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6. Recolha e exportação dos dados

8.1. Discussão da metodologia

A amostra foi constituída por seis instrutoras de Hidroginástica, com as seguintes características: (i) sem qualquer patologia músculo-esquelética nos últimos seis meses, o que garante evitar problemas éticos e de deterioração na execução técnica do movimento; (ii) com experiência na leccionação desta actividade, garantindo uma boa técnica de execução, pelo conhecimento da mesma, e sem que o factor fadiga influencie a técnica de execução, ao longo do protocolo incremental aplicado.

A aplicação do protocolo com recolha de imagens decorreu numa piscina de 16,66x8x0,9 m em aclive, climatizada, com a água a 30º C e 75% de humidade relativa. Relativamente à temperatura da água, esta encontrava-se em conformidade com as directrizes da AEA [14], devendo a mesma variar entre os 28 e os 30ºC para os programas de Hidroginástica. Esta amplitude térmica possibilitará que o corpo reaja de acordo com os pressupostos fisiológicos aquando da imersão, aos exercícios e ao seu aumento de temperatura corporal [54]. No que diz respeito ao nível de imersão, os sujeitos estavam imersos ao nível do apêndice xifóide, pois, para que em termos fisiológicos e mecânicos se verifiquem benefícios inerentes a esta actividade, considera- se que os praticantes devem estar imersos no mínimo até ao nível referido [21,150]. Mais ainda, o reduzido desvio padrão na estatura das instrutoras revela a preocupação de estas

terem uma estatura que se ajusta ao nível de imersão desejado, visto ser aplicado o estudo numa piscina com fundo em aclive. Durante a imersão até ao apêndice xifóide, a maior intensidade da força de impulsão hidrostática atenua significativamente a intensidade da força do peso hidrostático, o que faz com que haja um menor peso percepcionado, um menor trabalho por parte dos músculos (fundamentalmente dos posturais) que são assistidos pela força de impulsão, e consequentemente, ocorre uma redução da força de reacção ao solo [20,168].

Antes de se iniciar a aquisição das imagens, cada sujeito efectuou um curto aquecimento, consistindo na realização do movimento básico que posteriormente iria ser estudado. Este aquecimento teve como objectivo preparar e orientar física e psicologicamente os sujeitos para a actividade que se seguia, e também solicitar os grupos musculares que iriam ser trabalhados posteriormente, aquando do protocolo experimental. O aquecimento foi efectuado a um ritmo auto-seleccionado, executando de forma cíclica com uma duração não superior a 8-10 minutos. A duração enunciada deve-se a, segundo diversos autores [8;18;154;197], esta fase não dever exceder os 10 minutos.

A tarefa experimental consistiu na realização de um teste incremental e progressivo em patamares de quatro frases musicais de 32 tempos (16 movimentos completos), para cada cadência musical de 80%, 90%, 100%, 110% e 120% da R4 [23], que corresponde, respectivamente a 120, 135, 150, 165 e 180 bpm, do movimento básico Pontapé Lateral. A definição das cadências musicais teve em conta as directrizes da AEA [14], em que se sugere, para as tradicionais actividades aeróbias em água rasa, a utilização de um ritmo de aproximadamente 125 a 150 bpm, em tempo de água. Quis- se, portanto, comparar cinematicamente o movimento Pontapé Lateral, em duas

cadências musicais (i.e., mais “lentas”), numa próxima da R4 e outras duas altas (i.e., mais “rápidas”).

Para controlo da cadência musical foi utilizado um metrónomo digital ligado a um sistema de som. Evitou-se o recurso a faixas de música comercial já que a componente melódica da música tem vindo a ser associada a alterações na performance de execução de habilidades motoras [132].

Para a recolha das imagens foram utilizadas câmaras de vídeo, em detrimento de outras técnicas como a cinematografia, a cronociclografia, a cineradiografia e a estroboscopia. Com efeito, estas são técnicas hoje em dia tidas como um tanto obsoletas, já que a videografia permite obter imagens de alta qualidade fotograma a fotograma, com menor custo do material e maior facilidade de digitalização [26]. Este mesmo tipo de equipamentos é utilizado sistematicamente para análises cinemáticas de outras actividades aquáticas, com especial referência para a Natação Pura Desportiva [19,22]

Dado que o presente estudo analisou os movimentos em 2D, a sua passagem 3D em imagens 2D foi efectuada considerando a transformação geométrica (i.e., o posicionamento das câmaras) e a transformação de visualização (i.e., a projecção da câmara). Quase todos os movimentos na Hidroginástica envolvem movimentos 3D. O movimento Pontapé Lateral foi registado no plano frontal, que divide o corpo verticalmente, nas suas duas metades anterior e posterior [187], visto ser um movimento de abdução e adução dos MI e uma flexão lateral do tronco [186] com rotação em torno do eixo imaginário anteroposterior [187]. Apesar das vantagens e das desvantagens que quer as análises 2D, quer as análises 3D suportam, segundo Hay [99], a utilização de análises planares não serão as mais apropriadas. Não quer isso dizer que esse tipo de estudos seja de todo inapropriados. Significa que as análises 3D revelarão informações

mais completas do movimento, mais próximas da realidade, como suporta Bartlett [26]. Optou-se por um estudo 2D, na medida em que: (i) a quantidade de equipamento é menor, sendo mais económico; (ii) são necessários menos procedimentos de digitalização e dado o tempo disponível para a realização do estudo, foi a forma mais exequível; (iii) é mais fácil estabelecer relações entre os diversos parâmetros a analisar, (iv) apresenta menos problemas metodológicos [26] e; (v) o Pontapé Lateral caracteriza- se pela realização fundamentalmente de movimentos no plano frontal, como enunciado anteriormente.

Numa segunda fase, foi utilizado um programa informático de avaliação cinemática do movimento (i.e., APAS), visto ser um dos comercialmente mais utilizados [154] para este fim e também por ser de relativamente fácil operacionalização. Através do mesmo captaram-se os dados por meio de um procedimento manual de digitalização dos pontos de referência anatómica do indivíduo, em cada fotograma, já que à partida a marcação dos pontos será mais precisa. Os pontos de referência foram identificados por marcadores externos, afixados na superfície cutânea, para definir a posição dos segmentos corporais, deixando-os desta forma, mais visíveis para a captura das imagens [122]. Este método já foi utilizado em diversos estudos em meio aquático, não só em Hidroginástica [24;154;155].

A escolha do modelo antropométrico é um factor determinante no sucesso da análise biomecânica [222]. O modelo antropométrico usado foi o de Zatsiorsky- Seluyanov [222], ajustado por de Leva [61]. Com recurso ao dito modelo antropométrico, constituído por 19 pontos, e ao método segmentar, foi possível a determinação do CM global do corpo do sujeito em cada fotograma a partir dos valores estimados de massa parcial de cada segmento e das coordenadas definidas para a localização do centro de

consideração como um do corpo rígido não se apresentaria como solução ecologicamente válida, porque a coluna vertebral, no movimento estudado, não funciona como segmento rígido, existindo uma acentuada flexão lateral da mesma. A divisão do tronco em 3 segmentos aumentaria muito o tempo de digitalização das imagens, pois seriam mais pontos a digitalizar, não sendo logisticamente exequível no prazo definido para apresentação do trabalho académico. Mais ainda, coloca-se a questão se a divisão do tronco em três segmentos acrescentaria de forma substantiva qualidade ao processo de digitalização. Sendo assim, a solução intermédia foi usar o tronco dividido em 2 segmentos.

A determinação da linha de água foi feita com base na linha determinada pela reflexão da luz sobre a superfície da água, utilizada a mesma noutros estudos efectuados [51]

. A vantagem de se ter a linha de água definida consiste na possibilidade de determinar se os segmentos se encontram dentro ou fora de água, especialmente os MS, bem como, se a imersão se efectuava ao nível do apêndice xifóide, já que estes são pressupostos essenciais à prática da Hidroginástica.

Uma vez identificadas as marcas anatómicas em todos os fotogramas, foi feita a reconstrução da trajectória das mesmas, utilizando um dos métodos mais citados na literatura para este efeito (aplicação do algoritmo DLT) [1]. Estas trajectórias foram posteriormente suavizadas, removendo erros decorrentes de todo o processo de aquisição e tratamento do bio-sinal, como, p.e., erros de digitalização ou erros devido à distorção das lentes, aumentando assim a validade dos resultados. Para o efeito, empregou-se metodologia idêntica à indicada por Winter [212] e já utilizada recorrentemente na Natação Pura Desportiva [20], com recurso a dupla passagem de um filtro digital para eliminar desfasagens do sinal [22]. Para a filtragem dos dados utilizou- se o filtro digital Quintic Spline, para remover pequenos erros decorrentes do processo

de digitalização manual e semi-automática. Este é um algoritmo baseado num polinómio de 5ª ordem, adequado para movimentos cíclicos, como ocorrem na Hidroginástica. A frequência de corte foi de 5Hz, valor próximo dos 6Hz aconselhados por Winter [214]. A opção por este valor deve-se à procura de uma suavização mais completa, dado que foi a partir do deslocamento do CM que se determinou a velocidade e a aceleração do CM. Ora, acontece que pequenos erros observáveis aquando do deslocamento, e que não sejam removidos, tendem a aumentar de forma exponencial ao se determinar a primeira e a segunda derivada do deslocamento em ordem ao tempo.

A posterior conversão das coordenadas do sistema informático em coordenadas reais foi possível através da colocação de um sistema de coordenadas fixo conhecido e visível pelas câmaras, de maneira a que se pudesse efectuar a reconstituição 2D das imagens registadas. O processo DLT exige um mínimo de 4 pontos, para a conversão das coordenadas. Todavia, para minimizar o efeito de possíveis erros associados a respectiva conversão optou-se por adoptar 6 pontos.

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