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O internamento de um filho numa UCIN é um evento altamente complexo e carregado de emoções e sentimentos, sendo o nascimento de um bebé de risco, como consideram Martins, Silva, Aguiar e Morais (2012), citado por Fernandes e Silva (2015), um momento de crise e de vulnerabilidade familiar.

Se nos reportamos à questão da prematuridade, reconhecemos que durante a gravidez os pais idealizam o seu recém-nascido, que com o nascimento prematuro surge numa nova representação, o bebé real. Um recém-nascido de pequena dimensão, frágil, cheio de tubos e fios, e com toda a envolvência tão característica de uma UCIN, provocam rapidamente nos pais um turbilhão de emoções, desencadeando-se nos pais um processo de luto relativamente ao bebé idealizado (SPN, 2016).

O internamento na UCIN implica uma separação física entre os pais e recém- nascido. Atos simples como tocar e pegar a colo o seu bebé de forma espontânea por vezes revestem-se de alguma complexidade, constituindo a incubadora mais um obstáculo físico entre pais-filhos, dificultador do contato direto entre estes.

As particularidades de cada recém-nascido, de acordo com a sua idade gestacional e características, com as suas implicações a nível de comportamento interativo e necessidade de cuidados específicos, constituem aspetos importantes com que os pais se deparam, percecionando-se impotentes no cuidar ao recém-nascido (Watson, 2010).

O ambiente da UCIN, desconhecido e por vezes intimidante e, o fato de os pais não puderem prestar cuidados nem contatar fisicamente com o recém-nascido em situações de extrema prematuridade e instabilidade de saúde, ocasiona que por vezes os pais se sintam como expetadores, não se sentindo parte do grande evento de vida que é o nascimento e consequente cuidado de um filho (Jackson, Ternestedt, & Schollin, 2003).

A transição para a parentalidade em contexto de prematuridade e internamento em UCIN torna-se um período crítico para os pais. Fatores como a imagem do recém-nascido, em contraste com a imagem idealizada, a instabilidade do recém-nascido, o ambiente desconhecido, a alteração do quotidiano da família por internamento do filho e as próprias significâncias atribuídas por cada conjunto de pais a esta vivência, tornam esta transição num processo complexo e multidimensional (Fernandes & Silva, 2015). Cumulativamente, o ruído excessivo da UCIN pode aumentar o stress vivenciado pela família, exacerbando também sentimentos como o medo, a ansiedade e preocupação (Daniele et al., 2012).

Os pais e/ou família do recém-nascidos são afetados pelo ruído excessivo numa fase em que vivenciam uma transição, conceito central na enfermagem de acordo com Meleis (Meleis & Trangenstein, 1994). A transição para a Parentalidade é um processo que evolui no tempo e que é influenciado por alguns aspetos como os significados atribuídos pelos pais a esta transição, as expetativas presentes, o nível de conhecimentos e capacidades que possuem, o meio ambiente, o nível de planeamento antes e durante a transição, e bem- estar físico e emocional percepcionado (Schumacher & Meleis, 2007). Desta forma podemos inferir que a adaptação à parentalidade pode estar comprometida, face ao contexto de prematuridade e que o ambiente da UCIN, como o ruído excessivo, pode constituir um fator que contribui negativamente para esta adaptação.

Estudo efetuado por Grecco, Tsunemi, Balieiro, Kakehashi, e Pinheiro (2013), constatou que as mães consideram que o ruído produz repercussões no recém-nascido, referindo consequências nestes como expressões de desconforto, agitação, choro e irritabilidade, e que interfere na sua capacidade de manter a atenção na interação com o

profissional de saúde, o que pode dificultar a compreensão de informações importantes, podendo gerar conflitos entre pais e profissionais. Estes autores indicam ainda que as mães se preocupam em não fazer barulho quando estão ao lado do seu recém-nascido na unidade, mas observam que os profissionais não possuem a mesma conduta.

Ainda no estudo mencionado, concluíram que as mães consideram a UCIN ruidosa, verificando que quanto mais visitas realizavam aos seus filhos, maior perceção apresentam relativamente ao incómodo do ruído, desencadeando-lhes alterações como cefaleias, agitação, e vontade de chorar. Algumas mães referiam também que quando o ambiente se tornava mais ruidoso tendiam a interagir menos com o recém-nascido, conversando menos com o seu filho, falando mais baixo para este, e diminuindo a interação táctil com o mesmo. Por sua vez, é reconhecido que a falta de oportunidades de um recém-nascido percecionar a voz materna durante a hospitalização numa UCIN, numa fase crítica de desenvolvimento do seu sistema auditivo, pode alterar a sua estrutura cerebral e, consequentemente, contribuir para alterações na audição, na aquisição de linguagem, e atenção (Mcmahon et al., 2012). Aqui se realça a interferência do ruído na comunicação dos pais com o seu filho e também com os profissionais de saúde (Degorre et al., 2016).

Frequentemente os pais sentem-se ansiosos e desconfortáveis nomeadamente com os alarmes ruidosos dos monitores e equipamentos, podendo estes ruídos distrair os pais, desviando o seu foco de atenção do recém-nascido para o ambiente da UCIN (Freudenthal et al., 2013). No entanto, não obstante a evidência verificada, na perceção de alguns profissionais de saúde, o ruído não afeta a família (Aurélio & Tochetto, 2010b).

Alguns estudos referem que o ruído da UCIN pode dificultar a audição e o reconhecimento da voz dos pais pelos recém-nascidos, dificultando assim a interação do binómio pais-filhos, e consequente interferência no processo de vinculação (Peixoto et al., 2011). O ambiente adequado e a responsividade do recém-nascido constituem aspetos importantes nas interações iniciais pais-filhos, essenciais para o estabelecimento do vínculo afetivo, sendo motivador para os pais as reações positivas do recém-nascido. No entanto, e como já mencionado, quando a estimulação ambiental é intensa, como luminosidade e ruído excessivos, o recém-nascido pode parecer “apagado” dificultando a interação com os seus pais. Também um recém-nascido em estadio alerta tranquilo, de acordo com os estadios comportamentais de Brazelton, pode passar para um estadio de alerta ativo e choro quando sobreestimulado. Os pais podem interpretar estas manifestações do recém-nascido como rejeição pessoal, ocasionando stress e frustração, e tal fato pode marcar profundamente os pais nas primeiras interações com o seu filho que são reconhecidas como um fator importante que pode determinar a qualidade de interações com o filho ao longo da vida (Grecco, Tsunemi, Balieiro, Kakehashi, & Pinheiro, 2013).