie de obstáculo à prolação de decisões conflitantes, sendo que apenas uma sentença decidirá duas demandas. Objetiva-se, com isso, tanto a economia processual bem como a segurança jurídica do processo.

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Essa nova demanda (em mesmo processo), conforme Fredie Didier Jr. (2010, p. 366), é “demanda incidente, regressiva, eventual e antecipada”, no sentido de o processo ter, a partir da denunciação, duas demandas: a principal (originária) e a incidental (nova).

Embora seja a denunciação da lide dirigida diretamente a um terceiro, estranho ao processo, Alexandre Freitas Câmara (2007, p. 207) lembra que pode ser denunciado alguém que já seja parte no processo, “o que se dará, por exemplo, quando entre os réus haja relação de garantia. Neste caso, admite-se que um dos litisconsortes denuncie a lide ao outro.”

O caput do artigo 70 do CPC, menciona a obrigatoriedade da denunciação da lide, contudo, pelo menos no sentido técnico da palavra, isso não deve ser levado em consideração. Antes de tudo, é corolário lógico que fala-se aqui de um exercício de direito de ação, que não pode ser confundido como uma obrigação. Outrossim, de acordo com o entendimento de Fredie Didier Jr. (2010, p. 368),

a discussão sobre a “obrigatoriedade” da denunciação da lide restringe-se à hipótese do inciso I do art. 70, que cuida da denunciação em caso de evicção. Em relação aos demais incisos (II e III), não há mais qualquer discussão: a não-denunciação da lide apenas implica a perda da oportunidade de ver o direito regressivo ser apreciado no mesmo processo, sendo permitido o ajuizamento da demanda autônoma para o exercício da pretensão de ressarcimento.

Contudo, há doutrinas que transmitem o entendimento de que, em sendo obrigatória a denunciação e não sendo ela realizada, a parte terá como consequência a perda do direito de regresso (como dito acima), o qual não mais poderá ser exercido, nem mesmo por demanda autônoma. Essa ideia acarretaria um poder à “obrigatoriedade” disposta no texto legal muito acima do que realmente ela suporta, ou seja, a simples disposição da palavra “obrigatório” no artigo não parece ser clara o suficiente pra tamanha consequência.

Compactua a doutrina em geral e de um modo tranquilo de que o cabimento desse instituto no sentido de que só é possível no processo de conhecimento, visto que é o único que oferece a possibilidade de prolação de decisão de caráter condenatório.

A proposição dessa modalidade pode ser feita tanto pelo autor como pelo réu. Ordenada a citação do denunciado, suspende-se o processo, pelo prazo de 10 dias e, se o

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denunciado residir em comarca diversa ou estiver em lugar incerto, estende-se o prazo de suspensão para 30 dias. Não ocorrendo a citação no prazo marcado, a ação deverá prosseguir somente contra o denunciante, que, por sua vez, perderá a oportunidade de trazer ao processo as pessoas mencionadas nos incisos do art. 70 do CPC.

Deste modo, realizada a denunciação da lide pelo autor e comparecendo o denunciado, este ostenta a posição de litisconsorte do denunciante podendo aditar a petição inicial, procedendo-se, por sua ordem, à citação do réu.

Por fim, cumpre ressaltar que o artigo 76 do Código de Processo Civil dispõe que se a ação principal for julgada procedente, a sentença valerá como título executivo em favor do réu, se este for o denunciante, e, em favor do autor, se este for o denunciante, em caso de improcedência. Contudo, a ação principal deve ser julgada em primeiro lugar, visto que o julgamento da denunciação da lide vai depender daquela.

1.4.5 Do chamamento ao processo

A última modalidade de intervenção de terceiros (dentro da organização do Capítulo VI), é regulamentada pelo Código de Processo Civil nos artigos 77 a 80. Dá-se quando a parte integrante do polo passivo de uma determinada ação entender que não é o único devedor no processo, momento em que poderá chamar à demanda aquele, ou aqueles, cujas responsabilidades são vinculadas solidariamente entre a parte originária e o chamado. Inicia-se, dessa forma, conforme bem argumentado por Daniel Ustárroz (2004, p. 131, grifo nosso),

a formação de um litisconsórcio passivo facultativo simples ulterior.

Passivo, na medida em que a pluralidade subjetiva de partes com interesses

afins ocorrerá no pólo defensivo da demanda. Facultativo, pois o oferecimento da demanda originária contra apenas um dos co-obrigados não apresenta qualquer vício, cabendo ao réu, e tão-somente a este, decidir se opta ou não por chamar seus co-devedores. Simples, porque a decisão que acerta as relações afirmadas pelas partes não é necessariamente idêntica para todos, visto que em tese há possibilidades de ser reconhecida inexistência de dívida comum. E ulterior, em relação ao momento de sua formação, ou seja, após a propositura da demanda.

É cabível apenas no processo de conhecimento e trata-se, essencialmente, de um instituto criado para beneficiar o réu. Na ensinança de Ovídio Araújo Baptista da Silva, citado por Gustavo Rodrigo Picolin (2009, p. 22), é o chamamento ao processo “uma faculdade legal

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outorgada apenas aos réus, para que eles chamem à causa como seus litisconsortes passivos, na demanda comum, ou o outro, ou os outros coobrigados, perante o mesmo devedor.”

O artigo 77 do Código de Processo Civil (BRASIL, 2011) elenca as hipóteses de admissibilidade do chamamento de terceiro ao processo:

Art. 77. É admissível o chamamento ao processo: I - do devedor, na ação em que o fiador for réu;

II - dos outros fiadores, quando para a ação for citado apenas um deles; III - de todos os devedores solidários, quando o credor exigir de um ou de alguns deles, parcial ou totalmente, a dívida comum.

Nota-se, claramente, que o artigo supracitado refere-se ao chamamento ao processo como uma faculdade do réu, ou seja, não obrigatoriedade na realização deste instituto, mesmo que haja outros devedores. Em se tratando de não obrigação, no caso de não promover o chamamento do coobrigado ou coobrigados, nada impede o réu de, posteriormente, em ação autônoma, exercer o seu direito de regresso contra o devedor principal ou codevedores.

Ao efetuar o chamamento dos devedores solidários ao processo, o réu provocará o alargamento horizontal subjetivo da relação jurídica processual, situação em que o chamado se iguala ao chamante, iniciando uma condição de litisconsorte. Esse procedimento tem o fim de dar ensejo à economia processual, finalidade do chamamento ao processo, pois, trata-se de “ampliar o objeto do processo, trazendo para a causa os demais obrigados solidariamente responsáveis perante o credor.” (SILVA, apud MILMAN, 2007, p. 68, grifo do autor).

Ainda, no entendimento de Fredie Didier Jr. (2010, p. 391), “não se trata, pois, de exercício de ação regressiva do chamante contra o chamado, mas apenas de convocação para a formação de litisconsórcio passivo. Não há ampliação do objeto litigioso do processo.”

Para que se admita o chamamento ao processo, o direito brasileiro elenca dois pressupostos legais, conforme indica Daniel Ustárroz (2004, p. 137):

O primeiro requisito é a presença, na lide, de relação de direito material que estabeleça, perante o autor, obrigação solidária entre o réu e o terceiro que venha a ser chamado. O vínculo, portanto, que se estabelece no plano jurídico envolve autor, chamado e chamante. A segunda condição é que o pagamento da dívida pelo réu original dê-lhe direito de reembolso, total ou parcial contra o chamado.

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No tocante aos procedimentos que deverão ser adotados para a realização do chamamento ao processo, nos termos do art. 78 do CPC, primeiramente, o réu poderá promover o chamamento durante o prazo que tiver para contestar.

Em promovendo o chamamento, o juiz suspenderá o processo, determinando que se observe as disposições dos artigos 72 e 74 do Código de Processo Civil (mesmos prazos e condições relativos à denunciação da lide) quanto à citação e aos prazos.

Sendo os devidos procedimentos realizados e demanda julgada, em havendo sucumbência dos devedores litisconsortes, a sentença passará a valer como título executivo em favor do sucumbente (que pagar a dívida) para, no seu tempo, exigir dos outros codevedores até o limite das respectivas quotas-parte (art. 80 do CPC).

Válido lembrar que a única penalidade do réu, resultada pela não realização do chamamento será a perda da vantagem processual, conforme o disposto no artigo 80 do Código de Processo Civil. Outrossim, a falta de chamamento de codevedor ao processo não implica a perda do direito de regresso. O réu apenas perderá a vantagem processual de obter, com o pagamento, título executivo contra o chamado.

Tratou-se, até aqui, sobre o atual panorama da intervenção de terceiros vigente no Código Buzaid, quais os seus institutos e o que pretendem cada um em sua função dentro do ordenamento jurídico. Essas informações permitirão a análise mais detalhada do que pretende o projeto do novo CPC no que refere à intervenção de terceiros. Far-se-á, em seguida, a análise do panorama que pretende instituir o projeto do novo CPC dentro da intervenção de terceiros e, a partir daí, analisar-se-á quais serão os prós e os contras das alterações propostas.

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2 INTERVENÇÃO DE TERCEIROS NO CPC/73 VERSUS INTERVENÇÃO DE TERCEIROS NO PROJETO DO NOVO CPC

Tratado e especificado, até aqui, sobre o atual panorama do instituto da Intervenção de Terceiros redigido pelo Código de Processo Civil (Lei n°. 5.869, de 11 de Janeiro de 1973), passa-se, a partir do segundo capítulo deste trabalho, à análise sistemática da Intervenção de Terceiros proposta pelo projeto do Novo Código de Processo Civil, com base nos trabalhos e alterações já realizados desde a aprovação do projeto Lei do Senado n°. 166, de 2010. Após a exposição de como o Projeto de Lei nº. 8.046/2010, referente ao novo CPC, está definindo o instituto da Intervenção de Terceiros, tendo em mãos os objetivos não só do projeto, mas do atual CPC, far-se-á, por sua vez, um paralelo entre o Código vigente e o projeto, objetivando definir o que irá mudar, o que não vai ser alterado e, inclusive, o que vai ser acrescentado na esfera da Intervenção de Terceiros a partir do momento em que vigorar, como Lei, o projeto do Novo CPC.

2.1 Sobre o Novo Código de Processo Civil

O presente trabalho será baseado no Anteprojeto do Novo Código de Processo Civil, no Projeto de Lei do Senado nº. 166/2010, no Projeto de Lei nº. 8.046/2010 e na Lei n°. 5.869, de 11 de Janeiro de 1973, atual Código de Processo Civil. Antes, passa-se à apreciação do projeto e o que tem ele a oferecer para a sociedade jurídica no que diz respeito ao instituto da Intervenção de Terceiros.

Embora o projeto do Novo Código de Processo Civil venha sendo debatido desde meados do mês de outubro de 2009, quando o Anteprojeto foi elaborado por uma comissão de especialistas designada pelo Senado, através do Ato nº 379, de 2009, ainda há muito que se discutir sobre a substituição de uma das mais importantes leis civis do Brasil. As manifestações acaloradas sobre as atualizações no direito processual civil brasileiro deixa claro que já não há mais dúvidas sobre a reforma, ela é óbvia e iminente. Prova disso é a participação de toda a população que até novembro de 2011 já havia apresentado mais de 1.300 sugestões de emendas1.

______________

1

De acordo com o site de notícias jurídicas, JusBrasil (2012, p. 1), “O projeto do novo Código de Processo Civil (PL 8046/10) recebeu 1.366 sugestões de emendas entre agosto e novembro de 2011. Comissão especial sobre o novo código já realizou 15 audiências públicas na Câmara e 11 conferências estaduais para discutir o projeto.”

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Não é necessário ser um grande jurista para entender a real necessidade de se criar um novo Código de Processo Civil, afinal, trata-se reforma de uma Lei que já está completando 40 anos de criação. Mais importante que a idade, o atual CPC foi constituído para instrumentalizar a resolução de lides impostas nas relações jurídicas materiais disciplinadas pelo Código Civil de 1916. O texto obsoleto do Código Buzaid se justifica diante das inúmeras modificações a qual se submeteu a sociedade desde os anos 1970, em muitos sentidos, mas, principalmente, nos âmbitos tecnológico e jurídico.

Outro motivo que se adiciona às justificativas para a criação de um novo CPC está claro em praticamente todas as doutrinas, livros, entrevistas, palestras e artigos que versam sobre o assunto, por menor que seja o texto, a palavra celeridade parece ser indispensável ao conteúdo. Talvez, por ser este o maior anseio da sociedade. Institucionalizar normas que possibilitem o alívio do judiciário, objetivando, por sua vez, o andamento mais rápido e eficaz possível às lides não é só um desejo do profissional do Direito, mas da sociedade num todo, da própria população. Pode se dizer, sem dúvidas, um dos motivos mais desejados e aceitos para a justificativa da criação do um novo CPC.

2.1.1 Linhas de pensamento

No entanto, vale lembrar que para a validação da celeridade no novo código são necessárias algumas mudanças que durante suas apresentações no projeto já causaram inúmeras polêmicas e calorosos debates entre instituições e personalidades jurídicas em todo o país. Em uma entrevista ao site de notícias iG, em 30 de novembro de 2011, o porta-voz da OAB/SP Antônio Cláudio da Costa Machado afirmou que, com o novo Código de Processo Civil os “Juízes vão virar deuses e nós (advogados), escravos”, se referindo à limitação do número de recursos e testemunhas imposta no projeto, e que esse obstáculo pode prejudicar o direito constitucional da ampla defesa no processo, diminuindo, com isso, o papel do advogado. Desde a apresentação do projeto, são inúmeros os debates, manifestações contra e a favor, todas extremamente úteis para a formação deste novo texto legal.

A exposição de motivos do Anteprojeto foi convincente, citou, inclusive, a evidente antiguidade do texto do Código Buzaid, que, por sua vez, atuou tranquilamente por mais de 20 anos, porém, a partir dos anos 1990 passou a enfrentar diversas, sucessivas e inevitáveis reformas, tornando-se, na visão de Fredie Didier Jr. (2012, p. 1), “uma colcha de retalhos,

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com grande perda sistemática – que, de resto, é o principal atributo que um código deve ter.” Entretanto, mesmo diante de tantas expectativas e justificativas, muitos doutrinadores entendem desnecessária uma nova codificação no direito processual brasileiro. Para Luiz Guilherme Marinoni e Daniel Mitidiero (2010, p. 56),

uma codificação é oportuna quando apresenta verdadeira renovação metodológica. [...] se o que se pretende é a outorga de coesão ao direito processual civil e o acréscimo deste ou daquele instituto novo, colhe-se ensejo para simples consolidação. [...] Codificar e consolidar são coisas diferentes.

Para eles, a desnecessidade de se instituir um novo CPC se explica pela aparente desnecessidade de uma revolução no sistema processual civil. O CPC de 73 deve estar em total desconecção com a atual situação judiciária, ou seja, o projeto deve revolucionar o atual CPC, apresentando motivos mais que suficientes para se fazer uma mudança drástica no sistema processual, tal como aconteceu na passagem do Código de 1939 para o Código de 1973.

Quando Alfredo Buzaid apresentou seu Anteprojeto de Código de Processo Civil, seu objetivo estava em revolucionar metodologicamente o direito processual civil brasileiro. [...] A diferença entre o Código Buzaid e o Código de 1939, como todos sabem, é abissal. É evidente aí a preponderância do intento de ruptura. O mesmo não se passa em relação ao Projeto. Este repete em grande parte as redações tais quais já existentes no Código vigente. (MARINONI; MITIDIERO, 2010, p. 56).

Obviamente não se faz necessária uma revolução no texto do atual Código de Processo Civil Brasileiro, tanto que o projeto apresenta muitos artigos que são uma mera reescrita dos artigos do Código de 1973, ou seja, o sentido normativo do texto não muda, pelo contrário, é preservado. As mudanças mais significativas estão na incorporação de novos artigos e na proposta de algumas novas regras, o que, para Luiz Guilherme Marinoni e Daniel Mitidiero (2010, p. 56), “nada que não pudesse ser realizado, pois, por reforma do texto do Código vigente, sem que fosse necessária a instituição de um novo Código de Processo Civil.” Ainda, nessa mesma diretriz, Mayk Carvalho Santana (2012, p. 1) menciona que,

apesar de várias inovações o projeto não tem o condão de romper bruscamente com a atual estrutura do processo civil, se isso ocorresse fatalmente sua aprovação seria dificultada, pois mudar completamente as formalidades nas demandas cíveis geraria uma insegurança jurídica que possivelmente não trariam (sic) bons resultados. Na verdade, deverão ser

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mantidos muitos institutos atualmente vigentes, mas novos serão incorporados para englobar o atual momento vivenciado e as situações fáticas que não têm respaldo na forma como o código as disciplina.

A despeito de existirem correntes contrárias à construção de um novo CPC, em relação às favoráveis, elas são mínimas. Como já dito, o anseio da sociedade em se obter resultados benéficos a partir do novo Código está claro e evidente, e, é nesse sentido que o mesmo está sendo trabalhado. Dentre as mais diversas razões para se impor um novo código, Fredie Didier Jr. (2012, p. 1) lembra que a avançada idade do Código Buzaid faz pensar que, durante esse período, “o país e o mundo já passaram por tantas transformações, que não seria incorreto dizer que praticamente todos os paradigmas que inspiraram o CPC de 1973 foram revistos ou superados. As mudanças se deram nos planos normativo, científico, tecnológico e social.” Em um editorial, publicado no próprio site, em 04 de setembro de 2012, muito singelo, porém de forma brilhante e esclarecedora, o processualista explica essas quatro mudanças:

Revolução jurídica. Entre 1973 e 2012, tivemos, apenas para exemplificar,

uma nova Constituição Federal (1988), um novo Código Civil (2002) e o Código de Defesa do Consumidor (CDC, 1990) – apenas para citar três exemplos de conjuntos de normas que alteraram profundamente o direito brasileiro. O Código de 1973, por óbvio, não foi elaborado para uma realidade jurídica tão diferente. É preciso construir um Código de Processo Civil adequado a essa nova estrutura jurídica. [...] Revolução científica. A ciência jurídica passou, também, por sensíveis transformações nos últimos anos. A ciência jurídica brasileira evoluiu deveras neste período. Basta mencionar o fato de que, há quarenta anos, praticamente não havia no Brasil cursos de pós-graduação em sentido estrito (mestrado e doutorado) em Direito. Atualmente, temos possivelmente o maior programa de formação de mestres e doutores em Direito do mundo. [...] Revolução tecnológica. O processo em autos eletrônicos é uma realidade inevitável. Pode-se afirmar, inclusive, que o Brasil é um dos países mais avançados no mundo neste tipo de tecnologia. Em poucos anos, a documentação de toda tramitação processual no Brasil será eletrônica. Um novo Código de Processo Civil deve ser pensado para regular esta realidade, total e justificadamente ignorada pelo CPC 1973. [...] Revolução social. No plano social, as mudanças foram ainda mais impressionantes. O acesso à justiça foi muito facilitado nos últimos anos; o progresso econômico, com a incorporação de uma massa de consumidores, antes alheia à economia, repercutiu diretamente no exercício da função jurisdicional, com um aumento exponencial do número de processos em tramitação. A massificação dos conflitos, fenômeno bastante conhecido e estudado, é um dado de fato que não pode ser ignorado na elaboração de um novo CPC. (DIDIER JR., 2012, p. 1, grifo do autor).

Referências

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