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Um dos principais achados deste estudo foi que o número total de chutes (TC) da 1ª a 5ª e da 6ª a 10ª séries somente foi reduzido na condição controle (CTL). No entanto, não houve diferença significante no TC entre as condições e as séries. Como foi observado em nosso estudo piloto, a queda do desempenho do TC dos atletas foi observada com evidência entre a 6ª e 10ª séries de chutes em todas as condições. No entanto, somente foi observada a redução significante do TC na condição CTL. Desta forma, é plausível aceitar que o desempenho dos atletas de taekwondo pode ser prejudicado devido à fadiga, quando o volume de chutes ultrapassou a 6ª série do protocolo de teste FSKT. A queda do TC somente na condição CTL, evidenciou que a restrição do fluxo sanguíneo (20 mmHg – PLA e PCI80) ou a oclusão total do fluxo sanguíneo (PCI100) pode ter efeito positivo sobre a retardo da fadiga muscular em esforços intermitentes de alta intensidade e manutenção do nível de potência muscular.

Para nosso conhecimento, esse é o primeiro estudo que avaliou o efeito do PCI com diferentes níveis de pressão de restrição do fluxo sanguíneo em atividades específicas em atletas do taekwondo. Em nosso estudo, os atletas nas condições PCI100 e PCI80 obtiveram maior desempenho no TC ao realizarem o maior número de golpes ao longo das 10 séries do protocolo intermitente (227,7 ± 20,2 e 224,5 ± 18,0) comparado as condições CTL (220,8 ± 16,9) e PLA (218,5 ± 18,0), respectivamente. O maior número de chutes pode estar diretamente relacionado à maior nível de tolerância a fadiga nas condições PCI100 e PCI80. Por exemplo, embora a [La] não foi diferente entre as condições, foi observada maior magnitude do tamanho do efeito (TE) do aumento da [La] a favor das condições PCI100 vs PLA (TE = 3,53) PCI80 vs PLA (TE = 2,59). No entanto, o TE da condição PCI100 quando comparado à condição PCI80, apresentou grande magnitude (0,94). É plausível aceitar que os ciclos de isquemia/reperfusão induzida pelos protocolos PCI100 e PCI80 causaram maior resistência à fadiga como atividade pré condicionante ao protocolo intermitente, no entanto, na condição PCI100 apresentaram uma pequena vantagem no TC comparado a condição PCI80 (227,7 ± 20,2 vcs 224,5 ± 18,0). Especificamente, neste estudo, não foram avaliados os mecanismos fisiológicos que pudessem elucidar essas respostas. Entretanto, parece que a hiperemia reativa após os ciclos de oclusão/reperfusão contribuíram, em parte, para o aumento da tolerância à fadiga.

Corroborando nossos achados, Libonati et al. (1998) mostraram que a oclusão intermitente do antebraço foi capaz de atenuar a taxa de fadiga muscular e aumentar a taxa de produção total e média de força, seguida de um protocolo de flexão isométrica de punho com 15 contrações máximas. Neste mesmo estudo foi observado o aumento do fluxo sanguíneo em

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até 4 vezes após 2 minutos de oclusão do antebraço. Em outros estudos, os pesquisadores evidências do efeito do PCI sobre o desempenho em atividades intermitentes. No primeiro, Kraus et al., (2015) reportaram o aumento na potência pico na quarta série do protocolo anaeróbico, em comparação com à condição placebo, quando 43 sujeitos foram submetidos a quatro séries de testes máximos de wingate de 30 segundos. No segundo estudo, Griffin et al. (2019) reportaram a redução da fadiga em séries de sprints intermitentes máximos de corrida do teste yo-yo intermitente. Por fim, Da Silva et al. (2020) reportaram que o PCI a 220 mmHg promoveu o maior número de repetições após uma sessão de treinamento aguda que consistiu em seis exercícios de treinamento de força. O aumento no volume de treinamento do grupo PCI foi superior à condição PLA (20 mmHg) e a condição CTL. Estes achados podem estar relacionados às alterações hemodinâmicas e metabólicas, como por exemplo, o aumento na perfusão muscular e maior captação de O2 durante os períodos de recuperação entre exercícios (PARADIS; JOANISSE; BILLAUT, 2016).

Porém, não podemos desconsiderar um possível efeito placebo em nosso estudo, uma vez que a condição PLA (20mmHg) não foi diferente das demais condições PCI80 e PCI100. Em linha com nossos achados, no entanto, com exercícios de força muscular, Marocolo et al. (2016) reportaram o aumento número de repetições máximas após três séries de exercício de extensão dos joelhos, com a aplicação do PCI a 220mmHg, sendo que esses resultados foram superiores à condição CTL sem PCI, no entanto, não foi superior à condição PLA (20mmHg).

O índice de fadiga (IF) diminuiu da 1ª a 5ª e da 6ª a 10 séries na condição PCI100. Esse resultado reforça a afirmação dos efeitos positivos dos ciclos de isquemia/reperfusão sobre o aumento da tolerância à fadiga em esforços repetitivos intermitentes com pouquíssimo intervalo entre as séries (10s). Na mesma direção, o IF da 1ª a 10ª series foi reduzido na condição PCI80 comparado ao CTL. Por fim, o TE de todas as condições com restrição do fluxo (PLA e PCI80) e isquemia (PCI100) foram efetivos para atenuar a fadiga da 1ª a 10ª séries dos protocolos intermitentes e superiores à condição controle (PCI100: TE = 1,1; PCI80: TE = 1,1 e PLA: TE = 1,2). Esse mesmo resultado foi obtido no índice de queda de fadiga (IQD). Embora o efeito placebo parece estar presente nos protocolos com PCI (MACOROLO et al., 2015), este fato chama à atenção para a necessidade de estudos utilizarem o grupo ou a condição controle. Com os nossos resultados do IF e IQD, podemos especular que o mínimo de restrição do fluxo sanguíneo realizado na condição PLA (20 mmHg) promoveu efeito sobre o IF e o IQD nas 10 séries de chutes intermitentes. No entanto, o IF e o IQD pode não ser sensível para captar mudanças significativas no desempenho do atleta, uma vez que o total de chutes da 1ª a 10ª

séries entre as condições foi maior a favor das condições PCI100 (227,7 ± 20,2 vs 218,5 ± 18,0) e PCI80 (224,5 ± 18,0 vs 218,5 ± 18,0) comparado a condição PLA (218,5 ± 18,0).

Reforçando a hipótese do enunciado anterior em favor do PCI100 e PCI80 comparado ao PLA, a análise do escore Z entre as condições mostrou que em cerca de 1/3 da amostra (~33% - 5 dos 15 atletas) da condição PCI100 o número TC se posicionou acima do escore Z = 0 (26,5 chutes), comparado as condições CTL e PCI80 (~13%), bem como da condição PLA (~7%). Além disso, o resultado do escore Z mostrou que o número TC da condição PCI100 foi superior em 6,9 chutes comparado ao CTL, 9,2 chutes comparado ao PLA e 3,2 chutes comparado ao PCI80. Esses valores representam 4,3, 5,7 e 2 vezes mais chutes que a mínima diferença considerada para ser real (MD = 1,6 chutes) determinada nas medidas de reprodutibilidade realizadas na condição CTL.

Os métodos mais comuns de avaliar o impacto das sessões de treinamento e dos combates na carga interna dos atletas, são através do uso de escalas de percepção subjetiva de esforço (PSE), a variação da frequência cardíaca (FC) e análise da concentração de lactato sanguíneo [La]. Haddad et al. (2011) avaliaram 12 atletas de taekwondo por 35 sessões de treinamento, incluindo as competições durante o período e foram registradas PSE e FC. Os pesquisadores encontraram correlações significativas entre as variáveis e carga interna e considerou um método válido para quantificar a carga.

A FC e a PSE dos atletas no presente estudo foram semelhantes entre as condições experimentais. A ausência de diferença da FC e da PSE entre as condições experimentais podem estar diretamente relacionadas ao esforço máximo produzido pelos atletas durante os protocolos. Além disso, a [La] não foi diferente em resposta às condições experimentais (p>0,05). Os valores da [La] observados em nosso estudo ficaram ao redor de 8,19 e 9,09 mmol- 1. Esses valores estão próximos aos encontrados por Bridge et al. (2009) ao investigar combates simulados de atletas de taekwondo. O tamanho do efeito (TE) da [La] entre os protocolos foi de grande magnitude para as condições PCI80 vs PLA (TE = 2,59), PCI100 vs PLA (3,53) e PCI100 vs PCI80 (0,94), respectivamente. O maior TE da [La] na condição PCI100 pode ser atribuído ao maior número do TC. Os valores elevados na [La] observados neste estudo foram semelhantes aos encontrados após os combates da modalidade (HAUSEN et al., 2017), sugerindo assim, alta demanda metabólica que é característica da modalidade (MOREIRA; GOETHEL; GONGALVES, 2016). Por outro lado, Bailey, Jones e Gregson (2012) encontraram menor aumento de [La] durante os estágios do teste incremental, quando precedido por 4 ciclos de PCI a 220mmHg, comparados a condição PLA. Neste estudo também foi

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observado a melhora no tempo do teste máximo de 5km de corrida. Especula-se que a maior oferta de oxigênio tecidual, promovida pelo PCI, poderia contribuir para remoção de lactato sanguíneo (KIMURA et al., 2007). Nesta direção, Patterson et al. (2015) mostraram efeitos positivos do PCI nos primeiros três sprints máximos de 6 segundos em cicloergometro de um total de 12. O aumento da potência pico e da potência produção média foram atribuídos a um possível aumento da produção de ATP, através da concentração de PCr e redução da glicólise anaeróbica após a exposição prévia ao PCI.

Uma revisão feita por Salvador et al. (2016) sugeriu que as mudanças em relação ao acúmulo de lactato podem estar relacionadas a preservação de energia e manutenção do pH intracelular e esta resposta pode ser mediada por substâncias endógenas (por exemplo, adenosina, óxido nítrico, bradicinina, opioides) estimulando receptores, levando à ativação de canais de potássio sensíveis ao ATP. Há também evidências indicando que a função mitocondrial pode ser aprimorada após a exposição ao PCI. (SALVADOR et al., 2016)

O desfecho primário deste estudo foi investigar os efeitos do pré condicionamento isquêmico (PCI) no desempenho anaeróbio de atletas de taekwondo de alto rendimento em um protocolo intermitente de chutes, específicos da modalidade. O desfecho secundário foi comparar os efeitos de diferentes pressões de restrição do fluxo sanguíneo no protocolo de PCI sobre as variáveis de interesse. Neste estudo foi usada a pressão de oclusão arterial adicionada à 20 mmHg usada no protocolo PCI100 (~130 ± 16 mmHg + 20 mmHg), bem como a pressão usada no protocolo PCI80 (~104 ±13 mmHg). Na maioria dos estudos com o PCI têm sido utilizadas pressões arbitrárias, a fim de ocluir o fluxo sanguíneo arterial (~220mmHg). No presente estudo, tanto o protocolo PCI100 quanto o PCI80 foram suficientes para induzir o aumento da tolerância à fadiga mostrado pelo maior aumento no número TC (PCI100: 227 ± 20,1 e 224,5 ± 18,0) comparados à condição PLA (218 ± 18,0) e CTL (220,8 ± 16,9). Além disso, o uso de pressões de restrição menores aplicadas ao PCI pode causar menor desconforto e dor aos indivíduos quando comparados ao uso de pressão arbitrária (ex. 220 mmHg).

Também nos estudos com o PCI, tem sido encontradas ambiguidades em relação à largura e ao tamanho do manguito utilizado nos protocolos (SALVADOR et al., 2016; INCOGNITO; BURR; MILLAR, 2016, MAROCOLO et al., 2015). No presente estudo, foi utilizado manguitos de pressão com 17,5 cm x 92cm em ambas as coxas dos atletas e, como observado anteriormente, as pressões aplicadas no PCI100 foram ~20 mmHg acima da pressão de oclusão (~150 mmHg), com o intuito de garantir a oclusão arterial e 80% da pressão de oclusão (~104 ±13 mmHg) no protocolo PCI80, divergente da pressão arbitrária aplicada nos

protocolos do PCI (~220 mmHg). A maioria dos estudos com o PCI que usam a pressão de 220 mmHg não reporta a largura do manguito usada nos protocolos. Se este nível de pressão fosse usado em nosso estudo, com certeza todos os nossos atletas apresentariam a oclusão arterial e venosa (SALVADOR et al., 2016; CRENSHAW et al., 1988), no entanto, o desconforto aos atletas seria maior do que os apresentado em nosso estudo. Os resultados do nosso estudo apontam para a necessidade de se comparar diferentes níveis de pressão e larguras de manguito com a pressão usada nos protocolos de PCI (220 mmHg). Dos nossos achados, parece que 20 mmHg acima pressão de oclusão arterial é suficiente para induzir as respostas ao PCI.

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