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III. Estudo da prevalência da infeção por D immitis em Cães e Gatos no distrito de

4. Discussão

O presente estudo, veio confirmar e reforçar os resultados de prevalência já publicados por Vieira et al. (2015), quer no que diz respeito à prevalência desta infeção em cães como a sua seroprevalência em gatos. Assim sendo, mantém-se uma prevalência de 0% em cães do distrito de Braga, por não terem sido encontrados casos de cães infetados. No que diz respeito à infeção em gatos, no presente estudo, encontrou-se um valor de seroprevalência de 8,3%, que é ligeiramente mais alto do que o valor de 7,1% anteriormente descrito por Vieira et al. (2015).

Os critérios definidos para a inclusão no estudo foram escolhidos após analisar outros estudos (Vieira et al., 2015; Montoya-Alonso et al., 2016; Montoya-Alonso et al., 2017) e tiveram por base a seleção de animais que pudessem apresentar parasitas adultos, que apresentassem risco de estarem parasitados, e que vivessem na zona de estudo, nunca tendo sido diagnosticado ou tratados para a doença. No entanto, embora inicialmente se tenham excluído os animais que não fossem expostos a pelo menos uma estação predisposta à presença de mosquito, foram encontradas evidências de que os mosquitos podem reproduzir-se em águas paradas em microambientes, durante todo o ano, e não apenas nas estações ditas predispostas à existência de mosquitos (Carretón et al., 2012; American Heartworm Society, 2014b).

Dos 13 concelhos que formam o distrito de Braga, apenas 6 não foram representados neste estudo e a maior parte dos dados obtidos nos inquéritos preenchidos pelos tutores dos animais em estudo foram analisados com o objetivo de identificar vários fatores de risco que pudessem estar representados neste grupo

Se compararmos os métodos de estudo da prevalência em gatos e em cães, foram utilizados dois testes diferentes que avaliam, nos primeiros, a presença de anticorpos (contacto com o agente), e nos segundos, a presença de antigénios (infeção provocada pelo agente). Apesar de processos diferentes, a escolha do método de diagnóstico de D. immitis feita em cada espécie teve por base o conhecimento prévio das particularidades da parasitose e do seu diagnóstico em cães e gatos.

58 Assim, embora se tenham encontrado evidências de exposição ao agente etiológico em gatos e ausência de infeção em cães, isto não significa que nunca tenham existido cães infetados, significa apenas que não existem neste momento. Além disso, os anticorpos podem persistir no organismo dos gatos até cerca de um ano, mesmo após a eliminação dos parasitas (Méndez et al., 2012). Isto pode indicar-nos que embora atualmente não se tenham encontrado evidências de infeção simultânea de cães e gatos, isso não significa que esta não possa ter existido no passado.

Alem disso, à medida que se realizam mais estudos, verifica-se que a infeção por D. immitis em gatos está a aumentar (Méndez et al., 2012) e já Montoya-Alonso et al. (2011) tinham mostrado que a seroprevalência da infeção na população felina de Gran Canária é maior que a prevalência canina, nessa mesma área endémica.

O tamanho da amostra de cães e gatos e a incorporação de animais com diferentes características e proveniências permitiu-nos obter, com alguma confiança, aquilo que julgamos ser uma amostra significativa e representativa, dos animais do distrito de Braga, por forma a extrapolar os resultados para a população de cães e gatos residente no distrito. Pelo menos em cães, já foi demonstrado que esta infeção é prevalente em países do sul da Europa, como Portugal (Otranto et al., 2013) e vários estudos mostraram que por exemplo, o facto de os cães viverem ou terem acesso ao exterior, constitui um importante fator de risco (Labarthe et al., 2014; Calvert e Thomason, 2016; Lu et al., 2017). No nosso estudo verificamos que 85% dos cães (274) viviam ou tinham acesso ao exterior regularmente. Apesar disso, no presente estudo não foi detetado nenhum resultado positivo nas amostras de cães, sendo que a prevalência da infeção por D. immitis em cães é de 0%.

No que diz respeito ao cumprimento da vacinação e de outras medidas profiláticas, por parte dos tutores, um estudo levado a cabo pela American Animal Hospital Association (2009) reportou que 87% dos tutores cumprem com a vacinação de acordo com o recomendado, no entanto, quando se trata de cumprir as recomendações gerais dos clínicos, incluindo acerca da desparasitação, este valor desce para 64%. No nosso estudo, verificamos que em relação aos cães, 89,6% (285 cães) eram vacinados, 66,2% (210) e 88,7% (282) eram desparasitados interna e externamente, respetivamente. No caso dos

59 gatos, apenas 70,2% (59 gatos) eram vacinados e 67,8% (57 gatos) desparasitados externamente e 61,9% (52 gatos) desparasitados internamente.

No entanto, no que diz respeito à vacinação e desparasitação, no presente estudo, não foram suficientemente especificados os intervalos temporais em que os tutores procediam às desparasitações e vacinações e os produtos/princípios ativos usados, pelo que estes dados não podem ser usados para podermos tirar conclusões válidas acerca deste tópico. Apesar disto, os resultados obtidos denotam que ainda existe a necessidade de a profissão veterinária ser mais pró-ativa na comunicação dos riscos das doenças parasitárias e da importância da sua profilaxia aos tutores (Maureen e Nolan, 2011).

No que diz respeito aos 7 gatos que apresentaram resultados positivos no teste de pesquisa anticorpos, estes constituem 8,3% da população total. A maior parte, 6 gatos (85,7%) eram de raça Europeu comum, mas isto pode ser explicado pelo facto de existirem muitos mais animais Europeu comum (83%) na população total do que animais de outras raças. Destes 7 gatos, 5 (71,4%) eram machos. Embora existam alguns estudos que teorizem que os machos estão são mais predispostos à infeção, a American Heartworm Society (2014a) não reconhece esta predisposição.

No que diz respeito à idade dos animais positivos, verificou-se que 4 gatos (57,2%) apresentavam idade igual ou superior a 9 anos, o que segundo Montoya-Alonso et al. (2011), pode ser explicado porque a probabilidade de um animal adquirir a infeção por D. immitis aumenta com o período de exposição ao mosquito. Logo, à medida que a idade aumenta, aumenta também a probabilidade de infeção.

De entre os 7 gatos positivos, 6 (85,7%) eram provenientes do concelho de Braga e 1 (14,3%) era proveniente de Vila Nova de Famalicão. Isto pode ser explicado pelo facto de, por motivos logísticos, o concelho de Braga estar muito mais representado do que os restantes concelhos neste estudo.

Embora segundo a American Heartworm Society (2014a), os animais indoor não estejam completamente protegidos da infeção, os animais que vivem ou tem acesso ao exterior apresentam uma maior probabilidade de serem picados (Montoya et al., 2007) e

60 consequentemente um grande risco de serem infetados. No âmbito do presente estudo, embora na população total, 41 gatos vivessem exclusivamente dentro de casa (48,8%), dentro dos 7 gatos positivos, apenas 1 gato (14,3%) vivia exclusivamente no interior, sendo que todos os restantes viviam ou tinham acesso ao exterior.

Pudemos também observar, que embora no total da população de gatos do estudo, o valor de desparasitação externa fosse de 67,8% (57 gatos), na amostra dos animais positivos, os valores da desparasitação externa são mais baixos, sendo que apenas 4 dos gatos infetados (57,1%), foram desparasitados externamente, denotando, que o descuido da medidas profiláticas, pode contribuir para uma maior prevalência entre estes animais (Byeon et al., 2007).

No que diz respeito à presença de sinais clínicos em animais positivos, verificou-se que 4 dos gatos (57,2%) que apresentaram resultados positivos à presença de anticorpos, apresentavam sinais clínicos de natureza quer respiratória, quer gastrointestinal. No entanto, tendo em conta a natureza inespecífica dos sinais clínicos desta doença em gatos (American Heartworm Society, 2014a), na maior parte das vezes estes sinais clínicos foram ignorados por parte do tutor ou atribuídos a outras afeções, por parte do clínico.

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