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3. DISCUSSÃO

3.1 DISCUSSÃO METODOLÓGICA

Obtivemos neste estudo uma taxa de resposta ao questionário sobre a perceção dos profissionais de saúde sobre o ruído em neonatologia de 94,54%, sendo que da totalidade dos questionários entregues, apenas três questionários não foram devolvidos. A taxa de resposta, bem como a receção e motivação dos profissionais para o desenvolvimento deste estudo na unidade, constituiu um ponto bastante positivo e gratificante no progresso desta investigação.

Efetuando uma autocrítica do próprio estudo, consideramos que o mesmo poderia ter sido alargado a outros profissionais de saúde como técnicos de radiologia que, embora tenham alguns contatos esporádicos com a UCIN, a sua conduta e envolvimento são também importantes para o sucesso global do controlo efetivo do ruído na UCIN (Santana et al., 2015). Não obstante, a dificuldade de contato presencial com os mesmos, dado a imprevisibilidade da sua presença na unidade, fez com que priorizássemos como alvo do nosso estudo os profissionais que desempenham funções diariamente nesse local e que permanecem de forma regular no interior da UCIN.

O reduzido tamanho da amostra constituiu uma limitação do presente estudo. No entanto, considerando a finalidade do mesmo, com necessidade de conhecer e retratar uma realidade específica, para suportar um eventual programa de redução de ruído, pretendeu- se incluir apenas os profissionais de saúde da unidade em particular onde se desenvolveu o estudo, dado as peculiaridades de cada UCIN.

O fato de a investigadora principal integrar a equipa de cuidados da unidade onde se realizou o estudo, pode, eventualmente, ter constituído um aspeto de interferência nos resultados obtidos no estudo. Esta questão possui simultaneamente aspetos negativos, como a eventual alteração de expressão de opinião dos profissionais no preenchimento do questionário e a alteração inicial de comportamentos aquando a presença da investigadora nos momentos de monitorização do ruído e, positivos, como o fato de conhecer a realidade

do ruído na unidade e a anotação mais precisa de dados e elaboração de diário de campo de forma assídua, o que seria mais difícil se não constituísse um profissional da unidade. De notar a dificuldade sentida em saber detalhes decorridos e eventos nos momentos em que o investigador não se encontrava na unidade. O anonimato dos questionários e a sua entrega através da colocação em local próprio, em que os profissionais o poderiam efetuar de forma independente, pretendeu eliminar o máximo possível o condicionamento de resposta a um investigador que, simultaneamente, é um profissional da própria unidade.

O registo da informação constituiu um desafio dada a grande variabilidade de unidades ocupadas, equipamentos em utilização e número de pessoas na sala, de acordo com os distintos dias de monitorização e também de acordo com o próprio turno. Tal fato deveu-se às particularidades de funcionamento da unidade, entradas de recém-nascidos e necessidade de mobilização dos mesmos para diferentes unidades ou salas, de acordo com as necessidades em cuidados.

A opção de utilizar estratégias para diminuir o efeito Hawthorne, levou a que não fosse efetuada uma formação aos profissionais sobre a importância da monitorização do ruído de forma a que estes mantivessem o máximo possível, uma conduta regular, idêntica aos restantes dias. No entanto, este facto, aliado ao aspeto físico do sonómetro utilizado, que aparentava ser um microfone, pode ter concorrido para algumas interferências pelos profissionais, como atitudes como cantar no microfone, conversas próximas do equipamento, e alteração do seu comportamento numa fase inicial, o que eventualmente pode ter afetado os resultados obtidos. No entanto, foi verificada uma habituação à presença do equipamento nas salas, pelo que não se verificou uma continuidade de alteração de comportamentos. Para além disso a utilização de um dos equipamentos, o dosímetro, de reduzidas dimensões, permitiu a monitorização do ruído sem deteção evidente da sua presença. A estratégia de redirecionar a atenção dos profissionais para outras questões ambientais, que não o ruído, verificou-se uma estratégia temporária para diminuir o efeito Hawthorne (Ferraz et al., 2016).

A monitorização do ruído revelou-se uma etapa complexa e morosa dado os dias de avaliação necessários para a sua representatividade e os objetivos do estudo, que pretendia avaliar o ruído de forma contínua durante 24 horas, para observar a variabilidade existente também entre turnos. Questões relacionadas com procedimentos necessários requeridos na utilização dos equipamentos e imprevistos decorrentes de problemas técnicos dos mesmos, constituíram desafios no desenvolvimento deste estudo.

A monitorização do ruído deveria ser efetuada o mais próximo da localização do berço/incubadora do recém-nascido (Bremmer et al., 2003). Atendendo às recomendações

para uma correta e rigorosa monitorização dos valores de NPS e, apesar de a localização dos equipamentos de monitorização ter sido a melhor possível para obter representatividade de cada quadrante/ponto de monitorização, o equipamento não pode ser localizado na região mais central de cada sala dado a sua interferência com a dinâmica do serviço. De igual modo a medição do ruído no interior, de acordo também com as recomendações, não pode ser efetuada com as portas fechadas por questões de dinâmica da unidade e circulação de profissionais e equipamentos. Desta forma, cumprindo as recomendações existentes, o equipamento foi localizado também de forma a interferir o mínimo possível com as atividades dos profissionais da unidade (APA, 2011).

O nível de ruído monitorizado na unidade, de acordo com o método utilizado, indica- nos uma referência para o ruído existente em cada ponto/quadrante avaliado. No entanto, o valor monitorizado não indica precisamente o valor de ruído total a que o recém-nascido se encontra submetido dado que o ruído se dissipa através de ondas de som. Desta forma, se um recém-nascido com equipamento de ventilação próximo possuir um NPS ao lado da sua incubadora de 70 dB(A), o NPS monitorizado numa região central da sala será de 58 dB(A) (Kellam & Bhatia, 2008).

Para além disso, a monitorização do ruído incidiu no macro-ambiente da UCIN, pelo que não podemos afirmar necessariamente que o recém-nascido se encontra exposto a este NPS, pelo menos os que permanecem no interior da incubadora. Questões relacionadas com o micro-ambiente do recém-nascido tornam estes resultados mais preocupantes no sentido em que, apesar de a incubadora ter o objetivo de proteção, tem-se verificado que, de maneira geral, o NPS dentro da incubadora é superior ao da UCIN, funcionando estes como um sistema, o que realça a importância de controlar os NPS do ambiente da unidade (Pinheiro et al., 2011). De realçar que a lotação e a própria utilização de equipamentos não se mantiveram constantes nos diferentes dias de monitorização do ruído, fato não passível de controlar, o traduz a variabilidade de um serviço como uma UCIN.

Não obstante estas considerações, considera-se que os resultados obtidos traduzem o perfil diário da ecologia acústica da unidade em estudo dado que a avaliação do ruído foi efetuada continuamente durante as 24 horas diárias, e considerou as distintas salas, diferentes dias de semana, e diferentes turnos, atendendo a todo o rigor metodológico necessário na sua execução. Comparativamente com vários estudos consultados, consideramos que a monitorização do ruído efetuada neste estudo constituiu um ponto positivo e mais valia, destacando-se de alguns estudos pela sua representatividade dado a avaliação diária contínua e a sua extensão no tempo.

Apesar de a monitorização simultânea do ruído ter trazido um carácter complexo à realização deste estudo, a importância de conhecer o nível sonoro da unidade, e considerando o potencial risco que o ruído representa, nomeadamente para o recém- nascido, constituiu um ponto de extrema importância de forma a enquadrar e relacionar a opinião dos profissionais com a efetiva realidade do ambiente acústico da UCIN, com possibilidade de maior número de dados que permitam a implementação de mudanças para o controlo e redução do ruído.