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1. INTRODUÇÃO

1.3 Disfagia Orofaríngea

Qualquer alteração na dinâmica da deglutição é denominada disfagia orofaríngea. A disfagia é um distúrbio que afeta qualquer parte do trato digestivo proximal, desde a cavidade oral até o estômago. Pode causar alterações em uma ou mais fases da deglutição – fase oral, fase faríngea, fase esofágica. A disfagia pode trazer graves consequências para o paciente, como a aspiração de alimento e/ou saliva para a árvore traqueobrônquica, trazendo prejuízo aos aspectos nutricionais, de hidratação, no estado pulmonar, prazer alimentar e social do indivíduo, podendo até levar o paciente a óbito devido a essas complicações(FURIA, 2009).

Pode ser resultante de causas neurológicas, mecânicas, psicogênicas, iatrogênicas e idiopáticas (SPADOTTO et al., 2008) e ocorrer em diferentes faixas etárias, podendo ser congênita ou adquirida.

A disfagia orofaríngea pode ser manifestada com um ou mais sintomas, como dificuldade no preparo e ejeção do bolo alimentar, escape de alimento pela cavidade nasal, atraso no início da deglutição, penetração e/ou aspiração de alimentos para as vias aéreas superiores, acúmulo de alimentos na cavidade oral e/ou recessos faríngeos após a deglutição (COOK, 2009).

É um sintoma e não uma doença, podendo ser a primeira manifestação clínica de uma doença de base (MARCHESAN, 1995).

Métodos de avaliação da deglutição

Avaliação clínica da deglutição

O fonoaudiólogo é o profissional capacitado para diagnosticar e tratar a disfagia orofaríngea, de forma a estabelecer uma deglutição mais segura para o indivíduo (CARRARA-DE-ANGELIS, 1999). A avaliação clínica da deglutição precede qualquer avaliação instrumental.

A completa avaliação clínica da deglutição normalmente consiste basicamente de duas etapas: inicialmente o fonoaudiólogo coleta informações de anamnese (queixas a respeito da dificuldade de deglutição e revisão da história médica), e avalia os órgãos fonoarticulatórios e a condição dentária do paciente a fim de verificar se eles fornecem condições adequadas para que o processo de deglutição ocorra sem alterações. (VALE-PRODOMO; CARRARA-DE- ANGELIS; BARROS, 2009).

Em seguida, para os pacientes capazes de realizar a avaliação funcional da deglutição, são oferecidos alimentos em diferentes consistências (líquida, pastosa, sólida) e volumes com o objetivo de analisar a biodinâmica da deglutição e determinar as consistências alimentares mais seguras para o paciente (VALE-PRODOMO; CARRARA-DE-ANGELIS; BARROS, 2009).

Geralmente, é reconhecida como um dos componentes da avaliação global, e seus resultados determinarão se a avaliação instrumental da disfagia será necessária(MATHERS- SCHMIDT; KURLINSKI, 2003).

Avaliação instrumental da deglutição

Existem métodos instrumentais para complementar a avaliação clínica da deglutição, como a videoendoscopia da deglutição, na qual a fase faríngea da deglutição pode ser examinada objetivamente, permitindo a avaliação funcional da deglutição na região faringo- laríngea (MANRIQUE; MELO; BÜHLER, 2001); a manometria esofágica, que permite verificar a coordenação da contração faríngea com o relaxamento do EES (COOK, 2009) e a cintilografia que é um método mais utilizado em crianças para verificar a presença de resíduos faríngeos e tempo de trânsito em cada fase da deglutição (SILVA; DANTAS; FABIO, 2010). No entanto, a videofluoroscopia da deglutição é defendida como exame padrão-ouro na avaliação objetiva da dinâmica da deglutição (COSTA, 1999; SPADOTTO et al., 2008; ANÉAS; DANTAS, 2014) e na detecção e monitoramento da disfagia oral e faríngea, e da aspiração traqueal (MARTINO et al., 2009).

Videofluoroscopia da deglutição

A videofluoroscopia da deglutição permite a visualização de todas as fases da deglutição (preparatória oral, oral, faríngea e esofágica) (SPADOTTO et al., 2008). É o

melhor exame para avaliação das fases oral e faríngea, no qual é permitida uma clara identificação de quais e em que extensão se deu o acometimento destas fases. (COSTA, 1999). É importante a presença do fonoaudiólogo, que é o profissional frequentemente envolvido no diagnóstico e tratamento da disfagia, e de um radiologista durante o exame (ANÉAS; DANTAS, 2014).

Trata-se de um exame radiológico o qual utiliza a movie-typex-ray denominado fluoroscopia (ANÉAS; DANTAS, 2014), que tem como objetivo diagnosticar as alterações de deglutição e definir a conduta terapêutica para os diferentes distúrbios, proporcionando ao fonoaudiólogo dados anatômicos e funcionais minuciosos, permitindo a avaliação de diferentes consistências alimentares e volumes misturados ao contraste de bário, em diferentes visões (CARRARA-DE-ANGELIS, 1998). Com a visualização do percurso do bolo alimentar no trato aerodigestivo em tempo real, o exame apresenta alta sensibilidade e especificidade no diagnóstico da aspiração traqueal (BHATTACHARYYA; KOTZ; SHAPIRO, 2003). Pode ser utilizado em pacientes de todas as idades e com as mais diversas patologias. Dentre as desvantagens deste exame estão: exposição à radiação (apesar de serem doses expressivamente menores que as admitidas para avaliações médicas), utilização do contraste de bário e a subjetividade na análise pelos examinadores (ANÉAS; DANTAS, 2014).

As primeiras observações do exame videofluoroscópico devem ser dirigidas ao estudo da integridade morfológica das estruturas anatômicas regionais. A integridade dos ossos também deve ser observada (COSTA, 1999).

Há alguns anos, era possível apenas avaliar imagens da videofluoroscopia da deglutição de forma qualitativa. Na análise qualitativa, observamos dentro das fases preparatória e oral, aspectos descritivos do tempo para iniciar a manipulação do bolo na cavidade oral, incontinência labial, alteração na formação de bolo coeso e único, perda prematura, aumento do tempo de trânsito oral e estase em cavidade oral. Na fase faríngea

observamos aspectos como tempo para iniciar a fase faríngea da deglutição, redução do contato da língua contra a faringe, estase em valécula e recessos piriformes, redução da elevação laríngea, estase na constrição faringoesofágica, deglutições múltiplas, aumento do tempo de trânsito faríngeo, penetração e aspiração laringotraqueal (BARROS; CARRARA- DE-ANGELIS, 2009).

Spadotto et al., 2008, desenvolveram um software para a obtenção de parâmetros quantitativos do exame videofluoroscópico, possibilitando dessa forma, uma análise mais objetiva dos eventos da deglutição, como mensuração da velocidade destes mesmos eventos e da área residual em recessos faríngeos.

A duração dos eventos da deglutição, principalmente nas fases oral e faríngea, é influenciada pelo volume e consistência do bolo ingerido (DANTAS et al., 1990) e por doenças e alterações sistêmicas, que afetam de alguma forma a dinâmica da deglutição.

Figura 3. Imagem de um exame de videofluoroscopia da deglutição

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