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Leitura como Atividade de Interação Social

1.3 Leitura e Escrita: Bases para o Letramento

1.3.1 Leitura como Atividade de Interação Social

comunicativos.

1.3.1 Leitura como Atividade de Interação Social

A ausência de uma política voltada para o ensino de leitura tem repercutido negativamente na qualidade do ensino de língua portuguesa, em especial, nas séries iniciais do ensino fundamental. Daí se entender que os desafios enfrentados nas práticas de leitura não podem ser solucionados sem o estabelecimento de políticas voltadas para a superação dessas dificuldades, em especial, iniciando-se nas primeiras séries do ensino fundamental e com programas de formação de professores com vistas à prática de leitura de forma interativa.

O professor deve ser antes de tudo um incentivador da leitura, um colaborador no processo de aquisição do hábito de ler. Nesse caso, é de bom alvitre que o professor promova momentos de leitura livre em que ele próprio leia um texto e crie situações de discussão sobre o texto lido. Na ocasião, os alunos devem trocar sugestões, estimular aqueles que ainda não despertaram para a importância da leitura. O professor, nesse momento de interação deve assegurar-lhes a liberdade de escolha do material a ser lido, deve também estimular os alunos à prática de leitura através de planejamento de atividades regulares dentro e fora da sala de aula, promovendo o hábito de leitura, exercício que leva o aprendiz à descoberta de outros mundos, e, para isso, é preciso que haja orientação da escola e acompanhamento da família.

À medida que o aprendiz vai se tornando mais independente para executar suas tarefas, o professor pode criar situações didáticas adequadas que permitam a ele exercitar-se na leitura dos diferentes textos para os quais já tenha adquirido uma competência, ou pode empenhar-se no desenvolvimento de novas estratégias, podendo ler, inclusive, textos de produção mais recente e de compreensão mais complexa.

Sugere-se, dentre outros tipos de leitura, a colaborativa, aquela que “é uma atividade em que o professor lê um texto com a classe e, durante a leitura, questiona os alunos sobre índices linguísticos que dão sustentação aos sentidos atribuídos” (PCNs, 1998, p. 72). É importante que os aprendizes que participam da prática de leitura sejam capazes de identificar os procedimentos usados para atribuir sentido ao texto, a partir de pistas linguísticas, sejam capazes de realizar inferências, de antecipar determinados acontecimentos, de legitimar previsões feitas, dentre outros procedimentos, de modo que haja uma interação entre aprendizes e professor.

sobre a interação do autor são aspectos de conteúdo que estão relacionados à compreensão de textos, para os quais a leitura colaborativa tem muito a contribuir. Na mesma linha de raciocínio, tem-se o sócio-interacionista que ressalta a natureza dinâmica da interação entre professores, leitores e textos e ainda propicia uma perspectiva de aprendizagem a partir da interação com o outro.

Partindo-se dessas contribuições, observa-se que fatores afetivos e cognitivos podem ser responsáveis pela apreensão e produção de mensagens que estão presentes nos componentes que formam o processo de leitura no contexto de sala de aula. Nesse sentido, os fatores afetivos do leitor constituem elementos de motivação para ler: crenças e outros valores socioculturais. As condições cognitivas envolvem o conhecimento da língua, as habilidades de análise da palavra, as estratégias de processamento do texto e a compreensão dos padrões interacionistas no ambiente social em que vive a criança e o da sala de aula. É o que defende a teoria interacionista, cujo propósito é discutir o processo de elaboração da linguagem, como uma espécie de caminho percorrido pela consciência do leitor (VYGOTSKY, 1998). Dessa forma, destaca-se o papel da interação social no desenvolvimento dos processos psicológicos superiores, ao tempo em que se referencia a linguagem, percurso pelo qual se elabora a consciência humana.

Nessa linha de raciocínio, destaca-se que a palavra é importante na interação social a fim de manter a relação entre sujeitos, considerando-se que o homem é um ser essencialmente social e histórico e as interações humanas podem afetar o pensamento e o raciocínio das crianças, sendo necessário que se tracem mecanismos que proporcionem a essas crianças boas condições para o domínio da palavra.

Seguindo esse pensamento, percebe-se que na interação autor/leitor a palavra tem uma importância muito grande e comporta duas faces: primeira – a palavra é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém, processo da interação do locutor com o ouvinte; segunda – a palavra é, portanto, território comum aos integrantes da interação (BAKHTIN, 2000).

Talvez se possa dizer que a leitura é um fragmento de uma corrente de comunicação verbal ininterrupta que deve ser compreendida em profundidade e não se restringe à decodificação do signo linguístico.

A linguagem, em seu sentido amplo, é um instrumento que atua para modificar o desenvolvimento e a estrutura das funções psicológicas superiores, tanto quanto os instrumentos criados pelos homens modificam as formas humanas de vida (VYGOTSKY, 1998, p. 149).

de estruturas abstratas, mas em seu aspecto funcional, psicológico e constituidor do sujeito. Acresce-se a esse pensamento a tese de que:

O significado das palavras é um fenômeno de pensamento apenas na medida em que o pensamento ganha corpo por meio da fala e só é um fenômeno da fala na medida em que está ligado ao pensamento, sendo iluminado por ele. É um fenômeno do pensamento verbal, ou de fala significativa – uma união da palavra e do pensamento (VYGOTSKY, 1998, pp. 150-1).

Neste caso, a relação entre o pensamento e a palavra é vista como um processo em constante atualização: o pensamento e a palavra não são um objeto estático, mas algo que nasce e se prolonga por muito tempo, passando por várias mudanças. Ainda no raciocínio vygotskyano, percebe-se que o desenvolvimento da linguagem justifica o aparecimento das demais operações mentais que envolvem o uso de signos. Com isso, entende-se a leitura como uma das atividades que propiciam conhecimentos à criança. Ressalte-se que é na atividade prática, na interação, que os homens estabelecem, entre si, as funções humanas. Desse modo, diz-se que o homem adquire experiência e conhecimentos através do relacionamento com outros homens, seja através das atividades laborais, dos instrumentos físicos produzidos ao longo da história da humanidade, seja por meio do conhecimento adquirido através das gerações precedentes e culturalmente disponíveis.

A importância das interações sociais no desenvolvimento cognitivo está nas análises das práticas educativas. Isso é chamado de zona proximal e conceituado como:

A distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento proximal determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros reais capazes (VYGOTSKY, 2000, p. 112).

A zona de desenvolvimento proximal é o domínio psicológico em constante atualização, a interação leitor/texto:

Tem por base não apenas a competência comunicativa dos leitores como também seus sistemas de crenças que influenciam e são influenciados por variáveis de desempenho. Sistemas de crenças talvez sejam melhores entendidos como sistemas de valores, uma vez que crenças estão subjacentes a valores pessoais (CAVALCANTI, 1989, p. 45).

Logo, os sistemas de valores podem ser vistos como estruturas de conhecimento. A diferença entre sistema de valores e conhecimento é que os sistemas de valores subjazem às atitudes, e as estruturas de conhecimento – os esquemas – subjazem ao estabelecimento de conteúdo proposicional.