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Parte II – Análise da Obra de Rega do Vale do Sorraia

4. Caso de Estudo – A Obra de Rega do Vale do Sorraia

4.2. Enquadramento regional

Existem, em Portugal, como consequência da elevada assimetria das disponibilidades hídricas, vários problemas de falta de água para rega em determinados períodos do ano, principalmente no

período de abril a setembro. O regadio, componente fundamental da agricultura, permite assegurar a competitividade das explorações agrícolas, e pressupõem a construção de infraestruturas de armazenamento (barragens e açudes) para garantir a existência de reservas de água suficientes nos períodos de maior escassez.

Neste contexto surge a Obra de Rega do Vale do Sorraia, incluída na Região Hidrográfica do Tejo e Ribeiras do Oeste (RH5), uma região hidrográfica internacional com uma área total em território português de 30.502 km2, que integra a bacia hidrográfica do rio Tejo, e ribeiras adjacentes, e a

bacia hidrográfica das Ribeiras do Oeste, incluindo as respetivas águas subterrâneas e águas costeiras adicionais (APA, 2016a).

Esta Obra de Rega localiza-se sobre o rio Sorraia, um dos principais afluentes do rio Tejo em Portugal, na sua margem esquerda, com uma bacia hidrográfica que abrange 7.520km2, e com um

perímetro que ocupa uma longa faixa longitudinal de quase 75 km, na direção E-W ao longo do Rio Sorraia e de dois dos seus afluentes, a Ribeira de Sôr e a Ribeira da Raia. A região do perímetro é topograficamente homogénea, com abertura sensível no sentido do vale principal do Tejo (Anexo 6).

Uma vez que o clima e o solo constituem os recursos básicos para a atividade agrícola, assumindo particular relevo quando se abordam questões relacionadas com o regadio, já que deles e da sua interação depende a necessidade de investimento em infraestruturas de regadio e o potencial acrescido que esses investimentos podem trazer às atividades que deles beneficiam, é necessário conhecer e enquadrar a região em termos climáticos e edáficos.

4.2.1. Clima

Portugal caracteriza-se por acentuada irregularidade dos estados do tempo, com variações ao longo do ano e de ano para ano, sentidas principalmente ao nível da precipitação e da temperatura.

Segundo a classificação de Koppen, o clima de Portugal divide-se em duas regiões: uma de clima temperado com Inverno chuvoso e Verão seco e quente (Csa) e outra de clima temperado com Inverno Chuvoso e Verão seco e pouco quente (Csb), e a região abrangida pela Obra de Rega do Vale do Sorraia é classificada como região Csa.

Segundo Thornthwaite o clima dessa região é do tipo sub-húmido chuvoso, mesotérmico, com grande deficiência de água no Verão e nula ou pequena concentração de eficiência térmica na estação quente (Ferreira et al., 1993).

Foram tidos em conta os dados meteorológicos fornecidos pelo Relatório Agrometeorológico da ARBVS de 2016 relativamente aos fatores mais representativos, tendo em conta que, ao se basear apenas num ano hidrológico, esta análise não permite a determinação de padrões climáticos. No entanto, a variabilidade existente é conhecida, e a apresentação dos dados seguintes servirão como confirmação.

Apesar de, como já foi referido, Portugal apresentar quantidades suficientes de água para satisfazer as necessidades, a sua distribuição e intensidade são muito desajustadas. Não basta conhecer as quantidades de precipitação totais, mas importa analisar a sua frequência, distribuição e intensidade.

Na região da Obra de Rega existe uma relativa homogeneidade a nível macroclimático (Ferreira et

al., 1993), com uma situação hídrica desfavorável: a precipitação apresenta uma grande

variabilidade mensal, com valores nulos ou quase nulos nos meses de Verão e máximos, entre 75 a 100 mm/mês, no semestre de outubro a março.

Em relação ao balanço hidrológico do solo, que permite caracterizar a evolução das reservas hídricas do solo, estimar a evapotranspiração real ocorrida e avaliar quantitativamente os períodos de excesso e escassez de água, obtiveram-se, para o ano hidrológico de 2015-2016, os seguintes resultados:

Existem, ao longo do ano, meses caracterizados por excesso hídrico (neste caso entre dezembro e maio) e, por outro lado, meses de défice hídrico (entre julho e setembro), em que a precipitação é rara ou mesmo nula.

Relativamente à temperatura, elemento meteorológico determinante para o crescimento e desenvolvimento das plantas, na região da Obra de Rega em estudo são frequentes valores elevados nos meses de verão, o que, aliado à reduzida precipitação, pode trazer problemas às culturas. Em 2016 a temperatura média anual de 2016 foi de 15.6ºC.

4.2.2. Solos

Pela importância que o solo tem para o desenvolvimento das culturas e, consequentemente, para o planeamento adequado da atividade agrícola, o conhecimento das suas características é crucial.

Enquanto que, relativamente ao clima, se observa, na zona da Obra de Rega do Vale do Sorraia (ORVS), uma certa homogeneidade, no que toca às características edáficas e consequentes potencialidades produtivas existem nítidas variações. Segundo o PDAR (Ferreira et al., 1993) essas variações originaram a identificação de três grandes zonas: zona de Vale, Charneca e Meseta.

A zona de Vale, uma zona muito plana e com fácil acesso à água para rega, inclui os solos de maior potencial produtivo. Divide-se em:

• Sub-zona Salgados, constituída por manchas de solos halomórficos.

• Sub-zona Sorraia e Tejo, que abrange quase a totalidade dos terrenos beneficiados pela ORVS a jusante da confluência da ribeira do Divor com o rio Sorraia e que são aqueles que apresentam maior aptidão agrícola;

• Sub-zona Pauis e Montante, que inclui áreas a montante da área beneficiada pela ORVS e áreas beneficiadas pela Obra de Rega a montante da confluência da ribeira do Divor com o rio Sorraia, com maiores limitações para a produção agrícola.

A zona de Charneca é constituída por solos de origem sedimentar e apresenta um aproveitamento predominantemente florestal.

E, por fim, a zona de Meseta corresponde a uma pequena área com os solos de origem eruptiva. Apresenta o menor nível de produtividade de recursos aquíferos subterrâneos, permitindo o regadio apenas ao longo das pequenas linhas de água que a atravessam.

Relativamente à sua textura, e de acordo com a Carta de Capacidade de Uso dos Solos, série SROA/CNROA, os solos da região do Aproveitamento foram, classificados em três classes:

• Classe 1: solos de textura fina, sem restrições de espessura efetiva e declive, com reserva utilizável elevada (125 mm/m – 165 mm/m). Classe dominante na zona de Benavente e Samora, e com alguma expressão em Coruche.

• Classe 2: solos de textura média, com poucas restrições de espessura efetiva e com reserva utilizável também elevada (105 mm/m – 210 mm/m). Classe de forte expressão nas zonas de Camões, Cabeção e Mora, e alguma expressão na Venda e em Coruche. • Classe 3: solos de textura grosseira, com reserva utilizável reduzida (20 mm/m – 100

mm/m) e de pequena espessura efetiva.

De uma forma mais abrangente, na Obra de Rega do Vale do Sorraia predominam os solos Hidromórficos Para-Aluviossolos de aluviões de textura pesada ou mediana, e os Aluviossolos Modernos Não Calcários de textura pesada e mediana.