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Requisitos Funcionais e Estéticos do Vestuário Interactivo

2. Estado da Arte

2.5. Requisitos Funcionais e Estéticos do Vestuário Interactivo

Os primeiros trabalhos sobre vestuário inteligente eram bastantes funcionais, mas pouco apelativos. Projectos mais recentes conseguem combinar estética e funcionalidade de forma harmoniosa, notando-se um crescente interesse em transformar as diferentes formas de vestir tecnologias em algo que fosse agradável de usar e que fosse ao encontro das formas de expressão pessoais. Essa forma de vestir incorpora elementos que a transforma numa interface interactiva entre o corpo e o ambiente, que comunica emoções, experiências e significados [9].

Na literatura, verifica-se a existência de vários projectos de vestuário interactivo que dão ênfase ao processo e requisitos de design, mas focam-se sobretudo no desenvolvimento e avaliação de aspectos funcionais e ignoram factores relacionados com a expressão da peça [12].

Segundo Lukowicz [6], existem quatro requisitos fundamentais na integração do conceito de interacção no vestuário: consciência de contexto (capacidade de informar o utilizador sobre a actividade física, estado emocional e fisiológico ou sobre condições ambientais); facilidade de utilização (que possa ser operado com o menor esforço cognitivo possível); automação (execução do maior número de tarefas possíveis sem intervenção do utilizador – ex.: medição e transmissão de sinais vitais automaticamente); e ubiquidade (não deve afectar o aspecto geral da peça nem a forma de expressão do utilizador).

2.5.1. Consciência de Contexto

O sistema deve ser capaz de interagir com o ambiente através de uma rede de diferentes sensores distribuídos em várias partes da roupa. Em particular, tem que desenvolver um certo grau de consciência da actividade do utilizador, do seu estado fisiológico e emocional, e da situação em redor (tradução do autor, segundo o original em [6]).4

Segundo Chunyan [12], o vestuário interactivo deve ser capaz de detectar sinais externos (ambiente) ou internos (corpo), armazenar e analisar a informação e desempenhar uma determinada função automaticamente, reagir ou ajustar-se em função da informação anteriormente processada. Essa ideia vai ao encontro do primeiro requisito proposto por Lukowicz

et al. [6] – consciência de contexto – na medida em que um sistema de consciência de contexto carece daqueles três componentes.

2.5.2. Facilidade de Utilização

O interface de utilização deve ser operado com o menor esforço cognitivo e sem (ou pouco) envolvimento das mãos. Em geral, a baixa carga cognitiva é conseguida através de um uso apropriado da informação de contexto. Daí que, por exemplo, em vez de o utilizador ter que selecionar uma função a partir de uma hierarquia complexa de menus, o sistema deve derivar as duas opções mais prováveis a partir da informação de contexto e apresentar ao utilizador uma escolha binária simples. Em termos da modalidade de entrada de sinal, modalidade simples e naturais como um abano de cabeça, um simples gesto ou um comando verbal são preferíveis (tradução do autor, segundo o original em [6]).5

Yao e Warren [113] estudaram o problema da facilidade de utilização em aparelhos para monitorização de parâmetros fisiológicos. Segundo os autores, no contexto da facilidade de utilização, os aparelhos devem requerer pouca ou nenhuma atenção por parte do utilizador para se manterem operacionais; a informação deve ser disposta automaticamente, sem necessidade de configurações manuais; e deve ser intuitivo, permitindo simples leitura e interpretação. Os autores também defendem que os aparelhos não podem ser obstrutivos (não podem dificultar os movimentos) e a informação tem que estar disponível no momento exacto em que é requerida.

2.5.3. Automação

Ao usar informação sobre o contexto, o sistema deve ser capaz de executar um vasto número de tarefas sem qualquer intervenção do utilizador. Isso inclui autoconfiguração de tarefas bem como recuperação, distribuição e recolha automática de informação que podem ser relevantes para o utilizador numa situação específica. Um exemplo trivial de uma reconfiguração dependente do contexto pode

5 “The user interface needs to be operated with minimal cognitive effort and with no or little involvement of hands. In

general the low cognitive load is achieved through appropriate use of the context information. Thus for example instead of having the user select a function from a complex hierarchy of menus, the system might derive the two most likely options from the context information and present the user with a simple binary choice. In terms of the actual input

ser um telemóvel que automaticamente altera para modo silencioso durante uma reunião (tradução do autor, segundo o original em [6]).6

Essa ideia é reforçada por Berzowska [11], quando afirma que o consumidor de vestuário interactivo deve ter a possibilidade de efectuar as diferentes tarefas do dia-a-dia sem dificuldade e conseguir fazê-lo sem ter medo de danificar o aparelho ou alguma das suas partes. A pessoa deve ter a possibilidade de correr, saltar, dançar e andar no meio da multidão. Elas devem vestir o computador facilmente e sem esforço, sem terem medo de deixar cair ou partir os componentes, além de que não deve ter um aspecto estranho ou ser perigoso.

2.5.1. Ubiquidade

O sistema tem que ser integrado no vestuário de modo a que não interfira com as actividades físicas do utilizador nem afecte a sua aparência. Isso significa que, ao contrário de dispositivos móveis convencionais, pode ser usado em praticamente qualquer sítio (tradução do autor, segundo o original em [6]).7

A ideia de que o vestuário interactivo não pode afectar a forma como o indivíduo se expressa na sociedade é salientada por Sul et al. [14], quando afirma que:

O vestuário interactivo tem que conter uma função prática tal como os dispositivos electrónicos e um aspecto atraente e valor emocional como peças de moda.8

A presença de tal requisito é também reforçada por Chunyan [12], ao afirmar que a tecnologia deve integrar componentes escondidos dentro do próprio vestuário.

Isto não significa no entanto que a tecnologia tenha que estar obrigatoriamente escondida. Segundo Suh et al. [14] a tecnologia quando visível deve ter um bom apelo estético. Se o objectivo é que a peça tenha o aspecto de uma roupa convencional, então a tecnologia terá que estar invisível. A pessoa também pode preferir tecnologia invisível por motivos de segurança (ex.: evitar assaltos).

6 “Using context information the system should be able to perform a wide range of tasks without any user interaction

at all. This includes system self-configuration tasks as well as automatic retrieval, delivery, and recording of information that might be relevant to the user in a specific situation. A trivial example of a context-dependent reconfiguration could be a mobile phone that automatically switches off the ringer during a meeting”

7 The system must be seamlessly integrated in the outfit so that it neither interferes with the user’s physical activity

Isto significa que a inserção de tecnologia no vestuário deve estar coerente com a estética pessoal. É importante considerar o pensamento de Kaiser [114], em que uma peça de vestuário é um símbolo que possui uma enorme variedade de significados e a tecnologia vestida no corpo não será diferente. Segundo Regan et al. [115], a roupa é 80% estética e 20% função e, de acordo com Rosenblad-Wallin, o vestuário tem ambos valores funcional e simbólico para o utilizador, o que mais uma vez realça a importância da estética no desenvolvimento desse tipo de vestuário. Bryson [116] conclui que o apelo estético é uma parte integrante do sucesso dos mercados de moda e vestuário.