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O objetivo deste trabalho era avaliar e estudar os diversos hábitos de visão mais frequentes nos novos alunos que se inscreveram pela primeira vez na Universidade do Minho e correlacioná- los com a prevalência de miopia dos mesmos. Era pretendido analisar se as diferentes atividades, quer ao ar livre quer em interior, que estes alunos mais praticam podem influenciar o erro refrativo existente ou por exemplo, se a média de entrada na universidade condiciona o erro refrativo ou o comprimento axial ou ainda se o estado fórico dos participantes pode influenciar o erro refrativo ou outros parâmetros oculares. Para isso foi realizado um inquérito que abordou de um modo aprofundado as atividades diárias e os seus hábitos e foram também obtidas as medidas de comprimento axial, raios de curvatura corneal, estado fórico e erro refrativo. A análise de todos estes parâmetros e hábitos de visão permitiu avaliar e analisar a influência que os diferentes hábitos podem ter nos parâmetros oculares medidos.

Todos os dados para este estudo, tantos os hábitos de visão como os parâmetros oculares, foram recolhidos numa única fase, realizada na Universidade do Minho no momento da inscrição dos novos alunos nesta.

Foi possível a participação de 908 alunos, dos quais foram excluídos aqueles que, após uma análise mais detalhada dos dados, reportaram valores incoerentes ou que não responderam à maioria das questões, reduzindo-se assim a população amostral a um total de 705 alunos. De todos estes participantes, nem todos responderam a todas as perguntas mencionadas no inquérito, e como tal, apenas foram analisadas as respostas dadas a cada questão.

A população em estudo era constituída por 40,9% do sexo masculino e 59,1% do sexo masculino que, no geral entraram na Universidade do Minho com uma média de 15,41 ± 1,88 valores. Estes novos alunos tinham idades entre os 17 e os 46 anos, com uma média de 19,6 ± 2,83 (média ± desvio padrão). Relativamente ao distrito onde nasceram a maioria concentra-se na zona de Braga (61,2%), de seguida no Porto (16,1%) de Viana do Castelo. Verificou-se também que dos participantes que nasceram fora de Portugal, 4,1% nasceu em cidades europeias, e apenas 0,7% e 0,3% nasceram em cidades americanas e cidades asiáticas, respetivamente. A grande maioria habita em casas e preferencialmente na cidade.

Observou-se também que estar no computador ou no telemóvel e tablet são as atividades às quais os participantes dedicam mais tempo por dia e que ler e jogar videojogos são atividades onde a amostra despende menos tempo. Em relação às questões ergonómicas, verifica-se uma maior tendência dos alunos para inclinarem a cabeça para a esquerda quando estão a ler e apenas 21,6% se aproxima do seu plano de leitura.

A população em estudo apresentou no inquérito, a miopia (correção para longe) como o erro refrativo mais comum, com 24,1% da amostra a necessitar de óculos para longe, apenas 12,0% precisa de óculos para uso constante e 4,2% apenas para visão de perto. O equivalente esférico mostrou também um valor médio negativo, que confirma os valores miópicos mais elevados. Conseguiu verificar-se também que 71,1% da amostra realiza consultas regularmente e que a grande maioria (80,8%) não deixa passar mais de 3 anos desde a última consulta. No que diz respeito às forias, verificou-se uma tendência para a exoforia.

Após a análise de correlações foi possível verificar que parâmetros como o parto, tempo da última consulta, doenças oculares e gerais, local e tipo de habitação, o regime alimentar e também o facto de dormir com a luz acesa, não apresentaram correlações de interesse estatístico, para além das correlações óbvias obtidas entre si mesmas. O facto de não existirem correlações de interesse estatístico pode ser devido ao pequeno número de casos tanto de doenças oculares, como de pessoas com diferentes regimes alimentares ou que dormem com a luz acesa. No entanto um estudo realizado em Singapura, com crianças, não verificou qualquer diferença na prevalência da miopia entre as crianças que foram expostas a luz durante o período noturno e as que dormem no escuro167. Uma conclusão semelhante foi obtida por Zadnik et al.166. Em relação à alimentação,

Rudnika et al. não encontrada também qualquer relação entre o desenvolvimento visual e o tipo de alimentação que faz7. Os dados deste não permitem assim conclusões sobre a influência dos

diferentes estilos alimentares, pois estes são poucos e com um começo destes regimes há pouco tempo.

Tanto as atividades no exterior como as atividades interiores mostram uma correlação com a variável sexo. Foi possível verificar que o sexo masculino passa mais tempo em atividades como estar no computador e a jogar videojogos, mas apesar disso, é o sexo feminino que passar mais tempo em tarefas como estudar e a ler. Estes resultados estão de acordo com Mezer et al. que verificou que o sexo feminino passa mais tempo a ler e a estudar113 e com Ip et al. 109 que verificou

exatamente o mesmo. O mesmo autor mostra também que é o sexo masculino que passa mais horas a jogar videojogos, o que vai também de encontro com os resultados obtidos neste estudo109.

Em relação às atividades no exterior, verificou-se que o sexo masculino passa mais tempo em atividades ao ar livre, comparado com o sexo feminino, o que vai de encontro com o estudo de Rose et al. que verificou que os rapazes, em média, passam significativamente mais tempo por dia no exterior do que as raparigas10 e de Dirani em 2009, que verificou o mesmo163. As atividades no

exterior estão também correlacionadas com a idade de início de óculos verificando-se que mais tempo no exterior faz com que comecem a usar óculos mais tarde. Isto pode estar associado com o facto de pesquisas recentes mostrarem que o aumento da quantidade de tempo ao ar livre pode proteger contra o desenvolvimento da miopia e, consequentemente precisar de utilizar óculos mais tarde10.

A média correlaciona-se com a idade no sentido em que os participantes mais jovens que se inscreveram na Universidade do Minho, entraram com uma média superior aos participantes mais velhos. Foi também verificada uma correlação entre a necessidade de utilizar óculos para hipermetropia ou para o alinhamento dos olhos e o facto de ter irmãos gémeos idênticos.

A presença de irmãos com óculos está associada ao facto dos pais (pai e mãe) e restantes irmãos necessitarem de óculos também, o que é suportado pelos estudos que analisam a hereditariedade como fator para o desenvolvimento de erros refrativos, como por exemplo para a miopia. Jenny et al. verificou um acréscimo na prevalência da miopia com o aumento do número de pais171 e o mesmo foi verificado por Mutti et al. 110. Um estudo verificou ainda que as correlações

entre irmãos são significativamente maiores do que as observadas entre os pais e filhos66.

Nesta população o equivalente esférico está associado ao sexo, onde a presença de miopia se apresenta mais associada ao sexo feminino do que com o sexo masculino e as mulheres são, no geral, mais míopes que os homens. Esta correlação vai de acordo com alguns trabalhos que estudam os fatores de risco associados á miopia. Lime et al. verificou em 2012 que as raparigas tinham uma maior probabilidade de ter miopia quando comparado com os rapazes203. Na Austrália,

em crianças mais jovens32 e em adolescentes18, na Malásia37, na Grécia43 e na Alemanha44 foi

verificado o mesmo, o sexo feminino mostra prevalências de miopia superiores às reportadas pelo sexo masculino. Tal como em inúmeros estudos realizados noutros países, neste estudo foi verificada uma maior percentagem de alunos com miopia, observando-se um equivalente esférico

miópico182917. Para além disto, foi encontrada também uma maior associação entre o equivalente

esférico e o número de vezes em que os participantes trocam de graduação. Esta correlação foi superior nos estudantes míopes, ou seja, os míopes têm a necessidade de trocar a sua graduação mais vezes. Isto poderá ser devido à maior prevalência à progressão da miopia que se tem verificado em vários estudos, como na Finlândia153 ou como citado por Morgan em 200566 que são consistentes

com os resultados documentados no estudo Framingham Offspring Eye em 19969066.

Como também seria de esperar, os resultados mostram que os participantes que têm miopia apresentam também maior tendência para se aproximarem do plano de leitura e mostraram também que os participantes com astigmatismo oblíquo inclinam mais a cabeça quando estão a ler, mais especificamente para a esquerda.

Em relação aos parâmetros oculares do olho direito, para visão de longe, foi observado um raio de curvatura horizontal e vertical mais pequeno no sexo feminino do que no sexo masculino. As atividades de perto têm também influência sobre os raios de curvatura. Ip et al., após a análise do seu estudo verificou a mesma correlação, ou seja, quantas mais horas despendidas a jogar videojogos, maior o raio de curvatura corneal. Foi possível ainda verificar o contrário em relação ao tempo por dia passado a estudar. Um maior número de horas por dia a estudar está associado a um menor raio de curvatura médio, que também foi verificado no estudo de Ip et al., obtendo a mesma associação.

Para visão de perto o equivalente esférico continua a estar mais associado com o sexo feminino. Curiosamente, o sexo feminino está associado a comprimentos axiais menores quando comparado com o sexo masculino.

Um maior tempo dedicado a tarefas ao ar livre está associado a um comprimento axial mais pequeno. Isto pode ser explicado, uma vez que as atividades ao ar livre são um fator de proteção contra a progressão da miopia, logo um comprimento axial mais pequeno. Dirani et al. verificaram que um maior tempo passado em atividades ao ar livre está associado a uma refração miópica significativamente menor e consequentemente a um comprimento axial também menor163, o que vai

de encontro ao observado neste estudo. Também Jones-Jordan verificou que elevados níveis de atividades ao ar livre se associam a refrações menos mópicas, atuando no sentido de prevenção da progressão e início da miopia161. Ip et al. verificou também no seu estudo que uma maior quantidade

de tempo passado em atividades de perto e menos tempo em atividades ao ar livre provoca um aumento da refração miópica e consequentemente um aumento do comprimento axial109.

A mesma relação anterior foi também observada em relação às horas passadas, por dia, a estudar, onde mais horas a estudar está associado a um comprimento axial menor. Este resultado torna-se um pouco contraditório uma vez que o resto das atividades de visão de perto estão associadas a um comprimento axial superior, mas embora exista uma correlação, esta foi fraca em relação a este aspeto.

Contrariamente, mais horas despendidas no computador ou a jogar videojogos está associado a um comprimento axial maior. Como seria de esperar, as atividades de visão de perto estão associadas a refrações mais miópicas e consequentemente maiores comprimentos axiais. Estes resultados são suportados também por Ip et al.109 que encontrou correlações positivas para

ambos os aspetos, apesar de apenas ser estatisticamente significativa a correlação para a variável jogar videojogos.

Relativamente às forias, o uso de óculos mostra-se mais associado às endoforias que por sua vez estão mais associadas também a uma necessidade de usar óculos mais precocemente. Os resultados deste estudo demonstram também que um maior tempo passado em atividades ao ar livre está associado à presença de exoforias e que as endoforias são mais associadas à miopia enquanto as exoforias estão associadas com a hipermetropia. Uma investigação levada a cabo por Chung et al verificou que a quantidade de miopia era significativamente mais alta nos endofóricos200,

o que suporta dos resultados deste estudo. Um outro estudo verificou que a taxa de progressão da miopia foi mais elevada no grupo dos endofóricos201.

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