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Discussões do Método Etnográfico

O método etnográfico define os procedimentos teóricos e práticos usados em pesquisas sociais. É entendido como um procedimento do tipo teórico e prático usado geralmente em pesquisas de caráter social, quando são descritas as atitudes socioculturais de indivíduos (FETTERMAN, 1989).

Esse método passou a ser usado quando os pesquisadores entenderam o valor das pesquisas realizadas a partir da coleta de dados realizada pelo pesquisador, fato que até o final do século XIX não era executado por eles, mas por religiosos em missão ou por viajantes que tinham como tarefas a coleta de informações a respeito de uma dada região cujas informações eram passadas aos pesquisadores para as devidas análises. Assim, a falta de contato direto do pesquisador com os sujeitos, poderia implicar imprecisão dos resultados, por não poder, assim, contar com aspectos específicos como atitudes e comportamentos dos sujeitos.

A ausência de cientificidade na coleta dos dados pode levar a adoção de critérios que nãoatendam às reais necessidades das pesquisas. Assim, adotou-se uma nova forma de fazer pesquisa social. O primeiro pesquisador a adotar o método etnográfico, foi Franz Boas, 1976, cujo significado de uma atitude ou de um comportamento do sujeito somente poderá ser traduzido se estiver relacionado ao contexto em que ocorreu o fato. Esse fato sugere que a presença do pesquisador no local da pesquisa é necessária, a fim de que ele possa cientificar- se dos fatos que ali ocorreram.

Após essa fase, adotou-se o mesmo método usado em outras pesquisas, que ganhou destaque no mundo científico e de maneira especial, no campo da Antropologia (MALINOWSKI, 1980). Vale destacar que uma das maiores vantagens do método é o fato de o pesquisador estar próximo do pesquisado, favorecer as observações, particularmente, se a cultura pesquisada for desconhecida pelo pesquisador, fato vivenciado pelo autor deste trabalho durante esta investigação, em virtude de não dispor de qualquer conhecimento do funcionamento do sistema penitenciário onde ocorreu a pesquisa.

Nessa perspectiva, percebe-se que as sociedades são sistemas lógicos, bem estruturados e nelas centraram-se estudos, buscando explicações plausíveis e específicas de cada sociedade (MALINOWSKI, 1980). Este estudioso procurou valorizar cada costume, atitude ou evento que aparentemente não tivesse nenhuma importância, pois entendia que o valor de cada ação poderia representar significados importantes de uma sociedade. O mesmo pesquisador valorizou, de maneira especial, a linguagem, concebendo-a como ação, ao tempo em que investigou a forma como as ações objetivadas através da linguagem apresentam significados no seu contexto de realizações. Este estudioso dedicou seus estudos à descrição e análise de sistemas, objetivando descobrir os significados, o que foi constituído, o que somente é possível se o pesquisador estiver envolvido diretamente com os sujeitos pesquisados, com vistas à percepção dos gestos, das atitudes e dos comportamentos de cada sujeito.

Neste sentido, pode-se dizer que a pesquisa etnográfica tem como base a descrição da forma de constituição de grupos sociais, como também a distinção entre regras como traços culturais e aquilo que não se inclui entre os fenômenos que necessariamente se encontram expressos em um código de regras, mas está incorporado ao ser humano.

Discute-se que a prática etnográfica não é apropriada para pesquisas sociais tendo em vista que os dados revelados são meras interpretações de caráter subjetivo, sendo apenas impressões e não resultados concretos que possam fundamentar uma análise científica (HAMMERSLEY e ATKINSON, 1989). Contudo, há pesquisadores que a defendem sob a

ótica de que somente através da etnografia, os significados que dão forma e conteúdo aos processos sociais podem ser compreendidos. Este pensamento é corroborado pelo autor desta tese.

Dois pontos importantes devem ser levados em consideração à prática etnográfica: a) o método não deve ser visto como uma simples técnica de coleta de dados, definida pela fixação do pesquisador ao local da pesquisa durante sua execução, objetivando observar o comportamento dos sujeitos em tempo e lugar reais, colher dados, fazer perguntas, para retirar aquilo que interessa à investigação; b) a prática se refere à ligação do método à Antropologia, uma vez que a etnografia nasceu no seio dessa disciplina. Observa-se que a etnografia não pode ser comparada à Antropologia, pois em ciência as coisas se definem a partir da visão que cada cientista tem, ao tempo em que Geertz (1978) diz que a prática etnográfica não pode ser comparada a uma técnica de seleção e coleta de dados, e que a definição da etnografia está relacionada ao tipo de esforço intelectual que ela representa.

As atitudes dos sujeitos e as preferências pelas teorias escolhidas podem até influenciar o pesquisador quanto à escolha de execução de sua pesquisa a partir dos pontos convergentes ou divergentes entre os integrantes de uma dada comunidade. A decisão depende da noção de cultura adotada pelo pesquisador, tal como se pode ver o profissional da etnografia, o qual deve se preocupar com alguns pontos que oportunizam o desenvolvimento da pesquisa, tais como: Quais as atividades que as pessoas fazem na vida? Quem controla o acesso à tecnologia? O que as pessoas sabem, pensam ou sentem? De que modo são classificados os objetos? (DURANTI, 1997).

Diante dessas perguntas, cabe ao pesquisador encontrar respostas satisfatórias a cada uma delas. Contudo, algumas ficam sem resposta, uma vez que as pesquisas envolvem sujeitos que, como todos os seres humanos, apresentam suas contradições.

Nesta tese, tomou-se como método de estudo a etnografia, tendo em vista que os fenômenos alcançados por ela têm são de grande variedade de ocorrências. Isto implica dizer que os resultados aqui apontados foram decorrentes da coleta de dados a partir de observações registradas em lugares reais, em tempo e espaço específicos, o presídio, campo de pesquisa.