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6.3 GRUPO GAMA

6.3.3 Discussão dos resultados do Grupo Gama

Descreveremos aqui os resultados do grupo Gama, iniciando a discussão pelos aspectos da colaboração, seguindo com os entraves e conhecimentos mobilizados. O grupo gama apresentou algumas diferenças relacionadas aos aspectos da colaboração. A terceira conversa execução da simulação não pode ser analisada à luz do modelo de Baker. Isso porque não foram identificados reatores na conversa, gerando uma interação unilateral do Participante 11 com o mediador. A ausência de reatores gera a impossibilidade de enxergar a dimensão acordo, pois nesta dimensão, observamos o grau de concordância e discordância dos sujeitos envolvidos na sessão.

Por outro lado, conseguimos analisar as duas primeiras conversas utilizando o modelo de Baker. Nessas conversas, percebemos a presença de colaboração, mas não necessariamente do acordo ou da simetria. A primeira conversa, na qual os participantes discutiram as dificuldades relacionadas à aprendizagem das funções pelos estudantes, foi assimétrica e os participantes estavam em desacordo.

A primeira conversa foi marcada pelas considerações dos participantes 9, 10 e 12, que expuseram suas ideias, mas poucos reagiram às colocações uns dos outros. Os participantes relacionaram as dificuldades dos estudantes à falta de contextualização no ensino de funções, a abordagem dos professores que se resume à álgebra e à falta de compreensão da função como uma relação entre grandezas. Eles discutiram estes aspectos, dando feedbacks negativos uns aos outros. Mais uma vez, percebemos a presença de elementos destacados na pesquisa de Sierpinska (1992). Nos três casos, identificamos que os licenciandos colocam a falta de compreensão dos estudantes, no que diz respeito às funções como uma relação de dependência entre grandezas. Acreditamos que isso é resultado da desvinculação do ensino de funções com situações de modelagem. Na modelagem, a identificação do objeto matemático que modela a situação, perpassa por uma compreensão completa do conceito, levando o sujeito a pensar na situação diretamente ligada com a Matemática.

A assimetria se mantém na segunda conversa, na qual identificamos a participação de todos os sujeitos, exceto do Participante 11. No planejamento e elaboração da atividade, há uma forte incidência de propositores, mas uma baixa

incidência de reatores. Sendo assim, a conversa se configurou como assimétrica. No entanto, apesar de um baixo índice de reatores, houve concordância entre eles. Percebemos feedbacks positivos, identificados quando um participante sugeriu uma questão e o outro concorda, mas sem detalhar sua opinião sobre a ação do outro.

Na conversa de planejamento e elaboração da atividade os participantes deram suas sugestões de questões a serem transformadas em uma simulação. Percebemos que os propositores lançaram ideias voltadas para função afim, propondo questões usando tarifa de táxi ou tarifas de estacionamento. Eles decidiram como objetivos a identificação de propriedades da função afim, conectar a ideia de função a outras situações e exercitar a construção e manipulação de gráficos. Para montar a atividade as ações na tela foram divididas entre os membros do grupo, por uma limitação tecnológica do software Teamviewer, que não permite dois ou mais usuários utilizarem a tela sem um interferir na ação do outro.

Durante o planejamento os licenciandos pensam na situação sem considerar a caracterização da função. Notamos que os sujeitos pensam em situações onde o tipo de função como modelo é o mais evidente possível. Por exemplo, na situação de tarifa de táxi os licenciandos não justificam o porquê do uso da função afim como objeto matemático da modelagem. Eles acreditam que a situação por si mesma evidencia o tipo de função a ser utilizada, mostrando uma necessidade de aprofundar o conhecimento voltado para o ensino na Educação Básica.

A terceira conversa de execução da simulação ficou concentrada no Participante 11. O Participante 13 teve alguns problemas de conexão e o mediador interagiu com o Participante 11 na construção da simulação. Esta intervenção do mediador foi necessária, pois o sujeito precisava de ajuda para manipular o software Modellus. Este fator gerou um problema para a análise utilizando o modelo de Baker. O mediador não é um personagem que colabora na sessão, sua função é guiar e instruir os participantes. Sendo assim, a categorização da sua atuação nesta conversa entrou na categoria de ações do mediador, deixando a conversa com um propositor e nenhum reator.

O mediador mais uma vez assume o papel de participantes da sessão. Como afirma Dillenbourg (2002) é necessário uma imparcialidade do mediador, que neste caso não ocorreu. Por outro lado, o mediador viu a necessidade do participante para

construir a simulação e mesmo com a disponibilidade evidenciada pelo participante 10, nenhum outro membro da sessão se dispôs para ajudar.

Isso acarretou a falta de acordo na conversa, impossibilitando a análise pelo modelo de Baker. Mas, não quer dizer que não possamos classificar esta conversa como colaborativa ou não, pois analisando a conversa percebemos que realmente não houve colaboração e nem cooperação. A conversa ficou na responsabilidade de um sujeito apenas, tendo o mediador para instruí-lo, deixando que este sujeito tomasse suas próprias decisões sem interagir com outro membro do grupo.

Em um panorama mais geral, podemos dizer que as duas primeiras conversas são colaborativas, mas a terceira é uma ação individual. Pudemos observar neste grupo que o mediador não conseguiu envolver os sujeitos no processo de construção da simulação. Nenhum dos outros participantes, mesmo percebendo a necessidade, se envolveu nas ações do Participante 11. Faltou um engajamento do grupo e uma ação mais efetiva do mediador para reunir a todos e solicitar que agissem juntos na finalização da sessão.

Não podemos apenas dizer que as falhas encontradas nos aspectos da colaboração foram da mediação. Assim como nos outros grupos, os entraves identificados contribuíram para que a sessão não fosse, em sua totalidade, colaborativa. Os entraves técnicos (áudio, conexão...) e os entraves tecnológicos (utilização dos softwares), apareceram com uma incidência forte neste grupo.

Os problemas que surgiram na sessão afetaram principalmente os participantes 11 e 13. O participante 11 quase não conseguia manter sua conexão, além de ter problemas a todo instante com o áudio. O participante 13 também não conseguiu conectar-se de imediato e em alguns instantes, tivemos que retomar a discussão. Por outro lado, não tivemos muitos problemas relacionados à identificação dos sujeitos. Este grupo sempre sinalizava o participante que estava executando alguma ação na tela, por exemplo, quando o Participante 10 digitou os objetivos no Google Docs outro participante questionou: quem está mexendo? E ele responde: O participante 10. Isso ocorreu involuntariamente durante a sessão, então foi possível identificar as ações dos sujeitos na tela.

Os entraves tecnológicos surgiram porque os participantes tiveram problemas na utilização dos softwares. Os softwares em questão foram principalmente o

Modellus e o Teamviewer. O Teamviewer gerou problemas relacionados ao acesso dos participantes, principalmente, o participante 11 que não conseguiu acessar o ambiente. Além disso, percebemos que o participante 11 também teve dificuldade em executar a simulação por falta de familiarização com o Modellus. O participante sentiu dificuldades para inserir a equação, lançar a partícula e anima-la, enfim, todo o processo de simulação foi prejudicado por essa dificuldade.