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6. Recolha e exportação dos dados

8.2. Discussão dos resultados

Analisando o período do ciclo gestual com as cadências musicais impostas, encontrou-se uma relação significativa entre ambos (R2 = 0.50; P < 0.01). À medida que ocorre um incremento na cadência musical, verificou-se uma diminuição do período do ciclo gestual. Semelhantes resultados (R2 = 0.83; P < 0.01) foram reportados por Oliveira et al., [155], no estudo do Cavalo-Marinho enquanto movimento básico em estudo. O período do ciclo é obtido através da equação:

n i i

t

P

1 (2)

Onde P é o período do ciclo (s) e t é a duração (s) de cada fase, sendo o exercício constituído por i fases parciais. A duração de cada fase pode ser calculada como: i i i

v

d

t

(3)

Onde ti é a duração de cada fase parcial do exercício (s), di é o deslocamento do

segmento (m) durante a fase parcial e vi é a velocidade do segmento (m/s) durante a fase

parcial.

Assim, com o aumento da cadência musical, e como consequência, a diminuição de ti estará relacionada com: (i) a diminuição da di e a manutenção da vi ou; (ii); a

manutenção da di e o aumento da vi ou; (iii) a diminução da di e o aumento da vi.

Neste sentido, importa compreender o comportamento do deslocamento e da velocidade dos diversos segmentos corporais estudados, assim como do CM nas duas componentes espaciais (i.e., horizontal e vertical).

Relativamente ao deslocamento efectuado pelo CM verificou-se uma relação negativa e significativa entre o deslocamento horizontal, o deslocamento vertical e as cadências musicais analisadas (R2 = 0.25; P = 0.01 e R2 = 0.27; P < 0.01, respectivamente). O mesmo se verificou com os deslocamentos horizontal e vertical do TM (R2 = 0.16; P = 0.03 e R2 = 0.21; P = 0.01, respectivamente). Quanto aos pés, estes demonstraram uma relação não significativa entre os deslocamentos horizontal (PéDir:

R2 = 0.03; P = 0.35; PéEsq: R2 = 0.00; P = 0.94) e vertical (PéDir: R2 = 0.04; P = 0.30; PéEsq: R2 = 0.06; P = 0.21) e o protocolo incremental. Assim o deslocamento manteve- se relativamente estável à medida que a cadência musical aumentou. Semelhante resultado foi verificado para o deslocamento das mãos, apresentando uma relação não significativa entre o deslocamento horizontal (MãoDir: R2 = 0.01; P = 0.65; MãoEsq: R2 = 0.01; P = 0.63), deslocamento vertical (MãoDir: R2 = 0.01; P = 0.66; MãoEsq: R2 = 0.12; P = 0.06) e a cadência musical. Finalmente, os valores dos deslocamentos horizontal (P = 0.99) e vertical (P = 0.09) também evidenciaram uma relação não significativa, relativamente ao protocolo incremental, evidenciando uma tendência para se manter à medida que a cadência musical aumentava.

Verifica-se então, genericamente, que o deslocamento de determinados segmentos (i.e., anca, pés e mãos) não se alterou significativamente com o aumento da cadência musical. No entanto o CM e TM evidenciaram serem os pontos estudados que mais se relacionam com o aumento da cadência musical, em termos de deslocamento segmentar. O aumento da cadência musical impôs uma ligeira diminuição do deslocamento destes pontos. Num estudo sobre o tema [155], tendo o exercício do

Cavalo-Marinho como referência, verificou-se uma tendência para manter o

deslocamento dos segmentos corporais à medida que a cadência musical aumentava. Assim, os presentes resultados aproximam-se dos parcos dados existentes na literatura sobre o tema.

Com efeito, a literatura técnica sugere aos instrutores a utilização de cadências musicais (125-150 bpm) que possibilitem atingir uma certa qualidade de movimento de modo a que todos os benefícios inerentes à actividade em meio aquático sejam possíveis de se alcançar [14,114]. Para atingir esse desiderato, alguns factores devem intervir de

velocidade relativa [14]. Relativamente à amplitude do movimento, a partir do momento em que este perde a sua amplitude total pelo aumento excessivo da velocidade, a execução do mesmo não apresentará a melhor qualidade, pois o aumento da resistência hidrodinâmica através do aumento da velocidade de movimento só é produzido enquanto conservar a totalidade da amplitude. Logo para que em termos fisiológicos e mecânicos se manifestem os benefícios inerentes a esta actividade, os instrutores deverão privilegiar as cadências musicais sugeridas, podendo, para indivíduos com experiência na área e bons níveis de aptidão física, utilizar cadências musicais até pelo menos 180 bpm, no caso do exercício Pontapé Lateral. Segundo a AEA [14] é aconselhado aos instrutores usarem o tempo de água e meio tempo de água como ritmo de execução, cuja alternância e combinação permitirá a realização de movimentos amplos e completos. Mais ainda, vários estudos reportam significativos aumentos das respostas fisiológicas pela realização de diferentes exercícios de Hidroginástica durante protocolos incrementais, mais especificamente, através do aumento da cadência musical [23, 58]

. Por sua vez, este incremento na cadência musical e consequente aumento da velocidade, terá como resposta um aumento da frequência gestual e, portanto, uma diminuição do período. Comparando-se a transição da caminhada para a corrida, dentro e fora de água, verificou-se que dentro de água essa mesma transição ocorre a uma velocidade inferior e a frequência da passada é significativamente inferior, quando comparada fora de água [72;111]. Pode-se assim afirmar que quando existe um incremento da velocidade de execução, haverá um aumento da frequência de execução do movimento em questão. De acordo com Town & Bradley [201], para um dado comprimento da passada, a frequência da passada tenderá a aumentar com o aumento da velocidade de deslocamento. Mais ainda, como a força de resistência tem uma relação quadrática à velocidade de movimento, um maior arrasto induz um maior dispêndio

energético [138]. Também, segundo a AEA [14], a área de superfície frontal colocada contra a resistência horizontal da água estará hipoteticamente associada à quantidade de energia metabólica dispendida na prática do exercício. Para aumentar a resistência, basta ampliar a área de superfície e fazer o movimento em aceleração [2,53]. Assim pode- se especular que os presentes resultados do deslocamento se devem às características específicas da amostra, visto ser constituída por: (i) indivíduos especializados, ou seja, instrutores de Hidroginástica que estão conscientes da necessidade de manter a amplitude do movimento, independentemente da cadência musical imposta e, (ii) pessoas activas, cientes da técnica de execução do movimento em causa e fisicamente aptos para manter a amplitude do movimento, em diferentes cadências musicais, diminuindo o dispêndio energético referido. Se a amostra fosse constituída por alunos de Hidroginástica, possivelmente a amplitude do movimento tenderia a diminuir com o aumento do cadência musical. Este tipo de executantes poderão não estar tão cientes da necessidade de manter a amplitude do movimento. Outro ponto importante será, a sua aptidão física que, à partida, não estará tão afinada como a dos instrutores, de maneira a conseguir manter o ritmo de execução imposto com a manutenção da amplitude do movimento.

De acordo com a literatura técnica, as características dos indivíduos da amostra influenciam as respostas dos estudos efectuados. Para Kruel et al., [119] as respostas dos exercícios praticados, pelo menos na ginástica aeróbica, diferenciaram-se de acordo com as características de cada indivíduo, por exemplo: massa, estatura e velocidade de realização do exercício. Embora as características gerais dos exercícios praticados pelas pessoas sejam similares, há diferenças inter-individuais.

Relativamente à velocidade horizontal (R2 = 0.48; P < 0.01) e vertical (R2 = 0.6; P = 0.20) do CM, verificou-se uma tendência para aumentar ao longo do protocolo incremental. O mesmo aconteceu com a velocidade do TM (horizontal: R2 = 0.43; P < 0.01 e vertical: R2 = 0.07; P = 0.17) e com os valores da velocidade horizontal (R2 = 0.16; P = 0.03) e vertical (R2 = 0.21; P = 0.01) da anca. Por sua vez, os pés, demonstraram um aumento da velocidade horizontal (PéDir: R2 = 0.08; P = 0.13 e PéEsq: R2 = 0.10; P = 0.08) e vertical (PéDir: R2 = 0.35; P < 0.01 e PéEsq: R2 = 0.36; P < 0.01). O mesmo se verificou com as mãos, tanto para a velocidade horizontal (MãoDir: R2 = 0.47; P < 0.01 e MãoEsq: R2 = 0.09; P = 0.10), como para a vertical (MãoDir: R2 = 0.27; P < 0.01 e MãoEsq: R2 = 0.28; P < 0.01).

Comparando os valores da velocidade de execução do movimento seleccionado no nosso estudo em meio aquático, com outros (p.e. movimento básico de Hidroginástica Cavalo-Marinho, velocidade da passada) referidos na literatura [24,43,155], verifica-se que são semelhantes, expondo os referidos estudos valores médios coincidentes com os valores máximo e mínimo do presente estudo. Na análise do movimento básico Cavalo-Marinho, os valores da velocidade de execução demonstraram forte relação com o aumento da cadência musical, aumentando significativamente ao longo do protocolo incremental [155], tal como se verifica no presente estudo.

No que diz respeito à aceleração, o comportamento desta foi idêntico ao da velocidade, onde a aceleração horizontal (R2 = 0.18; P = 0.02) e vertical (R2 = 0.33; P < 0.01) do CM aumentou com o aumento da cadência musical, assim como a aceleração horizontal (R2 = 0.35; P < 0.01) e vertical (R2 = 0.26; P = 0.04) do TM e da anca (horizontal: R2 = 0.30; P < 0.01; vertical: R2 = 0.16; P = 0.03). Relativamente aos pés, evidenciaram um aumento da variável em questão, na sua componente horizontal

(PéDir: R2 = 0.12; P = 0.07 e PéEsq: R2 = 0.09; P = 0.11) e vertical (PéDir: R2 = 0.43; P <0.01 e PéEsq: R2 = 0.30; P = 0.02) com o incremento da cadência musical. O mesmo sucedeu com as mãos, onde os valores da aceleração horizontal (MãoDir: R2 = 0.35; P < 0.01 e MãoEsq: R2 = 0.15; P = 0.03), e vertical (MãoDir: R2 = 0.19; P = 0.02 e MãoEsq: R2 = 0.18; P = 0.02) se mostraram superiores com cadências musicais mais elevadas. Tanto quanto nos é dado saber, e salvo melhor opinião, não existe na literatura qualquer estudo cinemático em Hidroginástica com descrição de acelerações, pelo que a sua comparação com outros estudos é impraticável.

Com efeito, especula-se que alunos de Hidroginástica possam não apresentar um aumento da velocidade segmentar com o aumento da cadência musical. No entanto, em tese tem-se que:

v = r. (4)

Onde v se traduz pela velocidade linear do segmento (m/s), r o comprimento do segmento (m) e a velocidade angular do segmento (rad/s). Assim, diminuindo o r, a velocidade poderá diminuir. Ou seja, ainda que nunca verificado ou descrito, existe teoricamente a possibilidade de alunos “típicos” de Hidroginástica diminuírem a velocidade segmentar, dado que o aumento da cadência musical imporá uma menor amplitude de movimentos e/ou uma maior flexão de segmentos adjacentes reduzindo desta forma o r.

Procurando relacionar o comportamento de ambas as variáveis dependentes da duração relativa de cada fase (i.e., deslocamento e velocidade) parece que estas são explicativas da diminuição do período. Como indicado no início da discussão, a

associada à manutenção do deslocamento dos segmentos e ao aumento da velocidade dos mesmos.

Desta forma, a relativa tendência observada para a redução do deslocamento parece ter a ver com o aumento do arrasto provocado pelo aumento da cadência musical e como consequência o aumento da velocidade de execução e da sua aceleração. A força de arrasto expressa-se como:

D = 1/2.CD. .A.v2 (5)

onde, D é a resistência ao deslocamento, v a velocidade do movimento, CD o coeficiente

de arrasto, densidade do fluido e A a área da superfície projectada [131]. Pode-se constatar que esta força é proporcional ao quadrado da velocidade. Ou seja, quanto maior a velocidade de um segmento em movimento, maior será a resistência [138]. Assim, com o aumento da cadência musical, e como consequência a diminuição do período do ciclo, esta relaciona-se com a manutenção do deslocamento e o aumento da velocidade e aceleração.

Como também já indicado, pode-se especular que este controlo motor específico, bem como a estratégia biomecânica, pode estar relacionada com o perfil dos sujeitos analisados, onde eram: (i) indivíduos com experiência na modalidade, conscientes da necessidade de manter a amplitude do movimento, mesmo com o incremento da cadência musical e, (ii) pessoas com um bom nível de aptidão física, conhecedores da técnica de execução do movimento em questão, o que lhes permitiu manter a amplitude do movimento, em diferentes cadências musicais. Possivelmente, se a amostra fosse composta por alunos de Hidroginástica, esta situação não se verificaria, havendo uma tendência para o deslocamento diminuir e a velocidade se manter.

Desta forma, os dados relativos ao P, deslocamento e velocidade dos segmentos corporais do presente estudo corroboram os verificados num estudo efectuado por Oliveira et al., [155], onde se analisou a cinemática do movimento básico de Hidroginástica Cavalo-Marinho, como foi referenciado no capítulo Revisão da

Literatura.

9. CONCLUSÕES

Em jeito de conclusão do presente estudo, pode-se afirmar que:

1. O incremento na cadência musical induziu uma diminuição do período do ciclo gestual do movimento básico de Hidroginástica Pontapé Lateral;

2. O incremento na cadência musical não induziu variações significativas da amplitude de deslocamento do CM e dos diversos segmentos corporais estudados (i.e., TM, anca, pés e mãos), no movimento básico de Hidroginástica Pontapé Lateral;

3. O incremento na cadência musical induziu aumentos significativos da velocidade linear do CM e dos diversos segmentos corporais estudados (i.e., TM, anca, pés e mãos), no movimento básico de Hidroginástica Pontapé Lateral;

4. O incremento na cadência musical induziu aumentos significativos da aceleração linear do CM e dos diversos segmentos corporais estudados (i.e., TM, anca, pés e mãos), no movimento básico de Hidroginástica Pontapé Lateral.

movimentos. No entanto, aumentos da velocidade e da aceleração na transição de cadências musicais baixas para cadências musicais altas, revelam-se como estratégias eficazes na manutenção da amplitude do movimento em coerência com o ritmo musical solicitado. Assim, os instrutores de Hidroginástica devem ter em conta que para indivíduos com fortes vivências na modalidade e bons níveis de aptidão física, o aumento da cadência musical pode ser utilizado, sem que haja prejuízo na técnica de execução dos exercícios, ou no caso do exercício Pontapé Lateral, pelo menos até cadências de 180 bpm.

No entanto, qualquer estratégia com o intuito de aumentar a intensidade da aula (p.e. aumento da cadência musical, equipamento resistente, maior braço da alavanca) deverá ser implementada em função das características específicas do grupo de trabalho. Dada a heterogeneidade dos praticantes de uma classe de Hidroginástica, uma das estratégias mais eficazes é a de todos os alunos estarem a executar o mesmo exercício base, mas com as devidas alterações em função do perfil de cada um.

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