• Nenhum resultado encontrado

Parte II – Análise da Obra de Rega do Vale do Sorraia

5. A Obra de Rega do Vale do Sorraia e o Regime Económico e Financeiro da Lei da Água

5.6. Discussão

Tendo em conta a receita média gerada pela Taxa de Conservação e Exploração nos últimos seis anos e o volume médio fornecido nesse mesmo período, é possível, numa primeira analise, verificar se a Obra de Rega do Vale do Sorraia cumpre, ou não, o REF a nível global, ou seja, sem diferenciar culturas e áreas.

Atualizando os valores da TEC a preços nominais de cada ano para preços reais de 2016, obteve- se um valor médio de 1.760.134,46€ (Quadro 16), que corresponde a 0,014181 €/m3.

Desta primeira análise se conclui que o preço da água que tem sido aplicado não integra a totalidade das componentes de custos, para qualquer uma das hipóteses analisadas, e, por isso,

Quadro 15 - Preço da água a aplicar para cumprimento do REF

não cumpre o Regime Económico e Financeiro. No entanto, a diferença entre o valor atualmente praticado, partindo da análise da TEC, e o valor a praticar em cada hipótese não é muito acentuada, bastando um aumento de 4% na TEC atual para que o REF seja cumprido relativamente à primeira hipótese (Quadro 17).

Uma vez que, como foi evidenciado no ponto 4.3.4.1 relativo à TEC, culturas diferentes apresentaram, até ao ano de 2016, preços de água diferentes, já que era cobrada uma sobretaxa dependente da cultura, importa considerar uma diferenciação entre essas mesmas culturas.

Através do conhecimento dos preços da água de rega praticados para as três principais culturas da Obra de Rega (arroz, milho e tomate) facilmente se conclui se os mesmos cumpriam ou não o estabelecido na Lei-Quadro da Água através do REF (Quadro 18):

• O arroz não cumpre o REF para qualquer uma das hipóteses estudadas, devendo aumentar em 22%, pelo menos, para cumprir a primeira hipótese (custos de investimento subsidiados através de Orçamento Comunitário).

• O tomate cumpre o REF caso parte dos investimentos sejam subsidiados por Orçamento Comunitário. Se 25% desses subsídios tiver origem no Orçamento de Estado, esta cultura já não cumpre o REF, tendo o preço atual que aumentar cerca de 7%.

• O milho confronta-se com dois resultados diferentes consoante se encontre na zona A (a jusante da confluência da Ribeira do Divor com o Rio Sorraia) ou na zona B (a montante dessa confluência). O milho na zona A cumpre o REF uma vez que o preço praticado é superior ao preço a praticar estabelecido na primeira hipótese; para a continuar a cumprir o REF na segunda hipótese teria de sofrer um aumento de 8%. Já o milho na zona B não cumpre, para qualquer uma das hipóteses, o REF, tendo de sofrer um aumento de 4,3% para cumprir os requisitos relativos à primeira hipótese.

Conhecidas quais as situações que cumprem o REF e as que não o cumprem, importa analisar quais as implicações que teria o aumento do preço da água para cumprimento da Lei.

Quadro 17 - Diferença entre a TEC (€/m3) atual e o valor estimado para cada hipótese

Quadro 18 - Preço da água em 2016 para as três culturas de maior expressão na Obra de Rega, e confronto com o REF

Para isso, será feita, numa primeira analise, o cálculo da Disposição a Pagar (DAP) pela água de rega, para cada uma das culturas.

Posteriormente, de forma mais subjetiva, será feita uma análise ao comportamento esperado do produtor aquando do aumento do preço da água com base no estudo “Evolução Futura da Agricultura de Regadio dos Aproveitamentos Hidroagrícolas Integrados na Federação Nacional das Associações de Regantes (FENAREG)” (FENAREG, 2006). Segundo esse estudo, quando os produtores agrícolas são confrontados com um aumento dos custos de exploração, neste caso partindo de um eventual aumento do custo da água para rega, considera-se que tomem uma das seguintes opções:

• Manutenção das atividades de produção atualmente verificadas, caso os respetivos custos de produção unitária sejam inferiores aos correspondentes preços no produtor e a rendibilidade da atividade justifique a sua manutenção, ou seja se esta for superior ao valor que se estabeleça de rendibilidade mínima para cada cultura (tendo em conta os custos fixos associados, o grau de risco da cultura e apoios financeiros) e/ou ainda quando não existirem atividades de produção agrícola com uma relação preço/custo mais favorável. • Reconversão para atividades de produção agrícola diferentes das que são atualmente

praticadas quando essas alternativas, para idênticas condições de viabilidade técnica e risco empresarial, apresentem, no futuro, uma relação preço/custo mais favorável, e por isso, valores de rendibilidade mais atrativos.

• Pratica de atividades não produtivas mas compatíveis com o regime de pagamento base e ajudas especificas, ou seja, quando atividades que possam apresentar custos de produção unitários superiores aos correspondentes preços no produtor são as alternativas com relação preço/custo mais favoráveis e os produtores agrícolas são incentivados a optar por um conjunto de praticas considerado adequado para contribuir para a conservação da natureza e da biodiversidade das zonas onde as respetivas produções agrícolas estão localizadas. Nesta situação, as atividades agrícolas garantem o respeito pelas boas práticas agronómicas e ambientais que se consideram indispensáveis assegurar.

• Abandono das áreas agrícolas atualmente cultivadas, opção que tenderá a ocorrer quando os custos de produção unitária sejam superiores aos preços no produtor e ainda se os custos que decorrem do respeito pelas boas praticas agrícolas e ambientais levarem os agricultores a desistir do valor anual do correspondente pagamento base.

Uma vez que a probabilidade de ocorrência futura de cada uma destas opções no âmbito dos sistemas de agricultura de regadio depende de mais fatores que não só a variação do preço da água, importa esclarecer que as conclusões aqui apresentadas podem variar bastante consoante diferentes contextos (relativamente a politicas públicas, características edafoclimáticas, estruturais e técnicas das unidades de produção, qualificação profissional e capacidade de gestão dos produtores agrícolas, legislação em vigor, etc.).

5.7. Disposição a pagar (DAP) pela água de rega nas três culturas de maior expressão da