• Nenhum resultado encontrado

Conquanto o estudo sobre os requisitos funcionais de eléctrodos têxteis pareça ter conduzido à realização de eléctrodos viáveis, não foi realizado um estudo sistemático que confirmasse a exacta influência dos factores analisados no desempenho do eléctrodo. Existem alguns indicadores de como a rugosidade e a densidade favorecem o sinal obtido pelos eléctrodos.

O eléctrodo que demonstrou um melhor desempenho foi o LC01, provavelmente por ser a estrutura mais lisa, o que, como defendido por Barker [99], melhora o contacto entre as superfícies do material e da pele. Esse aspecto também tem influência em termos de conforto. Quando menor a rugosidade do substrato têxtil, maior o fluxo de calor e a sensação de toque fresco [99]. O aumento da rugosidade aumenta a força de fricção, que se opõe à força necessária para mover uma superfície sobre a outra [160], ou seja, quanto maior a rugosidade da superfície têxtil, mais difícil se torna de a mover sobre a pele. Embora se possa pensar que ter uma superfície texturada tenha a vantagem de assegurar o posicionamento dos eléctrodos, visto não deslizar, torna mais difícil vestir ou despir (piora a vestibilidade) o que significa que, em termos de conforto, existem mais vantagens em ter uma superfície lisa do que rugosa. Importa salientar que isto é apenas verdade para este caso em particular, porque noutros o aumento da rugosidade pode tornar-se pertinente (ex.: vestuário interior térmico).

Parece ser consistente que eléctrodos fabricados com laçada carregada produzem melhores resultados que os de laçada flutuante. Isso pode acontecer devido à diferença de densidade que existente entre estruturas de ambos os grupos. Teoricamente, se, num mesmo desenho de estrutura de malha, apenas se trocar a laçada flutuante pela laçada carregada, a segunda estrutura terá maior densidade, devido à formação da laçada. Como o aumento da densidade melhora o desempenho do eléctrodo, as estruturas de laçada carregada têm melhor desempenho. Embora esse parâmetro não tenha sido considerado no estudo realizado – trocar uma laçada pela outra no mesmo desenho de estrutura – pode constituir um ensaio pertinente a realizar.

Como verificado, o aumento da humidade na pele como resultado da sudação favorece o contato entre ambas as superfícies da pele e do eléctrodo. Impregnar uma membrana impermeável no eléctrodo resulta na concentração da humidade naquela zona, melhorando o sinal adquirido. Apesar de o fio Shieldex usado parecer ter melhores características eléctricas, peca nas propriedades têxteis. Os fios Bekintex e o Elitex trabalhados são mais semelhantes a fios têxteis convencionais. O Shieldex é demasiado grosso para ser integrado numa malha que se quer fina e

muito áspero e rijo, o que o torna uma escolha desconfortável ao nível do toque e menos flexível que os restantes.

Verifica-se que uma das vantagens de se recorrer ao jacquard em malha é que isso torna possível a integração dos eléctrodos e das ligações através de um único processo. Essa técnica permite igualmente tirar partido de uma tecnologia têxtil para construir um sistema electrónico, ou seja, representa uma real integração de electrónica nos têxteis e isso transforma a superfície têxtil desenvolvida (a malha com os eléctrodos integrados) num e-têxtil, de acordo com o conceito explorado inicialmente.

Como visto anteriormente, o vestuário interactivo implica a integração do conceito de interacção na própria peça. Isso envolve a capacidade de recolher informação do ambiente, analisá-la e activar mecanismos que interagem com o utilizador. No conceito criado, existe uma peça que recolhe dados sobre o estado fisiológico do utilizador através de eléctrodos têxteis e que são transmitidos para uma unidade de controlo (o módulo Shimmer3ExG Unit). Este envia a informação para um dispositivo externo (telemóvel ou computador) que analisa e disponibiliza a informação ao utilizador. A camisola tem apenas as funcionalidades de recolher e enviar a informação, que é disponibilizada noutro aparelho. Pelo pensamento de Gupta [13], vestuário com esse tipo de funcionalidade está entendido no campo do vestuário funcional, em que é adicionada a capacidade de monitorização dos sinais vitais.

Este conflito entre vestuário funcional e interactivo pode ser analisado do ponto de vista dos requisitos da introdução do conceito de interacção no vestuário sugeridos por Lukowics et al. [6]. Segundo os autores, o sistema interactivo tem que providenciar consciência de contexto e ser fácil de usar, automático e ubíquo. A informação sobre a actividade cardíaca e muscular do utilizador é disponibilizada num dispositivo externo à camisola, pelo que o primeiro requisito não é satisfeito pela peça em si, mas por um objecto paralelo. Depois de conectado o módulo à camisola e de configurar o software, os exercícios podem ser realizados sem a atenção do utilizador, mas a forma como a informação é disponibilizada pelo software implica formação na área da saúde para ser correctamente interpretada, pois apenas permite a visualização e gravação de dados recolhidos por um módulo. Uma vez que a camisola utiliza quatro, não se pode afirmar que atenda ao quarto requisito. O utilizador pode realizar os seus exercícios normalmente ao mesmo tempo que o sistema executa as suas funções, o que preenche o terceiro requisito. A peça foi pensada e desenhada de maneira a não interferir com a actividade do utilizador, mas isso ainda não pode

forma como a informação é apresentada ao utilizador. É possível armazenar os dados recolhidos para análise posterior, o que permite à pessoa realizar os exercícios sem qualquer tipo de distracção. Este poderia ainda ser visualizada durante o exercício, o que significa desviar a atenção para o equipamento que disponibiliza a informação. Esse problema é levantado por Taylor [133] sobre a Athos Gear, quando afirma que a informação disponibilizada em tempo real é viciante. A camisola por si própria não disponibiliza informação sobre o estado fisiológico do utilizador, existe sim um sistema superior ao objecto isolado, composto pela camisola, seus componentes electrónicos e o computador ou telemóvel, com funções de monitorização, processamento e comunicação. Não existe a activação de um mecanismo de resposta automático em função dos dados recolhidos e analisados, o que não segue o conceito de vestuário interactivo sugerido por Suh et al. [14], nem vai ao encontro do terceiro requisito de Lukowics [6].

Neste ponto, poder-se-ia dizer que a camisola não se enquadra no espaço do vestuário interactivo, mas no funcional, uma vez que não compreende os requisitos da introdução de interacção na peça, mas seria prematuro tirar conclusões a este propósito, uma vez que o projecto ainda continua em desenvolvimento e melhorias neste campo ainda podem (e devem) ser estudadas. Pode-se pensar se se pretende a interacção na própria peça (ex.: através de activação de outputs visuais ou sonoros para informar a pessoa do seu estado fisiológico ou sobre se está a executar o exercício correctamente) ou se é desejado ter a interacção num dispositivo externo e, então, não se pode dizer que seja uma peça interactiva, mas funcional.

Uma vez que a camisola integra funcionalidades electrónicas, pode-se considerar vestuário electrónico, seguindo o conceito dos têxteis electrónicos. Este pode ser entendido no campo do vestuário funcional, tal como o vestuário interactivo, na medida em que acrescenta funcionalidades pouco convencionais no vestuário – electrónica e computação. Conquanto a adição de electrónica no vestuário por vezes apareça associada ao vestuário interactivo, como visto anteriormente, essa adição na peça não implica necessariamente a existência de sistemas interactivos. Na camisola desenvolvida, ela recolhe e analisa a informação e envia para outro equipamento, mas não existe um princípio de interacção entre objecto e sujeito, como acontece, por exemplo, no projecto NOISE [112].

A viabilidade do módulo usado levanta algumas dúvidas. Mesmo que o protótipo venha a provar um bom funcionamento do sistema com este dispositivo, ligar quatro dispositivos à peça afecta a sua vestibilidade. Embora tenha existido a preocupação de encontrar uma forma mais funcional e até intuitiva de os ligar à peça, o número de ligações torna o processo de vestir e despir a peça

exaustivo, além de representar uma desvantagem em relação a outros artigos existentes no mercado, como o da Athos ou da Hexoskin, que utilizam apenas um dispositivo.

A integração de dispositivos electrónicos de forma amovível, conquanto tenha surgido como uma necessidade de processos de manutenção (em particular a lavagem), pode, na realidade, constituir uma vantagem de mercado. No caso da Athos, se o cliente decide adquirir o equipamento completo, isso significa obter uma camisola, um calção e dois módulos (se optar por recolher informação sobre todos os músculos possíveis em simultâneo). Imaginemos o cenário em que o utilizador pratica musculação três vezes por semana e faz a manutenção da roupa uma vez por semana. Ele teria que adquirir três peças de cada (ou só a camisola ou o calção vezes três no caso de pretender analisar apenas uma parte do corpo). Como o mesmo dispositivo pode ser usado em várias peças, ele não tem que comprar mais um por cada peça a mais que compra. Isto não aconteceria se toda a electrónica estivesse totalmente integrada na própria camisola ou no calção (num cenário imaginário em que toda a electrónica pudesse ser lavada), o que representaria um preço acrescido para o cliente. Seria o equivalente a comprar um computador diferente para usar em cada dia da semana.

A construção do protótipo da camisola ainda será necessária para avaliar os resultados no método de design aplicado. A produção da camisola com o padrão dos eléctrodos e circuitos em jacquard permitirá perceber se a estratégia encontrada para desenhar o padrão é viável para situá-los nas zonas correctas do corpo e faculta informação sobre as alterações a realizar, se aplicáveis. Durante o processo de fabricação dos eléctrodos, foi possível verificar os efeitos funcionais da deposição de um elastómero – silicone – para isolamento. Esse material não tem que ser transparente como o usado e pode ter um grande contributo na expressão da peça, se trabalhado, por exemplo, ao nível da cor. É preciso ainda confirmar se as conexões com molas de pressão são consistentes ou se se deve pensar noutro tipo de ligação. Os próprios circuitos de ligação passam a ter um novo desenho em comparação com as amostras produzidas (já não são uma pequena linha recta adjacente ao eléctrodo) e isso pode ter influência na conductividade eléctrica, um parâmetro que tem ainda de ser estudado. A construção de um primeiro protótipo permitirá ainda avaliar os requisitos inicialmente impostos. Todos estes aspectos confirmam mais uma vez o pensamento de Stappers [110] sobre o todo o conhecimento que o protótipo é capaz de fornecer.

Segundo Seymour [9], o vestuário interactivo varia entre diferentes níveis de função e expressão, que vão determinar o processo de design, como referido anteriormente. No projecto actual, essa

expressão, conquanto essa também seja explorada. No entanto, os métodos de design estético ou funcional podem ser congruentes.

Para perceber essa questão, podem ser comparados os processos de desenvolvimento do projecto corrente e do NOISE, em que o primeiro é trabalhado mais ao nível da função e o segundo se foca em questões de expressão da peça. Ambos os projectos seguem o pensamento de Shiefferstein e Hekkert [109], na medida em que é definido um conceito ainda antes de se considerar um produto específico Há um processo de exploração de materiais, de modo a obter o conhecimento necessário para desenhar com esses materiais – no NOISE, foi o processo de trabalhar com fitas em LED; no EHR-Physio, foi o estudo conduzido com eléctrodos têxteis – e o próprio processo de design foi afectado. Todos os estudos efectuados nos projectos vão ao encontro da ideia de Mazé e Redström [102], em como a introdução desses novos materiais e a expansão do espaço de design cria a necessidade de pensar novos métodos de design.