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1. METODOLOGIA

1.2 PARTICIPANTES

A temática do ruído em neonatologia é transversal a toda a equipa multidisciplinar e os resultados relativos à diminuição e controlo do ruído no ambiente da UCIN apenas são obtidos com o envolvimento e cooperação de todos os profissionais que exercem funções na unidade. Apenas com uma política de educação continuada e com o envolvimento de todos os profissionais se poderão repercutir efeitos no ambiente da UCIN (Marques, 2014; Santana et al., 2015).

Com base nesse pressuposto, foi equacionada a nossa população do estudo que foi constituída por todos os profissionais de saúde a desempenharem funções no serviço de neonatologia de um hospital da zona norte do país, incluindo médicos, enfermeiros, assistentes operacionais e outros profissionais como técnicos superiores, assistentes técnicos, e técnicos de diagnóstico e terapêutica. Foram englobados todos os profissionais de saúde que desempenhavam funções regulares no serviço de neonatologia por considerarmos que todos desempenham um papel ativo no processo de mudança que concorre para a alteração do nível de ruído na unidade (Silva et al., 2012). Foram assim excluídos deste estudo os profissionais com presença esporádica na UCIN, cuja presença resulta de solicitações para realização de exames complementares ou de apoio ao diagnóstico.

O tipo de amostragem é não probabilística por conveniência. Foram estabelecidos os seguintes critérios de inclusão:

Exercerem funções permanentes no serviço de neonatologia da instituição citada e que estivessem presentes na unidade durante o período de desenvolvimento do estudo;

Aceder voluntariamente à participação do estudo após esclarecimento do mesmo. Desta forma, a amostra foi constituída por 52 profissionais de saúde, composta maioritariamente por elementos do sexo feminino (90,4%), com idades compreendidas entre os 25 e os 60 anos, sendo a idade média de 40,94 anos (±10,32 dp).

Relativamente à profissão, a maior parte dos elementos da amostra foi constituída por enfermeiros (55,8%), seguida de médicos (26,9%), assistentes operacionais (13,5%), e outros profissionais a exercerem funções no serviço de neonatologia (3,8%), correspondendo estes a um fisioterapeuta e um assistente técnico. No capítulo dos resultados será abordada de forma mais detalhada a caracterização sociodemográfica da amostra.

1.2.1 Caracterização do ambiente

O presente estudo decorreu no serviço de neonatologia, integrado na unidade de gestão integrada da mulher e da criança num hospital da região norte de Portugal, que, no âmbito da requalificação da rede hospitalar na área de cuidados de saúde maternos e neonatais, se encontra incluído entre os quatro hospitais na região norte em que é prevista a existência de maternidade com cuidados de apoio perinatal diferenciados. Tal facto, releva também a pertinência do estudo desenvolvido dado que é reconhecido que os níveis médios de ruído são significativamente superiores numa UCIN de Nível III, como se reporta à unidade em estudo, quando comparadas com uma UCIN de Nível II (Nogueira et al., 2011a; Oliveira et al., 2013).

A unidade de neonatologia situa-se no primeiro piso de uma das unidades do hospital referido, e é constituída por três salas de cuidados aos recém-nascidos (A, B e C), sendo a sala A de cuidados intensivos e as restantes salas (B e C) destinadas a cuidados intermédios. A unidade contabiliza um total de 16 unidades, sendo seis de cuidados intensivos (sala A) e as restantes de cuidados intermédios, distribuídas equitativamente pelas remanescentes duas salas. A unidade conta ainda com uma sala designada de isolamento, com capacidade para mais duas unidades. De acordo com os dados obtidos através de contacto com o serviço de informação e planeamento da instituição, a taxa de ocupação em 2016 constou de 79% para os cuidados intensivos neonatais, e de 84% para cuidados intermédios.

A unidade de neonatologia destina-se a recém-nascidos até aos 28 dias de idade que necessitam de cuidados de saúde especiais devido a parto prematuro ou doença. Os diagnósticos de admissão dos neonatos na unidade são vários, sendo que para a totalidade de registo de entradas no ano de 2016, 35,4% eram prematuros, sendo que destes, 30,4% eram recém-nascidos de muito baixo peso, 23,7% eram recém-nascidos com idade gestacional igual ou inferior a 32 semanas e 5,9% com idade gestacional inferior ou igual a 28 semanas, com consequentes internamentos prolongados na unidade.

Apresentaremos agora uma breve descrição física da unidade, sua dimensão e arquitetura do local, importante para uma compreensão mais ampla do estudo e para a perceção de fontes de ruído e planeamento adequado de estratégias para a monitorização do mesmo (Fátima, Nogueira, Chamma, Piero, & Dutra, 2011).

A monitorização do ruído efetuada neste estudo decorreu nas três salas de prestação de cuidados da unidade, denominadas de salas A, B e C.

A sala A, sala de cuidados intensivos neonatais, dispõe de seis unidades distribuídas em torno de um perímetro em formato de “U”, na qual os recém-nascidos

predominantemente se encontram em incubadoras fechadas. Nesta sala todas as unidades se encontram equipadas com monitores cardiorrespiratórios, para monitorização de sinais vitais, fontes de oxigénio e de ar comprimido, aspirador de vácuo, e outros equipamentos como máquinas de perfusão de medicação. Para além disso, de acordo com a condição clínica do recém-nascido, podem estar presentes equipamentos de apoio à ventilação e outros equipamentos de apoio à prestação de cuidados para monitorização e vigilância do recém-nascido.

Na porção que não engloba as unidades encontra-se a zona de trabalho e de apoio à prestação de cuidados. Nesta zona temos também um frigorífico para medicação, lavatório para lavagem de mãos acionado por pedal, bancada de trabalho, e região com equipamentos informáticos onde usualmente se efetuam os registos informáticos dos cuidados prestados. Na extremidade oposta existe uma janela de vidro extensível a todo o comprimento da parede. As janelas encontram-se permanentemente fechadas e possuem persianas exteriores e telas interiores (blackouts) ajustadas de acordo com as necessidades.

As salas B e C, salas destinadas para cuidados intermédios, apresentam um formato retangular onde, nas suas laterais apostas, se distribuem as unidades de recém-nascidos, estando estes em incubadoras ou berços de acordo com as necessidades individuais de cada um deles. Nas restantes extremidades encontramos, numa delas, uma zona com mesa muda-fraldas, um lavatório de mãos, e uma bancada de trabalho. Próximo a esta encontra- se a porta de acesso à sala. Na extremidade oposta a esta, à semelhança da sala A, existe uma janela extensível a todo o comprimento da parede, também com persianas exteriores e telas interiores, possuindo ainda uma secretária com equipamento informático para o registo de informação.

No que concerne à dimensão dos ambientes, a sala de cuidados intensivos, sala A, possui uma área total de 44,80 m2,e as salas de cuidados intermédios apresentam uma área de 22,50 m2 cada.

Relativamente ao tipo de materiais constituintes das salas, estas apresentam pavimentos e rodapés em material vinílico, paredes e tetos pintados com tinta, caixilharia exterior de alumínio e vidro, caixilharia interior de madeira lacada com proteções em aço inoxidável pelo lado do corredor, e mobiliário em madeira com tampos em aço inoxidável e, na sala A, uma bancada de trabalho em estrutura metálica e tampo em fenólico.

Os materiais de acabamentos utilizados são um fator de extrema importância no ambiente hospitalar pretendendo-se que sejam duráveis, de fácil lavagem e higienização, resistentes aos desinfetantes, e também com poucas juntas ou locais onde se podem

desenvolver focos de infeção. Materiais como pisos vinílicos e aço inoxidável são frequentemente utlizados nos serviços considerando as premissas anteriormente referidas (ANVISA, 2014). De referir que os pavimentos da unidade não apresentavam tratamento acústico até ao momento em que decorreu o estudo, nem tinha sido efetuada nenhuma mudança estrutural, com alterações de materiais que permitam um melhor controlo acústico. Cada uma das salas referidas possui uma porta de acesso que geralmente se encontra aberta. As salas confluem todas para um corredor central. Na extremidade oposta desse corredor existe uma sala de isolamento, utilizada sempre que necessário e em casos que exijam a prevenção de doenças infeto-contagiosas. Existe ainda uma sala de trabalho e de refeição dos profissionais com monitorização central dos recém-nascidos internados nos cuidados intensivos, uma zona assistencial para preparação de biberões, uma sala destinada para a extração de leite materno, e uma zona de sujos com bancada de limpeza e lavatório. Nesse corredor central existem ainda o gabinete médico, armários para armazenamento de alguns materiais, um telefone de serviço, e um equipamento para análise de gasimetrias. As salas A e B encontram-se na extremidade praticamente oposta à sala de trabalho e a primeira em frente à zona do corredor onde existe o telefone de serviço e o equipamento de análise de gasimetrias. A sala C encontra-se na extremidade oposta do corredor, localizada em frente à sala de extração de leite e zona de sujos, e próximo da porta de entrada da unidade.

A separar a zona de salas de cuidados do restante serviço existe uma porta que dá acesso a zona de lavagem das mãos para os familiares e casas de banho de profissionais e familiares, e uma sala de pais com local para guardarem os seus pertences. Aqui também se localiza o vestuário os profissionais de saúde, armazém e gabinete da enfermeira chefe. Nesta zona existe uma porta de acesso para o exterior da unidade.

As janelas das salas do serviço de neonatologia encontram-se paralelamente ao parque de estacionamento interior da unidade, zona por vezes também utilizada para cargas e descargas de materiais e onde existe uma instância de sistema de ar comprimido medicinal. Na extremidade oposta do serviço, e paralelamente à sala de trabalho, existe uma pequena área de estacionamento da unidade e, posteriormente, uma via pública.

Os pais dos recém-nascidos encontram-se diariamente presentes na unidade geralmente entre as 8h30 e as 24 horas. De acordo com o estado clínico dos recém- nascidos e dinâmica do serviço são permitidas visitas de irmãos e avós em horário acordado com a enfermeira responsável pelo recém-nascido.

O serviço de neonatologia presta cuidados a recém-nascidos durante 24 horas por dia, 365 dias por ano, e abrange uma equipa multidisciplinar permanente composta por

médicos, enfermeiros e assistentes operacionais. Conta-se ainda diariamente com a presença de administrativo que presta apoio à unidade. Ocasionalmente, e de acordo com as necessidades dos neonatos, outros profissionais frequentam o serviço como fisioterapeutas, técnicos de radiologia e médicos de diversas especialidades.

As passagens de turno da equipa médica são efetuadas no gabinete médico, e as de enfermagem decorrem, geralmente, na sala de trabalho.

Relativamente ao número de profissionais em cada sala, de forma geral encontram- se presencialmente três enfermeiras na sala de cuidados intensivos e uma enfermeira em cada uma das salas de cuidados intermédios. A visita médica ocorre no turno da manhã, estando por norma três médicos na sala A e um médico em cada uma das salas de cuidados intermédios. Os assistentes operacionais por regra permanecem distribuídos na proporção de um por sala no turno da manhã. De realçar que a quantidade de profissionais na unidade é bastante variável dependendo das necessidades em cuidados dos recém- nascidos, do turno e dia de semana, sendo que ao fim-de-semana se verifica menor número de profissionais na unidade. Os enfermeiros constituem o grupo profissional com o mesmo número de elementos fixos, independentemente do turno (manhã, tarde ou noite) e dia semanal, observando-se nos restantes grupos profissionais uma diminuição do seu número ao longo do dia. Até ao momento da realização do estudo não se efetuava nenhuma abordagem Quiet time no serviço.