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5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.3 FAMÍLIA SOUZA

5.3.5 Discussão do caso: Família Souza

Por meio das entrevistas realizadas com Alana e Giovani a respeito de suas práticas educativas relacionadas ao desenvolvimento da autonomia de seus filhos adolescentes, podemos identificar três aspectos centrais em suas verbalizações, a saber: a transmissão de valores morais para os filhos, tais como o respeito ao próximo, a disciplina e a responsabilidade; a tendência pela adoção de práticas indutivas de diálogo, que proporcionam uma convivência permeada pelo apoio mútuo e afetividade no contexto familiar, tanto entre o casal quanto entre pais e filhos; e a ênfase à formação escolar.

Os achados encontrados na família Souza apontam para o uso de estratégias educativas indutivas para a criação dos filhos, com a presença de comunicação e suporte, regras familiares que visam à disciplina dos filhos, bem como o envolvimento na vida social do filho, como prioridades de Alan e Giovani. Sobre as habilidades positivas de Giovani para dialogar com o filho, buscando orientá-lo e apoiá-lo nas suas necessidades, Mondim (2008) explica que:

A habilidade dos pais em encontrar as necessidades de seus filhos para orientar e apoiar, intercambiando emoções positivas, pode revelar o grau de desenvolvimento de confiança e boa vontade para relacionar-se com os outros através de meios positivos (p. 234).

Portanto, os comportamentos valorizados pela família e esperados que sejam adotados pelos filhos devem ser ensinados pelos pais, visando o relacionamento parental favorável para o desenvolvimento saudável dos filhos. Na família Souza há indícios de condutas parentais consideradas positivas e protetoras do

desenvolvimento. Segundo Conte, 2001 (apud Mondin, 2008), são condutas parentais

favoráveis:

Uma condução calorosa, demonstração a aceitação do filho, a sua valorização pessoal, além do apoio às suas iniciativas, encorajamento ao desenvolvimento de competência social, frequência de interações mais positivas do que mais aversivas, expressão continua de afeto positivo, modelos de pais apropriados que favorecem a identificação dos filhos com eles, incentivo ao desenvolvimento da autonomia, como capacidade de fazer escolhas e da autodireção, aplicação de métodos racionais e verbais de disciplina e minimização de brigas e agressões entre os familiares (p. 237).

Disso decorre que, a partir dos resultados elencados nas categorias de análise no tópico anterior, é possível perceber que Alana e Giovani buscam atingir os objetivos disciplinares traçados para Valter: além de acompanhar e orientar, implicá-lo diante das consequências do seu próprio comportamento, deixando claro o que é esperado dentro do subsistema familiar. Tal afirmativa é consoante com a explicação de Hoffman (1975) a respeito da disciplina indutiva. Para este autor, envolve práticas educativas que comunicam aos filhos o desejo dos pais de que ele modifique o seu comportamento, induzindo-o a obedecer, direcionando-o para as consequências do seu comportamento, proporcionado, com isso, uma compreensão dos seus atos.

As práticas educativas indutivas, tanto de Alana quanto de Giovani, envolvem principalmente o incentivo através da concessão de privilégios. Isso pode ser observado na verbalização de Giovani sobre permitir o filho escolher para qual

restaurante ir quando o mesmo obtém êxito nas provas, assim como pela terceira vez autorizá-lo ir à Disney com os colegas porque não teve nota vermelha no boletim.

Do mesmo modo, relataram também a adoção de estratégias coercitivas de punição, quando necessário, justificando para o filho a solicitação da mudança de comportamento. Vemos no relato de Alana que, a partir do momento que Valter não cumpre as suas obrigações escolares, perde o direito às outras coisas. Igualmente,

Giovani referiu que, quando Valter não apresenta boas notas ou não emprega a

atenção devida para as atividades escolares ou se for “grosseiro” com a mãe, ele fica sem a autorização para ir à casa dos colegas, explicando-lhe o motivo.

Olhando o que foi aqui brevemente narrado, podemos notar que ambos

demonstram envolvimento com o filho no processo de educar e que, em vista disso, o

relacionamento do pai com o filho, da mãe com o filho e da mesma forma o relacionamento conjugal é permeado pelo diálogo e respeito.

Convém mencionar também que a análise das práticas educativas desempenhadas por Alana na educação de Valter aponta para um comprometimento de Alana e Giovani no exercício dos seus papéis de pai e mãe. Isso é evidenciado nos relatos que, por sua vez, são permeados por uma preocupação com a efetividade de suas práticas vislumbrando um futuro promissor e autônomo para Valter.

Como foi dito no início desse tópico, estes pais compreendem que, é por meio do estudo a melhor forma de preparar os filhos para um futuro promissor. Tanto Giovani quanto Alana relataram acompanhar diretamente tudo o que se relaciona com a educação formal do filho, valorizando o acesso à cultura e a formação profissional. Para isto, investem na escolha da escola, em curso de idiomas e na adoção de comportamentos familiares que reforcem o estudo, como o hábito da leitura em conjunto e as premiações para quem alcançar o melhor resultado.

De modo geral, a partir dos dados extraídos nas duas entrevistas, Alana e Giovani apresentam pensamentos convergentes quanto à qualidade na relação

conjugal, e isso provavelmente reflete em suas práticas educativas. Apartir dos dados

apresentados na primeira categoria de análise, tivemos acesso a alguns períodos da relação deles. Vimos que Alana se sobrecarregou quanto aos cuidados com os filhos, devido ao fato de Giovani trabalhar fora de Salvador em regime de plantão, potencializado pelo padrão de relação que ele mantém com a sua família de origem, de muita proximidade, subtraindo a possibilidade dos quatro estarem na convivência familiar com mais frequência.

Todavia, recentemente, algumas mudanças nos papéis e organização na família Souza, porém passaram a ocorrer. Com a proximidade do nascimento do terceiro filho do casal e após a aposentadoria de Giovani, ultimamente ele passou a acompanhar mais diretamente os filhos em suas rotinas e adotar mais diálogo com os filhos. De acordo com Berthoud (1997), a chegada de um novo membro na família é uma das razões que provoca a necessidade de revisão nos papéis e funções de cada membro da família, fazendo com que desejos e expectativas sejam confrontados com a realidade vivida.

Por conta disso, verificamos a grande interferência e participação de membros da família extensa na vida dos filhos – os avós e o irmão mais velho de Giovani. Além disso, foi visto a preocupação em transmitir às suas crianças os valores da família e de estimular a convivência delas com a família de origem paterna. Diante de tais

colocações, é importante considerar a concepção apresentada por Petrini et al (2007

apud MOREIRA; RABINOVICH, 2015) ao afirmarem que a família deve ser concebida

como um bem relacional importante e lugar no qual se dá o aprendizado de valores que favorecem as relações humanas.

Também foi possível observar a necessidade de Giovani em corresponder às expectativas e responder com obediência em relação aos seus pais, enfatizando principalmente a relação de maior proximidade, alta legitimação e respeito que mantém especialmente com o seu pai. Este aspecto, inclusive, pode justificar a ênfase dada por Giovani à importância atribuída a família na condução do processo educativo dos filhos. Apresentando um posicionamento diferente de Giovani, no que diz respeito ao padrão de relação estabelecido entre Alana e a sua família de origem, marcado por um maior distanciamento e menor comunicação entre os membros, podemos inferir que Alana estabelece uma relação com fronteiras mais rígidas com a sua família de origem, ou seja, mais restritivas, cujos limites provocam distanciamento e promovem autonomia, crescimento e desenvolvimento de recursos próprios (MINUCHIN, 1982), com relações mais desligadas entre ela e seus pais. Alana assegura que: “Quando eu tinha quinze anos não tinha essas coisas, eu nunca tive meu pai e minha mãe para me orientar, é assim, é assado, faz assim, não faz, não tive isso, mas eu me safei na vida por mim só”.

Verificamos a disponibilidade dos dois em acompanhar o filho em suas atividades, revelando maior disponibilidade e amadurecimento de Giovani, ultimamente, frente à participação na vida dos filhos. Embora Alana tenha assumido

que, de modo geral, adote práticas educativas mais superprotetoras, em relação ao esposo, por ter alguns receios com a falta de segurança, este dado parece não comprometer a boa comunicação e respeito quanto às decisões que cada um dos genitores toma em relação ao filho.

No que tange às questões advindas da fase de adolescência do filho, constatamos que Giovani adota estratégias de monitoramento em relação a Valter. Ele ressalta que, nesse período da vida, é necessária maior vigilância dos pais, e, para isso, não se abstém em participar do cotidiano dos filhos, inclusive ficar disponível para levar e buscar nas atividades sociais.

Alana, por sua vez, apesar de mencionar um contexto de insegurança social, se remeteu como diferencial da fase, o comportamento apresentado de modo geral pelos adolescentes: o de deixarem o estudo em um segundo plano, exigindo dos pais um maior controle. Especificamente citou também a preferência dos jovens por estar na companhia dos amigos.

Em meio a estes aspectos, a entrevistada também associou os traços de personalidade do filho com as demandas da adolescência, ponderando que Valter é um adolescente colaborativo e de fácil convivência, demonstrando obediência aos pais e que, portanto, não há uma rebeldia típica do adolescente.

Diante do que foi observado nas entrevistas, pai e mãe integram aspectos

comportamentais e afetivos envolvidos na educação do filho. Os seus aspectos

comportamentais se aproximam do estilo autoritativo ou autorizante, conforme classificação apresentada por Baumrind (1966). Eles mostraram-se flexíveis e abertos ao diálogo, trocas e negociações de acordos e regras no processo educativo do filho, que, segundo esta autora, estimula condutas maduras e à análise das consequências de seus atos. Desta forma, há promoção de valores positivos, permeado pelo alto envolvimento, controle e apoio parental, com limites e regras claras, comunicação aberta entre filhos e pais. Logo, podemos depreender que incentivam a autonomia, independência e a individualidade dos filhos.