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No Estudo I, embora uma das professoras demonstrasse no seu relato os desempenhos esperados após a intervenção e seus alunos demonstrassem aumento na porcentagem de acer- tos no pós-teste em repertórios que foram tema do programa de intervenção com o professor, estes resultados não foram estendidos ou generalizados para o desempenho da outra professo- ra e seus alunos. O desempenho de P2 atingiu parcialmente os objetivos esperados, uma vez que a professora passou a descrever a rede de relações que envolvem o ler e o escrever, lis- tando tanto os estímulos apresentados quanto quais são as respostas esperadas, porém não houve implementação de práticas sistemáticas em sala, a ponto dos procedimentos influencia- rem no desempenho dos alunos. Conseqüentemente, o desempenho dos alunos de P2 esteve pouco relacionado a procedimentos sistemáticos derivados da pesquisa. Porém considera-se que a presença da pesquisadora no pré-intervenção, pode ter influenciado a professora utilizar repertórios já existentes, mas não utilizados anteriormente.

Considerou-se que Estudo I, sobretudo os resultados obtidos com P1, demonstraram que sob certas condições é possível trabalhar de maneira colaborativa com professor na orga- nização de propostas acadêmicas envolvendo os repertórios de ler e de escrever e que o mode- lo de relações de equivalência pode ser um importante recurso metodológico a ser aplicado no manejo de alternativas de ensino em sala de aula. Conclusões como estas foram obtidas nos estudos de Amorese (2007) e Peres (2008), que também buscaram apresentar o professor o modelo das relações de equivalência, seja através de procedimentos e atividades específicos e previamente definidos, seja através de tecnologias informatizadas.

Os resultados relacionados ao envolvimento do professor na tarefa foram parcialmente obtidos na Escola I de acordo com os resultados obtidos com dois alunos, Lari e Hen. Houve melhoras no desempenho destes alunos no Estudo I, em repertórios específicos, isto é, nas relações de composição de palavras com alfabeto móvel, tanto com modelo cursivo quanto com letra de imprensa e nas relações de emparelhamento entre figura e palavra impressa.

Considera-se que os resultados do Estudo II conseguiram demonstrar, quando comparados com o Estudo I, que o ensino da rede de relações que descrevem o ler e o escrever baseado no modelo de equivalência ao professor pode ter efeitos positivos observados também no desem- penho dos alunos sob determinadas condições.

A influência de outras pessoas do sistema escolar sob o repertório do professor e tam- bém da pesquisadora, a generalização do desempenho de descrever por parte de P3, a organi- zação das tarefas da professora só ocorreram, pois tanto Estudo I quanto Estudo II foram rea- lizados em ambiente escolar. Pesquisas realizadas sob condições naturalísticas trazem a van- tagem de observar e interferir sobre o comportamento nas condições em que ele deve ocorrer (COZBY, 2003). Isso possibilita identificar muito mais variáveis das quais o comportamento pode função. Para tanto é necessário ter estabelecido de forma bastante clara o sistema de re- gistro e a descrição dos comportamentos a serem observados. A descrição precisa dos com- portamentos-alvo pode permitir uma intervenção mais sistemática por parte do pesquisador de tal forma que este fique menos sensível a outras variáveis que interferem nas condições edu- cacionais e que tem o poder de concorrer fortemente com a intervenção programada, tais co- mo cobranças burocráticas da escola, encaminhamentos de alunos que não são participantes do projeto no horário da pesquisa, comentários paralelos de outros profissionais da escola. Além disso, dificuldades podem estar presentes na implementação do programa, como obser- vado na intervenção após a sétima reunião. Nesta intervenção estava prevista o pré-teste e pós-teste das relações entre palavra ditada – manuscrito (AF). No entanto, durante o procedi- mento, P3 relatou para pesquisadora que esta estrutura não seria possível uma vez que tomaria muito tempo e dificultaria parte da tarefa. Então, quando P3 solicita que fosse testado relação AC ao invés de AF, esta sugestão é acolhida. Em alguns momentos adaptações foram neces- sárias, o que não tornaram os procedimentos os ideais. Porém foram aqueles possíveis, que permitiram a participação constante da professora na pesquisa. Outro fator que influenciou na organização da tarefa é o tempo disponível para realização das atividades previstas. Muitas vezes, o tempo não era suficiente ou havia mudanças no cotidiano escolar. Assim, parte do procedimento era aplicado em um dia e parte em outro. Diante de um repertório complexo como os de ler e escrever, a aquisição deste pode ser mais lenta, conforme se observa nos grá- ficos de Mat durante a sessão, nas quais ele apresenta aumentos e diminuições no ensino das mesmas palavras até o repertório se estabilizar no fim da intervenção.

No que diz respeito ao desempenho de professor e as mudanças de procedimento do Estudo I para o Estudo II, considera-se que se uniu a habilidade de descrição, que parece ter sido desenvolvida por P1 e P2 no Estudo I com a habilidade de implementar procedimentos por parte do P1 e por meio da análise destes resultados, foram organizados novos procedi- mentos que levaram ao desenvolvimento do Estudo II. Um fator crítico para os resultados ob- tidos parecem ter sido o procedimento com poucos alunos, pois por meio da análise do de- sempenho de dois alunos de P3, foi possível observar relações funcionais entre o desempenho

da professora, a intervenção que recebeu e a extensão do desempenho da professora sobre o comportamento dos alunos.

Uma limitação deste trabalho foi a forma de registro selecionada para coleta de dados. Os registros em áudio e até mesmo através de relatórios escritos, pode ter dificultado na análi- se de nuances referentes as relações estabelecidas em sala, tanto das professoras com os alu- nos quanto com relação entre a pesquisadora e a professora. Além disso, a descrição de de- sempenho de P3 nas atividades realizadas em sala para a mesma através do relato da pesqui- sadora pode não ter se mostrado tão fidedigno e deixado a pesquisadora e a professora menos sensível ao repertório de P3 quanto poderia ter ocorrido. Além disso, P3 só pode observar de- sempenhos dos alunos nas tarefas por meio do que era registrado no papel por ela ou pela pesquisadora durante a realização da tarefa pelo aluno.

Um possível caminho para estudo futuros seria a utilização de filmagens como forma de registro e parte do procedimento a ser realizado com o professor. Este é uma estratégia que exige um planejamento prévio e um delineamento bastante enxuto.

Diversos estudos realizaram filmagens, seja para maior controle dos dados por parte do pesquisador, uma vez que permite registro de áudio e imagem sistemático e estável (A- MORESE, 2007) seja enquanto estratégia de ensino para o professor, pois permitia que o pro- fessor entrasse em contato direto com a sua prática, por meio da observação em vídeo, e pu- desse ele próprio relatar pontos a serem melhorados ou receber o feedback por parte do pes- quisador (MOORE E COLABORADORES, 2002; LEITE, 2003; ZANATA, 2004; WALLA- CE E COLABORADORES, 2004) e esta se mostrou eficiente para o ensino das habilidades especificas esperadas. Portanto, a realização de filmagens pode ser extensões futuras para tra- balhos que busquem ensinar o professor a descrever os repertórios de ler e escrever.