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Discussão dos resultados

No documento A organização narrativa em adultos (páginas 103-142)

Parte II. Análise da Organização Narrativa em Adultos: Comparação

4. Discussão dos resultados

Após a apresentação dos resultados passemos então à sua discussão, dando-lhes um sentido e tentando dar resposta às questões levantadas pela presente investigação.

Seguindo os passos da apresentação dos resultados, iniciaremos esta discussão caracterizando o perfil narrativo de adultos sem psicopatologia através das narrativas auto- biográficas e das narrativas de ficção, passando, de seguida, à comparação entre ambas. Posteriormente, importará estabelecer de que forma o perfil das narrativas autobiográficas se distingue dos resultados obtidos em estudos anteriores realizados com adultos com diagnóstico psicopatológico, de agorafobia e de dependência de opiáceos, respectivamente. Por último, com o objectivo de aumentar o conhecimento quanto à evolução e desenvolvimento da matriz narrativa (com base nas narrativas de ficção), teremos oportunidade de nos debruçar sobre os resultados dos adultos obtidos nesta investigação na sua relação com os resultados de crianças e de adolescentes, recolhidas em estudos anteriores, já descritos na parte teórica deste estudo. Tendo em conta esses dados, será ainda possível perceber de que forma as mesmas variáveis sócio-demográficas (Sexo e Nível Sócio-cultural) se manifestam nas diferentes etapas de desenvolvimento.

4.1 O perfil narrativo de adultos

Iremos introduzir esta discussão com a análise dos perfis narrativos do discurso autobiográfico e de ficção de 126 adultos sem perturbação psicológica. O facto dos resultados das duas tarefas narrativas serem semelhantes, permite-nos fazer uma análise conjunta.

Os resultados indicam-nos que a Estrutura é a dimensão caracterizada por uma maior

riqueza, revelando que a capacidade de narrar histórias coerentes e organizadoras é uma característica importante na matriz narrativa destes adultos. Em ambas as narrativas, os quatro

parâmetros da Estrutura (Orientação, Sequência Estrutural, Comprometimento Avaliativo e

Integração) revelam-se superiores ao nível moderado, permitindo afirmar que estes adultos demonstram: uma boa capacidade de orientação e clarificação do contexto em que as personagens se movem e do espaço em que ocorrem os acontecimentos, permitindo uma boa

compreensão da narrativa; uma boa capacidade de sequenciar temporalmente os acontecimentos; uma riqueza quanto à forma como se envolvem emocionalmente ao narrarem os factos, dando um cunho afectivo à narrativa e uma boa capacidade de integração da informação, dotando a narrativa de um fio condutor que permite aos ouvintes partilharem um sentido comum.

Na análise comparativa entre as duas tarefas narrativas, percebemos que o valor da Integração nas narrativas de ficção revelou ser significativamente mais elevado do que o valor da Integração nas narrativas autobiográficas, facto que pode ter sido facilitado pela visualização do livro no momento de narrar, contribuindo para aumentar a capacidade de integrar a narrativa num todo coerente.

O Conteúdo apresenta-se como a segunda Dimensão mais elevada onde as Personagens e os Acontecimentos se apresentam acima do nível moderado nas duas narrativas e ainda os

Cenários nas narrativas de ficção, conotando com diversidade de conteúdos as experiências

narradas. Quanto ao parâmetro Temas,o facto de se situar abaixo do nível moderado em ambas

as narrativas, parece poder ser bem explicado devido às tarefas de elicitação de narrativas propostas, puderem condicionar o sujeito a limitar-se a um ou dois temas centrais. Apenas as

Personagens revelam diferenças estatisticamente significativas com um valor mais elevado para as narrativas autobiográficas. Tal resultado pode parecer surpreendente tendo em conta que o número de personagens existentes no livro que serviu de instrumento à tarefa de indução das

narrativas de ficção ser elevado. No entanto, por esse mesmo motivo, a cotação do Conteúdo

nas narrativas de ficção foi definida por critérios qualitativos, em contraste com os critérios

quantitativos de cotação do Conteúdo das narrativas autobiográficas, de forma a evitar uma

grande disparidade na cotação das Sub-dimensões devido às características inerentes à própria

tarefa. Ou seja, os critérios que definiram a pontuação das Personagens das narrativas de ficção

(que se estabeleceram mais pela riqueza e relevância atribuída à personagem dentro da história, sendo que a mera nomeação da personagem não seria suficiente para lhe atribuir um ponto) poderão ter beneficiado a cotação das personagens nas narrativas autobiográficas cuja nomeação seria tida em conta, desde que a personagem se mostrasse relevante para a história, não significando, este resultado, que as narrativas autobiográficas tenham o número de personagens literalmente superior às outras.

Por fim, situa-se o Processo, com valores sempre abaixo do nível moderado, à excepção da Objectivação nas narrativas de ficção que se encontra ligeiramente acima do nível moderado. Podemos assim perceber que os elementos de expressão das variáveis internas ao nível sensorial, mas principalmente, ao nível das emoções e dos sentimentos, ao nível da atitude reflexiva e ao nível da significação da experiência serão aqueles que, embora existentes, serão menos representativos ou menos expressos na matriz narrativa. Embora a Nota Global do

Processo das duas tarefas narrativas não revele diferenças estatisticamente significativas, podemos perceber, através de uma análise mais fina, que existem diferenças em todos os pares

das Sub-dimensões, sendo que, o grau de Metaforização e de Subjectivação Cognitiva é mais

elevado nas narrativas autobiográficas e que o contrário sucede para a SubjectivaçãoEmocional

e para a Objectivação. Assim, parece-nos que estes sujeitos quando narram acontecimentos que

experienciaram, apresentam uma maior tendência ou facilidade em narrar aspectos e detalhes do discurso interno, tais como pensamentos, ideias, desejos, sonhos, hipóteses interpretativas e em atribuir um significado ao episódio de vida em causa. Por outro lado, encontrou-se uma maior facilidade na diferenciação de aspectos sensoriais e emocionais nas narrativas de ficção, o que talvez se possa atribuir ao facto de esses elementos se encontrarem bem representados nas imagens do livro.

4.2 Comparação das narrativas dos adultos sem psicopatologia e dos adultos com diagnóstico de perturbação psicológica

Os resultados das narrativas dos adultos sem psicopatologia recolhidas pela presente investigação foram comparados com dois grupos clínicos, primeiramente, tidos como se de um só grupo clínico se tratasse e, num segundo momento, tidos como dois grupos com diagnóstico distinto, nomeadamente, agorafobia e dependência de opiáceos. Para ambas as situações foram analisadas as Notas Globais e as notas das Sub-dimensões.

Os resultados que decorreram das comparações revelam um padrão equivalente nas três amostras que reflecte uma maior riqueza da Estrutura, seguida do Conteúdo e, por fim do Processo. Não obstante a correspondência a nível deste padrão, podemos verificar que os sujeitos sem perturbação clínica apresentam uma maior riqueza narrativa, distinguindo-se na

forma como dão coerência à Estrutura narrativa, como diversificam os Conteúdos narrativos e

como complexificam o Processo narrativo. Este resultado vem ao encontro da nossa expectativa

baseada no pressuposto de que a autoria se encontra inibida quando existe perturbação emocional. Também de acordo com o esperado, tais diferenças verificam-se tanto quando os grupos clínicos são comparados como um todo, como quando são tidos como amostras distintas. Neste caso, como já tivemos oportunidade de ver, os valores dos sujeitos sem psicopatologia são os mais elevados, seguindo-lhes os sujeitos diagnosticados com agorafobia e, por fim, os sujeitos com dependência de opiáceos. Ainda assim, verifica-se que as diferenças ao

nível das duas amostras clínicas só têm relevância estatística quanto ao Processo, sendo

precisamente esta a Dimensão a única em que não encontramos diferenças significativas entre o grupo normativo e o grupo de pacientes com agorafobia. Por este motivo, parece claro que, ao

nível da Estrutura e do Conteúdo as duas amostras clínicas parecem aproximar-se e que, ao

nível do Processo a amostra de sujeitos com agorafobia parece aproximar-se da amostra dos

sujeitos sem psicopatologia que, por sua vez, revela uma maior distância entre a amostra de sujeitos dependentes de opiáceos.

Vejamos agora com mais detalhe, como esses resultados se traduziram ao nível das Sub- dimensões.

Ao nível da Estrutura, as diferenças encontradas entre as Sub-dimensões do grupo

normativo e do grupo clínico tido como um todo, são sempre significativas, à excepção do

Comprometimento Avaliativo. Assim sendo, parece claro que os sujeitos diagnosticados com perturbação clínica apresentaram maior dificuldade em organizar a experiência de forma coerente, organizada e integrada, embora não difiram dos sujeitos sem psicopatologia, na forma como se envolvem na narrativa que escolheram para narrar, fazendo adivinhar que esta capacidade não se encontra comprometida no grupo clínico. Note-se, ainda, que para o grupo

clínico, a Sub-dimensão mais elevada foi precisamente o Comprometimento Avaliativo, enquanto

que no grupo normativo, ainda que as diferenças não tenham relevância estatística, as Sub-

dimensões mais elevadas foram a Orientação e a Integração.

Quanto ao Processo, uma análise mais fina pelas Sub-dimensões, permite-nos verificar

sujeitos com perturbação clínica em explorar de forma diversificada o mundo sensorial. É ainda de notar que, ao nível da Subjectivação Emocional e da Metaforização, as notas do grupo clínico se revelaram superiores às notas do grupo normativo, ainda que sem relevância estatística. Esta superioridade parece dever-se particularmente ao grupo de sujeitos com agorafobia já que, quando comparados os três grupos esta amostra é mais elevada dos que as outras amostras no

que toca à Metaforização e à Subjectivação Emocional e é semelhante ao grupo normativo

quanto à Subjectivação Cognitiva. Embora estes valores mais elevados na amostra de pacientes

agorafóbicos possa parecer uma contradição, é importante ter em conta que tais diferenças não

são significativas, enquanto que, a Objectivação se revela significativamente mais elevada na

amostra normativa em relação às duas amostras clínicas e a Subjectivação Cognitiva se revela

significativamente mais elevada na amostra normativa em relação aos sujeitos dependentes de

opiáceos. Ainda que, de uma forma geral, os resultados das várias amostras ao nível do

Processo sejam pobres, os resultados ao nível da Objectivação, sugerem uma maior dificuldade dos sujeitos com estes diagnósticos clínicos em descrever aspectos externos da experiência e em explorar a multiplicidade do mundo sensorial e dos sujeitos com diagnóstico de dependência

de opiáceos em apresentarem uma acentuada pobreza, quanto à exploração de pensamentos,

ideias e planos pessoais (Subjectivação Cognitiva).

No que toca à comparação entre as duas amostras clínicas, verificamos que as diferenças

significativas se situam apenas ao nível da Subjectivação Emocional, com valores mais elevados

para os sujeitos com diagnóstico de agorafobia.

Pela análise mais detalhada do Conteúdo, verificamos que os sujeitos com perturbação

clínica revelam uma menor riqueza quanto à diversidade de Personagens, Cenários e Acções,

com valores sempre abaixo do moderado, do que grupo normativo cujos valores se situam no

nível moderado. Quanto à Sub-dimensão Temas, qualquer uma das amostras revela valores

muito abaixo do nível moderado. Tal facto poderá ser justificado pela natureza da tarefa de

Elicitação de Narrativa Autobiográfica utilizada nas três amostras que, ao convidar à narração de um episódio de vida, parece condicionar o sujeito a limitar-se a um ou dois temas centrais.

Em resumo, podemos afirmar que se verificou uma tendência para uma maior riqueza narrativa no grupo sem psicopatologia, seguido do grupo dos sujeitos com diagnóstico de agorafobia e, por fim, o grupo dos sujeitos diagnosticados como dependentes de opiáceos,

revelando as narrativas mais pobres em todas as Dimensões. Detalhando essas diferenças percebemos que é precisamente ao nível das Dimensões cuja riqueza da amostra normativa é

maior, isto é, ao nível da Estrutura e do Conteúdo, que se encontra um maior distanciamento

relativamente às amostras clínicas. Quanto ao Processo que revelou ser a Dimensão cujos

valores foram mais pobres nas três amostras, as diferenças foram menos acentuadas.

O facto de aumentarmos o conhecimento quanto às especificidades de cada uma das amostras clínicas poderá ser útil na tomada de decisão do terapeuta que adopte como medida de intervenção a exploração da riqueza das Sub-dimensões da matriz narrativa.

4.3 Análise do desenvolvimento narrativo

A análise do desenvolvimento narrativo teve em conta as diferenças encontradas ao nível da Estrutura, do Processo e do Conteúdo nas narrativas de ficção em diferentes Etapas de Desenvolvimento, a infância, a adolescência e a idade adulta, bem como a avaliação da tendência evolutiva ao longo dos diversos Grupos Etários dentro de cada uma dessas Etapas.

Verificamos uma diferença essencial no que toca aos resultados encontrados entre as crianças, os adolescentes e os adultos: enquanto que, para os adolescente e adultos a dimensão

mais elevada corresponde à Estrutura, seguida do Conteúdo e por fim do Processo, para as

crianças, a Dimensão com valores mais elevados corresponde ao Conteúdo, seguido da

Estrutura e, por fim, do Processo, este com valores francamente baixos. Isto poderá indicar que, pelos 11-12 anos de idade o perfil narrativo começa a assemelhar-se ao perfil narrativo dos adultos, embora ainda com diferenças quanto à sua riqueza, como veremos de seguida. O facto das crianças até aos 10 anos de idade obterem resultados mais elevados para a Dimensão

Conteúdo coincide com a ideia de que as crianças começam por enumerar e descrever o que vêem e, só mais tarde, se debruçam sobre os aspectos emocionais e metacognitivos dos acontecimentos (Peterson & McCabe; Umiker-Sebeok cit. in Freitas, 2005). Poderemos ainda acrescentar que só mais tarde alcançam mestria nos aspectos organizadores e integradores dos mesmos, questão igualmente referida pelos autores que assumem que a expressão da evolução estrutural se encontram essencialmente a partir dos 11 anos de idade (Marchesi; Stein e Glenn,

Debrucemo-nos, agora, sobre cada uma das Dimensões por Etapa de Desenvolvimento e por Grupo Etário. Para isso, teremos em conta os resultados obtidos neste estudo, bem como os resultados obtidos nas já referidas investigações de Alexandra Freitas (2005) com crianças e de Carla Rocha (2005) com adolescentes.

Relativamente à Estrutura, verificamos uma nítida evolução das narrativas das crianças

para as narrativas dos adolescentes e uma evolução, embora menor, destes para os adultos que apresentam a pontuação mais elevada. Ao nos debruçarmos sobre os valores de cada um dos Grupos Etários, observamos que, é esta a Dimensão cuja evolução desde as crianças mais novas aos adultos mais velhos é maior, bem como uma evolução a par com Grupo Etário estudado. Embora não tenhamos tido condições para fazer uma análise válida estatisticamente para os nove Grupos Etários, se relembrarmos os resultados obtidos para as crianças (Freitas, ibidem), para os adolescentes (Rocha, ibidem) e para os adultos, poderemos tecer as seguintes considerações: nas crianças existe uma progressão significativa ao nível da Estrutura entre todos os Grupos Etários (dos 3-4 aos 9-10 anos de idade); nos adolescentes entre os 11-12 e os 14-15 anos existe evolução embora não significativa, passando a sê-lo quando estes são comparados com os jovens de 17-18 anos; quanto aos adultos, as ligeiras diferenças entre os Grupos Etários (no sentido ascendente) não são significativas; os valores dos jovens de 17-18 anos não se apresentam muito distantes dos valores dos adultos de 20-25 anos. Estes dois últimos dados levam-nos a crer que, ou a partir dos 17-18 ou dos 20-25, pelo menos até aos 45 anos de idade, as características ao nível da Estrutura não sofrerão grandes alterações. Ainda assim, ao nível das Sub-dimensões, os adolescentes mais velhos (Rocha, ibidem) revelam valores moderados e os adultos, como amostra global, valores entre o moderado e o elevado.

No geral, estes dados parecem coincidir com os resultados de estudiosos que indicam que, pelo terceiro ano de vida parece já emergir uma função narrativa (Russel & Van der Broek; Reilly e colaboradores, cit. in Freitas, ibidem), que permite à criança a criação de histórias acerca dos acontecimentos com que se vai confrontando, ainda que a sua coerência estrutural seja menor do que a de um adulto ou de um adolescente (McKeough & Generaux, 2003; Berman cit. in Freitas, 2005). Na mesma linha, encontram-se os estudos que indicam que ao longo da adolescência a coerência narrativa emerge com um maior número de ligações causais nas narrativas (Habermans & Paha cit. in Rocha, 2005) e com uma maior capacidade para

construir narrativas que envolvem múltiplas dimensões e sub-histórias (McKeough & Genereux, 2003).

No que diz respeito ao Processo encontramos, tal como para a Estrutura, uma nítida

evolução das narrativas das crianças para as narrativas dos adolescentes. Em relação a estes últimos, encontraram-se valores bem distintos quando os jovens de 11-12 e 14-15 são comparados com os adolescentes mais velhos que, por sua vez, revelam valores quase idênticos aos apresentados por todos os Grupos Etários dos adultos e, no caso dos adultos, embora os valores progridam ligeiramente entre si, os de 20-25 e os de 26-30 anos apresentam valores até ligeiramente abaixo dos valores dos adolescentes mais velhos. Desta forma, parece que, a evolução nesta Dimensão se faz sentir até ao final da adolescência, momento a partir do qual parece estabilizar-se. Assim sendo, a diferença estatisticamente significativa entre os

adolescentes e os adultos, para o Processo, parece ser melhor explicada pelos valores mais

baixos apresentados pelos adolescentes mais novos. Tal como referem MacKeough e Generoux (2003) entre os 10, 12, 14 e 17 anos de idade percebe-se um salto na compreensão sócio- psicológica narrativa, passando da compreensão intencional para uma maior compreensão interpretativa, nomeadamente, os adolescentes de 17 anos apresentam maior facilidade em adoptar uma meta-posição da experiência humana de forma consciente e deliberada, mais do que adolescentes de 14 anos.

Quanto ao Conteúdo, a análise comparativa entre as três Etapas de Desenvolvimento

mostra que as crianças se distanciam significativamente dos adolescentes e dos adultos que, por sua vez, funcionam como um grupo homogéneo. Esta é a Dimensão que mais se distingue das outras duas pela tendência evolutiva parecer ser, por um lado, menos linear em relação aos Grupos Etários e, por outro, menos evidente, devido à menor variabilidade entre as notas. Por exemplo, as notas das crianças de 6-7 anos, não revelam uma grande distância entre as notas dos adolescentes e as dos adultos. Assim, sabemos existir uma progressão significativa entre as crianças de 3-4 e as de 6-7 anos, mas o mesmo não acontece destas para as de 9-10 anos, onde os valores aumentam mas sem relevância estatística (Freitas, 2005). Por outro lado, os valores dos adolescentes de 11-12 e 14-15 anos são muito semelhantes aos valores das crianças de 6-7 anos e até ligeiramente inferiores aos das crianças de 9-10 anos. Por esse motivo, pensamos não existir progressão dos 6-7 aos 14-15 anos. Os adolescentes de 11-12 anos revelam um valor ligeiramente superior do que os de 14-15 anos, verificando-se apenas

diferenças com os de 11-12 sejam apenas marginalmente significativas (Rocha, 2005). Os resultados dos adultos apresentam-se ligeiramente inferiores aos dos adolescentes mais velhos, embora algo aproximados, sendo os adolescentes mais velhos e os adultos mais velhos, os que apresentam um valor global mais elevado e muito aproximado. Os adolescentes de 17-18 anos apresentam valores das Sub-dimensões entre o baixo, o moderado e elevado (Freitas, 2005) e os adultos no geral, situam-se nos valores moderados, à excepção dos Temas para ambas as Etapas de Desenvolvimento, que apresentam valores baixos, provavelmente pelos motivos já expostos. Assim, temos condições para supor que existe uma tendência evolutiva dos 3-4 aos 6- 7 anos, que se estabilizará até aos 14-15 e uma nova progressão até aos 17-18 anos, sem grandes alterações até aos 45 anos de idade.

Ainda a propósito das diferenças na matriz narrativa ao longo do desenvolvimento, importa

referir a influência das variáveis sócio-demográficas Sexo e NSC (nível sócio-cultural). O Sexo

parece não determinar a riqueza das narrativas nas crianças (Freitas, ibidem), embora os valores mais elevados nas raparigas, adivinhem já as diferenças que passam a ser um factor de influência significativa na riqueza narrativa dos adolescente (Rocha, ibidem), sendo mais

evidente ao nível da Estrutura, onde todas as Sub-dimensões são estatisticamente superiores

nas raparigas. Como defendem alguns autores, estas diferenças entre os sexos poderão estar

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