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Discurso Político, Ações e Organização do Movimento Negro

No documento Joao Pereira Paulo.pdf (páginas 30-52)

Discurso Político, Ações e Organização do Movimento Negro

1.1 Cultura, experiência, ancestralidade e memória do Movimento Fala Negão Fala Mulher

O Movimento Negro Fala Negão Fala Mulher, criado na década de 1990, é entendido nesta pesquisa como um projeto social de lutas, com interesses amplos. Sua formação e trajetória constituíram-se por processo de busca por melhores condições de vida em locais de difícil acesso da Zona Leste de São Paulo, mais especificamente em bairros como: Itaquera, Guaianases, São Miguel, São Matheus e Itaim Paulista. O Movimento se envolve nas lutas de classes sociais na cidade o que pode ser observado nos discursos sobre cultura - ou culturas - da etnia negra ou afro-descendente.

Neste capítulo pretendo discutir o discurso sobre as questões da negritude e ancestralidade na formação do Movimento Negro Fala Negão Fala Mulher na cidade de São Paulo, levando em consideração as experiências dos sujeitos que o constituem e por ele são constituídos.

A sociedade comunitária, ecológica, cultural e escola de samba FALA NEGÃO, organização não governamental, fundada oficialmente em 21 de março de 1992 (Dia Internacional Contra Discriminação Racial) tem como objetivo desenvolver o espírito comunitário da população negra, assim como, reunir grupos, personalidades, pessoas comuns e da comunidade em geral com o propósito de incentivar a militância e pesquisa. Também promover estudos dos problemas que afetam a população negra

marginalizada31 (ESTATUTO SOCIAL, São Paulo, 1992).

Em seu Estatuto Social, o Fala Negão Fala Mulher propõe desenvolver suas ações em três direções:

1. Desenvolver o espírito comunitário;

2. Incentivar a militância ao Movimento Negro;

31 Estatuto Social – SOCIEDADE COMUNITÁRIA, ECOLÓGICA, CULTURAL E ESCOLA DE

SAMBA FALA NEGÃO DA ZONA LESTE DE SÃO PAULO – registrada no 3º Cartório de Civil de Pessoas Jurídicas do Estado de São Paulo, fundado em 21 de março de 1992.

3. Realizar estudos sobre a realidade de vida da população negra marginalizada.

Uma característica que permeia o Movimento ao longo de sua trajetória, é pensar uma sociedade comunitária que procure a participação na questão ecológica, percebida na forma de aproximação de suas ações com a própria religião ou até o manuseio de raízes e plantas para curar enfermidades. Essas ações, assim como a discussão sobre a cultura e a escola de samba, são questões que delineiam as referências identitárias nas intenções do Movimento

Negro Fala Negão Fala Mulher.

Essas ações ocorrem a partir dos modos e formas de construção dos laços afetivos e de aproximação, da busca de igualdade e respeito às diferenças entre os participantes do Movimento Negro Fala Negão Fala Mulher que articulam a construção de suas experiências na comunidade, estabelecendo traços comuns de suas experiências vividas.

Assim, as expressões e linguagens corporais que permitem assumir formas de comportamentos, gestos, músicas e sentimentos de proximidade, constituem hábitos que possibilitam a desconstrução do que estamos familiarizados como pressupostos de aptidões morais e intelectuais sobre a negritude. Essa relação de desconstrução faz-se sobre as diferenças entre a permanência e a resistência dos indivíduos nas transformações do cotidiano.

Na afirmação de modos liberados de ser, a ênfase na ancestralidade africana como forma de resistência é a razão pela qual identificamos a partir dos gestos, ou mesmo nos modos de referirmos ao outro, como o Movimento Negro

Fala Negão Fala Mulher busca desenvolver seu trabalho junto à comunidade de

Itaquera, em São Paulo, com a finalidade de discutir as questões da negritude. Podemos então perceber na fala de Walter Hilário o contorno das referências identitárias a partir do reconhecimento das ações políticas.

Eu quero falar um pouco de como eu conheci o Gilson, eu já conhecia o Gilson, do Fala Negão, eu estava na cidade, eu tinha vindo do movimento, o movimento político bom para a escola de samba, leva a escola de samba para discutir o movimento da cidade, quando eu conheci o Gilson, 83, 84, a questão do primeiro movimento do Zumbi dos Palmares, 84, e ai vai, começa engajar no movimento em 8432 (HILÁRIO, São Paulo, 2007).

32 HILÁRIO, Walter. Fundador e Conselheiro do Movimento Negro Fala Negão. Entrevista

Essa percepção sobre a necessidade de converter as ações políticas em situações de igualdade pode nos levar à compreensão da relação entre o discurso de engajamento e da construção de um Movimento Negro pautado no posicionamento político que explora as possibilidades de intervenção na cidade. Quando Walter Hilário fala que já conhecia o Gilson Vitório, é uma forma de reconhecimento do papel deste na organização e nas lutas em Movimentos populares.

No caso da construção do Movimento Negro Fala Negão Fala Mulher, tanto a valorização da ecologia quanto da escola de samba parte da valorização da cultura e das práticas culturais como dimensão importante da história dos afro- descendentes, de suas experiências vividas e sentidas nas significações e ressignificações. Portanto, cultura neste contexto não é considerada como mera ilustração, superestrutura ou ponto de partida para justificar o Movimento Fala

Negão Fala Mulher. Ou ainda como simples prática de abordagem, mas sim como

seu fundamento principal.

Na trajetória das experiências vividas pelas pessoas que buscaram vincular-se ao Movimento Fala Negão Fala Mulher para atender as necessidades do que elas entendiam como justiça social em seus direitos de moradia, trabalho e lazer, é importante o reconhecimento de suas idéias, ações e resistências como expressão de afirmação de sua negritude.

Conforme nos diz Stuart Hall,

A cultura não é uma prática; nem apenas a soma descritiva dos costumes e “culturas populares [folkways]” das sociedades, como ela tende a se tornar em certos tipos de antropologia. Está perpassada por todas as práticas sociais e constitui a soma do inter-relacionamento das mesmas. Desse modo, a questão do que e como ela é estudada se resolve por si mesma. A cultura é esse padrão de organização, essas formas características de energia humana que podem ser descobertas como reveladoras de si mesmas – “dento de identidades e correspondências inesperadas”, assim como em “descontinuidades de tipos inesperados” – dentro ou subjacente a todas as demais práticas sociais. A análise da cultura é, portanto, “a tentativa de descobrir a natureza da organização que forma o complexo desses relacionamentos”. Começa com “a descoberta de padrões característicos”. Iremos descobri-los não na arte, produção, comércio, política, criação de filhos, tratados como atividades isoladas, mas através do “estudo da organização geral em um caso particular”. Analiticamente, é necessário estudar “as relações entre esses padrões”. O propósito da análise é entender como as inter-relações de todas essas práticas e Avenida dos Metalúrgicos, nº 560, no bairro da Cidade Tiradentes, São Paulo/SP, em 07 de outubro de 2007.

padrões são vividas e experimentadas como um todo, em um dado período: essa é sua “estrutura de experiência” [structure of feeling]33. (Da

diáspora, 2003, p. 128).

A essa prática de organização entre vários modos de entender o espaço cultural, Stuart Hall procura estabelecer a construção de um conceito singular sobre a cultura. Em que ela se forma, se cria e recria a partir de experiências vividas. No caso das análises de formação de grupos sociais, especificamente do

Movimento Negro Fala Negão Fala Mulher, as reflexões sobre a cultura

desencadeiam uma grande confluência de idéias que perpassam pelo tempo cronológico entre as necessidades do sentimento de negritude.

Pensamos a cultura como forma de saberes, práticas e experiências vividas e sentidas, como uma grande teia entrelaçada sem começo ou fim. Essa cultura - ou culturas - estende-se tanto ao plano das tensões como nas atividades produtivas. Como pode ser observado nos argumentos de Gilson Vitório:

Eu faço uma ligação de movimento, um pouco nessa linha. A linha da escola de samba e da discriminação, a gente não tinha uma ligação, é, política da discussão do movimento. Mas tinha a discussão da cultura, da resistência da cultura através da escola de samba, embora que não muito vigorosamente nessa linha, mas acho que era um pouco nessa ligação34 (VITÓRIO, São Paulo, 2007).

Ainda para Vitório, as práticas culturais que o Movimento Negro Fala

Negão Fala Mulher procura desenvolver são justificadas a partir dos contextos

culturais, ora dentro dos espaços comuns na comunidade a qual pertence, ora fora dela, como espaço vivencial, divulgando as experiências de ancestralidade e de luta por eqüidade, representado como prática de ação do Movimento Negro. A ligação que Gilson Vitório faz entre a cultura e a escola de samba pode ser percebida como forma de resistência incorporada às referências identitárias do

Movimento Negro. A escola de samba é percebida e construída como lugar social

de discussão sobre a negritude e ancestralidade e, portanto, como espaço de atuação do Movimento Negro.

33 HALL, Stuart. Da diáspora: Identidades e mediações Culturais. Tradução Adelaine La Guardia

Resende... [et all]. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003, p. 128.

34 VITÓRIO, Gilson Nunes. Fundador e Coordenador do Movimento Negro Fala Negão Fala

Mulher. Entrevista realizada na quadra da escola de samba Leandro de Itaquera, no bairro de Itaquera, São Paulo/SP, em 05 de setembro de 2007.

A idéia de ancestralidade que aqui procuramos discutir é aquela que nos remete aos hábitos, costumes, idéias, valores, sentimentos, rituais que procuramos adotar, desenvolver, tornar presentes não só em nosso dia-a-dia, mas em nossas referências identitárias, inspirados em nossos antepassados ou ancestrais.

Percebemos a construção de um sentimento de ancestralidade como forma de luta a partir da ressignificação das experiências vividas que interagem na desconstrução/reconstrução do passado em relação ativa com o presente. Não se trata de mera permanência do passado, nem de uma recriação das experiências de nossos ancestrais tal como eram, mas sim, de sujeitos que no presente selecionam, qualificam, ressignificam o passado e o próprio presente, a partir de seus interesses, valores e necessidades com vistas ao futuro.

A questão da ancestralidade é focada como forma de resistência e de resposta às tensões na luta por melhores condições de vida diante das transformações vividas pelos atores sociais que nela se vêem e têm como ponto de modificação de seus sentidos, levando-se em consideração as ações cotidianas que permeiam as relações entre o tempo presente e o tempo passado.

Esta visão de ancestralidade não nos permite pensá-la como uma simples forma genealógica de aparência física ou de hábitos que vivenciamos. Essas relações que expressam sentidos de igualdades e diferenças são constituídas e transformadas na construção dos sujeitos que transitam pelo tempo cronológico, buscando no passado referências para modificar o presente e projetar o futuro.

Considerando as possibilidades da ancestralidade, a fala remete-se às transformações e permanências possíveis por parte da população negra da cidade de São Paulo, moradora dos bairros distantes do centro, as quais o direito à moradia, de ter um trabalho para sustentar seus dependentes, ou acesso à escola, durante muito tempo lhes foram negados ou dificultados. Percebe-se então que os hábitos e os modos dos afro-descendentes são definidos não só nas aparências como também nas práticas vivenciadas e nas experiências dialogadas através da memória e da própria cultura, que se apropria de certos conhecimentos, podendo ser percebidas num trecho da entrevista de Walter Hilário:

E quando você se levanta uma proposta com esta então, começam a assediar a cultura, a minha família começa a chegar, as pessoas começam a se apropriar da cultura, o negro sempre foi desbravador, a própria religião, morava longe, buscava medicamento no meio do mato, a própria religião, a benzedeira, a religião afro, precisava do mato, precisava da água, entendeu, precisava das coisas toda aí, e o negro gosta de morar longe do centro, ele gosta, sabe, ele sente a dificuldade de quando chega, chega por que, porque demora muito, eu adoro morar na Cidade Tiradentes35 (HILÁRIO, São Paulo, 2007).

Os vários elementos que Hilário aborda sobre a questão da cultura negra africana, como os hábitos e modos vida praticados em alguns locais da periferia, nos refere a aspectos constitutivos da memória que pretendemos trabalhar aqui, como memória compartilhada ou que PORTELLI36 chamou de memória social. Valores culturais cultivados na África, expressos nas atividades cotidianas de homens, mulheres e crianças, e trazidos para o Brasil, foram passados para as gerações seguintes que incorporaram e modificaram, ao longo dos séculos, de diversas maneiras e em condições também diferenciadas. Fazeres e saberes de seus antepassados foram aqui desenvolvidos como os rituais religiosos, o conhecimento de ervas, os cuidados com a natureza, musicalidades e gestuais que compõem uma ampla e enraizada memória cultural. E como toda memória, articula lembranças e experimentos, tendo o presente como referência.

No uso da metodologia da história oral é preciso considerar que o ato de lembrar é individual, porém, experiências que compõem as narrativas orais ou escritas são vivenciadas individual e socialmente. Por essa razão, não nos é permitido falar em memória coletiva, mas em “memória compartilhada37”, que pode ser entendida na reflexão de Alessandro Portelli (REVISTA PROJETO HISTÓRIA, Abril, 1997, p. 16) da seguinte forma:

A essencialidade do indivíduo é salientada pelo fato de a História Oral dizer respeito a versões do passado, ou seja, à memória. Ainda que esta seja sempre moldada de diversas formas pelo meio social, em última análise, o ato e a arte de lembrar jamais deixam de ser profundamente pessoais. A memória pode existir em elaborações socialmente

35 Cf. HILÁRIO, 2007, referência 32 da página 31-32.

36 REVISTA PROJETO HISTÓRIA 15. Revista do programa de estudos pós-graduados em

História e do departamento de História. – São Paulo: PUC São Paulo (15), abril 1997, p. 16. PORTELLI, Alessandro. Tentando aprender um pouquinho: Algumas reflexões sobre a ética na História Oral.

37 Memória compartilhada está relacionada às lembranças compartilhadas, surgidas nas suas

origens, e desta maneira permite situar as lutas e tensões dos grupos, que empunharam e empunham por muito tempo a busca por melhores condições de vida, como moradia, segurança, educação e saúde.

estruturadas, mas apenas os seres humanos são capazes de guardar lembranças. Se considerarmos a memória um processo, e não um depósito de dados, poderemos constatar que, à semelhança da linguagem, a memória é social, tornando-se concreta apenas quando mentalizada ou verbalizada pelas pessoas. A memória é um processo individual, que ocorre em um meio social dinâmico, valendo-se de instrumentos socialmente criados e compartilhados. Em vista disso, as recordações podem ser semelhantes, contraditórias ou sobrepostas. Porém, em hipótese alguma, as lembranças de duas pessoas são – assim como as impressões digitais, ou, a bem da verdade, como as vozes – exatamente iguais.

É por esse motivo que eu, pessoalmente, prefiro evitar o termo “memória coletiva”. Embora estejamos trabalhando com o intuito de registrar lembranças que possam ser coletivamente compartilhadas e aproveitadas, devemos ser cautelosos ao situá-la fora do indivíduo38. Em relação aos aspectos que fizeram parte de lembranças da infância, como as cantigas de ninar, dos quais, em algum momento, lançamos mão como recurso para ativar lembranças a fim de atingir novos elementos de nossa cultura, a fala de Walter Benjamim39 sobre uma memória involuntária que pode ser despertada sem que a desejássemos; sons, cheiros, paladares e cores que nos sensibilizam, nos faz lembrar de pessoas, acontecimentos e sentimentos.

Pensando ainda nas reflexões feitas por Walter Benjamin40 em Rua de mão

única, ao descrever a cidade onde viveu sua infância, com detalhes observados

pelos olhos de uma criança, podem compor um cenário reconstruído a partir do encantamento de sua cidade natal.

Gilson Vitório lembra da cidade de sua infância

[...] e vim pra cá com 9 anos, em 1957.[...] Eu morava na rua de cima, da Liberdade, e era só descer a rua São Joaquim, eu já saia na primeira escola de samba que era a Galvão Bueno, e andava mais uns trezentos ou quatrocentos metros, atravessava a rua de baixo, e saia na Escola de Samba Lavapés.

[...] Eu descia, assistia as escolas, ali do outro lado era o Cordão Carnavalesco Fio de Ouro, depois tinha a Vai-Vai e no centro da cidade, na época daqueles bondinhos abertos, o pessoal desfilava ali na Rua Direita, ali tudo naquele círculo, até hoje a gente participa, eu comecei assistindo [...]41 (São Paulo, 2006).

38 Cf. REVISTA PROJETO HISTÓRIA 15, p. 16, referência 36 da página 35.

39 BENJAMIM, Walter. Rua de mão de única: Obras escolhidas. Volume 2. Tradução de Rubens

Rodrigues Torres Filho e José Carlos Martins Barbosa. São Paulo. Editora Brasiliense, 1987. passim.

40 Ibid. passim.

41 VITÓRIO, Gilson Nunes. Fundador e Coordenador do movimento negro Fala Negão. Entrevista

realizada na sede do movimento negro Fala Negão situada na rua Jaacomo Quirino, nº 96, no bairro de Itaquera, Conjunto Habitacional José Bonifácio – COHAB II, São Paulo/SP, em 06 de abril de 2006.

Em suas lembranças de um menino de nove anos, recompõe a cidade de São Paulo, na qual perambulava, percorrendo ruas, praças e feiras.

Mesmo não sendo sua cidade natal, Gilson Vitório ia se apropriando dela, tornando-a sua. E assim, São Paulo foi se fazendo presente na constituição de suas experiências e referenciais identitários. Hoje, aos sessenta anos, essas lembranças sobre o centro da cidade indicam que o carnaval teve um papel importante na construção de seus laços afetivos e de sua formação cultural e política.

1.2 Cidade: migração e luta pelo espaço

Na cidade de São Paulo percebemos que a conquista do espaço de moradia se estabelece a partir de processos migratórios e seus conseqüentes desdobramentos, como acesso a transporte, a saúde, aos meios de comunicação, dentre outros, relacionando à experiência de construção de sentimentos de pertencimento.

As questões que o Movimento Negro Fala Negão Fala Mulher discute estão relacionadas principalmente à cidade de São Paulo, mais especificamente à Zona Leste e sua atividade política.

A proposta de formar uma entidade de cultura afro-descendente surgiu ironicamente em uma situação em que integrantes do Movimento Negro participavam de uma roda de discussão com o propósito de tratar de questões relacionadas ao Movimento Negro na cidade de São Paulo. Essa expressão que na boca de muitos significava uma forma de descriminação sofreu um deslocamento de significado ao ser incorporado pelo Movimento, abrindo espaço para uma comunicação mais oralizada e coloquial. Em meio a estas discussões, freqüentemente surgia, em tom de piada, uma provocação quanto aos modos de tratamento pelos quais algumas pessoas costumavam tratar seus pares: “E então,

fala aí negão! Fala negão”.

Essa forma de falar foi desenvolvida como maneira de se expressar e se manifestar, de expor idéias sobre os assuntos que eram percebidos pelas pessoas que participavam das rodas de discussões sobre o Movimento Negro.

Logo após o término dos desfiles das escolas de samba de São Paulo, Gilson Vitório e Maria da Penha iam para o Rio de Janeiro para assistir ao desfile

das escolas campeãs. A partir de uma conversa sobre a necessidade de criar uma entidade que pudesse divulgar as idéias sobre cultura que poderia ser representada na forma de se expressar, o que era uma brincadeira ou uma provocação passou a ser uma forma de manifestação cultural.

O Movimento Fala Negão Fala Mulher tem como principal preocupação os moradores da Zona Leste, embora sua ação abranja boa parte da população pobre, principalmente a negra, em outras regiões da cidade. Suas atividades procuram alcançar as classes populares, consideradas sujeitos sociais ativos, capazes de participar da transformação da comunidade em que vivem e de toda a sociedade.

Situar as relações de tensão na própria cidade, que tem suas particularidades dentro do espaço cultural e suas próprias características, a Zona Leste agrega diversas culturas de diferentes formações étnicas. Isso pode ser encontrado em bairros como o Bexiga e a Liberdade. Bairros estes que se localizam próximo ao centro da cidade de São Paulo, onde a concentração de descendentes de imigrantes italianos e portugueses deixou marcas de seus modos de vida em construções de edifícios e igrejas, que recordam as

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