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Os resultados indicam baixa prevalência do vírus TTV em todas as amostras deste estudo, quando comparados a outros agentes virais como o Adenovírus e Enterovírus. Estes vírus têm sido encontrados em percentual superior ao TTV, para águas de superfície a ocorrência de ambos os vírus já tem sido relatada em 76,8% (53/69) e para água de torneira 58% (29/50), em estudo realizado na Korea (LEE et al., 2005). Recentemente, no Brasil, Barella et al. (2009), demonstraram alta prevalência de Adenovírus em geral (100%) e 84% (42/50) para o Adenovírus humano da espécie F, alta ocorrência também para o vírus da Hepatite A (HAV) 48% (24/50) em amostras de esgoto doméstico da cidade de Limeira, São Paulo, durante um ano de estudo. Tais estudos demonstram em comparação ao TTV, que a ocorrência do mesmo é apenas esporádica em amostras ambientais previamente contaminadas e de água tratada oriundas de nosso estado, ainda que tenhamos carência de estudos analisando o mesmo conjunto de amostras para diferentes vírus.

Neste estudo, obtivemos 12,5% (1/8) de amostras positivas para o TTV em efluente tratado coletado na ETE - São João. Por outro lado, todas as amostras de efluente bruto desta ETE foram negativas para o TTV. Desta forma, não há estudos envolvendo a pesquisa de TTV em amostras de efluentes de estação de tratamento no Brasil. Este resultado está muito distante dos resultados encontrados por Haramoto et al. (2005a), que identificou a presença do TTV em 97% das amostras de afluente de esgoto no Japão (93/96), demonstrando que o vírus esta amplamente disseminado nestas amostras. Neste estudo, dezoito por cento foram do efluente foram positivas para o TTV antes da cloração e 24% das amostras de efluente final foram positivas durante um ano de estudo realizado no Japão. Além disto, o referido estudo também demonstrou a ausência de TTV no efluente para reuso, o qual passa por um processo de tratamento que utiliza filtração e ozonização. Outro estudo também realizado por Haramoto et al. (2008) naquele país, revelou elevadas quantidades de TTV em águas residuárias, chegando atingir valores de 4,8 x 104 cópias de genoma por litro de água. Em resultados semelhantes ao encontrado neste trabalho, Vaidya et al. (2002) na Índia, mostraram a presença do TTV em 14,5% em amostras processadas por ensaios moleculares Nested PCR (nPCR) em

esgoto antes do tratamento e 2% de amostras positivas para o TTV em amostras após o tratamento de esgoto, significando desta forma prevalência muito baixa deste vírus em esgoto bruto e esgoto tratado. A alta presença de indicadores de contaminação fecal bacteriana do grupo coliforme não apresentou relação com a presença do TTV nestas análises. Altos índices de bactérias do grupo coliformes, especialmente a E. coli de origem exclusivamente fecal, estão relacionadas com regiões caracterizadas pela grande massa populacional que descarta seus efluentes líquidos em esgotamentos sanitários captados e tratados pela ETE São João – Navegantes. Os níveis elevados principalmente de E.coli no efluente tratado não estão entre os limites máximos aceitáveis de 4.000 NPM/100 mL (BRASIL, 2005a) para o descarte em corpos hídricos. Desta forma, sugere-se que os métodos de tratamento destes efluentes nesta estação de tratamento sejam revistos para evitar o lançamento de águas excessivamente contaminadas em corpos receptores.

O trabalho desenvolvido por Diniz-Mendes et al. (2008), demonstraram alta prevalência do TTV em amostras extraídas de um córrego localizado na cidade de Manaus. No referido estudo 92% (48/52) das amostras foram positivas para o TTV identificadas por PCR em Tempo Real (qPCR) e 37% (19/52) quando processadas por PCR convencional, durante um ano de estudo. No estudo aqui apresentado, evidenciou-se baixa prevalência do TTV em amostras obtidas do Arroio Dilúvio em Porto Alegre, onde detectou-se a presença do Torque teno vírus em 28,5% (4/14) das amostras estudadas. Resultados deste estudo, quando comparado ao de Diniz-Mendez et al. (2008) observa-se semelhança, pois ambos obtiveram baixa positividade para o TTV 28,5% e 37% quando da utilização do método por PCR convencional. Salienta-se aqui a diferença encontrada por Diniz-Mendez et al. (2008), quanto à utilização das técnicas moleculares, pois os mesmos identificaram 37% de positividade por PCR convencional e 92% quando processada por PCR em Tempo Real (qPCR). Além disto, neste estudo observou-se uma maior positividade do TTV no ponto 5, onde o Arroio Dilúvio deságua no Lago Guaíba. Neste local, ocorre a mistura das águas do Arroio com a do Lago Guaíba, demonstrando que pode haver interferência na composição das águas neste ponto, e assim sugere-se uma maior investigação em águas neste local. Em relação aos resultados da análise bacteriana nas amostras do Arroio Dilúvio, embora o trabalho tenha objetivado a verificação da contaminação por bactérias do grupo coliformes, especialmente do

subgrupo coli que estão presentes nestas águas, a presença de outros grupos bacterianos foi identificada, demonstrando a diversidade de microrganismos bacterianos disponíveis nestas águas. De acordo com a legislação vigente estas não são padrão microbiológico de potabilidade da água para consumo humano, mas podem estar relacionados a problemas de saúde pública. Muitos destes grupos bacterianos são freqüentemente isolados de pacientes portadores de infecções gastrointestinais, a exemplo da Salmonella, grande responsável por intoxicações alimentares (COSTALUNGA e TONDO 2002; SHINOHARA et al., 2008). Especialmente a S. typhi, Salmonella entérica responsável por causar a febre tifóide, muito frequente em países em desenvolvimento e associada a precárias condições de saneamento e higiene, pode ser transmitida por veiculação hídrica, provocado sérios problemas à saúde (MIRZA et al., 2000). Além disto, S. typhi, foi encontrada em água de poços, provocando surto que afetou 10 indivíduos em 2 dias, numa região da Turquia (ISERI et al., 2009). Embora doenças como a febre tifóide estejam relacionadas à falta de saneamento básico, na região Sul do país um caso desta doença foi recentemente diagnosticado em um paciente que reside em Maringá/PR. Esta cidade possui índices de coleta e tratamento de esgoto próximos de 88% (SCODRO et al., 2008). Estes dados são de fundamental importância, pois de acordo com Joshi et al. (1973), bactérias do grupo Salmonella não foram eliminadas por processo de tratamento por lagoas de estabilização de águas residuais domésticas quando da utilização de 2 células no tratamento. Por outro lado, estiveram ausentes no tratamento em águas domésticas que foram processadas utilizando 3 células. Desta forma, entende-se que a ocorrência em alguns casos de enfermidades provocadas por estes microrganismos também pode estar associada à ineficiência do tratamento de água.

Os resultados da análise virológica para amostras oriundas de torneira de escolas municipais e estaduais mostraram que quando analisadas no contexto geral para as três cidades, o TTV foi detectado em 11,7% (4/34) de todas as amostras deste tipo. Porém quando os resultados são analisados individualmente por cidade e por caracterização de escola (municipal ou estadual), observa-se a presença de 25% (2/8), 10,5% (2/19) e 0% (0/7) respectivamente para escolas municipais de Pelotas, escolas estaduais e municipais de Caxias do Sul e escolas municipais e estaduais de Santa Cruz do Sul (Tabela 2). Com isso evidencia-se a diferença da

presença do TTV nas diferentes regiões de nosso estado, onde se observa a ausência do TTV em uma cidade e presença em 25% e 10,5% para outras duas.microrregiões. No entanto, não há outros trabalhos que demonstram a pesquisa de TTV em amostras de água tratada obtida de torneira. Vários estudos têm detectado a presença de vírus entéricos, especialmente de Enterovírus e Adenovírus, em água de torneiras em áreas urbanas na região da Korea. No referido estudo, Lee e Kim (2002), identificaram que 47,8% (11/23) das amostras foram positivas para o Enterovírus e 39,1% (9/23) para o Adenovírus, e ambos os agentes virais foram detectados em 21,7% (5/23) das amostras. Estes dados demonstram a contaminação e alta prevalência de vírus entéricos em água de torneira distribuída à população. Neste ponto, outro estudo também identificou a presença do vírus Norovírus (NV) em águas de torneira no Japão, onde os autores detectaram para os NV-G1 e NV-G2 4,1% (4/98) e 7,1% (7/98) respectivamente (HARAMOTO, KATAYAMA e OHGAKI 2004). Portanto, nossas análises, bem como os resultados citados por outros autores, demonstram que agentes virais persistem em águas mesmo após o tratamento, indicando que agentes virais entéricos são resistentes aos processos de tratamento convencional prestados por serviços de saneamento em águas destinadas ao consumo humano. Os resultados da análise bacteriológica, em água de torneira, demonstraram que 8% das escolas municipais e estaduais de Porto Alegre apresentaram água imprópria para consumo, com presença de coliformes fecais nestas amostras. Com isso, os dados indicam que os métodos de tratamentos convencionais usualmente adotados devam ser revistos quanto a sua eficácia na remoção de contaminantes de origem fecal.

Em relação aos resultados da análise de água mineral, nenhuma amostra foi positiva para o TTV. Embora não há trabalhos envolvendo a pesquisa com o TTV em amostras de água mineral, cabe salientar a presença de outros vírus em amostras desta origem. De acordo com estudo realizado por Beuret et al. (2002), uma alta prevalência do vírus Norovírus (NV) foi encontrada em diferentes marcas de água mineral em países europeus. Neste estudo 85% das amostras de águas minerais foram positivas para este vírus utilizando amplificação de acido nucléicos e RT - PCR. Além disto, estudo realizado por Biziagos et al. (1988) para a presença dos vírus Hepatite A e vírus Políovírus Tipo 1, demonstrou que ambos os agentes virais foram detectados em garrafas de água mineral mantidas por um período de

um ano em temperatura de 4ºC. Quando as águas foram armazenadas a temperatura ambiente o Poliovírus tipo 1 não foi detectado após este período, embora o vírus da hepatite A ainda permanecia infeccioso. Estes dados demonstram assim, resistência por 1 ano em água mineral de ambos os vírus a temperatura de 4º C e resistência do vírus da hepatite A também em temperatura ambiente. No presente estudo, ainda que houvesse contaminação por coliformes termotolerantes nas amostras de água mineral, não foi detectada a presença do vírus TTV. As análises de colimetria apontaram a ausência de coliformes termotolerantes para todas as amostras de água mineral testadas, porém a presença de coliformes totais foi constatada em todos os exemplares. Não há neste caso, nenhuma correlação demonstrável entre a presença de TTV e coliformes, portanto.

Outros estudos realizados em amostras de água oriundas de rios demonstraram baixa prevalência do vírus TTV, ao que foi observado na Itália por Verani et al. (2006), onde neste estudo realizado por ensaios molecular PCR o TTV esteve presente em 25% das amostras analisadas durante um ano de estudo, indicando baixa prevalência para o TTV em amostras de água oriundas de um rio que recebe efluentes da estação de tratamento. De maneira semelhante, estudo realizado por Haramoto et al. (2009) o TTV foi detectado em 5,6% ( 1/18) das amostras de água obtidas em 18 rios no Japão. Há que ressaltar que parece haver grande variação nas taxas de contaminação por TTV conforme o tipo de água analisado, vide os trabalhos de Haramoto et al. (2005a, 2009) citados: 97% de contaminação em afluentes de esgoto, contra apenas 5,6% em águas de rio.

Desta forma, os resultados aqui apresentados indicam que o TTV não seria indicado como um marcador de contaminação fecal em águas em geral, mas talvez tenha um valor como marcador em um ou outro tipo de água. Tal fato ainda não foi totalmente elucidado para outros agentes virais.

Futuros estudos devem ser realizados com o TTV, buscando compreender a biologia deste vírus, especialmente tentando identificar as estratégias de disseminação do vírus nas populações humanas e animais. Além disto, outros estudos buscando principalmente identificar a presença do TTV na população humana e animal de nosso estado também se fazem necessários.

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