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Segundo a World Health Organization uma saúde oral deficitária tem um profundo efeito na saúde geral dos indivíduos. A experiência de dor orofacial, problemas com a mastigação, sorriso e comunicação tem um grande impacto na rotina diária e na qualidade de vida das pessoas (Petersen et al., 2005).

As disfunções temporomandibulares (DTMs) são um grupo de condições médico-dentárias que afectam a articulação temporormandibular (ATM) e/ou os músculos da mastigação, assim como, os tecidos contíguos (NIH, 1986) ou estruturas associadas (AAOP, 2008). As DTMs são consideradas desordens músculo-esqueléticas do sistema estomatognático e envolvem, normalmente, dor, distúrbios na dinâmica mandibular e/ou limitação funcional (AAOP, 2013a). Como conclusão do resultado do estudo prospectivo de coorte “Orofacial Pain: Prospective Evaluation and Risk Assessment” (OPPERA), as DTMs foram consideradas não como condições de dor orofacial localizada mas como desordens multissistémicas com sobreposição de outras comorbidades (Slade et al., 2013).

A dor é uma das características principais das DTMs e também a principal razão para os indivíduos procurarem tratamento (LeResche et al., 1992). Em casos de dor recorrente e persistente, as DTMs podem seguir uma evolução crónica (Dworkin & Massoth, 1994) e são a forma mais comum de dor orofacial crónica (Von Korff et al., 1988). São consideradas a segunda desordem músculo-esquelética mais comum, depois da dor lombar, e afectam entre 5-12% da população, com um custo anual estimado, para os Estados Unidos da América (EUA), de 4 biliões de dólares (NIDCR, 2012).

Num extenso estudo epidemiológico realizado em 15 países europeus e Israel, por questionário telefónico, verificou-se que a dor crónica, de moderada a severa, ocorreu em 19% dos adultos inquiridos (n=46384) e afectou de forma grave a sua qualidade de vida tendo sido considerada um problema major de saúde pública (Breivik et al.,

2006). Nesse estudo a prevalência de dor crónica foi ligeiramente mais elevada nas mulheres que nos homens. Num outro estudo realizado em 17 países, dos cinco continentes (África, América, Ásia, Europa e Oceânia), por entrevista presencial, numa população total de 85052 adultos, nos últimos doze meses, a prevalência de dor crónica foi de 37,3% nos países desenvolvidos e 41,1% nos países em vias de desenvolvimento. Verificou-se, também, uma maior prevalência de dor crónica nas mulheres (45%) que nos homens (35%), e estas apresentaram uma maior prevalência de depressão em comorbidade com a dor crónica (Tsang et al., 2008).

Em Portugal, Azevedo e colaboradores, em 2012, realizaram um estudo epidemiológico nacional sobre dor crónica, em 5094 adultos seleccionados por marcação telefónica digital aleatória. Os autores verificaram que 36,7% da população adulta portuguesa padecia de dor crónica, que esta foi mais comum em subgrupos vulneráveis da população (idosos e desempregados) e que 12% da população estudada apresentava queixa de dor na região da cabeça (Azevedo et al., 2012).

As DTMs crónicas não são condições patológicas que colocam os seus portadores em risco de vida mas não há dúvida que reduzem a qualidade da mesma, independentemente da idade destes (John et al., 2007; Dahlstrom & Carlsson, 2010; Nilsson et al., 2011; Moufti et al., 2011; Barbosa et al., 2011; Miettinen et al., 2012; Liu et al., 2012). No entanto, muitos adultos referem que os seus sintomas começaram na adolescência ou durante a juventude (Von Korff et al., 1988; Ohrbach et al., 2011). Nos adolescentes, com o desenvolvimento pubertal, ocorrem alterações biológicas hormonais que predispõe à experiência de sintomas de DTMs incluindo dor (LeResche et al., 2007). No estudo de Nilsson et al. (2011), em que foram avaliados adolescentes com dor recorrente na ATM, os autores verificaram que a dor tem um impacto grande na qualidade de vida do adolescente, mesmo em períodos de ausência de dor este pensa na dor, fazendo-o oscilar num ciclo vicioso, entre um estado de esperança e um estado de desânimo (Nilsson et al., 2011). A dor na ATM influencia as actividades sociais dos adolescentes, rendimento/absentismo escolar e consumo de analgésicos (Nilsson et al., 2009).

No entanto, a flutuação de sinais e sintomas de disfunção temporormandibular (DTM) é frequente entre a adolescência e a idade adulta, nomeadamente, nos estudantes universitários (Magnusson et al., 2000; Marklund & Wanman, 2010; Akhter et al., 2011; Lucena et al., 2012).

Marklund & Wanman (2007, 2008, 2010) realizaram um estudo longitudinal, por um período de 2 anos, em estudantes universitários, de forma a avaliar a prevalência, incidência e desaparecimento de sintomas ou sinais de DTM no tempo, bem como, avaliar como o género, a oclusão dentária e bruxismo, se relacionavam com os sintomas de dor ou DTM. Os autores verificaram ter existido uma oscilação de sintomas muito associada a alterações transitórias no estilo de vida dos universitários. Dessa forma, torna-se imperioso determinar os factores que podem induzir o aparecimento das DTMs ou ser um factor de risco para o seu início, de forma a implementar, se possível, medidas preventivas que evitem o aparecimento destas. A sua determinação pode ser realizada através de estudos transversais/longitudinais em crianças/adolescentes/adultos jovens (LeResche et al., 2007; Nilsson, 2007; Liljestrom et al., 2008; Akhter et al., 2008), através de estudos retrospectivos em populações adultas, verificando as diferenças entre os controlos e os indivíduos com DTMs (Ohrbach et al., 2011) ou através de estudos prospectivos em populações adultas sem DTMs e avaliando o aparecimento de novos casos (Dworkin, 2011; Slade et al., 2013). Em Portugal, no contexto epidemiológico das DTMs, até à data, há apenas três estudos publicados, um realizado em crianças e adolescentes (Minghelli et al., 2014a) e dois estudos realizados em estudantes universitários (Minghelli et al., 2011; Minghelli et al., 2014b). Existem alguns estudos realizados em amostras de conveniência e a maior parte deles, em amostras de pequena dimensão (Costa, 2010; Faria, 2007; Furtado & Ferreira, 2007; Taveira, 2008; Oliveira, 2008; Luro, 2011; Lacerda, 2011; Milet, 2012; Silva, 2013; Almeida et al., 2013; Coelho, 2014). Os dados epidemiológicos em Portugal são escassos não permitindo ainda a actuação sustentada ao nível de Saúde Pública.